sexta-feira, 21 de junho de 2013

Sobre as manifestações nas ruas do Brasil

Há muitos anos atrás, um fenômeno chamou a atenção da mídia, dos institutos de pesquisa, dos sociólogos e da população do Rio de Janeiro em geral. Refiro-me à votação massiva no "Macaco Tião". Isto se deu, como muitos devem lembrar, numa época em que o voto era efetuado através da cédula eleitoral e, só por ser deste modo é que foi possível aquela manifestação do descontentamento popular para com os políticos medíocres que estavam se candidatando(o que aliás nunca foi, de modo algum, uma novidade neste país). Tal fenômeno adquire um interesse muito especial, quando olhado sob a ótica comunicacional. Em primeiro lugar, tratava-se de uma mensagem nem tão explícita assim, que aparentemente queria dizer que, mesmo com um macaco no poder, estaríamos em muito melhor situação do que com os políticos que já estavam ali ou com aqueles que estavam se candidatando às eleições. Por outro lado, e tecnicamente falando, a cédula eleitoral permitia um feedback do povo para o governo, em quaisquer níveis e, se tivéssemos pessoas realmente inteligentes no poder, teriam dado ouvidos não somente àquela, mas a todas as manifestações populares. Temos sim as pesquisas de opinião, que poderiam cumprir muito bem esta função, mas sabe-se que os institutos de pesquisa estão a seviço de outros interesses que não incluem o auxílio ao governo num bom governar. Ora, se os altos escalões do Governo já erraram nisto, erraram ainda mais, por conta de uma ignorância e despreparo crônicos de seus técnicos, ao extinguirem a cédula, substituindo-a pela urna eletrônica. Em outras palavras, extinguiu-se um canal de comunicação com o povo, tornando esta(a comunicação com a população) uma via de mão única. Os Psicólogos Comunicacionais, sabem do perigo que isto representa e das consequências via de regra desastrosas disto, e este perigo veio a materializar-se agora, neste mesmo instante em que manifestações populares acompanhadas de alguns episódios de destruição do patrimônio público ou privado grassam pelas ruas de todo o país, repercutindo inclusive no exterior. Tenho visto Sociólogos, políticos, intelectuais de todo tipo tentando entender o que está acontecendo e vejo também a perplexidade (nem tão justificável assim) destes e do Governo. Quando se afirma que "o aumento das passagens foi só o estopim" eu tenderia a concordar, mas num sentido muito além do que mídia, estudiosos e governo desejam que seja. O aumento das passagens não é a mensagem, como muitos(especialmente no governo) desejariam ou esperariam. Se assim fosse, a questão estaria resolvida com uma simples redução no preço das passagens. A verdade é que, do ponto de vista comunicacional, A REBELIÃO É A PRÓPRIA MENSAGEM. Quando muitos agora afirmam que estas manifestações são o maior e mais importante acontecimento deste e do século passado no Brasil, eu concordo inteiramente, e acrescento ainda que é um dos mais interessantes fenômenos de comunicação que já presenciei, juntamente com a (há muito sabida de todos) farsa do "atentado" às torres gêmeas. Em nome de um melhor entendimento, eu daria um exemplo, a nível micro: qualquer um que tenha um cônjuge ou coisa parecida experimente impor a sua vontade, suas opiniões e seus caprichos, sem dar a menor oportunidade ao outro de se manifestar a respeito(de preferência proibindo isto). O resultado é a redundância na mensagem em escala crescente(de uma vez que outras opções, como abandonar o "campo", por exemplo, estão interditadas)de forma que o comportamento redundante(gritar, espernear, quebrar tudo) se torne a própria mensagem, o que vem diretamente ao encontro das palavras de Marshall Mc'Luhan, o "Papa" da Comunicação: "O meio é a mensagem".
Não creio que algum membro do governo venha a ler estas linhas, ou que algum político, sociólogo ou midiocrata venha visitar este blog, mas fica registrada aqui a advertência de que a violência pode chegar a níveis incontroláveis(trata-se de uma possibilidade concreta), se os governantes não abrirem um canal de comunicação com a população, já que o próprio povo, na falta de um, parece estar fundando o seu próprio: o protesto,com ou sem violência.

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