sexta-feira, 26 de julho de 2013

Os Nanautas estão entre nós – Parte 1



“Década de 60. O mundo inteiro balançava o rabo ao som dos quatro maconheiros de Liverpool, enquanto as pessoas de bem assistiam pela TV à maior revolução cultural, filosófica e artística do Século XX e talvez de todos os séculos anteriores. A tão esperada Era de Aquário não poderia ter um começo melhor. Havia um jovem estudante de nome A.C. Silver, de inteligência considerada abaixo do sofrível(coisa muito comum entre os grandes gênios da Ciência), que tentava já pela quinta vez passar de ano e prosseguir no seu curso primário quando, ao tentar resolver um “Arme e efetue”, teve um surto de jumência precoce(Jumentia praecox), doença que o acometia desde a mais tenra idade e que redundava em crises sempre que as exigências sobre o seu aparato intelectual se mostravam excessivas. Era comum, quando isto acontecia, ele se trancar no porão de sua casa e ficar lá, incomunicável, por dias a fio na mais completa escuridão, sem banho e sem comida, acompanhado apenas de seu caramujo Silvinho. Estando trancado já pelo oitavo dia consecutivo, eis que, através de um pequeno buraco feito na parede por um casal de barbeiros que fora ter uma noite de luxúria ali, ele vislumbrou um tênue feixe de luz cruzando a escuridão e ficou observando as milimétricas partículas de poeira que flutuavam lentamente no ar. Encantado, estendeu a mão, barrando o fluxo das partículas e observou que várias delas se desviavam de sua mão, rodeando-a e retomando sua rota original. Repetiu mais uma vez, e mais outra e outra mais, até que teve então o grande insight: aquelas partículas só podiam ser alguma espécie de seres inteligentes nanoscópicos, ou eram veículos que conduziam criaturas inteligentes através do nano-espaço. Batizou-os então de Nanautas. Por esta época, a Teoria do gás colante estava em voga, sendo uma unanimidade no meio científico. Tal teoria dava conta de que este misterioso gás, provindo das turbinas de aviões dos comunistas, que o espargiam nas mais altas camadas da atmosfera, era responsável pelas inexplicáveis falhas nos motores dos automóveis, eletrodomésticos e também pelo atraso na menstruação e pela própria Jumência precoce, etc. Também eram atribuídos ao gás colante o efeito-estufa, o El Niño(fenômenos bem conhecidos dos cientistas, mas mantidos em sigilo absoluto) e a transmissão daquela doença venérea que todo mundo conhece, através do piso frio dos banheiros. Silver decidiu então que era chegada a hora de abandonar a clausura e ir para o seu laboratório desvendar os segredos destas estranhas criaturas, pois algo lhe dizia que a Teoria dos Nanautas viria a riscar definitivamente do mapa da Ciência a Teoria do gás colante. Tudo finalizado, os ingleses ofereceram um caminhão de goiabas em troca dos direitos de uso e experimentação com a Teoria dos Nanautas e, sem perda de tempo, inocularam uma bezerra com uma solução de 0,005 mg/litro de Nanautas. No espaço de alguns meses, o mundo assistiria ao surgimento da primeira vaca psicodélica do planeta, logo chamada de “A vaca louca”. Posteriormente, já em 1970, a banda inglesa Pink Floyd lançaria o seu célebre disco “Atom heart mother”, o qual estampava na capa a foto desta mesma vaca e trazia o seu grande hit “Summer 68”, numa claríssima alusão à descoberta de Silver. Conta-se extra-oficialmente que os cientistas ingleses, após o bem sucedido experimento com a vaca, solicitaram voluntários para se submeterem ao mesmo experimento, sendo que Syd Barrett(integrante do Pink Floyd que contraiu misteriosamente a Jumência precoce) teria sido um deles.

O CARAMUJO SILVINHO

Silver o encontrou muitos anos antes de sua descoberta, numa manhã chuvosa, em que o molusco estava prestes a ser tragado por um redemoinho que se formara no ralo da rua. Armou-se de coragem e foi, com a água quase até o pescoço, resgatar o pobre caramujo. Já dentro de casa, enxuto e orgulhoso por ser um herói e ter ganho um novo amiguinho, foi que ele se deu conta de uma estranha coincidência: o caramujo tinha, como qualquer outro, a sua casca em espiral e estivera prestes a ser tragado pelo redemoinho, que era uma outra espiral. Sentiu que havia naquilo um estranho presságio. E não podia estar mais certo...
Batizou seu novo companheiro de Silvinho, que vem de Silver e passou a cuidar dele como o irmão que nunca teve.


Mas enfim, voltando ao ano de 1968, Silver pressentiu que havia ainda algo inexplicado, um estranho elo que ligava Barrett àquela vaca. Afinal, as vacas na Índia já eram adeptas do sexo livre e de uma vida mais natural havia séculos. Era hora de estudá-las melhor, e teria de ser pessoalmente...mas como?"

(Jan Robba em: "San Gonzáles, meu amor")

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