quarta-feira, 16 de julho de 2014

A Copa de 2014 e o fim do “Glam-Soccer”... Será?


Penso que tudo começou quando alguém resolveu chamar o nosso bom futebol de “Futebol arte”. A partir de então, qualquer jogador medíocre com lampejos de genialidade era logo considerado um artista, com direito ao glamour que rodeia o mundo dos que Edgar Morin chamou “olimpianos”. Não que não exista arte na nossa maneira de jogar futebol, mas o rótulo decididamente não fez bem aos nossos jogadores, cuja vaidade tupiniquim fez com que passassem desde então a desejar da arte quase que somente a luz dos refletores e dos flashes, deixando de lado o empenho, a dedicação e o treino constante como algo de importância secundária. Com o mundo aos pés do futebol arte, era natural que este logo se tornasse a galinha dos ovos de ouro de uma nova era, alimentada por uma imprensa caolha e empresários de olhos bem abertos, em que parecer é mais importante do que ser. Daí vieram rapidamente as chuteiras coloridas, os cabelos mais esdrúxulos possíveis e as ridículas danças ensaiadas para comemorar gols que quase sempre beiravam o acaso. Nos quarenta anos anteriores a esta infeliz ideia, o Brasil conquistou tres títulos mundiais, com um futebol via de regra excelente, bem disputado, sério. Nos quarenta anos de “Glam-soccer”, apenas dois títulos e participações que foram de sofríveis a medianas com, para não ser injusto, apenas uma exceção. Por quê chamei de “Glam-soccer” essa coisa feia, barata e por quê não dizer afeminada, que se tornou o nosso futebol? Pelo início dos anos setenta, surgiu na cena do Rock mundial uma vertente a qual chamaram “Glam-rock”, uma mistura indecente de egocentrismo, marketing, posing, muitos brilhos, plumas e lantejoulas, e muito pouca coisa que se pudesse reconhecer como sendo Rock. Felizmente, este bebê de Rosemary parece ter sido devidamente dedetizado por Ozzy Osbourne e vários outros, para os quais o Rock era coisa séria. Penso que, em vista de tantas afinidades, o termo“Glam-soccer” cai como uma luva para esta caricatura de futebol que temos apresentado ao longo desses mais de 40 anos. Vi na derrota para a Alemanha por 7x1 uma grande esperança de que tudo venha a mudar e que possamos enfim retomar os trilhos do nosso bom futebol, e desejei na derrota para a Holanda por 3x0 que esta fosse a última pá de terra em cima de um cadáver que na minha opinião já fedia. Muitos tentarão exumá-lo, pois como diz o cancioneiro: “Nego quebra a dentadura, mas não larga a rapadura”. Explicar o apagão que deu na nossa seleção? Qualquer hora dessas eu explico.