quarta-feira, 31 de julho de 2013

Os Nanautas estão entre nós - Parte 2



"Não fora difícil encontrar uma maneira de ganhar dinheiro com aquela tonelada e meia de goiabas despejadas ali na sua calçada. Num piscar de olhos, o Silver-chupa se tornou a sensação do momento, e Silver passou o resto daquele verão vendendo os seus picolés na praia, gritando o Slogan que logo caiu na boca do povo: “Chupa, que é do Silver!”. O dinheiro vinha em avalanche e tudo transcorria muito bem, até que o posto de saúde local começou a apresentar números que já ameaçavam bater os récordes nacionais de casos de amebíase, leptospirose e barriga d'água. Uma investigação levada a cabo pela OMS e Polícia Federal revelou que a causa eram os picolés de Silver que, conforme se constatou, eram feitos com a água de um poço que ficava nos fundos de seu quintal. A bem da verdade, se não fosse esta investigação, não se teria encontrado dentro daquele poço a verdadeira ossada do famigerado médico nazista Joseph Mengele, além de tres cápsulas de Césio 137 roubadas de um hospital público, o rifle que matou John Kennedy e algumas calcinhas de Andy Warhol, entre outras imundícies. Não havia opção a não ser fugir e, já que a fuga era inevitável, ele resolveu ir para a Índia, onde poderia estudar a Psicologia das vacas com a tranquilidade que este estudo exige. E assim foi. Não fora difícil também adquirir uma identidade e um passaporte falsos, de forma que, na manhã seguinte, ele já se encontrava a bordo do “Eugênio C”, rumo a Bombaim. A linda e onírica Bombaim, uma cidade que respira magia e misticismo...
Era lindo observar a languidez daquelas vacas passeando pelas ruas, olhando as vitrines, entrando nos cafés, etc...
E foi ali mesmo em Bombaim que, durante um passeio, ele viu colado num poste um panfleto com os seguintes dizeres:
PAI KHAGAYANDA DO HIMALAIA
TRAZ A SUA VACA DE VOLTA EM 3 DIAS
FAZ E DESFAZ TRABALHO
CURA CHIFRE DE BOI MANSO E DE BOI BRABO
CURA PEREBA, BERNE E OLHO GORDO.
(Etc, etc...)
Ficou deveras impressionado e pensou consigo mesmo que o tal macumbeiro do Nepal talvez tivesse muito a compartilhar sobre a Psicologia das vacas e resolveu então ir ao encontro de Pai Khagayanda, pois sentia que havia algo a aprender com aquele guru. Permaneceu na companhia do mestre por dois meses e ali aprendeu várias técnicas Yogues, sendo que duas viriam a ter importância fundamental para a sua sobrevivência num futuro muito próximo: a técnica da respiração anaeróbica e a técnica da animação suspensa. A primeira capacitava o adepto a ficar durante um longo tempo sem respirar. Poderia ser por dias, semanas ou até meses. A segunda permitia que o adepto, conforme as circunstâncias, manipulasse os seus próprios sinais vitais, de forma que poderia ser considerado clinicamente morto, ser enterrado e “ressuscitar” muito tempo depois.
De volta a Bombaim, e com suas finanças em baixa(na verdade, devendo a Deus e ao mundo), teve uma idéia genial: abrir uma banca de jogo do bicho pois, prevendo que os Indianos só apostariam na vaca, suas chances de tirar dinheiro daqueles trouxas seriam enormes. Não podia estar mais certo em suas deduções. Assim ele fez, e a fortuna não tardou a lhe sorrir novamente. Foram vários meses de luxo e ostentação: carrões importados, champagne francês, belas mulheres, charutos cubanos, tudo do bom e do melhor. Chegou até mesmo a ser nomeado patrono de uma das escolas de Bharatanatyam(que em Hindi significa “Samba”), a Unidos da Vaca Malhada, que naquele ano viria com o enredo “Vem tomar do meu leitinho”. Sua felicidade porém terminou quando a polícia, após denúncias anônimas e sua insistente recusa em aumentar o valor da propina que pagava ao prefeito, fechou suas bancas de jogo e estourou o escritório de onde ele administrava e controlava tudo, alegando que, na Índia, o jogo do bicho só pode ter um único animal: a vaca. Foi então levado a julgamento sob a acusação de danos morais à Vaca Sagrada e condenado a vinte e cinco anos de prisão, tendo todos os seus bens confiscados pelo estado.
Não foram necessários muitos dias na cadeia para que a depressão tomasse conta de Silver. Ficava pensando se a sua vida toda seria aquela agonia de altos e baixos constantes. Achou que jamais teria sossego e que era até melhor morrer do que viver assim. Morrer...morrer...e foi então que sua prodigiosa inteligência brindou-lhe novamente com uma ideia genial: utilizar a técnica da animação suspensa, pois assim pensariam que ele estava morto e ele sairia dali. O resto ele resolveria depois...
Com efeito, seu corpo “sem vida” foi encontrado na cela três dias depois e, após o legista espantar as moscas e atestar seu óbito, todos foram unânimes em que enterrar um herege em solo indiano só atrairia desgraças para aquele país. Providenciaram então a identidade de um desertor do Vietnam que fora executado por um cafetão em Saigon, puseram Silver num caixão e o despacharam no primeiro avião para os Estados Unidos".


(Jan Robba em: “San Gonzáles, meu amor”)

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A Marcha das Vadias

Lembro-me de haver afirmado em algum canto que eu não faria do meu Blog uma privada e que, portanto, eu me absteria de trazer certas imundícies ou publicar sobre alguns assuntos aqui. Hoje eu abro uma exceção, e que me perdoem os meus leitores pelo cheiro de merda que porventura exalar daqui.

RECADO PARA AS VADIAS

Não sou católico e nem sequer sou cristão, mas o que eu pude ver da Marcha das vadias foi um espetáculo grotesco, de péssimo gosto e, de longe, a maior presepada que já vi nos últimos tempos. Coisa própria de idiotas comedores de merda. Todos viram lá aquele bando de dementes mal comidas reivindicando não se sabe o quê e alguém que, num certo momento, quebra a imagem de Nossa(dos Católicos)Senhora e, em outra cena, uma outra pessoa se masturba com o crucifixo. Em primeiro lugar, com isso elas se igualaram aos mais ignorantes, vagabundos e rasteiros pilantras que se intitulam pastores e que infestam o submundo da fé neste país, como aqueles que, há uns anos atrás, chutaram uma imagem também da santa, lá no picadeiro(ou chiqueiro, tanto faz)que eles chamam de sua "igreja". Isto, na minha opinião, vale não só um processo(está na constituição um ítem sobre a intolerância religiosa), mas uma sessão de porrada muito bem dada, daquelas de quebrar(muitos)ossos. No mais, masturbar-se com um crucifixo é a maior prova de que não lhes resta nada mais para esfregar naquelas xoxotas(ou rabos, sei lá)mais podres do que um bueiro de esgoto.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Os Nanautas estão entre nós – Parte 1



“Década de 60. O mundo inteiro balançava o rabo ao som dos quatro maconheiros de Liverpool, enquanto as pessoas de bem assistiam pela TV à maior revolução cultural, filosófica e artística do Século XX e talvez de todos os séculos anteriores. A tão esperada Era de Aquário não poderia ter um começo melhor. Havia um jovem estudante de nome A.C. Silver, de inteligência considerada abaixo do sofrível(coisa muito comum entre os grandes gênios da Ciência), que tentava já pela quinta vez passar de ano e prosseguir no seu curso primário quando, ao tentar resolver um “Arme e efetue”, teve um surto de jumência precoce(Jumentia praecox), doença que o acometia desde a mais tenra idade e que redundava em crises sempre que as exigências sobre o seu aparato intelectual se mostravam excessivas. Era comum, quando isto acontecia, ele se trancar no porão de sua casa e ficar lá, incomunicável, por dias a fio na mais completa escuridão, sem banho e sem comida, acompanhado apenas de seu caramujo Silvinho. Estando trancado já pelo oitavo dia consecutivo, eis que, através de um pequeno buraco feito na parede por um casal de barbeiros que fora ter uma noite de luxúria ali, ele vislumbrou um tênue feixe de luz cruzando a escuridão e ficou observando as milimétricas partículas de poeira que flutuavam lentamente no ar. Encantado, estendeu a mão, barrando o fluxo das partículas e observou que várias delas se desviavam de sua mão, rodeando-a e retomando sua rota original. Repetiu mais uma vez, e mais outra e outra mais, até que teve então o grande insight: aquelas partículas só podiam ser alguma espécie de seres inteligentes nanoscópicos, ou eram veículos que conduziam criaturas inteligentes através do nano-espaço. Batizou-os então de Nanautas. Por esta época, a Teoria do gás colante estava em voga, sendo uma unanimidade no meio científico. Tal teoria dava conta de que este misterioso gás, provindo das turbinas de aviões dos comunistas, que o espargiam nas mais altas camadas da atmosfera, era responsável pelas inexplicáveis falhas nos motores dos automóveis, eletrodomésticos e também pelo atraso na menstruação e pela própria Jumência precoce, etc. Também eram atribuídos ao gás colante o efeito-estufa, o El Niño(fenômenos bem conhecidos dos cientistas, mas mantidos em sigilo absoluto) e a transmissão daquela doença venérea que todo mundo conhece, através do piso frio dos banheiros. Silver decidiu então que era chegada a hora de abandonar a clausura e ir para o seu laboratório desvendar os segredos destas estranhas criaturas, pois algo lhe dizia que a Teoria dos Nanautas viria a riscar definitivamente do mapa da Ciência a Teoria do gás colante. Tudo finalizado, os ingleses ofereceram um caminhão de goiabas em troca dos direitos de uso e experimentação com a Teoria dos Nanautas e, sem perda de tempo, inocularam uma bezerra com uma solução de 0,005 mg/litro de Nanautas. No espaço de alguns meses, o mundo assistiria ao surgimento da primeira vaca psicodélica do planeta, logo chamada de “A vaca louca”. Posteriormente, já em 1970, a banda inglesa Pink Floyd lançaria o seu célebre disco “Atom heart mother”, o qual estampava na capa a foto desta mesma vaca e trazia o seu grande hit “Summer 68”, numa claríssima alusão à descoberta de Silver. Conta-se extra-oficialmente que os cientistas ingleses, após o bem sucedido experimento com a vaca, solicitaram voluntários para se submeterem ao mesmo experimento, sendo que Syd Barrett(integrante do Pink Floyd que contraiu misteriosamente a Jumência precoce) teria sido um deles.

O CARAMUJO SILVINHO

Silver o encontrou muitos anos antes de sua descoberta, numa manhã chuvosa, em que o molusco estava prestes a ser tragado por um redemoinho que se formara no ralo da rua. Armou-se de coragem e foi, com a água quase até o pescoço, resgatar o pobre caramujo. Já dentro de casa, enxuto e orgulhoso por ser um herói e ter ganho um novo amiguinho, foi que ele se deu conta de uma estranha coincidência: o caramujo tinha, como qualquer outro, a sua casca em espiral e estivera prestes a ser tragado pelo redemoinho, que era uma outra espiral. Sentiu que havia naquilo um estranho presságio. E não podia estar mais certo...
Batizou seu novo companheiro de Silvinho, que vem de Silver e passou a cuidar dele como o irmão que nunca teve.


Mas enfim, voltando ao ano de 1968, Silver pressentiu que havia ainda algo inexplicado, um estranho elo que ligava Barrett àquela vaca. Afinal, as vacas na Índia já eram adeptas do sexo livre e de uma vida mais natural havia séculos. Era hora de estudá-las melhor, e teria de ser pessoalmente...mas como?"

(Jan Robba em: "San Gonzáles, meu amor")

terça-feira, 23 de julho de 2013

Não trago ouro ou prata...

"Não trago ouro ou prata..." Ora, mas é evidente que não! Nunca, em dois mil anos de história do Cristianismo, se teve notícia de que um um papa tenha visitado um país a não ser para fins políticos e/ou para engordar ainda mais os cofres do Vaticano. Vemos hoje, substituindo o lamentável patife Nazista, um novo boneco travestido de homem humilde, o que parece aos olhos mais ingênuos uma grande novidade. A declaração acima, além de descaradamente hipócrita e evidentemente tautológica, mostra o quanto de novidade Francisco vem trazendo na mala. Honestamente, ficarei muito surpreso no dia em que um papa, ao deixar o país que acaba de visitar, emita a seguinte declaração: "Não estou levando nem ouro e nem prata..."

sábado, 20 de julho de 2013

Os Nanautas estão entre nós - Introdução

Moscou, Julho de 2013.

“Após muito relutar e, de modo algum insensível à atitude heróica e audaciosa de homens como Manning, Assange e, ultimamente, Snowden(o qual se encontra aqui comigo neste instante), decidi ser chegado o momento de revelar ao mundo as verdades que me foram confiadas por Sua Divina Graça Sri Khagayanda Maharishi, o grande mestre da Nova Era, aquele cuja missão é trazer luz ao mundo, caso todos paguem em dia as suas contas de energia. Mesmo ciente dos enormes riscos à minha integridade física, enchí-me de ânimo e, visto até o momento não ter vislumbrado qualquer oportunidade de manter estas informações em sigilo mediante alguns favores financeiros, achei por bem realizar logo o ritual de fechamento de corpo na Macumba(o qual me garante proteção contra projéteis de vários calibres, granadas, explosivos, armas brancas e veneno de rato) e assumi esta tão perigosa quanto delicada tarefa. Através deste relato todos entrarão em contato com detalhes inéditos da vida e obra de um dos maiores gênios científicos de todos os tempos: A.C. Silver. Quase tudo o que se conhece de mais avançado nos campos da Física Quântica, Biologia, Astrofísica, Eletrônica, Ufologia, Comunicação com os mortos, Vudu, Ocultismo em geral e Magia Negra, jogo de palitinhos e principalmente a revolucionária Teoria dos Nanautas, deve-se a esta notável figura, cuja história e descobertas foram cuidadosamente ocultadas sob um espesso véu de desinformação e mistério, de forma que seu nome hoje é apenas uma lenda que jaz na obscuridade. Os motivos disto virão à tona ao longo da exposição deste material e, então, os milhares de fragmentos aparentemente desconexos irão se juntar em um todo coerente. É possível entender, a partir do que será exposto aqui, as conexões entre o Caso Roswell, a guerra fria, a doença da vaca louca, o caso Watergate, a invasão do Oriente Médio, a morte de John Lennon, o por quê de nunca mais o homem ter pisado na lua e muitos outros acontecimentos que, juntos, formam o quadro aterrador de uma trama diabólica forjada por mentes maquiavélicas, cujos interesses não incluem o esclarecimento da humanidade e sua ascensão a um nível evolutivo superior ao das amebas. A importância das descobertas e inventos de A.C.Silver está em proporção direta com a sórdida obstinação com que os governos do mundo inteiro têm procurado manter este véu inviolável, e em proporção inversa com o valor que a minha vida tem de agora em diante.
Por ocasião de uma viagem ao Nepal, em companhia do um grande amigo afegão, Muhammad Ali Arrasad(que Allah o tenha), e após ter sido devidamente testado e considerado digno, ouvi durante 365 noites, com a extremidade inferior do meu tubo digestivo colada no Gelo do Himalaia, as importantes revelações de Sua Divina Graça Sri Khagayanda Maharishi. Nenhum material escrito me foi confiado, de modo que eu deveria ouvir com toda a atenção e guardar cada palavra em minha memória. No fim, antes de minha partida de volta para o ocidente, ele desejou-me boa sorte, advertiu-me de que minha vida já não valia mais nada e voltou para dentro do seu freezer, onde costumava meditar a uma temperatura de 45 graus negativos, alheio a tudo o que é mundano. Quis a fatalidade porém que, estando com minhas finanças em baixa e sofrendo ameaças diárias de morte da parte de alguns agiotas, eu aceitei um emprego de sparring, , o qual me foi indicado por um cafetão aposentadoem, uma academia de boxe, em troca de algum dinheiro. O resultado mostrou-se até positivo, de forma que eu consegui equilibrar minhas contas, mas foram tantos os impactos nos meus lobos frontal e temporal que, no fim, eu quase não lembrava sequer meu próprio nome. Mesmo assim, uma boa parte do material que me foi confiado permaneceu vivo em minha mente, esperando por este momento, o momento em que finalmente tornar-se-á manifesto a todos os seres humanos”.


(Jan Robba em: "San Gonzáles, meu amor")

terça-feira, 16 de julho de 2013

Para além daquelas nuvens

O rei ficou deveras impressionado com aquele menino de olhar vivo e palavras tão inteligentes. Por uns instantes, chegou até mesmo a esquecer que estava desgraçadamente triste, mergulhado num tenebroso abandono que já se arrastava por quase um ano. Andou por algum tempo de um lado para o outro do aposento no qual havia se trancado, no alto da torre. Decidiu que iria vê-lo outra vez no dia seguinte. Não conseguia explicar o por quê, mas gostou dele e torcia para que ele estivesse lá de novo. E assim foi. No dia seguinte, à mesma hora, desceu as escadas, atravessou a ponte e foi ao encontro do menino. Não havia a possibilidade de ser reconhecido, pois além da barba e dos cabelos muito crescidos e descuidados, ele passara a usar roupas nada parecidas com as de um rei.
De fato, o rei encontrou o menino naquele mesmo lugar à beira do lago e conversaram uma tarde inteira e sua admiração crescia à medida em que mais conhecia o garoto. Sentia-se mais alegre, até. O rei então pensou consigo mesmo: “Nunca vi tamanha sabedoria nem mesmo nos meus conselheiros ou em qualquer sábio que tenha passado por aqui...Sei que é apenas um garoto, mas talvez ele tenha uma palavra que possa aliviar minha dor...”. Então, disfarçadamente, perguntou ao menino:
- O rei nunca mais apareceu para o povo...por quê será?
- Não sabe? Todo mundo conta que ele ficou muito triste e se trancou na torre do castelo e de lá não saiu mais, desde que a princesa morreu.
- Ah, sim...entendi. Mas, me diga uma coisa: Se você fosse o rei, o quê você faria?
- Hum...se eu fosse o rei, eu lembraria que sou um homem e que devo suportar minhas dores como um homem e não como uma criança. E então eu voltaria para o trono, que é o lugar de um rei.
O rei ficou em silêncio.
- E você? - perguntou o menino - Se você fosse o rei, o quê você faria?



(Jan Robba em: "Para além daquelas nuvens")

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Filosofando XXXVIII

A dor é uma boa conselheira, mas não é uma boa companhia. Portanto, você deve ouví-la e se apressar, e chamarão a isso de prudência. O prazer é uma ótima companhia, mas não é um bom conselheiro e, se você se apressar, chamarão a isso de ejaculação precoce ou, no máximo, uma rapidinha. E a má companhia certamente será você.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Admirável gado novo

- Bons tempos aqueles, em que era proibido beber nas eleições, lembra?- e terminou então de encher os copos.
- É verdade...A bebida tinha um outro sabor...
- Havia uma felicidade quase infantil em fazer aquilo. E não adiantava ter bebida em casa. A gente queria mesmo era beber escondido num boteco.
- Cara, às vezes fico pensando que é na transgressão que o homem se afirma como um ser livre e ao mesmo tempo denuncia a opressão que pesa sobre todos, mas que todo mundo finge que não vê...
- Essa foi profunda, mas aqui entre nós: em quem você votou?
- O voto é secreto, seu jumento – e ele então riu de como conseguia ser tão cínico, e tomou mais um gole.
- Olha, cara, se o voto fosse secreto, eles nem divulgavam o resultado das eleições, porra.
- Faz sentido...- e riu de novo – Eu anulei aquela porra. Infelizmente, não há como rasgar uma urna eletrônica...
- De fato, com a qualidade dos políticos que nós temos, as perspectivas de futuro não são animadoras de jeito nenhum.
- Eu tenho visto o discurso desses faladores aí, e mesmo o desse presidente de merda que nós temos, e eles prometem de tudo, desde a reconstituição de hímen pelo SUS, até Bolsa cachorro de rua e por aí vai, mas nenhum deles toca no principal, e é isso que me preocupa e assusta.
- E o quê é?
- Tem gente demais no mundo. O mundo está botando gente pelo ladrão e todos sabem disso. É de controle demográfico que eu estou falando. Precisamos diminuir a população da Terra em dois terços.
- Tá maluco? Com menos pessoas no mundo serão menos eleitores e esses serão eleitores melhor alimentados, melhor instruídos e naturalmente não vão votar em qualquer merda.
- Se fosse só isso, estava ótimo, mas tem um problema maior ainda.
- Lá vem você...
- Pensa comigo: agora já não há mais tempo para controle de natalidade. Isto deveria ter começado no início dos anos setenta, quando éramos só três bilhões neste planeta. Se formos fazer isso agora, eu calculo que em poucas décadas teremos uma população quase que só de velhos. E de carona vem a questão da produtividade, etc...
- Então...
- Então que, ou eles lá em cima dão um jeito de ir matando os velhos sem ninguém desconfiar de nada, ou têm que se virar para inventar um jeito de as pessoas viverem menos. Talvez até os trinta ou, na melhor das hipóteses, até os quarenta...
- Porra, isso tá com cara de “Admirável mundo novo”, cara...
- Talvez isso explique o silêncio e a omissão dos governantes...Não é com esse mundo que todos eles sonham?


(Jan Robba em "O livro das esquisitices")