O rei ficou deveras impressionado com aquele menino de olhar vivo e palavras tão inteligentes. Por uns instantes, chegou até mesmo a esquecer que estava desgraçadamente triste, mergulhado num tenebroso abandono que já se arrastava por quase um ano. Andou por algum tempo de um lado para o outro do aposento no qual havia se trancado, no alto da torre. Decidiu que iria vê-lo outra vez no dia seguinte. Não conseguia explicar o por quê, mas gostou dele e torcia para que ele estivesse lá de novo. E assim foi. No dia seguinte, à mesma hora, desceu as escadas, atravessou a ponte e foi ao encontro do menino. Não havia a possibilidade de ser reconhecido, pois além da barba e dos cabelos muito crescidos e descuidados, ele passara a usar roupas nada parecidas com as de um rei.
De fato, o rei encontrou o menino naquele mesmo lugar à beira do lago e conversaram uma tarde inteira e sua admiração crescia à medida em que mais conhecia o garoto. Sentia-se mais alegre, até. O rei então pensou consigo mesmo: “Nunca vi tamanha sabedoria nem mesmo nos meus conselheiros ou em qualquer sábio que tenha passado por aqui...Sei que é apenas um garoto, mas talvez ele tenha uma palavra que possa aliviar minha dor...”. Então, disfarçadamente, perguntou ao menino:
- O rei nunca mais apareceu para o povo...por quê será?
- Não sabe? Todo mundo conta que ele ficou muito triste e se trancou na torre do castelo e de lá não saiu mais, desde que a princesa morreu.
- Ah, sim...entendi. Mas, me diga uma coisa: Se você fosse o rei, o quê você faria?
- Hum...se eu fosse o rei, eu lembraria que sou um homem e que devo suportar minhas dores como um homem e não como uma criança. E então eu voltaria para o trono, que é o lugar de um rei.
O rei ficou em silêncio.
- E você? - perguntou o menino - Se você fosse o rei, o quê você faria?
(Jan Robba em: "Para além daquelas nuvens")
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