Saiu por esses dias nos jornais e nos telejornais, e causou um certo rebuliço no meio virtual a notícia dando conta de que um estudante do Acre sumiu após escrever catorze livros criptografados e encher as paredes do seu quarto de inscrições, tudo em código. As opiniões variam desde um caso clássico de esquizofrenia até a de que ele seria a reencarnação de Giordano Bruno, pensador italiano do século XVI, defensor entre outras coisas do conceito de infinito e de uma espécie de panteísmo, o que parece ter-lhe custado a vida.
Sem querer me estender demais, vou me focar em dois pontos, sendo o primeiro uma contradição já esperada, a qual leva ao segundo ponto.
De uma forma simplificada, diremos que quando enviamos uma mensagem ela já carrega em si as regras que definem o seu público alvo. Assim, se alguém criptografa uma mensagem, é óbvio que não deseja que a mesma esteja acessível a todos, mas apenas a um seleto grupo. Mas se esse alguém deixa as chaves da criptografia tão acessíveis como deixou, então é o mesmo que se ele não a tivesse criptografado. Em outras palavras, um trabalho inútil cuja finalidade parece ser a de forçar as pessoas a terem o mesmo trabalho que ele, decodificando a mensagem. Esta contradição leva ao segundo ponto. Nós, Comunicacionais, assumimos que todo comportamento tem valor de mensagem. Então, esse comportamento de escrever livros criptografados e encher as paredes do seu quarto de desenhos e inscrições aparentemente indecifráveis, bem como colocar uma estátua de Giordano Bruno no quarto e alguns desenhos em que ele aparece ao lado de um extraterrestre visam a meu ver ocupar o pensamento das pessoas com ele, o estudante em questão. Eu diria então que a verdadeira mensagem é: "Me dêem atenção, olhem pra mim!".
Imagino que não demorará muito tempo e ele estará de volta ao lar com uma história esdrúxula de que teria sido abduzido ou coisa do gênero. Sumir de casa nestas circunstâncias e voltar sem uma boa história é impensável, até porque todos cobrarão dele uma explicação. Matar-se(que é outra possibilidade), tendo o cuidado de não encontrarem o seu corpo, para dar a impressão de que teria sido levado para sempre para outro planeta, seria o ideal para fechar com chave de ouro o seu show, mas isto o impediria de gozar do impacto que provocou. Quando eu falo em gozar é gozar mesmo, no melhor sentido psicanalítico. Enfim, num mundo onde ser é aparecer, e este aparecer implica necessariamente em aparecer nos jornais, na televisão e nas redes sociais, o nosso valoroso estudante teve mais do que os seus 15 minutos de glória. Em outras palavras, ele precisava nascer no mundo midiático. É quase certo que ele volte, mas eu posso estar errado...