quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O que os olhos não vêem...



Saíra mais cedo do trabalho e vinha dirigindo, divertindo-se com os próprios pensamentos. É sempre divertido ter uma ereção.  Pensava naquela boca carnuda, naqueles seios fartos, naquele corpo bem acima do peso, mas ainda desejável, que de uns tempos para cá era seu também. Vinha tendo um caso com a própria sogra.  Era feliz no casamento: tinha uma mulher carinhosa, fiel e,  morando na casa dos pais dela, era tratado quase como um filho. Às vezes, sentia-se culpado por estar fazendo aquilo, mas como ele mesmo costumava dizer,”ninguém é perfeito”. 
Chegou de mansinho e agarrou a sogra por trás. Ela estava distraída, preparando um cafezinho.
- Que susto! Para com isso...que coisa – disse ela, sorrindo - agarrando a própria sogra...
Não encontrando resistência, ele então a beijou na boca.
- Por favor, não faz isso...o meu marido pode chegar...
- Quero transar com você, agora – e deu-lhe outro beijo.
- Mas, e a minha filha?
- Você não transa com o pai dela? – disse ele, brincando.
- Mas ele é meu marido...
- E é pai dela, também – e beijou-a novamente.
- Mas ela é sua mulher
- E daí? Ela não vai saber... – e beijou-a de novo, agarrando aqueles seios enormes.  Estava disposto a possuí-la ali mesmo na cozinha, como na primeira vez.
- É, acho que não tem mal nenhum – disse ela, começando a beijá-lo como louca -...eu também já cansei de pegar os dois na cama...de safadeza...
De repente, ele parou. Era como se um vento gelado houvesse invadido todo o seu ser e extraído todos os órgãos do seu corpo. Sentiu um vazio do tamanho do universo. Maior do que o universo. Maior do que todos os universos juntos. Não acreditava no que acabara de ouvir e não acreditava que pudesse haver tamanha sujeira no mundo. 
- O quê foi, querido?
- Ai... – ele pôs a mão na barriga e caminhou para o banheiro, com um túmulo dentro de si.
Entrou, desceu as calças e, antes de sentar-se, ainda olhou seu rosto refletido na água, lá dentro da privada. Não se reconheceu. Deu a descarga duas vezes. Deu a descarga de novo.  Sentiu-se tonto. Sentou-se.  Tinha vontade de gritar, mas nada saía nem por cima, nem por baixo.
- Eu não acredito em tamanha traição...que puta sem vergonha...- pensou – eu te odeio...jamais vou te perdoar...velho filho da puta...por quê esconderam de mim? Jamais vou perdoar vocês por isso...isso não está acontecendo...isso não está acontecendo...
E ficou ali sentado, sem noção do tempo, remoendo aquilo tudo, e quase foi tirado dos seus pensamentos pelas batidas na porta.
- Tem alguém aí? – Era a esposa, que acabara de chegar. Ele não respondeu.
- Tem alguém aí?
Já não sabia o que responder.  Nunca mais soube a resposta...



(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

2 comentários:

  1. Ah, Jan,

    Isso é verdade ou ficção?
    Estas postagens, são coisas do teu consultório? Verídicas?
    Bjs,
    lu.

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  2. Bem, Lu, é como eu afirmei em meu primeiro post. Este blog é um lugar onde eu resolvi reunir tudo o que andei escrevendo ao longo dos anos. Com efeito, eu evito sempre nomes, locais, datas, etc, a fim de preservar a privacidade de pessoas, e ainda misturo ficção com realidade, para complicar mais ainda.

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