sábado, 23 de outubro de 2010

A festa


A- Lembra daquela festa que nós fomos, em setenta e oito, na casa daquele assessor do ministro?- e terminou de encher o copo.  Já deviam ter tomado umas dez ou doze cervejas.
B- Como tinha droga...
C- E que tipo de droga tinha lá?
A- De todo tipo...Pra você ter uma idéia: tinha uma loirona que ficava em pé, bem na porta e, aí, todo mundo que chegava tinha que dar um tapa no baseado dela e então entrava...e lá dentro, era droga de todo tipo.  Por falar nisso, você se lembra de como aquela festa terminou?
B- Não...eu só me lembro que fiquei muito doidão...
A- Pois é, e é isso que me intriga, porque eu também não me lembro de como aquela festa terminou...às vezes eu acho que não terminou...
C- Como assim?
A- É possível que aquela festa não tenha terminado...Talvez ainda estejamos lá, muito doidos, alucinando tudo isso aqui...essa conversa, a cerveja, o som...esses vinte e tantos anos que se passaram...tudo, tudo...
C- Eu acho que você quer que alguém por aqui se suicide...
B- Você quer dizer que o fim da ditadura, o buraco na camada de ozônio, o onze de setembro, a Tsunami...?
A- Tudo...as suas teorias da física, os meus pacientes, o livro que estou escrevendo...
C- É...devia ter só drogas pesadas mesmo, naquela festa...
A- Você não vê que, nessa realidade aqui, há umas coisas que não se encaixam direito?
C- O quê, por exemplo?
A- Por exemplo: O quê acontece sempre que você assiste a um jogo decisivo do Brasil?
B- O Brasil perde...
A- E quando você está na rua e vem uma mulher gostosona na sua direção?
B- Ela dobra numa esquina antes ou passa para a outra calçada...
C- É...eu ainda não tinha pensado nisso...


(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")

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