sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Quem são os lerdos, afinal?

Olhe só o mundo lá fora. Pegue o telefone e a sua pizza chega em 15 minutos, com coca cola e o que mais você quiser. Ou aquela garota de programa, do jeito que você sonhou, sem precisar perder tempo em conquistá-la ou sequer saber quem ela é. E ela pode até fingir um gozo pra você. Tudo ficou tão rápido, que acabamos convencidos de que somos lerdos mesmo. A besta humana inventou a tecnologia pra se tornar uma besta completa mais rapidamente, e com isso apressar o seu fim. Começa o seu dia quase feliz, não por estar vivo, mas por não ter morrido e deixado de fazer aquele monte de coisas que, no fundo, ele detesta fazer e o fazem sentir-se um desgraçado dia após dia. Tem seguro de vida e plano de saúde, pra poder desperdiçar a sua vida e a sua saúde mais tranqüilamente. Resolve tudo tão rápido que, ao se deparar com o enorme tempo que sobra, tem que inventar algumas doenças e alguns pavores para si. Tem que resolver tudo rápido mesmo, para poder chegar na frente do cara que ele chama de AMIGO. É contra a violência, mas não consegue enxergar que ele mesmo se violenta o tempo inteiro, traindo e enganando a si próprio. É contra as drogas, mas tem uma caixa de lexotan em sua gaveta e, se precisar dobrar no serviço, não dispensa umas anfetaminas.Vai para casa frustrado, perplexo, odiando tudo, e tenta consolar a si mesmo dizendo que tem uma família para cuidar. Então a gente olha o mundo lá fora e se pergunta por quê essa besta só resolve abrir os olhos para os grandes problemas do mundo, aqueles que realmente importam, quando os anjos do apocalipse já fazem soar as suas trombetas... Quem são os lerdos, afinal de contas? Enquanto escrevo isso, segue o Pink Floyd: “...and you run, and you run to catch up with the sun, but it’s sinking and racing around to come up behind you again...”, e a caveira do Raul sacode os cabelos e chacoalha os dentes e me fila um cigarro...


(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")

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