segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Sobre o amor...

- Então me diz, doutor – disse ela, depois de assoar o nariz  no lenço de papel – por quê é que, para nós nos sentirmos bem, precisamos ver os outros na merda?
- Ora, eu vejo gente na merda aqui todos os dias e estou vendo você na merda agora, e isso não faz com que eu me sinta nem um pouco melhor...
- Mas não é disso que eu estou falando...Eu estou falando da pessoa que a gente ama...
- Ah, sim...




(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Pai nosso I

- Eu tinha uma tia que me pegava e dava beijo na boca, mandava eu beijar a perereca dela e chupar os peitos dela...Tinha umas primas mais velhas que gostavam de me pegar também...
- E que idade a senhora tinha?
- Ah, uns cinco anos, eu acho...
- E isso não é abuso sexual?
- Não, era só carinho...Abuso sexual é quando é um homem que faz com uma criança...
- Ah, sei...e quantos anos tem a sua netinha?
- Tem cinco anos...
- E a senhora faz o mesmo com ela?
- É, ela é muito carente, sabe, sente falta do pai...Eu acho que a falta do pai influi muito na vida de uma pessoa, não é, doutor?
- A senhora nem imagina o quanto...



(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ser Psicólogo é...

- Por quê você acha que vai conseguir me levar pra cama?
- Eu disse isso?
- Seus olhos estão dizendo...
- Meus olhos não dizem nada, apenas olham...
- Mas estão me olhando diferente...
- Entenda uma coisa, moça, eu não estou interessado em você, ok?
- E como eu posso fazer terapia com alguém que não se interessa por mim? 
Ela então levantou-se e, antes de sair, ainda olhou para trás e disse baixinho, por cima do ombro:
- Psicólogo é tudo igual...quando não é maníaco sexual, é gay...



(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O que os olhos não vêem...



Saíra mais cedo do trabalho e vinha dirigindo, divertindo-se com os próprios pensamentos. É sempre divertido ter uma ereção.  Pensava naquela boca carnuda, naqueles seios fartos, naquele corpo bem acima do peso, mas ainda desejável, que de uns tempos para cá era seu também. Vinha tendo um caso com a própria sogra.  Era feliz no casamento: tinha uma mulher carinhosa, fiel e,  morando na casa dos pais dela, era tratado quase como um filho. Às vezes, sentia-se culpado por estar fazendo aquilo, mas como ele mesmo costumava dizer,”ninguém é perfeito”. 
Chegou de mansinho e agarrou a sogra por trás. Ela estava distraída, preparando um cafezinho.
- Que susto! Para com isso...que coisa – disse ela, sorrindo - agarrando a própria sogra...
Não encontrando resistência, ele então a beijou na boca.
- Por favor, não faz isso...o meu marido pode chegar...
- Quero transar com você, agora – e deu-lhe outro beijo.
- Mas, e a minha filha?
- Você não transa com o pai dela? – disse ele, brincando.
- Mas ele é meu marido...
- E é pai dela, também – e beijou-a novamente.
- Mas ela é sua mulher
- E daí? Ela não vai saber... – e beijou-a de novo, agarrando aqueles seios enormes.  Estava disposto a possuí-la ali mesmo na cozinha, como na primeira vez.
- É, acho que não tem mal nenhum – disse ela, começando a beijá-lo como louca -...eu também já cansei de pegar os dois na cama...de safadeza...
De repente, ele parou. Era como se um vento gelado houvesse invadido todo o seu ser e extraído todos os órgãos do seu corpo. Sentiu um vazio do tamanho do universo. Maior do que o universo. Maior do que todos os universos juntos. Não acreditava no que acabara de ouvir e não acreditava que pudesse haver tamanha sujeira no mundo. 
- O quê foi, querido?
- Ai... – ele pôs a mão na barriga e caminhou para o banheiro, com um túmulo dentro de si.
Entrou, desceu as calças e, antes de sentar-se, ainda olhou seu rosto refletido na água, lá dentro da privada. Não se reconheceu. Deu a descarga duas vezes. Deu a descarga de novo.  Sentiu-se tonto. Sentou-se.  Tinha vontade de gritar, mas nada saía nem por cima, nem por baixo.
- Eu não acredito em tamanha traição...que puta sem vergonha...- pensou – eu te odeio...jamais vou te perdoar...velho filho da puta...por quê esconderam de mim? Jamais vou perdoar vocês por isso...isso não está acontecendo...isso não está acontecendo...
E ficou ali sentado, sem noção do tempo, remoendo aquilo tudo, e quase foi tirado dos seus pensamentos pelas batidas na porta.
- Tem alguém aí? – Era a esposa, que acabara de chegar. Ele não respondeu.
- Tem alguém aí?
Já não sabia o que responder.  Nunca mais soube a resposta...



(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

sábado, 13 de novembro de 2010

Revirando-se no caixão

- Doutor, eu quero que a minha namorada faça terapia com o senhor. Ela é muito histérica...
- E você?
- Não, eu não sou histérico não. Fiz cinco anos de análise...
- Não é isso, eu perguntei se você também quer fazer terapia...
- Eu já sou analisado...além disso, não tenho tempo. Estou fazendo o doutorado em filosofia...Eu sou lacaniano, sabia? – e alisou os cabelos dela e deu-lhe um beijinho no rosto.
- E Lacan sabe disso?
- Doutor - disse ela de repente – eu só quero é que ele pare com essa mania de ficar me analisando o tempo todo...isso me irrita.
- Tá vendo a histérica?
E o psicólogo, virando-se para ele:
- Me desculpe, estava olhando para a sua namorada...



(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Filosofando III


Uma das grandes vantagens de ser um profeta está em não precisar assumir uma só palavra do que diz: é tudo inspiração divina...E quem não gostar, que se entenda lá com Deus...



(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A voz da experiência

- Mas ela não ouve os meus conselhos, doutor...- e apontou para a sobrinha ao seu lado, que estava distraída, mexendo nos cabelos.
- E por quê ela precisaria dos seus conselhos?
- É pra ela não fazer as mesmas burradas que eu fiz...
- E na idade dela você ouvia conselhos?
- Não...
- Então, por quê acha que ela vai ouvir os seus?
- Porque ela é diferente...
- Então, ela não precisa dos seus conselhos...


(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Um terrível segredo

-Preciso falar com você.
-Fala, ora...
-Aqui não. Precisamos ir a um lugar mais seguro, onde não sejamos ouvidos.
-Ok.
Finalmente chegaram a um motel.
-Vamos tirar a roupa toda.
-Pô, qual é, tá me estranhando, cara?
-Pode ter microfones escondidos nas roupas. Tire logo.
-Porra...
Já completamente pelados, ele desembrulhou a caixa de sapatos que trouxera consigo e a abriu.
-Está vendo essa caixa? Aqui dentro estão os registros de todas as minhas descobertas. São 150 anotações sobre aparições de Ovnis que eu mesmo presenciei.
-Ué, mas só anotações? Não tem fotos não?
-Não. Meus olhos fotografaram e filmaram tudo, e está tudo gravado em meu cérebro. Vou lhe vender tudo por apenas 150 reais. Tá muito baratinho porque é pra você. Então, se você comprar, eu registro um documento em cartório, doando o meu cérebro pra você quando eu morrer. Vai ser bem simples: Você conserva o meu cérebro num vidro com formol e muito breve os cientistas inventarão uma tecnologia para retirar as informações de lá e então você poderá apresentar este terrível segredo ao mundo. Mas se você não tiver o dinheiro agora, eu aceito uma geladeira ou um fogão usados como pagamento...



(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")