Filosofando XXVII

Todo porão tem dois habitantes: a solidão e os fantasmas. A solidão ama os fantasmas e os fantasmas também amam a solidão. Não é muito saudável ser um solitário, voluntário ou não... Por isso é que se busca desenfreadamente a companhia dos outros, até mesmo de quem não presta. Qualquer companhia serve, desde que nos brinde com um pouco de amnésia

Vencer a si mesmo...

"Todos nós, alguma vez em nossas vidas, já ouvimos dizer que devíamos vencer a nós mesmos. Mais ainda: que no fim das contas isto deveria ser o objetivo central da vida de uma pessoa, e justificaria não só a passagem de uma pessoa por este planeta, como também toda a roda cármica em que muitos acreditam já que, dentro deste mesmo ponto de vista, mais importante do que vencer os outros seria superar a si mesmo. Ora, um dia eu resolvi, por pura falta do que fazer, jogar uma partida de xadrez contra mim mesmo. Tudo ia muito bem até o instante em que percebi que nenhum resultado além do empate seria possível e que só seria possível vencer a mim mesmo se usasse de uma descarada desonestidade, já que o "eu" do outro lado do tabuleiro sabe o tempo todo o que o "eu" deste lado planeja fazer. Assim, cheguei à incômoda conclusão de que é impossível alguém vencer a si mesmo sem ser desonesto. E o pior de tudo: se um desses "Iluminados" é é desonesto para consigo próprio, afirmando que se superou, com quem mais não o será?"

(Jan Robba em "O livro das esquisitices")