“ Decerto que ficaria uma imensa lacuna, caso eu prosseguisse em minhas revelações sem falar sobre esta figura enigmática, cujos ensinamentos influenciaram toda uma geração de artistas, filósofos, beatnicks, etc e, como já foi dito aqui, influenciaram também, e de forma definitiva, a vida e o pensamento de A.C. Silver.
Na realidade, pouco se sabe de concreto sobre a vida de Sua Divina Graça Sri Khagayanda Maharishi, o grande guru da Nova Era, que surgiu no cenário mundial nos idos dos anos 60, afirmando ter vindo ao mundo com a missão de trazer luz, desde que todos pagassem em dia as suas contas de energia, e cuja declaração bombástica “É...” veio a se tornar o divisor de águas na Filosofia, pondo um ponto final na inquietante questão “Ser ou não ser?”. Não há um acordo, mesmo entre os mais experientes biógrafos e os iniciados mais próximos a ele, quanto à sua origem e história. Tampouco se sabe se esta nuvem de mistério na qual sua vida parece envolta é proposital ou é apenas uma consequência natural do singular modo de vida de todos os grandes ascetas e visionários cujos pés um dia tocaram este planeta. Uns dizem que ele nasceu de uma virgem. Outros, por sua vez, afirmam que ele nasceu de uma quase-virgem. Corre no entanto, na Índia e em vários outros países do Oriente, a lenda de que ele teria nascido de uma vaca. De qualquer forma, o seu nascimento é tão misterioso quanto o seu desaparecimento, como todos poderão constatar.
Cinco minutos, e nada mais do que isso. Foi necessário apenas este pequeno lapso de tempo para que tudo ocorresse. Cinco minutos que o avô de Khagayanda(seu nome verdadeiro é desconhecido) se ausentou para ir ao banheiro por conta de uma diarréia crônica que contraíra desde que começou a se expor a níveis excessivos de radiação(na realidade, suicidas, para os padrões de hoje) na usina nuclear de Chernobyl. O velho era um militar de alta patente, que fora designado para dirigir a tal usina, um projeto ultra-secreto do seu governo, iniciado assim que a segunda grande guerra terminou e que seria o protótipo da primeira usina nuclear do mundo.
O jovem khagayanda livrou-se rapidamente do macacão anti-radiação, das botinas e das suas próprias roupas, ficando apenas com o capacete na cabeça. Até hoje especula-se sobre as razões disso, mas o fato é que ele começou a dançar e a apertar tudo o que fosse botão e puxar tudo o que fosse alavanca ou chave que estivesse à sua frente no painel de controle. O resultado foi o primeiro acidente nuclear da história, felizmente sem vítimas fatais(pelo menos é o que o exército declarou em nota, a despeito do sumiço inexplicável de 300 funcionários da usina). Devido a ter recebido uma carga considerável de radiação, tempos depois caíram todos os pelos de seu corpo, com exceção dos cabelos e barba que, na ocasião, estavam protegidos pelo capacete. Em outras palavras: ficou imberbe do pescoço para baixo. Algo muito interessante ocorreu: as células do corpo de Khagayanda(as do pescoço para baixo), já com o seu DNA modificado, comunicaram-se com as células da cabeça e ordenaram que ele se enfiasse dentro de um freezer ligado a quarenta e cinco graus negativos e ali permanecesse até que sua mutação se completasse. Assim ele fez e, já por volta do trigésimo sexto dia, sentiu fome e, então, resolveu que fazer um lanchinho não iria atrapalhar em nada a sua escalada rumo à iluminação. Começou comendo a sua camisa, que era mais macia, e depois foi, no decorrer dos dias, comendo a cueca, as meias, a calça, o casaco, os sapatos e, por fim, a sua carteira com os documentos e o seu relógio Seiko. Ao fim de oitenta e oito dias, abrindo os olhos na escuridão do freezer, observou que seu corpo luzia com uma fosforescência esverdeada. Então, decidiu que já estava suficientemente iluminado e que já estava pronto para sair pelo mundo pregando. Consta que ele teria sido visto perambulando pelo Nepal, Tibet e Índia, vindo posteriormente para Cuba, onde criou uma comunidade budista, cujas doutrinas, mescladas às ideias revolucionárias de Fidel Castro e Che Guevara logo se espalharam pelo Caribe, com o nome de Cubismo, em referência àquele país. Até o momento de seu misterioso desaparecimento, ele viveu na linda e paradisíaca San Gonzáles, no México, difundindo a doutrina do “Cubismo”, o Budismo revolucionário de Cuba".
(Jan Robba em: "San Gonzáles, meu amor").
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