quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Pai nosso...


Ele resolveu sacanear o menino e perguntou:
- Cadê aquele paspalho do seu pai?
- Tá trabalhando - respondeu o menino.
- Então, cadê a horrorosa da sua mãe?
- A minha mãe não é horrorosa não, tá bom? A sua é que é horrorosa...

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Sobre o sentido da amizade

Richard Bach, no seu memorável livro "Ilusões", diz que:"Os laços que unem a sua família verdadeira não são de sangue, mas de respeito e alegria pela vida um do outro", e "Raramente os membros de uma mesma família se criam sob o mesmo teto". Há umas coisas que comovem a gente, e uma delas é a manifestação de uma amizade sincera. O nosso guitarrista está com um problema no ombro, que o médico o proibiu de tocar guitarra ou até violão. Estamos há uns dois meses sem tocar. Isto nunca aconteceu, nestes 3 ou 4 anos de convívio musical, poque nós somos apaixonados por música. O luís esteve aqui para conversar comigo e disse:"Estou te achando muito triste, cara...Acho que você está precisando tocar um pouco...foda-se o médico, vou lá pegar a minha guitarra e tocar com você". É pra gente ter orgulho das nossas amizades.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Kung Fu

O Kung Fu influenciou a minha vida mais do que alguém possa imaginar. Se alguém aqui quer sentir a glória do Criador, aprenda Kung Fu. Era lá pelo ano de 1982 e conheci Romeu, mestre de Kung Fu, Tae Kwon Do e mais uma série de coisas. Ele só usava a faixa branca. Nunca quis mudar de faixa, mas era o cão nas artes marciais. Um dia eu perguntei a ele por quê ele não tinha mudado de faixa. Ele me respondeu que era para poder permanecer humilde. Então eu pedi a ele que me ensinasse o Kung Fu. Ele só respondeu:"Quem você quer matar? Kung Fu não é coisa para brigão. De brigões o mundo já anda cheio...Mas se você, ao invés de querer aprender a bater, quiser aprender a arte do Kung Fu, a primeira coisa é ter em mente que Kung Fu significa"Tempo de habilidade", ou seja, mesmo que você seja um lavador de pratos, se você se tornar um grande lavador de pratos, então você aprendeu o Kung Fu"...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Quem lê, entenda II

Um dia, levei minha paciente(nos dois sentidos) lá para o gramadão da UFF. Eu a coloquei de frente para o sol. Eram acho que umas 9 da manhã. Perguntei pra ela:"O quê você está vendo?". Ela disse que estava vendo o sol. Então disse a ela pra olha pra trás, embaixo e me dizer o que estava vendo. Ela respondeu que estava vendo a sua própria sombra. Depois, virei-a de costas para o sol e pedi as chaves do carro dela e joguei a uns 5 metros de distância. Pedi para ela olhar para baixo e dizer o que via. Ela respondeu que estava vendo a sombra dela. Eu disse: vai lá, pegar suas chaves. Ela foi, e antes de chegar nas chaves, eu a interrompi e disse: "Está vendo? Quando você está de frente para a luz, sempre a sua sombra vem atrás...todos nós temos uma sombra...Mas quando estamos de costas para a luz, onde quer que queiramos chegar, a nossa sombra chega primeiro e cobre tudo de trevas..."

Só um pensamento...

Um dia, eu pensei que nós bem podíamos ser como as árvores:
com as raízes na terra e a cabeça no céu...
Nós podíamos ser abrigo de pássaros
de esperanças
de Louva-a-Deus
e podíamos viver para sermos dadivosos
oferecer nossa sombra
nossos frutos
tudo de graça
já que recebemos de graça
a luz que vem de cima
e o alimento que vem da terra...

domingo, 19 de dezembro de 2010

Quem lê, entenda...

Quando eu era garoto, adorava uma espécie de gafanhoto verdinho, que se chama "Esperança". Eu ficava triste, quando via uma esperança morrendo. Ela perdia as pernas e já não conseguia andar. Aquilo me deixava puto dentro das calças. As esperanças são tão meigas e não deviam morrer sem pernas, daquele jeito. Uns anos mais tarde, quando entrei no Ginasial e fui estudar Zoologia, é que aprendi que as esperanças só morrem, depois de terem posto seus ovos. Quem lê, entenda.


(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Filosofando IV

“A criatividade é uma mediunidade que dispensa tambores, velas, ou seja lá o que for. Mas como qualquer espírito, o espírito da mágica precisa do seu instrumento e das suas ferramentas para trabalhar, embora muitas vezes as invente”.



(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

sábado, 11 de dezembro de 2010

Eu, hem...


De repente, alguém colocou um disco do Bob Dylan pra tocar...
Depois de bicar sua cerveja, ele apontou para a caixa de som e disse:
- Esse cara é do cacete...
- E alguém te perguntou alguma coisa?
- E alguém te chamou na conversa? Porra, que mania de ficar se intrometendo no monólogo dos outros...
- Desculpe...




(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

É melhor prevenir...


- Sabe, doutor, eu quero que o senhor “faça uma terapia no meu filho”, porque ele anda muito rebelde, não me respeita mais...
- E por quê você anda rebelde assim? – perguntou o psicólogo, virando-se para o adolescente sentado à sua frente.
- Porque toda noite, quando estou dormindo, ela vem e enfia o dedo em mim...atrás, e eu não gosto disso.
- E por quê a senhora faz isso?
- Olha, doutor, eu só acho que é melhor prevenir do que remediar, não acha?  Se eu encontrar o “líquido” lá dentro, aí eu sei que ele está andando com outros rapazes...e o senhor sabe, a última coisa que a gente quer na vida é ter um filho gay...



(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Sobre o amor...

- Então me diz, doutor – disse ela, depois de assoar o nariz  no lenço de papel – por quê é que, para nós nos sentirmos bem, precisamos ver os outros na merda?
- Ora, eu vejo gente na merda aqui todos os dias e estou vendo você na merda agora, e isso não faz com que eu me sinta nem um pouco melhor...
- Mas não é disso que eu estou falando...Eu estou falando da pessoa que a gente ama...
- Ah, sim...




(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Pai nosso I

- Eu tinha uma tia que me pegava e dava beijo na boca, mandava eu beijar a perereca dela e chupar os peitos dela...Tinha umas primas mais velhas que gostavam de me pegar também...
- E que idade a senhora tinha?
- Ah, uns cinco anos, eu acho...
- E isso não é abuso sexual?
- Não, era só carinho...Abuso sexual é quando é um homem que faz com uma criança...
- Ah, sei...e quantos anos tem a sua netinha?
- Tem cinco anos...
- E a senhora faz o mesmo com ela?
- É, ela é muito carente, sabe, sente falta do pai...Eu acho que a falta do pai influi muito na vida de uma pessoa, não é, doutor?
- A senhora nem imagina o quanto...



(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ser Psicólogo é...

- Por quê você acha que vai conseguir me levar pra cama?
- Eu disse isso?
- Seus olhos estão dizendo...
- Meus olhos não dizem nada, apenas olham...
- Mas estão me olhando diferente...
- Entenda uma coisa, moça, eu não estou interessado em você, ok?
- E como eu posso fazer terapia com alguém que não se interessa por mim? 
Ela então levantou-se e, antes de sair, ainda olhou para trás e disse baixinho, por cima do ombro:
- Psicólogo é tudo igual...quando não é maníaco sexual, é gay...



(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O que os olhos não vêem...



Saíra mais cedo do trabalho e vinha dirigindo, divertindo-se com os próprios pensamentos. É sempre divertido ter uma ereção.  Pensava naquela boca carnuda, naqueles seios fartos, naquele corpo bem acima do peso, mas ainda desejável, que de uns tempos para cá era seu também. Vinha tendo um caso com a própria sogra.  Era feliz no casamento: tinha uma mulher carinhosa, fiel e,  morando na casa dos pais dela, era tratado quase como um filho. Às vezes, sentia-se culpado por estar fazendo aquilo, mas como ele mesmo costumava dizer,”ninguém é perfeito”. 
Chegou de mansinho e agarrou a sogra por trás. Ela estava distraída, preparando um cafezinho.
- Que susto! Para com isso...que coisa – disse ela, sorrindo - agarrando a própria sogra...
Não encontrando resistência, ele então a beijou na boca.
- Por favor, não faz isso...o meu marido pode chegar...
- Quero transar com você, agora – e deu-lhe outro beijo.
- Mas, e a minha filha?
- Você não transa com o pai dela? – disse ele, brincando.
- Mas ele é meu marido...
- E é pai dela, também – e beijou-a novamente.
- Mas ela é sua mulher
- E daí? Ela não vai saber... – e beijou-a de novo, agarrando aqueles seios enormes.  Estava disposto a possuí-la ali mesmo na cozinha, como na primeira vez.
- É, acho que não tem mal nenhum – disse ela, começando a beijá-lo como louca -...eu também já cansei de pegar os dois na cama...de safadeza...
De repente, ele parou. Era como se um vento gelado houvesse invadido todo o seu ser e extraído todos os órgãos do seu corpo. Sentiu um vazio do tamanho do universo. Maior do que o universo. Maior do que todos os universos juntos. Não acreditava no que acabara de ouvir e não acreditava que pudesse haver tamanha sujeira no mundo. 
- O quê foi, querido?
- Ai... – ele pôs a mão na barriga e caminhou para o banheiro, com um túmulo dentro de si.
Entrou, desceu as calças e, antes de sentar-se, ainda olhou seu rosto refletido na água, lá dentro da privada. Não se reconheceu. Deu a descarga duas vezes. Deu a descarga de novo.  Sentiu-se tonto. Sentou-se.  Tinha vontade de gritar, mas nada saía nem por cima, nem por baixo.
- Eu não acredito em tamanha traição...que puta sem vergonha...- pensou – eu te odeio...jamais vou te perdoar...velho filho da puta...por quê esconderam de mim? Jamais vou perdoar vocês por isso...isso não está acontecendo...isso não está acontecendo...
E ficou ali sentado, sem noção do tempo, remoendo aquilo tudo, e quase foi tirado dos seus pensamentos pelas batidas na porta.
- Tem alguém aí? – Era a esposa, que acabara de chegar. Ele não respondeu.
- Tem alguém aí?
Já não sabia o que responder.  Nunca mais soube a resposta...



(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

sábado, 13 de novembro de 2010

Revirando-se no caixão

- Doutor, eu quero que a minha namorada faça terapia com o senhor. Ela é muito histérica...
- E você?
- Não, eu não sou histérico não. Fiz cinco anos de análise...
- Não é isso, eu perguntei se você também quer fazer terapia...
- Eu já sou analisado...além disso, não tenho tempo. Estou fazendo o doutorado em filosofia...Eu sou lacaniano, sabia? – e alisou os cabelos dela e deu-lhe um beijinho no rosto.
- E Lacan sabe disso?
- Doutor - disse ela de repente – eu só quero é que ele pare com essa mania de ficar me analisando o tempo todo...isso me irrita.
- Tá vendo a histérica?
E o psicólogo, virando-se para ele:
- Me desculpe, estava olhando para a sua namorada...



(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Filosofando III


Uma das grandes vantagens de ser um profeta está em não precisar assumir uma só palavra do que diz: é tudo inspiração divina...E quem não gostar, que se entenda lá com Deus...



(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A voz da experiência

- Mas ela não ouve os meus conselhos, doutor...- e apontou para a sobrinha ao seu lado, que estava distraída, mexendo nos cabelos.
- E por quê ela precisaria dos seus conselhos?
- É pra ela não fazer as mesmas burradas que eu fiz...
- E na idade dela você ouvia conselhos?
- Não...
- Então, por quê acha que ela vai ouvir os seus?
- Porque ela é diferente...
- Então, ela não precisa dos seus conselhos...


(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Um terrível segredo

-Preciso falar com você.
-Fala, ora...
-Aqui não. Precisamos ir a um lugar mais seguro, onde não sejamos ouvidos.
-Ok.
Finalmente chegaram a um motel.
-Vamos tirar a roupa toda.
-Pô, qual é, tá me estranhando, cara?
-Pode ter microfones escondidos nas roupas. Tire logo.
-Porra...
Já completamente pelados, ele desembrulhou a caixa de sapatos que trouxera consigo e a abriu.
-Está vendo essa caixa? Aqui dentro estão os registros de todas as minhas descobertas. São 150 anotações sobre aparições de Ovnis que eu mesmo presenciei.
-Ué, mas só anotações? Não tem fotos não?
-Não. Meus olhos fotografaram e filmaram tudo, e está tudo gravado em meu cérebro. Vou lhe vender tudo por apenas 150 reais. Tá muito baratinho porque é pra você. Então, se você comprar, eu registro um documento em cartório, doando o meu cérebro pra você quando eu morrer. Vai ser bem simples: Você conserva o meu cérebro num vidro com formol e muito breve os cientistas inventarão uma tecnologia para retirar as informações de lá e então você poderá apresentar este terrível segredo ao mundo. Mas se você não tiver o dinheiro agora, eu aceito uma geladeira ou um fogão usados como pagamento...



(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Mais um aniversário

É...29 de Outubro...e lá se vão algumas décadas de pauleira pura. Acordei com uma preguiça monumental. Talvez eu já tenha nascido preguiçoso. Penso se a humanidade não estará dividida entre os que obram, os que simplesmente contemplam o mundo e os que o pensam. Com toda a certeza eu não sou um obreiro do mundo e não paro muito para pensar nas coisas. Fui olhar por aí para ver se algo de importante aconteceu em algum 29 de outubro. Nada...Nenhuma invenção, nenhuma guerra, nem mesmo uma revoluçãozinha. Talvez nem mesmo uma briga de bar. O Brasil não ganhou nenhuma copa do mundo nesta data. Consola é que é o Dia do Livro. Disto eu gosto sim. Sempre gostei dos livros. Se eu pudesse, viveria no meio deles mas, como não posso, me contento com os quase 400 que tenho por aqui. Honestamente, não entendo a correria humana. Dizem que os cariocas são vagabundos...mas quem mandou Deus fazer o mundo tão bonito? Que o fizesse feio, e todos nós passaríamos o tempo trabalhando, ora. É evidente que, do jeito que o mundo funciona, minha rota é rota "Titanic", e qualquer hora dessas eu dou com a cara na pedra. De todos os filhos, minha mãe diz que eu sou o que veio com maior vontade de viver. De fato, tenho um enorme tesão pela vida, e não entendo a má vontade que algumas pessoas têm para com ela. A impressão é que estão carregando uma cruz em vez de viverem. Não tenho nada planejado para hoje. Talvez, se alguma amiga viesse aqui fazer a minha felicidade...isto seria um ótimo presente de aniversário. Mas se não for assim, está bom também...vida que segue...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O oitavo passageiro



Ele era o último da fila. O elevador abriu a porta e todos foram entrando. Quando chegou a  vez dele, um lá de dentro disse:
- Ei, não pode.
- E por quê não pode?
- Está escrito ali na plaquinha:”CAPACIDADE MÁXIMA: 8 PASSAGEIROS”.
- Então, tem que sair mais um – disse ele, tapando o sensor com o pé.
- E por quê?
- Aquela dona ali pesa o dobro de qualquer um de vocês – e apontou para uma senhora gorda, lá no canto - Então, tem que sair mais um.
- Porra – disse o Office boy junto da porta – entra logo, senão ninguém chega a lugar nenhum...
- É mesmo - disse o estudante de história – entra logo.
Ele entrou e puxou conversa com a estagiária a seu lado:
- Sabe, isso é uma tremenda frescura. O máximo que pode acontecer é o elevador travar no meio do caminho.
- Hum...
- O problema é quando ele para entre um andar e outro...
- Por quê?
- Porque a porta não abre.  Ela trava, e com esse monte de gente respirando ao mesmo tempo, o ar acaba num instante...
- Eu, hem, Deus me livre...
- ...e como as pessoas estão nervosas, consomem o ar muito mais rápido...deve ser horrível, morrer sufocado. E esses elevadores daqui vivem dando problema...não fazem manutenção...
- Ai, deixa eu saltar aqui...Vou pela escada mesmo...
- Também vou – Disse a outra estagiária, saindo em seguida.
- Hummm...- e ele então virou-se para o Office boy – Viu só aquelas duas? Querem ir juntinhas pela escada...ali tem coisa...Esse mundo está uma sacanagem só...




(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")

sábado, 23 de outubro de 2010

A festa


A- Lembra daquela festa que nós fomos, em setenta e oito, na casa daquele assessor do ministro?- e terminou de encher o copo.  Já deviam ter tomado umas dez ou doze cervejas.
B- Como tinha droga...
C- E que tipo de droga tinha lá?
A- De todo tipo...Pra você ter uma idéia: tinha uma loirona que ficava em pé, bem na porta e, aí, todo mundo que chegava tinha que dar um tapa no baseado dela e então entrava...e lá dentro, era droga de todo tipo.  Por falar nisso, você se lembra de como aquela festa terminou?
B- Não...eu só me lembro que fiquei muito doidão...
A- Pois é, e é isso que me intriga, porque eu também não me lembro de como aquela festa terminou...às vezes eu acho que não terminou...
C- Como assim?
A- É possível que aquela festa não tenha terminado...Talvez ainda estejamos lá, muito doidos, alucinando tudo isso aqui...essa conversa, a cerveja, o som...esses vinte e tantos anos que se passaram...tudo, tudo...
C- Eu acho que você quer que alguém por aqui se suicide...
B- Você quer dizer que o fim da ditadura, o buraco na camada de ozônio, o onze de setembro, a Tsunami...?
A- Tudo...as suas teorias da física, os meus pacientes, o livro que estou escrevendo...
C- É...devia ter só drogas pesadas mesmo, naquela festa...
A- Você não vê que, nessa realidade aqui, há umas coisas que não se encaixam direito?
C- O quê, por exemplo?
A- Por exemplo: O quê acontece sempre que você assiste a um jogo decisivo do Brasil?
B- O Brasil perde...
A- E quando você está na rua e vem uma mulher gostosona na sua direção?
B- Ela dobra numa esquina antes ou passa para a outra calçada...
C- É...eu ainda não tinha pensado nisso...


(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Eu, hem...


- Não quero falar nada...
- Já está falando - respondeu o psicólogo.
- Mas não é disso que eu estou falando. Eu estou falando de falar...
- Ok, mas dentro da sua cabeça você vai continuar falando...consigo mesma.
- Não é comigo mesma que eu falo dentro da minha cabeça.
- E com quem é, então?
- Com você...o tempo inteiro...
- Então, por quê veio aqui?
- Por que eu precisava lhe dizer isso...
- Ah, entendi...



(Jan Robba em: ("O livro das esquisitices")

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Sobre divãs, Psicanálise e campos eletromagnéticos...

- É você que trabalha com hipnose aí no SPA? – Perguntou o estudante de história.
Adoro abelhas, mas tinha uma andando na beirada da minha xícara e não deixava que eu terminasse o meu café sossegado. Aquele restaurante era muito bom, no meio daquele verde todo e com uma vista privilegiada da baía de Guanabara. Dava vontade de não sair mais de lá...Respondi ao rapaz que sim e então ele insistiu para que eu fizesse algumas sessões com ele, pois estava com depressão. Consenti, mas com a condição de antes avaliar bem se a hipnose era a ferramenta mais apropriada ao seu caso. Marcamos então um dia e um horário e, no dia e horário combinados, estávamos lá em uma das salas de consulta. Ele estranhou que não houvesse um divã, e eu respondi brincando que lugar de dormir é em casa. Então ele se sentou e começou a falar dos seus sintomas, cujo início se dera havia seis anos e que, de fato, coincidiam com sintomas depressivos. Começou então a falar de sua infância, como é natural das pessoas que assistiram muitos filmes com sessões psicanalíticas e que, não por acaso, confundem Psicologia com Psicanálise. Antes porém que ele colocasse os pais no caldeirão de azeite fervente, eu o interrompi e expliquei que a depressão pode ter inúmeras causas, e que o caminho nem sempre é procurá-las no passado familiar de um indivíduo. Expliquei que até mesmo um campo eletromagnético de uma certa intensidade e freqüência pode causar estes e outros sintomas. Campos gerados, por exemplo, por aqueles fios de alta tensão que vemos nas linhas de transmissão nos subúrbios(o fato de ser proibido habitar embaixo de uma dessas linhas não é sem motivo). Ele me interrompeu e disse: “Pode parar por aí...eu moro embaixo de uma dessas linhas. O terreno onde eu moro é uma invasão e foi o único lugar onde meus pais encontraram uma casa para comprar”. “E há quanto tempo você mora lá?”, eu perguntei. Ele respondeu: “Seis anos”. Disse a ele então que o problema dele não era para um psicólogo, mas para um corretor de imóveis resolver. Voltei então para o meu restaurante, meu café e minhas abelhas...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sobre livros, árvores e estupidez humana...

Há uns anos atrás, ainda terminando a faculdade, pensei em escrever um livro. De fato, estava com um esboço de teoria muito bom nas mãos, alguns casos clínicos interessantes, e aquela falta do que fazer de quem vai à faculdade só para cumprir um ou outro crédito e terminar o seu estágio. Comecei então a escrever dois livros de uma vez só, cujos rascunhos guardo comigo até hoje. É um material bom, e talvez valesse a pena ser publicado em forma de livro. Alguns poderão achar engraçado, antiproducente, ou até mesmo estúpido, mas a minha tendência inata ao questionamento, aliada a uma má vontade não muito bem disfarçada com relação a esta caricatura de civilização da qual fazemos parte, não permitiriam que eu levasse meu projeto adiante, sem que antes respondesse à seguinte pergunta: será que vale mesmo a pena derrubar sabe-se lá quantas árvores para fazer uma tiragem de um livro?(acho que todo escritor deveria se perguntar sobre isso). Eu explico. Não acredito naquele chavão tão bem conhecido de todos: “Não há livro ruim que não contenha algo de bom” e, acostumado como fui, desde criança, a ler muito(e lembro que eu gostava de ler desde livros, jornais, até bulas de remédios e o rótulo da lata de leite em pó e de fermento, etc...), não raras vezes vi diante de mim verdadeiras porcarias em forma de livro. Ou porque eram mal escritos, ou porque refletiam o nada que seus autores tinham na cabeça. E sua publicação, em minha opinião, só se justificava por um parentesco do autor com algum editor igualmente idiota ou coisa do gênero. Bem, se acabei de afirmar que os rascunhos ainda estão guardados comigo, não será difícil inferir a resposta que dei à minha própria pergunta. Afinal, a humanidade sobrevive perfeitamente à ausência dos meus livros, mas não duraria muito sem a presença das árvores...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Quem são os lerdos, afinal?

Olhe só o mundo lá fora. Pegue o telefone e a sua pizza chega em 15 minutos, com coca cola e o que mais você quiser. Ou aquela garota de programa, do jeito que você sonhou, sem precisar perder tempo em conquistá-la ou sequer saber quem ela é. E ela pode até fingir um gozo pra você. Tudo ficou tão rápido, que acabamos convencidos de que somos lerdos mesmo. A besta humana inventou a tecnologia pra se tornar uma besta completa mais rapidamente, e com isso apressar o seu fim. Começa o seu dia quase feliz, não por estar vivo, mas por não ter morrido e deixado de fazer aquele monte de coisas que, no fundo, ele detesta fazer e o fazem sentir-se um desgraçado dia após dia. Tem seguro de vida e plano de saúde, pra poder desperdiçar a sua vida e a sua saúde mais tranqüilamente. Resolve tudo tão rápido que, ao se deparar com o enorme tempo que sobra, tem que inventar algumas doenças e alguns pavores para si. Tem que resolver tudo rápido mesmo, para poder chegar na frente do cara que ele chama de AMIGO. É contra a violência, mas não consegue enxergar que ele mesmo se violenta o tempo inteiro, traindo e enganando a si próprio. É contra as drogas, mas tem uma caixa de lexotan em sua gaveta e, se precisar dobrar no serviço, não dispensa umas anfetaminas.Vai para casa frustrado, perplexo, odiando tudo, e tenta consolar a si mesmo dizendo que tem uma família para cuidar. Então a gente olha o mundo lá fora e se pergunta por quê essa besta só resolve abrir os olhos para os grandes problemas do mundo, aqueles que realmente importam, quando os anjos do apocalipse já fazem soar as suas trombetas... Quem são os lerdos, afinal de contas? Enquanto escrevo isso, segue o Pink Floyd: “...and you run, and you run to catch up with the sun, but it’s sinking and racing around to come up behind you again...”, e a caveira do Raul sacode os cabelos e chacoalha os dentes e me fila um cigarro...


(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")

Filosofando I


"Aquele que parte para uma batalha pensando nas armas que não tem ao invés de pensar na melhor maneira de usar as que tem, condena-se à derrota...e sua derrota mostra o quê?  Que nenhuma arma é boa o bastante nas mãos de um estúpido".




(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A última tentação


- Eu acho que é na Bíblia que está a maior lição de propaganda: o tentador seduziu Eva e, por meio dela, Adão acabou seduzido também. É uma fórmula muito simples: jamais tente atingir o seu consumidor diretamente. A eficácia não está na mensagem, e menos ainda no produto, até porque o produto não era lá grande coisa, comparado ao que foi oferecido ao Cristo, sem sucesso...
- Como assim?
- O que o tentador ofereceu a Adão e Eva é um produto dos mais vagabundos...
- Ainda não entendi...
- Ninguém pode escolher se vai cair ou não em tentação, mas apenas a qual tentação vai ceder, e às vezes, nem isso. Então, a humanidade poderia ser dividida em dois grupos bem distintos: os que cederam à tentação do conhecimento do certo e do errado e os que cederam à tentação dos reinos da terra...Tire suas próprias conclusões.
- E você, onde se encaixa?
- Eu sou um tentador...mas não se impressione com isso: você também é um...
- Eu sou apenas um psicólogo e faço o meu trabalho, só isso.
- Você sabe que as coisas não são assim. As pessoas lhe procuram em busca de conselhos que jamais irão seguir, ou lhe procuram em busca de uma terapia que estão dispostas a sabotar na primeira oportunidade...e sabe por quê?
- ...
- Porque você não as seduziu. E elas precisam ser seduzidas...
- As pessoas me procuram, eu faço o meu trabalho e pronto.
- As pessoas não estão ali porque desejam, ou estão ali porque querem evitar algo pior. É diferente. Só existem três meios de se alcançar uma pessoa e conseguir dela que faça o que queremos: o bom senso, a força ou a sedução e você sabe que os dois primeiros não funcionam...Neste hospital, por exemplo, nós somos trazidos para cá à força, tomamos os remédios à força e, se não agimos da maneira como eles querem, vale porrada e até choque elétrico. E qual é o resultado?
- Choque elétrico não existe mais...é coisa do passado.
- Que deixou muita saudade...Você se esqueceu de falar das porradas...Quanto ao bom senso, os conselhos são a primeira ilusão dos estagiários, e que eles rapidamente se convencem de que são inúteis ou ficam por aí acusando seus pacientes de serem burros.
- Bem, e quanto à sedução, então?
- Apenas me responda: quais os pacientes que permaneceram mais tempo em terapia com você? Foram os que lhe procuraram a conselho médico ou dos pais, os que lhe procuraram porque estavam na merda ou foram aqueles aos quais um amigo disse que era moda, que era uma experiência nova, de autodescoberta, etc...?
- Os últimos.
- E inclua neste grupo aqueles que você teve que enrolar descaradamente...
- Por exemplo?
- ...desejo inconsciente, resistência, sexualidade infantil, você sabe...E, por uma estranha ironia, foram eles os que lhe puseram diante da escolha fatal: ser ético ou ganhar dinheiro.
- Acho que o nosso tempo acabou...
- Volte um outro dia...Conhece a saída?



(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Algumas palavras iniciais

Existem várias definições para a palavra "Filosofia"(o "f" maiúsculo não é à toa), mas a que mais me agrada é: "Filosofia é a arte de questionar o óbvio". E eu nem sei quem é o autor, mas posso dizer que ele foi muito feliz nesta frase, e pode-se dizer também que a medida desta felicidade é o grau de dificuldade que experimentamos em reconhecer o óbvio como nem tão óbvio assim. Então, alguém(que por acaso sou eu mesmo) abriu um blog e eu honestamente não me satisfaço com a explicação: "Ah, é para dividir minhas idéias com as pessoas...". É muita ingenuidade para o meu gosto. No fundo, o que se quer nesses tempos de furor midiático se resume em uma palavra: "visibilidade", que em minha opinião é um nome moderninho para a vaidade. Não vem afinal a dar no mesmo? Diz Don Juan(Não o grande garanhão, mas o "brujo" de Carlos Castaneda): "A vaidade é a fonte de tudo o que há de bom e de mau no homem". Vaidade é o nome dado ao motor de todo o esforço que fazemos para afirmar o que queremos que os outros acreditem a nosso respeito. Mas, a maior de todas as ironias é que estamos tão impregnados do Outro, que já não sabemos quem somos, ou se na realidade somos algo.
Isto posto, eu diria que a segunda razão para a existência deste blog é reunir e guardar em um só lugar as várias coisas que andei escrevendo ao longo dos anos e cuja utilidade no final das contas eu desconheço. Desta forma, pode acontecer que muitas coisas que o leitor encontrar postadas aqui ele já terá visto em comunidades do Orkut ou sabe-se lá onde. Por fim, a última e não menos importante das razões é que eu gosto de escrever e gosto do que escrevo. Espero que gostem do que vão ler aqui. Abraços!