sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Filosofando XLVI

Todos os meus ídolos, sem exceção, foram ou são marginais ou doidos. Poderia citar uma série deles aqui. Na época em que a minha inocência me permitia cantar o hino nacional com orgulho, meu sonho de consumo era ser um sujeito normal. Não demorou muito para que eu percebesse como as pessoas normais são desinteressantes, chatas. Não há possibilidade de criação na normalidade. Ser normal é uma das piores formas de insanidade.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Filosofando XLV

Crer é um ato de coragem, para o qual poucos humanos estão preparados. É por isso mesmo que quem crê procura convencer os outros, para afinal não se ver sozinho com a sua crença, um brinquedo quebrado nas mãos de uma criança mimada. Há porém os que fingem que crêem e trazem para si as multidões, oferecendo o conforto paradisíaco do consenso em troca dos seus dízimos. E não estou falando só de religião...

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Crônica do deserto

CRÔNICA DO DESERTO
(Jan Robba)


Tudo bem, e agora?
Nenhuma novidade mundo afora
Tudo está tão certo
que até neste deserto arde a solidão

No final da história
há sempre um certo lapso de memória
Perigo é estar tão certo
de consumir num beijo todo esse tesão

Tudo está por fora
O corpo, a casca, o frasco estão por fora
Perigo é estar por dentro
O medo está no centro do seu coração

Corre, não demora
Viver é não perder o "quem" da história
Com olhos bem abertos
fazer o que é certo e saber dizer não.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Filosofando XLIV

Faça o que você gosta, enquanto ainda gosta, porque certamente virá o dia em que você dará a maior prova de sua impotência: tentar reprimir o orgasmo dos outros.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Filosofando XLIII

Iludem-se os que supõem que o sistema envida algum esforço no sentido de impedir que as pessoas pensem. Muito pelo contrário, todo o investimento do sistema está focado em produzir os sujeitos(leia-se: bonecos)que o fazem funcionar, que o mantêm vivo e que o perpetuam. Desta forma, até mesmo aqueles que por acaso pensam, ou pensam que pensam, estão a seu serviço e o circo se completa...

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Mulheres...

"Toda mulher é uma bruxa", dizia um amigo, e com toda a razão. A intuição, entre outros poderes, faz dela um ser muito especial. Saber ouví-la é um dom e saber quando não lhe dar ouvidos é uma arte.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O que o Cristianismo tem de revolucionário

MATEUS 6.7-15(...)"Portanto, orai vós deste modo: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha (a nós)o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dá hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes entrar em tentação; mas livra-nos do mal. Porque teu é o reino e o poder, e a glória, para sempre, Amém..."

Quem quer que leia este trecho e ocupe um pouco de seu tempo a perceber alguns detalhes do mesmo(o negrito não foi acidental), vai notar evidentemente que o autor usou o tempo inteiro a primeira pessoa do plural em vez da primeira do singular na sua petição. Resumindo: quem ora, não o está fazendo em seu próprio nome, mas em nome de um coletivo(nosso o quê ou quem?). O quê pode significar isto, ou a quê isto nos quer remeter? Certamente não é comunismo, como muitos pretenderam ver na doutrina do Cristo algumas décadas atrás. Vivemos numa época em que o individualismo e a competitividade(ideias que entram frontalmente em contradição com qualquer noção de grupo, sociedade, nação, mundo, enfim)são as palavras de ordem. Tem-se como modernos a competitividade e o individualismo. E a maior contradição salta aos olhos quando vemos que uma imensa maioria dos autômatos que são tidos como modernos se dizem cristãos. Em outras palavras, nem sabem o que estão dizendo quando oram. Esta concepção também possui outras implicações, como por exemplo, a de colocar em xeque o sujeito que ora. Se ele o faz na primeira do plural, ele poderá se ver na incômoda posição de pensar e decidir se o que ele quer para si ele quer para os outros também. Talvez com esta lição o mestre quisesse sutilmente mostrar que somos todos UM, que devemos despertar para esta realidade e que não há outro caminho...

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Filosofando XLII

No fundo no fundo, não é a falta de confiança o que faz com que a vida de uma pessoa não vá para a frente ou que ela não consiga o que quer, mas as histórias de fantasma que ela vive contando para si própria.

sábado, 14 de setembro de 2013

Ironia IV

O cúmulo da ironia é esse: meu amigo, cujo sobrenome é De Abbo e é ateu, se trata com um médico cristão, cujo nome é Jesus. Verídico.

sábado, 31 de agosto de 2013

Filosofando XLI

As mulheres guardam segredos, e os homens guardam dinheiro. Os místicos guardam silêncio.

sábado, 24 de agosto de 2013

Filosofando XL

A cada dia que passa eu sinto menos vontade de dizer algo. Talvez porque eu esteja ficando sábio, o que é extremamente improvável, ou talvez porque eu não encontre palavras para descrever o imenso circo do absurdo e da morbidez em que se transformou o mundo.

sábado, 17 de agosto de 2013

Os Nanautas estão entre nós - Parte 4

“ Decerto que ficaria uma imensa lacuna, caso eu prosseguisse em minhas revelações sem falar sobre esta figura enigmática, cujos ensinamentos influenciaram toda uma geração de artistas, filósofos, beatnicks, etc e, como já foi dito aqui, influenciaram também, e de forma definitiva, a vida e o pensamento de A.C. Silver.
Na realidade, pouco se sabe de concreto sobre a vida de Sua Divina Graça Sri Khagayanda Maharishi, o grande guru da Nova Era, que surgiu no cenário mundial nos idos dos anos 60, afirmando ter vindo ao mundo com a missão de trazer luz, desde que todos pagassem em dia as suas contas de energia, e cuja declaração bombástica “É...” veio a se tornar o divisor de águas na Filosofia, pondo um ponto final na inquietante questão “Ser ou não ser?”. Não há um acordo, mesmo entre os mais experientes biógrafos e os iniciados mais próximos a ele, quanto à sua origem e história. Tampouco se sabe se esta nuvem de mistério na qual sua vida parece envolta é proposital ou é apenas uma consequência natural do singular modo de vida de todos os grandes ascetas e visionários cujos pés um dia tocaram este planeta. Uns dizem que ele nasceu de uma virgem. Outros, por sua vez, afirmam que ele nasceu de uma quase-virgem. Corre no entanto, na Índia e em vários outros países do Oriente, a lenda de que ele teria nascido de uma vaca. De qualquer forma, o seu nascimento é tão misterioso quanto o seu desaparecimento, como todos poderão constatar.



Cinco minutos, e nada mais do que isso. Foi necessário apenas este pequeno lapso de tempo para que tudo ocorresse. Cinco minutos que o avô de Khagayanda(seu nome verdadeiro é desconhecido) se ausentou para ir ao banheiro por conta de uma diarréia crônica que contraíra desde que começou a se expor a níveis excessivos de radiação(na realidade, suicidas, para os padrões de hoje) na usina nuclear de Chernobyl. O velho era um militar de alta patente, que fora designado para dirigir a tal usina, um projeto ultra-secreto do seu governo, iniciado assim que a segunda grande guerra terminou e que seria o protótipo da primeira usina nuclear do mundo.
O jovem khagayanda livrou-se rapidamente do macacão anti-radiação, das botinas e das suas próprias roupas, ficando apenas com o capacete na cabeça. Até hoje especula-se sobre as razões disso, mas o fato é que ele começou a dançar e a apertar tudo o que fosse botão e puxar tudo o que fosse alavanca ou chave que estivesse à sua frente no painel de controle. O resultado foi o primeiro acidente nuclear da história, felizmente sem vítimas fatais(pelo menos é o que o exército declarou em nota, a despeito do sumiço inexplicável de 300 funcionários da usina). Devido a ter recebido uma carga considerável de radiação, tempos depois caíram todos os pelos de seu corpo, com exceção dos cabelos e barba que, na ocasião, estavam protegidos pelo capacete. Em outras palavras: ficou imberbe do pescoço para baixo. Algo muito interessante ocorreu: as células do corpo de Khagayanda(as do pescoço para baixo), já com o seu DNA modificado, comunicaram-se com as células da cabeça e ordenaram que ele se enfiasse dentro de um freezer ligado a quarenta e cinco graus negativos e ali permanecesse até que sua mutação se completasse. Assim ele fez e, já por volta do trigésimo sexto dia, sentiu fome e, então, resolveu que fazer um lanchinho não iria atrapalhar em nada a sua escalada rumo à iluminação. Começou comendo a sua camisa, que era mais macia, e depois foi, no decorrer dos dias, comendo a cueca, as meias, a calça, o casaco, os sapatos e, por fim, a sua carteira com os documentos e o seu relógio Seiko. Ao fim de oitenta e oito dias, abrindo os olhos na escuridão do freezer, observou que seu corpo luzia com uma fosforescência esverdeada. Então, decidiu que já estava suficientemente iluminado e que já estava pronto para sair pelo mundo pregando. Consta que ele teria sido visto perambulando pelo Nepal, Tibet e Índia, vindo posteriormente para Cuba, onde criou uma comunidade budista, cujas doutrinas, mescladas às ideias revolucionárias de Fidel Castro e Che Guevara logo se espalharam pelo Caribe, com o nome de Cubismo, em referência àquele país. Até o momento de seu misterioso desaparecimento, ele viveu na linda e paradisíaca San Gonzáles, no México, difundindo a doutrina do “Cubismo”, o Budismo revolucionário de Cuba".


(Jan Robba em: "San Gonzáles, meu amor").

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Filosofando XXXIX

Quando finalmente nos dermos conta de que as coisas mais maravilhosas(e importantes) da vida não têm e tampouco demandam explicação, então aí teremos amores verdadeiros, amizades sinceras, fé intocável e corações autênticos pulsando no peito.

sábado, 3 de agosto de 2013

Os Nanautas estão entre nós - Parte 3

Todos ficaram boquiabertos diante daquela cena no mínimo insólita. O DC 8 da Mahabarata Airlines aterrissou no aeroporto da pequena Bethel e descarregou o caixão dentro do qual se encontrava Silver. Mal os soldados da Força Nacional começaram a carregar o esquife, Silver prontamente pulou de dentro e saiu correndo para a mata que ficava próxima ao aeroporto, completamente pelado, sem dar qualquer chance aos soldados ou a qualquer um de esboçarem a mínima reação. Perambulou ali dentro da mata durante dez dias, alimentando-se de cocô de morcego-rei(grande comedor de frutas, cujas fezes eram muito apreciadas pelos babuínos) e bunda de tanajura, até que encontrou uma comunidade Hippie que vivia ali e que o acolheu e ele pode então se alimentar direito e descansar. No almoço e na janta, era cocô de morcego-rei e bunda de tanajura frita. Estavam todos animados, envolvidos com os preparativos para a caminhada até Woodstock onde se dizia que iria haver um grande festival, o maior de todos os tempos. Á noite, em volta da fogueira e ao som de uma viola, deram-lhe um cigarrinho estranho para fumar e um chá para beber, com todo tipo de porcaria dentro e, então, imediatamente o seu corpo astral separou-se do carnal e ele foi sugado até a quarta dimensão, na presença dos Mestres Lobsang Rampa e Maharishi Maresh, os quais, após confirmarem que o seu caramujo Silvinho era a reencarnação de um buda, convocaram-no a encontrar-se com John Lennon e Sri Khagayanda Maharishi em Woodstock para uma reunião mística, na qual ele desempenharia um papel fundamental: ele seria a terceira ponta do triângulo cósmico e seriam os três os porta-vozes de uma importante mensagem dos mestres do Além para a humanidade. Pela manhã, depois de tentar durante quase uma hora enxotar um bando enorme de borboletas psicodélicas que voavam em torno de sua cabeça entoando mantras hindus e babando, ele conseguiu encontrar seus próprios pés que resolveram se esconder atrás de uma moita e juntou-se aos demais e iniciou a caminhada rumo a Woodstock. De fato, o chá que tomara na noite anterior era esquisito mesmo...
(…)



UM ENCONTRO MEMORÁVEL

Fora um encontro memorável. Uma cena que ficaria para sempre gravada nos corações e mentes de todos aqueles que a assistiram. Era Agosto de 1969 e uma multidão de jovens se reunira numa fazenda para passarem três dias sem banho, fumando maconha, ouvindo pauleira e aumentando a população do mundo. Estavam ali presentes muitas das mais importantes personalidades do meio cultural, artístico e científico mundiais e, entre estas, três se encontrariam para a tão aguardada reunião que marcaria o começo da era de Aquário, uma era de esperança, compreensão, união e entendimento. Eram eles: A.C.Silver, o grande inventor, cientista, tio por parte de mãe da Ufologia e criador da revolucionária teoria dos Nanautas; John Lennon, o grande maconheiro, comedor de Sushi e de Yoko Ono e futuro ex-Beatle e Sua Divina Graça Sri Kagayanda Maharishi, o grande Yogue que alcançara a iluminação depois de passar 88 dias meditando dentro de um freezer, alimentando-se apenas de suas próprias roupas, sapatos, cinto, carteira e um relógio Seiko. Os três permaneceram em completo silêncio: A.C.Silver, porque estava tendo um surto de Jumência Precoce, mal que o afligia desde a infância; Lennon, porque estava muito doido, com a fuça cheia de erva e Sri Kagayanda Maharishi, porque estava delirando devido a uma malfadada tentativa de jejum. Após três horas e meia completamente calados, Lennon se manifestou:
- É...
Cinqüenta e seis minutos depois, A.C.Silver deu sua opinião:
- É...
E uma hora e vinte minutos depois, Khagayanda Maharishi completou:
- É...

Todos os que assistiram àquela cena saíram dali maravilhados, com a certeza de que enfim o entendimento entre os povos era possível e que dali por diante o mundo não teria mais fronteiras...


(Jan Robba em: “San Gonzáles, meu amor”)

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Os Nanautas estão entre nós - Parte 2



"Não fora difícil encontrar uma maneira de ganhar dinheiro com aquela tonelada e meia de goiabas despejadas ali na sua calçada. Num piscar de olhos, o Silver-chupa se tornou a sensação do momento, e Silver passou o resto daquele verão vendendo os seus picolés na praia, gritando o Slogan que logo caiu na boca do povo: “Chupa, que é do Silver!”. O dinheiro vinha em avalanche e tudo transcorria muito bem, até que o posto de saúde local começou a apresentar números que já ameaçavam bater os récordes nacionais de casos de amebíase, leptospirose e barriga d'água. Uma investigação levada a cabo pela OMS e Polícia Federal revelou que a causa eram os picolés de Silver que, conforme se constatou, eram feitos com a água de um poço que ficava nos fundos de seu quintal. A bem da verdade, se não fosse esta investigação, não se teria encontrado dentro daquele poço a verdadeira ossada do famigerado médico nazista Joseph Mengele, além de tres cápsulas de Césio 137 roubadas de um hospital público, o rifle que matou John Kennedy e algumas calcinhas de Andy Warhol, entre outras imundícies. Não havia opção a não ser fugir e, já que a fuga era inevitável, ele resolveu ir para a Índia, onde poderia estudar a Psicologia das vacas com a tranquilidade que este estudo exige. E assim foi. Não fora difícil também adquirir uma identidade e um passaporte falsos, de forma que, na manhã seguinte, ele já se encontrava a bordo do “Eugênio C”, rumo a Bombaim. A linda e onírica Bombaim, uma cidade que respira magia e misticismo...
Era lindo observar a languidez daquelas vacas passeando pelas ruas, olhando as vitrines, entrando nos cafés, etc...
E foi ali mesmo em Bombaim que, durante um passeio, ele viu colado num poste um panfleto com os seguintes dizeres:
PAI KHAGAYANDA DO HIMALAIA
TRAZ A SUA VACA DE VOLTA EM 3 DIAS
FAZ E DESFAZ TRABALHO
CURA CHIFRE DE BOI MANSO E DE BOI BRABO
CURA PEREBA, BERNE E OLHO GORDO.
(Etc, etc...)
Ficou deveras impressionado e pensou consigo mesmo que o tal macumbeiro do Nepal talvez tivesse muito a compartilhar sobre a Psicologia das vacas e resolveu então ir ao encontro de Pai Khagayanda, pois sentia que havia algo a aprender com aquele guru. Permaneceu na companhia do mestre por dois meses e ali aprendeu várias técnicas Yogues, sendo que duas viriam a ter importância fundamental para a sua sobrevivência num futuro muito próximo: a técnica da respiração anaeróbica e a técnica da animação suspensa. A primeira capacitava o adepto a ficar durante um longo tempo sem respirar. Poderia ser por dias, semanas ou até meses. A segunda permitia que o adepto, conforme as circunstâncias, manipulasse os seus próprios sinais vitais, de forma que poderia ser considerado clinicamente morto, ser enterrado e “ressuscitar” muito tempo depois.
De volta a Bombaim, e com suas finanças em baixa(na verdade, devendo a Deus e ao mundo), teve uma idéia genial: abrir uma banca de jogo do bicho pois, prevendo que os Indianos só apostariam na vaca, suas chances de tirar dinheiro daqueles trouxas seriam enormes. Não podia estar mais certo em suas deduções. Assim ele fez, e a fortuna não tardou a lhe sorrir novamente. Foram vários meses de luxo e ostentação: carrões importados, champagne francês, belas mulheres, charutos cubanos, tudo do bom e do melhor. Chegou até mesmo a ser nomeado patrono de uma das escolas de Bharatanatyam(que em Hindi significa “Samba”), a Unidos da Vaca Malhada, que naquele ano viria com o enredo “Vem tomar do meu leitinho”. Sua felicidade porém terminou quando a polícia, após denúncias anônimas e sua insistente recusa em aumentar o valor da propina que pagava ao prefeito, fechou suas bancas de jogo e estourou o escritório de onde ele administrava e controlava tudo, alegando que, na Índia, o jogo do bicho só pode ter um único animal: a vaca. Foi então levado a julgamento sob a acusação de danos morais à Vaca Sagrada e condenado a vinte e cinco anos de prisão, tendo todos os seus bens confiscados pelo estado.
Não foram necessários muitos dias na cadeia para que a depressão tomasse conta de Silver. Ficava pensando se a sua vida toda seria aquela agonia de altos e baixos constantes. Achou que jamais teria sossego e que era até melhor morrer do que viver assim. Morrer...morrer...e foi então que sua prodigiosa inteligência brindou-lhe novamente com uma ideia genial: utilizar a técnica da animação suspensa, pois assim pensariam que ele estava morto e ele sairia dali. O resto ele resolveria depois...
Com efeito, seu corpo “sem vida” foi encontrado na cela três dias depois e, após o legista espantar as moscas e atestar seu óbito, todos foram unânimes em que enterrar um herege em solo indiano só atrairia desgraças para aquele país. Providenciaram então a identidade de um desertor do Vietnam que fora executado por um cafetão em Saigon, puseram Silver num caixão e o despacharam no primeiro avião para os Estados Unidos".


(Jan Robba em: “San Gonzáles, meu amor”)

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A Marcha das Vadias

Lembro-me de haver afirmado em algum canto que eu não faria do meu Blog uma privada e que, portanto, eu me absteria de trazer certas imundícies ou publicar sobre alguns assuntos aqui. Hoje eu abro uma exceção, e que me perdoem os meus leitores pelo cheiro de merda que porventura exalar daqui.

RECADO PARA AS VADIAS

Não sou católico e nem sequer sou cristão, mas o que eu pude ver da Marcha das vadias foi um espetáculo grotesco, de péssimo gosto e, de longe, a maior presepada que já vi nos últimos tempos. Coisa própria de idiotas comedores de merda. Todos viram lá aquele bando de dementes mal comidas reivindicando não se sabe o quê e alguém que, num certo momento, quebra a imagem de Nossa(dos Católicos)Senhora e, em outra cena, uma outra pessoa se masturba com o crucifixo. Em primeiro lugar, com isso elas se igualaram aos mais ignorantes, vagabundos e rasteiros pilantras que se intitulam pastores e que infestam o submundo da fé neste país, como aqueles que, há uns anos atrás, chutaram uma imagem também da santa, lá no picadeiro(ou chiqueiro, tanto faz)que eles chamam de sua "igreja". Isto, na minha opinião, vale não só um processo(está na constituição um ítem sobre a intolerância religiosa), mas uma sessão de porrada muito bem dada, daquelas de quebrar(muitos)ossos. No mais, masturbar-se com um crucifixo é a maior prova de que não lhes resta nada mais para esfregar naquelas xoxotas(ou rabos, sei lá)mais podres do que um bueiro de esgoto.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Os Nanautas estão entre nós – Parte 1



“Década de 60. O mundo inteiro balançava o rabo ao som dos quatro maconheiros de Liverpool, enquanto as pessoas de bem assistiam pela TV à maior revolução cultural, filosófica e artística do Século XX e talvez de todos os séculos anteriores. A tão esperada Era de Aquário não poderia ter um começo melhor. Havia um jovem estudante de nome A.C. Silver, de inteligência considerada abaixo do sofrível(coisa muito comum entre os grandes gênios da Ciência), que tentava já pela quinta vez passar de ano e prosseguir no seu curso primário quando, ao tentar resolver um “Arme e efetue”, teve um surto de jumência precoce(Jumentia praecox), doença que o acometia desde a mais tenra idade e que redundava em crises sempre que as exigências sobre o seu aparato intelectual se mostravam excessivas. Era comum, quando isto acontecia, ele se trancar no porão de sua casa e ficar lá, incomunicável, por dias a fio na mais completa escuridão, sem banho e sem comida, acompanhado apenas de seu caramujo Silvinho. Estando trancado já pelo oitavo dia consecutivo, eis que, através de um pequeno buraco feito na parede por um casal de barbeiros que fora ter uma noite de luxúria ali, ele vislumbrou um tênue feixe de luz cruzando a escuridão e ficou observando as milimétricas partículas de poeira que flutuavam lentamente no ar. Encantado, estendeu a mão, barrando o fluxo das partículas e observou que várias delas se desviavam de sua mão, rodeando-a e retomando sua rota original. Repetiu mais uma vez, e mais outra e outra mais, até que teve então o grande insight: aquelas partículas só podiam ser alguma espécie de seres inteligentes nanoscópicos, ou eram veículos que conduziam criaturas inteligentes através do nano-espaço. Batizou-os então de Nanautas. Por esta época, a Teoria do gás colante estava em voga, sendo uma unanimidade no meio científico. Tal teoria dava conta de que este misterioso gás, provindo das turbinas de aviões dos comunistas, que o espargiam nas mais altas camadas da atmosfera, era responsável pelas inexplicáveis falhas nos motores dos automóveis, eletrodomésticos e também pelo atraso na menstruação e pela própria Jumência precoce, etc. Também eram atribuídos ao gás colante o efeito-estufa, o El Niño(fenômenos bem conhecidos dos cientistas, mas mantidos em sigilo absoluto) e a transmissão daquela doença venérea que todo mundo conhece, através do piso frio dos banheiros. Silver decidiu então que era chegada a hora de abandonar a clausura e ir para o seu laboratório desvendar os segredos destas estranhas criaturas, pois algo lhe dizia que a Teoria dos Nanautas viria a riscar definitivamente do mapa da Ciência a Teoria do gás colante. Tudo finalizado, os ingleses ofereceram um caminhão de goiabas em troca dos direitos de uso e experimentação com a Teoria dos Nanautas e, sem perda de tempo, inocularam uma bezerra com uma solução de 0,005 mg/litro de Nanautas. No espaço de alguns meses, o mundo assistiria ao surgimento da primeira vaca psicodélica do planeta, logo chamada de “A vaca louca”. Posteriormente, já em 1970, a banda inglesa Pink Floyd lançaria o seu célebre disco “Atom heart mother”, o qual estampava na capa a foto desta mesma vaca e trazia o seu grande hit “Summer 68”, numa claríssima alusão à descoberta de Silver. Conta-se extra-oficialmente que os cientistas ingleses, após o bem sucedido experimento com a vaca, solicitaram voluntários para se submeterem ao mesmo experimento, sendo que Syd Barrett(integrante do Pink Floyd que contraiu misteriosamente a Jumência precoce) teria sido um deles.

O CARAMUJO SILVINHO

Silver o encontrou muitos anos antes de sua descoberta, numa manhã chuvosa, em que o molusco estava prestes a ser tragado por um redemoinho que se formara no ralo da rua. Armou-se de coragem e foi, com a água quase até o pescoço, resgatar o pobre caramujo. Já dentro de casa, enxuto e orgulhoso por ser um herói e ter ganho um novo amiguinho, foi que ele se deu conta de uma estranha coincidência: o caramujo tinha, como qualquer outro, a sua casca em espiral e estivera prestes a ser tragado pelo redemoinho, que era uma outra espiral. Sentiu que havia naquilo um estranho presságio. E não podia estar mais certo...
Batizou seu novo companheiro de Silvinho, que vem de Silver e passou a cuidar dele como o irmão que nunca teve.


Mas enfim, voltando ao ano de 1968, Silver pressentiu que havia ainda algo inexplicado, um estranho elo que ligava Barrett àquela vaca. Afinal, as vacas na Índia já eram adeptas do sexo livre e de uma vida mais natural havia séculos. Era hora de estudá-las melhor, e teria de ser pessoalmente...mas como?"

(Jan Robba em: "San Gonzáles, meu amor")

terça-feira, 23 de julho de 2013

Não trago ouro ou prata...

"Não trago ouro ou prata..." Ora, mas é evidente que não! Nunca, em dois mil anos de história do Cristianismo, se teve notícia de que um um papa tenha visitado um país a não ser para fins políticos e/ou para engordar ainda mais os cofres do Vaticano. Vemos hoje, substituindo o lamentável patife Nazista, um novo boneco travestido de homem humilde, o que parece aos olhos mais ingênuos uma grande novidade. A declaração acima, além de descaradamente hipócrita e evidentemente tautológica, mostra o quanto de novidade Francisco vem trazendo na mala. Honestamente, ficarei muito surpreso no dia em que um papa, ao deixar o país que acaba de visitar, emita a seguinte declaração: "Não estou levando nem ouro e nem prata..."

sábado, 20 de julho de 2013

Os Nanautas estão entre nós - Introdução

Moscou, Julho de 2013.

“Após muito relutar e, de modo algum insensível à atitude heróica e audaciosa de homens como Manning, Assange e, ultimamente, Snowden(o qual se encontra aqui comigo neste instante), decidi ser chegado o momento de revelar ao mundo as verdades que me foram confiadas por Sua Divina Graça Sri Khagayanda Maharishi, o grande mestre da Nova Era, aquele cuja missão é trazer luz ao mundo, caso todos paguem em dia as suas contas de energia. Mesmo ciente dos enormes riscos à minha integridade física, enchí-me de ânimo e, visto até o momento não ter vislumbrado qualquer oportunidade de manter estas informações em sigilo mediante alguns favores financeiros, achei por bem realizar logo o ritual de fechamento de corpo na Macumba(o qual me garante proteção contra projéteis de vários calibres, granadas, explosivos, armas brancas e veneno de rato) e assumi esta tão perigosa quanto delicada tarefa. Através deste relato todos entrarão em contato com detalhes inéditos da vida e obra de um dos maiores gênios científicos de todos os tempos: A.C. Silver. Quase tudo o que se conhece de mais avançado nos campos da Física Quântica, Biologia, Astrofísica, Eletrônica, Ufologia, Comunicação com os mortos, Vudu, Ocultismo em geral e Magia Negra, jogo de palitinhos e principalmente a revolucionária Teoria dos Nanautas, deve-se a esta notável figura, cuja história e descobertas foram cuidadosamente ocultadas sob um espesso véu de desinformação e mistério, de forma que seu nome hoje é apenas uma lenda que jaz na obscuridade. Os motivos disto virão à tona ao longo da exposição deste material e, então, os milhares de fragmentos aparentemente desconexos irão se juntar em um todo coerente. É possível entender, a partir do que será exposto aqui, as conexões entre o Caso Roswell, a guerra fria, a doença da vaca louca, o caso Watergate, a invasão do Oriente Médio, a morte de John Lennon, o por quê de nunca mais o homem ter pisado na lua e muitos outros acontecimentos que, juntos, formam o quadro aterrador de uma trama diabólica forjada por mentes maquiavélicas, cujos interesses não incluem o esclarecimento da humanidade e sua ascensão a um nível evolutivo superior ao das amebas. A importância das descobertas e inventos de A.C.Silver está em proporção direta com a sórdida obstinação com que os governos do mundo inteiro têm procurado manter este véu inviolável, e em proporção inversa com o valor que a minha vida tem de agora em diante.
Por ocasião de uma viagem ao Nepal, em companhia do um grande amigo afegão, Muhammad Ali Arrasad(que Allah o tenha), e após ter sido devidamente testado e considerado digno, ouvi durante 365 noites, com a extremidade inferior do meu tubo digestivo colada no Gelo do Himalaia, as importantes revelações de Sua Divina Graça Sri Khagayanda Maharishi. Nenhum material escrito me foi confiado, de modo que eu deveria ouvir com toda a atenção e guardar cada palavra em minha memória. No fim, antes de minha partida de volta para o ocidente, ele desejou-me boa sorte, advertiu-me de que minha vida já não valia mais nada e voltou para dentro do seu freezer, onde costumava meditar a uma temperatura de 45 graus negativos, alheio a tudo o que é mundano. Quis a fatalidade porém que, estando com minhas finanças em baixa e sofrendo ameaças diárias de morte da parte de alguns agiotas, eu aceitei um emprego de sparring, , o qual me foi indicado por um cafetão aposentadoem, uma academia de boxe, em troca de algum dinheiro. O resultado mostrou-se até positivo, de forma que eu consegui equilibrar minhas contas, mas foram tantos os impactos nos meus lobos frontal e temporal que, no fim, eu quase não lembrava sequer meu próprio nome. Mesmo assim, uma boa parte do material que me foi confiado permaneceu vivo em minha mente, esperando por este momento, o momento em que finalmente tornar-se-á manifesto a todos os seres humanos”.


(Jan Robba em: "San Gonzáles, meu amor")

terça-feira, 16 de julho de 2013

Para além daquelas nuvens

O rei ficou deveras impressionado com aquele menino de olhar vivo e palavras tão inteligentes. Por uns instantes, chegou até mesmo a esquecer que estava desgraçadamente triste, mergulhado num tenebroso abandono que já se arrastava por quase um ano. Andou por algum tempo de um lado para o outro do aposento no qual havia se trancado, no alto da torre. Decidiu que iria vê-lo outra vez no dia seguinte. Não conseguia explicar o por quê, mas gostou dele e torcia para que ele estivesse lá de novo. E assim foi. No dia seguinte, à mesma hora, desceu as escadas, atravessou a ponte e foi ao encontro do menino. Não havia a possibilidade de ser reconhecido, pois além da barba e dos cabelos muito crescidos e descuidados, ele passara a usar roupas nada parecidas com as de um rei.
De fato, o rei encontrou o menino naquele mesmo lugar à beira do lago e conversaram uma tarde inteira e sua admiração crescia à medida em que mais conhecia o garoto. Sentia-se mais alegre, até. O rei então pensou consigo mesmo: “Nunca vi tamanha sabedoria nem mesmo nos meus conselheiros ou em qualquer sábio que tenha passado por aqui...Sei que é apenas um garoto, mas talvez ele tenha uma palavra que possa aliviar minha dor...”. Então, disfarçadamente, perguntou ao menino:
- O rei nunca mais apareceu para o povo...por quê será?
- Não sabe? Todo mundo conta que ele ficou muito triste e se trancou na torre do castelo e de lá não saiu mais, desde que a princesa morreu.
- Ah, sim...entendi. Mas, me diga uma coisa: Se você fosse o rei, o quê você faria?
- Hum...se eu fosse o rei, eu lembraria que sou um homem e que devo suportar minhas dores como um homem e não como uma criança. E então eu voltaria para o trono, que é o lugar de um rei.
O rei ficou em silêncio.
- E você? - perguntou o menino - Se você fosse o rei, o quê você faria?



(Jan Robba em: "Para além daquelas nuvens")

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Filosofando XXXVIII

A dor é uma boa conselheira, mas não é uma boa companhia. Portanto, você deve ouví-la e se apressar, e chamarão a isso de prudência. O prazer é uma ótima companhia, mas não é um bom conselheiro e, se você se apressar, chamarão a isso de ejaculação precoce ou, no máximo, uma rapidinha. E a má companhia certamente será você.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Admirável gado novo

- Bons tempos aqueles, em que era proibido beber nas eleições, lembra?- e terminou então de encher os copos.
- É verdade...A bebida tinha um outro sabor...
- Havia uma felicidade quase infantil em fazer aquilo. E não adiantava ter bebida em casa. A gente queria mesmo era beber escondido num boteco.
- Cara, às vezes fico pensando que é na transgressão que o homem se afirma como um ser livre e ao mesmo tempo denuncia a opressão que pesa sobre todos, mas que todo mundo finge que não vê...
- Essa foi profunda, mas aqui entre nós: em quem você votou?
- O voto é secreto, seu jumento – e ele então riu de como conseguia ser tão cínico, e tomou mais um gole.
- Olha, cara, se o voto fosse secreto, eles nem divulgavam o resultado das eleições, porra.
- Faz sentido...- e riu de novo – Eu anulei aquela porra. Infelizmente, não há como rasgar uma urna eletrônica...
- De fato, com a qualidade dos políticos que nós temos, as perspectivas de futuro não são animadoras de jeito nenhum.
- Eu tenho visto o discurso desses faladores aí, e mesmo o desse presidente de merda que nós temos, e eles prometem de tudo, desde a reconstituição de hímen pelo SUS, até Bolsa cachorro de rua e por aí vai, mas nenhum deles toca no principal, e é isso que me preocupa e assusta.
- E o quê é?
- Tem gente demais no mundo. O mundo está botando gente pelo ladrão e todos sabem disso. É de controle demográfico que eu estou falando. Precisamos diminuir a população da Terra em dois terços.
- Tá maluco? Com menos pessoas no mundo serão menos eleitores e esses serão eleitores melhor alimentados, melhor instruídos e naturalmente não vão votar em qualquer merda.
- Se fosse só isso, estava ótimo, mas tem um problema maior ainda.
- Lá vem você...
- Pensa comigo: agora já não há mais tempo para controle de natalidade. Isto deveria ter começado no início dos anos setenta, quando éramos só três bilhões neste planeta. Se formos fazer isso agora, eu calculo que em poucas décadas teremos uma população quase que só de velhos. E de carona vem a questão da produtividade, etc...
- Então...
- Então que, ou eles lá em cima dão um jeito de ir matando os velhos sem ninguém desconfiar de nada, ou têm que se virar para inventar um jeito de as pessoas viverem menos. Talvez até os trinta ou, na melhor das hipóteses, até os quarenta...
- Porra, isso tá com cara de “Admirável mundo novo”, cara...
- Talvez isso explique o silêncio e a omissão dos governantes...Não é com esse mundo que todos eles sonham?


(Jan Robba em "O livro das esquisitices")

sexta-feira, 28 de junho de 2013

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Muito mais do mesmo

Eram sete da noite e a campainha tocou.
- Mas que cara chato, porra!
Ela então levantou do sofá e foi pegar a toalha para entrar no banheiro. Antes, porém, disse à irmã:
- Vai lá e atende, Isabel. Se for aquele babaca de novo, você diz que eu não estou, recebe as flores e coloca em qualquer lugar aí.
E era ele mesmo. A irmã o atendeu, desconversou e, enquanto o observava ir-se embora no seu carrão, pensava em como seria divertido ter um otário daqueles apaixonado por ela...
Tudo começara umas semanas antes. Ele estacionara o carro e vinha pela calçada distraído, pensando num jeito de conquistar a mulher dos seus sonhos, aquela por quem estava encantado já havia algum tempo. A sorte parecia estar lhe sorrindo pois, ali mesmo, naquele boteco perto da esquina, estava justamente o especialista em corações femininos. Era tudo de que precisava. Entrou, pediu uma cerveja e foi puxando conversa, enquanto enchia os dois copos:
- Porra, França, muito bom encontrar você por aqui. Eu precisava muito falar com você.
- Pode falar...fora o resto do corpo, eu sou todo ouvidos...
- Cara, eu estou apaixonado por uma mulher. É a Soninha Boaventura, aquela loirinha que mora lá perto da praça.
- Conheço a Soninha...- e tomou um gole generoso do traçado que estava à sua frente, junto à cerveja.
- Não consigo tirá-la do pensamento. Estou de quatro por ela, mas o problema é que não consigo achar um jeito de conquistá-la.
- E onde é que eu entro nessa história?
- É que eu sei que você é o maior conquistador que tem por aqui. Mulher nenhuma resiste à sua conversa, e eu acho que você podia me dar umas dicas, se não se importar...
- Sei lá, acho que posso sim - e fez um longo silêncio pois, no fundo, sabia que "qualquer ajuda é inútil quando o sujeito é um banana" - mas você vai ter que fazer exatamente o que eu vou lhe dizer.
- Eu faço qualquer coisa para ter aquela mulher. Pode falar...
- Presta atenção: você vai passar numa floricultura e vai comprar um buquê de flores bonito, mas discreto. Tem que ser discreto, e não um daqueles enormes, que parecem uma privada psicodélica, entendeu?.
- Ok
- Vai na casa dela e, quando ela atender, você entrega o buquê a ela, de preferência na frente dos familiares, e apenas diz: "Isto é pra você" e então dá as costas e vai embora sem esperar nem o agradecimento. Isto funciona como uma bomba. É uma arma poderosíssima. Ela nem vai dormir pensando em você, e é justamente porque você não disse o motivo daquele buquê. Então, é a própria cabeça dela que vai dizer. E a resposta inevitavelmente vai ser a seu favor, porque os familiares também vão buzinar no ouvido dela, entendeu?
- Entendi tudo. Vou fazer isso amanhã mesmo.
- Mais uma coisa: essa é uma arma infalível, mas é uma arma pra um tiro só. Faça apenas uma vez. Espere uns dois ou tres dias e dê o bote.
Ele seguiu todas as instruções e o resultado não poderia ser outro: não só a moça ficou encantada, como também a mãe e a irmã, que presenciaram a cena toda. Ele foi para casa feliz, sentindo-se poderoso, quase um deus, e orgulhoso pela conquista já praticamente certa. Mas no dia seguinte, no trabalho, começou a matutar consigo mesmo: "Ora, ela já está no papo. Mas se só um buquê deu esse resultado...posso ter um resultado mais arrasador ainda, e eu quero muito mais: quero ela aos meus pés, babando e rastejando, toda derretida por mim. Acho que algumas doses de reforço vão deixá-la de quatro por mim". Saiu mais cedo do trabalho, passou novamente na floricultura e rumou para a casa da amada. E assim foi pelas duas semanas seguintes, quase como um ritual, até que a moça já não aguentava mais de tanta flor.
Ficou realmente perplexo tentando entender a "súbita" indiferença de Soninha e a maneira como ela o estava evitando, e chegou à conclusão de que "nenhum método é infalível" e que "ela podia ser justamente a exceção". Pensou então na florista que, do nada, vinha despertando o seu interesse nos últimos dias e pensou em dar a ela umas flores, mas "o França com certeza diria que flores não são a melhor coisa para se dar a uma florista...talvez uma caixa de bombons...ou ..."
Algumas caixas de bombons depois, passando com seu carro em frente ao mesmo boteco, lhe pareceu ver Soninha tomando cerveja no balcão, sentada com um outro sujeito, que estava com a mão na coxa dela. E era "a cara" do França...

(Jan Robba em "O livro das esquisitices")

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Sobre as manifestações nas ruas do Brasil

Há muitos anos atrás, um fenômeno chamou a atenção da mídia, dos institutos de pesquisa, dos sociólogos e da população do Rio de Janeiro em geral. Refiro-me à votação massiva no "Macaco Tião". Isto se deu, como muitos devem lembrar, numa época em que o voto era efetuado através da cédula eleitoral e, só por ser deste modo é que foi possível aquela manifestação do descontentamento popular para com os políticos medíocres que estavam se candidatando(o que aliás nunca foi, de modo algum, uma novidade neste país). Tal fenômeno adquire um interesse muito especial, quando olhado sob a ótica comunicacional. Em primeiro lugar, tratava-se de uma mensagem nem tão explícita assim, que aparentemente queria dizer que, mesmo com um macaco no poder, estaríamos em muito melhor situação do que com os políticos que já estavam ali ou com aqueles que estavam se candidatando às eleições. Por outro lado, e tecnicamente falando, a cédula eleitoral permitia um feedback do povo para o governo, em quaisquer níveis e, se tivéssemos pessoas realmente inteligentes no poder, teriam dado ouvidos não somente àquela, mas a todas as manifestações populares. Temos sim as pesquisas de opinião, que poderiam cumprir muito bem esta função, mas sabe-se que os institutos de pesquisa estão a seviço de outros interesses que não incluem o auxílio ao governo num bom governar. Ora, se os altos escalões do Governo já erraram nisto, erraram ainda mais, por conta de uma ignorância e despreparo crônicos de seus técnicos, ao extinguirem a cédula, substituindo-a pela urna eletrônica. Em outras palavras, extinguiu-se um canal de comunicação com o povo, tornando esta(a comunicação com a população) uma via de mão única. Os Psicólogos Comunicacionais, sabem do perigo que isto representa e das consequências via de regra desastrosas disto, e este perigo veio a materializar-se agora, neste mesmo instante em que manifestações populares acompanhadas de alguns episódios de destruição do patrimônio público ou privado grassam pelas ruas de todo o país, repercutindo inclusive no exterior. Tenho visto Sociólogos, políticos, intelectuais de todo tipo tentando entender o que está acontecendo e vejo também a perplexidade (nem tão justificável assim) destes e do Governo. Quando se afirma que "o aumento das passagens foi só o estopim" eu tenderia a concordar, mas num sentido muito além do que mídia, estudiosos e governo desejam que seja. O aumento das passagens não é a mensagem, como muitos(especialmente no governo) desejariam ou esperariam. Se assim fosse, a questão estaria resolvida com uma simples redução no preço das passagens. A verdade é que, do ponto de vista comunicacional, A REBELIÃO É A PRÓPRIA MENSAGEM. Quando muitos agora afirmam que estas manifestações são o maior e mais importante acontecimento deste e do século passado no Brasil, eu concordo inteiramente, e acrescento ainda que é um dos mais interessantes fenômenos de comunicação que já presenciei, juntamente com a (há muito sabida de todos) farsa do "atentado" às torres gêmeas. Em nome de um melhor entendimento, eu daria um exemplo, a nível micro: qualquer um que tenha um cônjuge ou coisa parecida experimente impor a sua vontade, suas opiniões e seus caprichos, sem dar a menor oportunidade ao outro de se manifestar a respeito(de preferência proibindo isto). O resultado é a redundância na mensagem em escala crescente(de uma vez que outras opções, como abandonar o "campo", por exemplo, estão interditadas)de forma que o comportamento redundante(gritar, espernear, quebrar tudo) se torne a própria mensagem, o que vem diretamente ao encontro das palavras de Marshall Mc'Luhan, o "Papa" da Comunicação: "O meio é a mensagem".
Não creio que algum membro do governo venha a ler estas linhas, ou que algum político, sociólogo ou midiocrata venha visitar este blog, mas fica registrada aqui a advertência de que a violência pode chegar a níveis incontroláveis(trata-se de uma possibilidade concreta), se os governantes não abrirem um canal de comunicação com a população, já que o próprio povo, na falta de um, parece estar fundando o seu próprio: o protesto,com ou sem violência.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Sobre o mundo I

O mundo está cheio de problemas e estes não são, ao contrário do que muitos jovens poderiam pensar, causados por negligência nossa(se bem que, em matéria de negligência, relaxamento, pouca-vergonha, vagabundagem, inconsequência, etc, os nossos autocratas estejam dando uma verdadeira aula), mas pelas soluções que foram criadas para problemas anteriores aos que enfrentamos agora e que talvez não tenhamos mais barriga para empurrá-los adiante.Eu não sei qual é a solução para os problemas do mundo. Aliás, não tenho esperança alguma no futuro da humanidade. Não conheço a solução mas, se alguém conhece, esse alguém está pouco se lixando. E este é o resultado de uma porcaria de metal (que, aliás, serve para muito pouco), ter tomado o lugar da consciência dos homens. Que fique de lição, no caso de sobrevivermos à nossa própria irresponsabilidade.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Filosofando XXXV

Contam as escrituras que, um dia, Jesus afirmou que "O diabo é o pai da mentira". Só que, com isso, ele acabou dando um tiro no próprio pé e outro na bunda do "Pai".

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Filosofando XXXIV

Nietzsche(o meu grande filósofo)dizia algo como: "Torna-te o que tu és". Demorei para perceber todo o alcance desta idéia e, mais ainda, para perceber o quão pouco era aquilo em que eu, afinal, queria me tornar. Hoje, resta apenas tornar-me o que sempre fui, a saber: um eterno querer ser.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Mater et magistra

Certo é que não demoraria muito mais de uns dois anos até que ela se tornasse a ninfeta mais bonita(e, no dizer de todos os apreciadores da carne feminina, a mais gostosa)do bairro. Era de fato uma deliciosa promessa cujos contornos finais o seu corpo de menina ainda mal insinuava. A mãe sempre falava com orgulho da educação e da boa moralidade que transmitira às filhas e do seu desejo de que elas tivessem uma sorte diferente da sua, já que tivera que enfrentar grandes dificuldades para criá-las e educá-las sozinha...
- É um pacote de macarrão, uma lata de extrato, um pacote de café, um pote de margarina, um quilo de açúcar, um litro de leite e quatro pães...
- Deixa eu ver aqui...tá faltando dinheiro.
- Mas minha mãe falou que tava certo.
- Mas não tá...faltam mais de cinco reais.
Ela então, com um movimento muito suave, fez cair a alça da blusinha de malha branca, deixando quase ver o biquinho do seio ainda nascendo, enquanto pegava o dinheiro da mão dele...

quarta-feira, 27 de março de 2013

Filosofando XXXIII

Admiro e respeito muito a profissão de Bombeiro, mas devo admitir que a vocação para incendiário fala mais forte em mim

segunda-feira, 25 de março de 2013

sábado, 16 de março de 2013

O atentado

- Dá só uma olhada nisso...
E jogou o jornal para o amigo, com a manchete estarrecedora: “ATENTADO DESTRÓI O WORLD TRADE CENTER”. E tinha lá as fotos das torres, com as explosões, a fumaça e aquele desespero todo do povo.
- Porra, o cara que fez isso é atentado mesmo, não acha?

terça-feira, 12 de março de 2013

Humano, demasiado humano


- Eu já participei de um ritual destes - disse ela - Tive que me enfiltrar no meio deles e participar de tudo. Eu precisava pegar o homem que enganou e violentou a minha filha. É uma coisa horrível: eles têm algum tipo de acordo com o vigia do cemitério para que, quando uma criança for sepultada, ele os avise. Então, vão lá à meia noite, desenterram o corpinho da criança e realizam o ritual.
- E como é isso?
- Cravam um punhal no coração da criança, separam a cabeça do corpo e banham o corpinho dela com o sangue de um bode preto criado só para essa finalidade. Eles também bebem o sangue do bode. Depois, a enterram novamente.
- Deus do céu...ainda existe gente assim no mundo...
- Triste é quando o corpo é exumado e os pais encontram a criança daquele jeito, com a cabeça separada do corpo e o punhal cravado no peito.
- E você não os denunciou?
- O próprio delegado fazia parte do grupo. E tinha muita gente influente também...

(Jan Robba em "O livro das esquisitices")

quinta-feira, 7 de março de 2013

Filosofando XXXI

Dizem por aí que todo grande homem tem uma grande mulher. Discordo: uma grande mulher sabe escolher bem com quem ela anda.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Kiss: o beijo de fogo da inconsequência

Hoje completa-se um mês desde que o Brasil e o mundo assistiram a uma das maiores tragédias em número de vítimas fatais que este país já conheceu e então, depois de toda aquela comoção nacional regada a holofotes, câmeras e altos índices de audiência que via de regra precedem atitude nenhuma, acho oportuna uma pequena reflexão acerca de uma calamidade que vem assolando este país já desde tempos imemoriais, e com a qual o povo parece não se importar ou, por puro oportunismo ou preguiça mesmo, finge ignorar: a falta de profissionalismo ou, em outras palavras, esta espécie de otimismo cínico e inconsequente na qual o brasileiro em geral tornou-se ou já era especialista. Eu explico: Tomemos como pedras de toque para a compreensão dos fatos aquelas que são consideradas as três causas clássicas de acidentes, a saber, a imperícia, a imprudência e a negligência e, já de pronto, teriam que ser chamados a prestar esclarecimentos e responsabilizados desde o governador do estado até o acéfalo que acendeu um sinalizador dentro da boate, incluindo-se aí naturalmente o prefeito, os fiscais da prefeitura, os donos do estabelecimento, os seguranças e seu chefe, etc, já que todos pecaram em pelo menos uma das causas acima. Eu não diria deles que são amadores, pois não me parece decente confundí-los com aquela classe admirável de pessoas que amam o que fazem e procuram fazê-lo da melhor maneira possível, merecendo com toda a justiça o nome de artistas. “Lambões” é, a meu ver, o termo que mais se presta para definí-los. Sem querer matematizar demais diremos, junto com os estatísticos, que a fatalidade é apenas uma probabilidade que não foi calculada. O que não quer dizer de modo algum que esta probabilidade não exista. Mas ninguém na realidade precisa se envolver em cálculos mirabolantes para descobrir o que pode ser feito para que certas coisas indesejáveis não ocorram. Voltando um pouco no tempo, não ficará difícil entendermos o porquê de em mega-eventos como o Rock in Rio ou o show dos Rolling stones em Copacabana não ter havido incidentes maiores do que os que se espera em um show de Rock, a saber, uma ou outra briga ou eventuais casos de etilismo agudo. A razão é muito simples: ali havia profissionais extremamente competentes, cujo sucesso e prestígio dependem sempre e fundamentalmente da máxima diminuição de todos os riscos. E é isso que os aventureiros que grassam por todos os setores de nossa sociedade ainda não aprenderam. Não sou necessariamente um pessimista, mas eu diria que a questão da responsabilização e da punição dos envolvidos neste episódio lamentável não vai dar em coisa alguma. A razão? É porque até mesmo os nossos três poderes(executivo, legislativo e judiciário) também estão minados por dentro pelos mesmos “três poderes”, já citados no início deste ensaio, que realizam o prodígio de destruir um país e não apenas uma boate num piscar de olhos. O que nós e o mundo vimos foi, em outras palavras, nada menos que o beijo de fogo da inconsequência(ou uma lambança completa, se preferirem).


Em tempo:
“Temos como imprudente aquele que, através de uma conduta, afasta-se do mínimo que a apropriada execução exige. O exemplo clássico de excesso de velocidade por motorista em noite chuvosa é extremamente ilustrativo(...) Ou seja, imprudente é aquele que faz quando não deveria fazer”.
“Configura-se a imperícia a partir do despreparo do agente em exercer determinada função onde conhecimentos técnicos são indispensáveis para o sucesso da atividade ou profissão. O leigo que exerce artes medicinais, culminando este proceder em prejuízo ou dano para alguém, demonstra-se como imperito. Ou seja, imperito é aquele que não sabe fazer”.
“Negligente demonstra-se o agente na prática de proceder, que revele e caracterize omissão, em prejuízo de uma atitude que deveria ser originalmente positiva. Em negligência incide, por exemplo, o enfermeiro que deveria realizar a troca diária de ataduras no ferido, e não o fazendo, agrava sua lesão(...)Ou seja, negligente é aquele que não faz quando tem que fazer”.

(Adaptado de: www.ufac.br/ensino/cursos/curso_direito/docs/ufac_artigo_e12.doc)

domingo, 24 de fevereiro de 2013

O fim do mundo II

Enganam-se aquelas pessoas que ainda conservam algum vestígio de bom gosto e que, ao ouvirem pela primeira vez(e última, se tiverem sorte) um funk pensam:“Chegamos ao fundo do poço”. Uma coisa que o tempo nos ensina é a não subestimarmos a capacidade humana de com frequência se rebaixar a níveis inferiores ao dos insetos e ir cada vez mais fundo nesta empreitada. E o pior...ainda sentir orgulho disso. A estas pessoas eu diria que não devem ser tão otimistas pois, com toda a certeza, coisas muito piores ainda estão por vir. Algo que honestamente não sei se me atormenta(me atormentaria bastante há algumas décadas)é pensar que o arsenal atômico de todos os países da Terra é capaz de desintegrar o nosso planeta umas 30 vezes. No entanto, vejo que milhares de guitarras não foram suficientes para mudar o mundo. E aqui vale um parêntese: eu digo "mudar o mundo", mas é no sentido de mudá-lo para melhor porque, para pior, sempre há, por exemplo, um idiota mal-nascido, travestido de carioca, armado de um equipamento de última geração e muito poucas sinapses, jogando nos ouvidos alheios o que, por uma óbvia questão de higiene, se joga na privada. Não satisfeito, junta-se em cima de um palco com mais algumas semi-analfabetas como ele mesmo, as quais, por evidente castigo, Deus brindou com uma bunda de dimensões inversamente proporcionais às do cérebro e uma indiscutível vocação para putas. E, no final, é isso: Não precisamos de asteróide algum para destruir o nosso planeta. Temos gente de sobra para fazê-lo.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Primeiro grau

- Porra, cara, como é que a gente veio parar aqui?
- Aqui onde?
- Cara, não lembra que estávamos lá no meio do campo de pelada quando aquela porra, sei lá o quê, desceu na nossa frente?
- Sei lá...vai ver que a gente saiu correndo e, no susto, nem lembra que correu.
- Viu a placa ali atrás?
- Não. O quê tem?
- Lê então e vê o nome da cidade onde nós viemos parar...
Ele virou-se e ficou branco como cêra.
- Meu Deus...isso não é possível...


(Jan Robba em "O livro das esquisitices")

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Filosofando XXX

"A maior dificuldade de quem vai escrever e, pior ainda, está implicado com o que deixará escrito, está em decidir se vai escrever algo verdadeiro ou algo útil"



Jan Robba.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Uma estranha sêde

- Hoje eu vou te mostrar como é que se faz, e depois você não vai precisar nem de explicação.
Ele então se aproximou do primeiro homem que estava de pé com as mãos amarradas, e encostou o cano da pistola embaixo do queixo dele, apontando para cima. Apertou o gatilho e foi aquela chuva de sangue e miolos.
- Pronto. Agora é com você – disse ele ao novato, empurrando com o pé o corpo que então rolou para dentro do valão - Você vai ficar umas noites sem dormir e vai até perder a vontade de comer, mas com o tempo você acostuma. Toma – e entregou a pistola ao mais novo parceiro – atira com essa, que não tem erro.
- Pelo amor de Deus...eu tenho família – implorou o segundo homem, um agiota conhecido, chorando e já urinando pelas pernas abaixo – pelo amor de Deus...Quanto vocês querem?
O novato então se aproximou, colocou o cano da arma embaixo do queixo dele e foi tomado de um tremor quase incontrolável. Mas tinha que fazer aquilo, ou os outros ficariam para sempre com um pé atrás com ele ou, pior, dariam um jeito de ele "morrer no cumprimento do dever".
- Resolve logo essa porra. Mata logo esse filho da puta. Isso aqui é serviço pra homem e não pra mocinhas. Nós não temos a tarde toda.
Ele então apertou o gatilho e foi novamente aquela chuva de sangue e miolos. Vomitou o que havia e o que não havia em seu estômago.
Ficou vários dias sem comer e sem dormir direito. Resolveu experimentar um pouco do pó que o seu parceiro lhe oferecia de vez em quando. Sentiu que assim ficava mais fácil fazer o seu trabalho. Na farmácia havia uns tranquilizantes muito bons que qualquer policial podia comprar sem receita médica(e muitas vezes até sem pagar).
Passou-se um ano e pouco, e ele até estranhou por quê quase não conseguia mais lembrar daquele novato que ele fora. Agora, algumas(muitas delas) execuções mais tarde, não conseguiria mais comer ou dormir direito...se passasse muito tempo sem matar alguém...



(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")




sábado, 9 de fevereiro de 2013

Um erro fatal

- Filho da puta...- pensou ele, meio falando, enquanto caminhava pela rua, tomado por aquela confusão de sentimentos que inclui não só um enorme desânimo, mas também auto-piedade, revolta e o ódio que todo mundo sente quando é descoberto fazendo algo que sabe que não se deve fazer. Tudo começara uns dias antes, quando fora participar de um processo de seleção, a fim de conseguir um emprego no setor de vendas de uma multinacional famosa. Viera agora receber o resultado do teste psicológico e, assim que se sentou, o psicólogo lhe disse por cima dos óculos:
- Cá entre nós, isso que você fez não foi muito honesto...ou foi?
- Não entendi...O quê foi que eu fiz?
- O fato de todos os outros depois de você terem dado a mesma resposta ao teste refresca a sua memória?
Ele olhou para o chão e sentiu que havia se dado mal. Não sabia o que dizer.
- Mais uma coisa – continuou o psicólogo - você pensou que era esperto mas, se fosse esperto mesmo, teria ficado na sua. Eu mandei você olhar uma figura e escever o que viesse à sua cabeça. No final, eu disse que a sua resposta estava muito boa, mas você não sabe que testes desse tipo não têm resposta certa ou errada. Nisso, eu acabei conhecendo a sua integridade...sua capacidade de, de vez em quando, agir honestamente, entende? E você, quando abriu o bico lá fora, não só se reprovou neste quesito, como reprovou todos os outros.
Ele então olhou para o envelope de papel pardo em cima da mesa, olhou para fora da janela e finalmente olhou para o psicólogo com aquele olhar de quem fora repentinamente reduzido a dimensões sub-atômicas.
-E ainda mais uma coisa: o que você viu na figura, na realidade não interessa nem um pouco, como não me interessa nem um pouco a sua honestidade.
- Hum?
- O que me interessa mesmo não está no teste, mas nem você e nenhum outro podiam saber disso. Então, com relação à honestidade, pode ficar tranquilo porque, até hoje, muito poucas pessoas íntegras passaram por aqui. E tem mais: o dono desta empresa não deve ser muito mais honesto do que você. Talvez ele procure apenas pessoas ousadas, auto-confiantes e que sabem o que querem, e que no fim das contas utilizem os mesmos métodos que ele usou para subir na vida...E você sabe, nesse ramo muitas vezes a honestidade até atrapalha...
- ...
- Bem, o meu procedimento aqui é o seguinte: eu faço a avaliação dos candidatos e entrego a cada um o resultado dentro de um envelope lacrado e carimbado e eles devem, se quiserem, retornar à empresa e entregá-lo ao gerente de pessoal, que é quem dará a última palavra. Caso o lacre seja violado, o laudo perde toda a validade e o candidato é automaticamente reprovado.
O psicólogo então pegou o envelope e o entregou ao candidato, dizendo por fim:
-Pegue. Faça o que quiser com isto. Você não sabe o que está escrito aí dentro. Se tentar saber, perde a validade. A decisão de entregar ou não à empresa é por sua conta, pois a passagem até lá é você quem vai pagar...
E agora estava ele ali na rua, sem rumo e com aquele envelope na mão(e é nessas horas que as lixeiras estranhamente desaparecem). Por fim, pensou:
- Porra, já que eu estou fudido mesmo, pelo menos quero ver o que está escrito aí...
E então abriu o lacre e retirou o laudo, cuja conclusão dizia: “O candidato é considerado apto para exercer o cargo para o qual se propõe”.
Agora sim, ele acabara de cometer o erro fatal...

(Jan Robba em:”O livro das esquisitices”)


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Prontuário A/16.660

- Doutor, pode vir na emergência?
- É coisa muito séria?
Ela não conseguiu conter uns risinhos.
- É...sexo anal. Eles contaram uma história meio esquisita, mas tem todo o jeito de terem sido pegos em flagrante pelo marido e então ele deve ter apontado uma arma para os dois e colou os dois naquela posição com uma cola muito forte, acho que com o superbonder...o pênis do amante todo dentro ânus dela...E o pior é que é gente famosa...
- Só podia ser...A imprensa já chegou?
- Por enquanto, não...mas acho que não demoram não...
- Quanto, pra abafar?


(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Caso 5.897/06


-Nana, nenê...- e aqueles olhos vidrados na parede já não olhavam mais para este mundo -...que a cuca vem pegar...
O policial que arrombou a porta ficou paralisado. O outro vomitou ali mesmo.
- Cara, nunca vi uma porra dessas! Ei! Tá escutando?!
O primeiro, então, saiu para pegar um saco plástico. Voltou em seguida e, enquanto o seu parceiro tentava se recuperar, encostado na parede, retirou o corpinho já em avançado estado de decomposição dos braços da mãe, que continuava ali sentada. Do seio dela rolaram algumas larvas, que caíram sobre o seu vestido...
-Nana, nenê...-continuou ela -...que a Cuca vem pegar...
E aqueles olhos vidrados na parede já não olhavam mais para este mundo...


(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")



sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

As mil faces do desejo I

Tudo aconteceu tão rápido que ela sequer teve tempo de esboçar qualquer reação. Ele entrou subitamente no quarto e aplicou-lhe uma violenta bofetada no rosto, que a jogou na cama. Então, encostou o revólver na cabeça dela, já engatilhado, e foi dizendo:
- Se você gritar, você morre, sua puta. Entendeu?
- Entendi sim. Pode levar tudo, mas não me mata! - implorou ela baixinho, choramingando, tremendo incontrolavelmente e se urinando toda.
Com um puxão, ele rasgou a camisola dela, fazendo aparecer aquele corpo ainda desejável. E ainda com a arma encostada na cabeça dela, tirou-lhe a calcinha, abriu-lhe as pernas e foi penetrando-a de todas as maneiras, pela frente e por trás, com toda violência, indiferente aos seus gemidos de dor. Foram mais de vinte minutos de terror até que finalmente, ao vê -lo gozar, ela também gozou...como louca...
Ele recostou-se na cama, colocou o revólver em cima do criado-mudo, e ela então aninhou-se ao lado dele, com a cabeça em seu peito, exausta. Ele começou a pensar em como tem gente doida nesse mundo. Mas pensou lá consigo mesmo: "Ora, por quê não?". É bem certo que dinheiro, roupas caras e um carrão que uma mulher rica dá de presente a um homem têm o estranho poder de, em pouco tempo, fazer com que ele esqueça seus pudores de pobre e já não estranhe mais coisa alguma.
- Quando é que o seu marido almofadinha chega de viagem?
- Ih, esquece ele, amor...

(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A cura para os gays

Deputados federais defendem “cura” para gays no Brasil

São Paulo – A Comissão de Seguridade Social e Família promoveu uma audiência pública para debater a resolução do Conselho Federal de Psicologia que proíbe os profissionais da área de oferecerem tratamentos para “curar” homossexuais. A norma é de 1999, mas ainda causa polêmica entre setores religiosos de psicólogos e deputados.
A polêmica foi retomada na Câmara dos Deputados, onde tramita um projeto do deputado João Campos (PSDB-GO) que defende o fim da resolução – e agora a questão vem sendo debatida em audiências públicas.

Fonte:
http://exame.abril.com.br/brasil/politica/noticias/deputados-defendem-cura-para-gays

07/11/2012 12:14

Temos assistido ao longo das últimas décadas a demonstrações cada vez mais bizarras do poder de idiotização que o Cristianismo e os cafetães da fé(leia-se: bispos, pastores, etc) possuem. Há coisas que só passam na mente alucinada dos evangélicos(e de alguns outros cristãos e muçulmanos também). Qualquer um que cometa o suicídio intelectual de pensar(?) por essa lógica capenga dos evangélicos, aparentemente corroborada por pesquisas genéticas que chegam ao ponto de encontrar genes até mesmo do alcoolismo, deverá então começar a procurar a cura também para a corrupção que, em termos de doença, é uma calamidade que assola este nosso país de norte a sul, em todos os escalões. Ora, se existe a tal "cura" para a homossexualidade eu não sei, mas tenho a convicção de que a cura para a corrupção é possível através de uma generosa dose de chumbo. Não sou necessariamente um simpatizante dos regimes de esquerda, mas tenho que admitir que em muita coisa eles estão certos, inclusive na cura da corrupção. Quando vemos aí pastores e bispos envolvidos com lavagem de dinheiro, lobby político, tráfico de armas e drogas, tráfico de influência, suborno, etc, acho uma estúpidez, além é claro de uma tremenda cara de pau, perder tempo com uma infantilidade como a "cura" para os gays.
Ainda, um detalhe interessante: assisto a alguns programas evangélicos na televisão. Já vi ex-viciados, ex-bandidos, ex-traficantes, ex-prostitutas, ex-alcoólatras, etc dando testemunho da sua cura, mas eu JAMAIS VI UM EX-CORRUPTO contando para o mundo a sua cura milagrosa. Isto se deve a que, por razões óbvias, os corruptos não queiram ser curados, ou talvez
o Deus dos evangélicos não tenha poder para curá-los ou, pior, não queira. E é então que esse espantalho que eles chamam de Deus entra em uma enorme contradição: se Deus pode e não quer, ele não é um Deus de amor e de justiça. Se Deus quer e não pode, então ele não é todo poderoso, como dizem.
Diz lá na Bíblia dos cristãos: "...E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará"(João 8:32). Mas será que o cristão está mesmo pronto para a verdade? Tenho sérias dúvidas a esse respeito, e até ousaria dizer que os cristãos estão longe de serem amigos da verdade. Se não, vejamos: há uma máxima no Jornalsmo que diz(o óbvio): "Uma coisa é o fato, e outra coisa é o que se diz sobre o fato". Daí que, no que se refere a Deus, a máxima também é válida, e diremos que uma coisa é Deus e outra coisa é o que se diz sobre Deus. Ninguém jamais viu Deus, o ouviu ou falou com ele, a  não ser os esquizofrênicos, que têm esse tipo de visões místicas e dos quais a galeria de profetas do Cristianismo está lotada. Enfim, tudo o que nós humanos temos são meras OPINIÕES sobre algo que ninguém nunca viu ou verá(não quer dizer que não exista, mas isso é do íntimo de cada um). E é aí que, dando uma panorâmica sobre a (contraditória) história das religiões, vamos ver que todas as guerras religiosas(e muitas outras) foram deflagradas por um único motivo: opiniões. Está aí a verdade que os cristãos precisam saber, ou seja que eles matam e morrem por algo tão inútil e banal quanto uma opinião, mas que é essa mesma inutilidade que sempre encheu os cofres dos seus líderes..

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Filosofando XXIX

Ninguém entende mais de solidão do que um ser humano diante da morte. Afinal, ninguém pode morrer com ou por ele...