Penso que
tudo começou quando alguém resolveu chamar o nosso bom futebol de
“Futebol arte”. A partir de então, qualquer jogador medíocre
com lampejos de genialidade era logo considerado um artista, com direito
ao glamour que rodeia o mundo dos que Edgar Morin chamou
“olimpianos”. Não que não exista arte na nossa maneira de jogar
futebol, mas o rótulo decididamente não fez bem aos nossos
jogadores, cuja vaidade tupiniquim fez com que passassem desde então
a desejar da arte quase que somente a luz dos refletores e dos flashes, deixando de
lado o empenho, a dedicação e o treino constante como algo de
importância secundária. Com o mundo aos pés do futebol arte, era natural que
este logo se tornasse a galinha dos ovos de ouro de uma nova era,
alimentada por uma imprensa caolha e empresários de olhos bem
abertos, em que parecer é mais importante do que ser. Daí vieram
rapidamente as chuteiras coloridas, os cabelos mais esdrúxulos
possíveis e as ridículas danças ensaiadas para comemorar gols que
quase sempre beiravam o acaso. Nos quarenta anos anteriores a esta
infeliz ideia, o Brasil conquistou tres títulos mundiais, com um
futebol via de regra excelente, bem disputado, sério. Nos quarenta
anos de “Glam-soccer”, apenas dois títulos e participações que
foram de sofríveis a medianas com, para não ser injusto, apenas uma
exceção. Por quê chamei de “Glam-soccer” essa coisa feia,
barata e por quê não dizer afeminada, que se tornou o nosso
futebol? Pelo início dos anos setenta, surgiu na cena do Rock
mundial uma vertente a qual chamaram “Glam-rock”, uma mistura
indecente de egocentrismo, marketing, posing, muitos brilhos, plumas e
lantejoulas, e muito pouca coisa que se pudesse reconhecer como sendo
Rock. Felizmente, este bebê de Rosemary parece ter sido devidamente
dedetizado por Ozzy Osbourne e vários outros, para os quais o Rock
era coisa séria. Penso que, em vista de tantas afinidades, o termo“Glam-soccer” cai como uma luva para esta
caricatura de futebol que temos apresentado ao longo desses mais de
40 anos. Vi na derrota para a Alemanha por 7x1 uma grande esperança
de que tudo venha a mudar e que possamos enfim retomar os trilhos do
nosso bom futebol, e desejei na derrota para a Holanda por 3x0 que esta
fosse a última pá de terra em cima de um cadáver que na minha opinião já fedia.
Muitos tentarão exumá-lo, pois como diz o cancioneiro: “Nego
quebra a dentadura, mas não larga a rapadura”. Explicar o apagão
que deu na nossa seleção? Qualquer hora dessas eu explico.