sexta-feira, 29 de abril de 2011

Vida de corno

- Alô...- Ele conseguia falar ao telefone com um cigarro pendurado no canto da boca, enquanto com a outra mão batucava na mesa.
- Alô, é o França?
- Ele mesmo...
- Oi, França, aqui é a Simone.
- O quê você quer?
- Olha, eu estou com o meu marido aqui do lado, e ele está me enchendo o saco. Cismou que eu estou tendo um caso com você.
- E daí?
- Pode falar com ele pra esclarecer tudo?
- Põe ele na linha...
Ela então passou o fone para o marido.
- Alô...
- Pode falar, corno...O quê você quer?
- ...


(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Pai nosso II

- Cadê o paspalho do seu pai?
- Tá trabalhando - respondeu o menininho
- E cadê a horrorosa da sua mãe?
- Minha mãe não é horrorosa não, tá bom? A sua é que é horrorosa...


(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")

terça-feira, 26 de abril de 2011

A verdade que liberta...

Um peregrino andou milhas e milhas, cruzou desertos, vales e montanhas à procura de um mestre que pudesse lhe mostrar o sentido da vida. Um dia, encontrou o tal homem e, antes mesmo que pudesse dizer qualquer coisa, o mestre lhe perguntou:
-O que é que você deseja saber, que um dia se arrependerá de haver perguntado?
O peregrino coçou a cabeça, pensou, pensou, pensou e disse:
-Onde é que eu pego o ônibus de volta?


(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Líbia: Obama e a defesa da «rebelião»

17.04.2011

Líbia: Obama e a defesa da «rebelião». Nas últimas duas semanas a Líbia sofreu o mais brutal ataque imperialista, por ar, por mar e por terra, da sua história moderna. Milhares de bombas e de mísseis, lançados de submarinos, vasos de guerra e aviões de guerra, americanos e europeus, estão a destruir as bases militares líbias, os seus aeroportos, estradas, portos, depósitos petrolíferos, posições de artilharia, tanques, porta-aviões blindados, aviões e concentrações de tropas. Dezenas de forças especiais da CIA e do SAS têm andado a treinar, a aconselhar e a apontar alvos para os chamados «rebeldes» líbios empenhados numa guerra civil contra o governo de Kadafi, as suas forças armadas, as milícias populares e os apoiadores civis ( NY Times 30/03/11).

por James Petras*

Apesar deste enorme apoio militar e do total controlo dos céus e da linha costeira da Líbia pelos seus «aliados» imperialistas, os «rebeldes» ainda não foram capazes de mobilizar o apoio de aldeias e cidades e encontram-se em retirada depois de enfrentarem as tropas governamentais da Líbia e as milícias urbanas, fortemente motivadas ( Al Jazeera 30/03/11).

Uma das desculpas mais idiotas para esta inglória retirada dos rebeldes, apresentada pela «coligação» Cameron-Obama-Sarkozy, e repetida pelos meios de comunicação, é que os seus «clientes» líbios estão «menos bem armados» (Financial Times, 29/3/11). Obviamente, Obama e companhia não contabilizam o grande número de jatos, as dezenas de vasos de guerra e de submarinos, as centenas de ataques diários e os milhares de bombas lançadas sobre o governo líbio desde o início da intervenção imperialista ocidental. A intervenção militar direta de 20 potências militares estrangeiras, grandes e pequenas, flagelando o estado soberano da Líbia, assim como o grande número de cúmplices nas Nações Unidas não contribui com nenhuma vantagem militar para os clientes imperialistas - segundo a propaganda diária a favor dos rebeldes.

Mas o Los Angeles Times (31/Março/2011) descreveu como «... muitos rebeldes em caminhões com metralhadoras deram meia-volta e fugiram... apesar de as suas metralhadoras pesadas e espingardas antiaéreas serem parecidas com qualquer veículo governamental semelhante». De fato, nenhuma força «rebelde» na história moderna recebeu um apoio militar tão forte de tantas potências imperialistas na sua confrontação com um regime instituído. Apesar disso, as forças «rebeldes» nas linhas da frente estão em plena retirada, fugindo desordenadamente e profundamente descontentes com os seus generais e ministros «rebeldes» lá atrás em Bengazi. Entretanto, os líderes «rebeldes», de ternos elegantes e de uniformes feitos sob medida, respondem à «chamada para a batalha» assistindo a «reunião de cúpula» em Londres onde a «estratégia de libertação» consiste no apelo, perante os meios de comunicação, de tropas terrestres imperialistas (The Independent, Londres - 31/03/11).

É baixa a moral dos «rebeldes» na linha da frente: segundo relatos críveis da frente da batalha em Ajdabiya, «Os rebeldes... queixaram-se de que os seus comandantes iniciais desapareceram. Acusam camaradas de fugirem para a relativa segurança de Bengazi... (queixam-se de que) as forças em Bengazi monopolizaram 400 rádios de campo oferecidos e mais 400... tele móveis destinados ao campo de batalha... (sobretudo) os rebeldes dizem que os comandantes raramente visitam o campo de batalha e exercem pouca autoridade porque muitos combatentes não confiam neles» ( Los Angeles Times , 31/03/2011). Segundo parece, os «twitters» não funcionam no campo de batalha.

As questões decisivas numa guerra civil não são as armas, o treino ou a chefia, embora evidentemente esses fatores sejam importantes: A principal diferença entre a capacidade militar das forças líbias pró-governo e os «rebeldes» líbios apoiados por imperialistas ocidentais e por «progressistas», reside na sua motivação, nos seus valores e nas suas compensações materiais. A intervenção imperialista ocidental exaltou a consciência nacional do povo líbio, que encara agora a sua confrontação com os «rebeldes» anti-Kadafi como uma luta para defender a sua pátria do poderio estrangeiro aéreo e marítimo e das tropas terrestres fantoches - um poderoso incentivo para qualquer povo ou exército. O oposto também é verdadeiro para os «rebeldes», cujos líderes abdicaram da sua identidade nacional e dependem inteiramente da intervenção militar imperialista para levá-los ao poder. Que soldados rasos «rebeldes» vão arriscar a vida, a lutar contra os seus compatriotas, só para colocar o seu país sob o domínio imperialista ou neo-colonialista?

Finalmente, as notícias dos jornalistas ocidentais começam a falar das milícias pro - governo das aldeias e cidades que repelem esses «rebeldes» e até relatam como «um caminhão cheio de mulheres (líbias) surgiu repentinamente (de uma aldeia) ... e elas começaram a fingir que aplaudiam e apoiavam os rebeldes...» atraindo os rebeldes apoiados pelo ocidente para uma emboscada mortal montada pelos seus maridos e vizinhos pró-governo (Globe and Mail,28/03/11 e McClatchy News Service, 29/03/11).

Os «rebeldes», que entram nas aldeias, são considerados invasores, que arrombam portas, fazem explodir casas e prendem e acusam os líderes locais de serem «comunistas da quinta coluna» a favor de Kadafi. A ameaça da ocupação militar «rebelde», a detenção e a violência sobre as autoridades locais e a destruição das relações de família, de clã e da comunidade local, profundamente valorizadas, levaram as milícias líbias e os combatentes locais a atacar os «rebeldes» apoiados pelo ocidente. Os «rebeldes» são considerados «estranhos» em termos de integração regional e de clã; menosprezando os costumes locais, os «rebeldes» encontram-se, pois em território «hostil». Que combatente «rebelde» estará disposto a morrer em defesa de um território hostil? Esses «rebeldes» só podem pedir à força aérea estrangeira que lhes «liberte» a aldeia pró-governo.

Os meios de comunicação ocidentais, incapazes de entender essas compensações materiais por parte das forças pró-governo, atribuem o apoio popular a Kadafi à «coerção» ou «cooptação», agarrando-se à afirmação dos «rebeldes» que 'toda a gente se opõe secretamente ao regime'. Há uma outra realidade material, que muito convenientemente é ignorada: A verdade é que o regime de Kadafi tem utilizado a riqueza petrolífera do país para construir uma ampla rede de escolas, hospitais e clínicas públicas. Os líbios têm o rendimento per capita mais alto de África com 14 900 dólares por ano (Financial Times,02/04/11).

Dezenas de milhares de estudantes líbios de baixos rendimentos receberam bolsas para estudar no seu país e no estrangeiro. As infra-estruturas urbanas foram modernizadas, a agricultura é subsidiada e os pequenos produtores e fabricantes recebem crédito do governo. Kadafi promoveu esses programas eficazes, para além de enriquecer a sua própria família/clã. Por outro lado, os rebeldes líbios e os seus mentores imperialistas prejudicaram toda a economia civil, bombardearam cidades líbias, destruíram redes comerciais, bloquearam a entrega de alimentos subsidiados e assistência aos pobres, provocaram o encerramento das escolas e forçaram centenas de milhares de profissionais, professores, médicos e trabalhadores especializados estrangeiros a fugir.

Os líbios, mesmo que não gostem da prolongada estadia autocrática de Kadafi no cargo, encontram-se agora perante a escolha entre apoiar um estado de bem-estar, evoluído e que funciona ou uma conquista militar manobrada por estrangeiros. Muito compreensivelmente, muitos deles escolheram ficar do lado do regime.

O fracasso das forças «rebeldes» apoiadas pelos imperialistas, apesar da sua enorme vantagem técnico-militar, deve-se a uma liderança traidora, ao seu papel de 'colonialistas internos' que invadem as comunidades locais e, acima de tudo, à destruição insensata de um sistema de bem-estar social que tem beneficiado milhões de líbios vulgares desde há duas gerações. A incapacidade de os «rebeldes» avançarem, apesar do apoio maciço do poder imperialista aéreo e marítimo, significa que a 'coligação' EUA-França-Inglaterra terá que reforçar a sua intervenção, para além de enviar forças especiais, conselheiros e equipes assassinas da CIA. Perante o objetivo declarado de Obama-Clinton quanto à «mudança de regime», não haverá outra hipótese senão introduzir tropas imperialistas, enviar carregamentos em grande escala de caminhões e tanques blindados e aumentar a utilização de munições de urânio empobrecido, profundamente destrutivas.

Sem dúvida que Obama, o rosto mais visível da «intervenção armada humanitária» em África, vai recitar mentiras cada vez maiores e mais grotescas, enquanto os aldeões e os citadinos líbios caem vítimas da sua força destruidora imperialista. O «primeiro presidente negro» de Washington ganhará a infâmia da história como o presidente americano responsável pelo massacre de centenas de líbios negros e da expulsão em massa de milhões de trabalhadores africanos subsaarianos que trabalham para o atual regime (Globe and Mail, 28/03/11).

Sem dúvida, os progressistas e esquerdistas anglo-americanos vão continuar a discutir (em tom «civilizado») os prós e os contras desta «intervenção», seguindo as pisadas dos seus antecessores, os socialistas franceses e os «new dealers» americanos dos anos 30, que debateram nessa época os prós e os contras do apoio à Espanha republicana... Enquanto Hitler e Mussolini bombardeavam a república por conta das forças fascistas «rebeldes» do general Franco que empunhava o estandarte falangista da «Família, Igreja e Civilização» - um protótipo para a «intervenção humanitária» de Obama por conta dos seus «rebeldes».

04/Abril/2011

*Professor Emérito de Sociologia na Universidade de Binghamton, Nova Iorque. É autor de 64 livros publicados em 29 línguas, e mais de 560 artigos em jornais da especialidade, incluindo o American Sociological Review, British Journal of Sociology, Social Research, Journal of Contemporary Asia, e o Journal of Peasant Studies. Já publicou mais de 2000 artigos. O seu último livro é War Crimes in Gaza and the Zionist Fifth Column in America.

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=24142 .

Mensagem do coronel Muammar Gaddafi

15.04.2011

Gaddafi Aberto e sem Censura

Lembranças da Minha Vida: Coronel Muammar Gaddafi, líder da Revolução.

05 de Abril de 2011.

Em nome de Deus, Clemente, e Misericordioso...

Mensagem do coronel Muammar Gaddafi. 14865.jpegDurante 40 anos, ou mais, já nem me lembro direito, eu fiz tudo que pude para dar ao meu povo casas, hospitais, escolas, e quando eles estavam com fome, dei-lhes comida.

Eu mesmo tornei Benghazi de uma região desértica e sem agua numa região irrigada e fértil transportando agua a longa distancia, enfrentei os ataques daquele cowboy Reagan, quando ele matou a minha filha órfã adoptiva, ele que estava tentando me matar, ao invés disso matou aquela pobre criança inocente.
Ajudei meus irmãos e irmãs da África doando dinheiro para a União Africana.
Fiz tudo que pude para ajudar as pessoas a entender o conceito de uma verdadeira democracia, onde os comités do povo governavam o nosso país. Mas isso nunca parece ter sido suficiente, como alguns me disseram, mesmo as pessoas que tinham casas com dez quartos, roupas e móveis novos, nunca estavam satisfeitos e como os egoístas que eram, queriam sempre mais. Esses mesmos quem disseram aos americanos e outros visitantes, que precisavam de "liberdade", " de democracia" que o meu sistema não prestava sem perceber que o sistema americano é constituído por algozes famintos onde o maior cão come os outros, mas eles ficaram encantados com aquelas palavras, não percebendo que nos Estados Unidos, não existe cuidados médicos ou hospitais de graça, moradia gratuita, educação e comida grátis, excepto se as pessoas forem pedintes ou então passar horas em longas filas para obter uma miserável sopa.

Não, não importa o que eu tenha feito, nunca foi o suficiente para alguns, mas para outros, eles sabem que eu sou o filho de Gamal Abdel Nasser, o único árabe e verdadeiro líder muçulmano que tivemos desde Salah al-Deen, quando ele reivindicou o Canal de Suez para o seu povo, como eu reivindiquei também a Líbia, para o meu povo tentando seguir os seus passos para manter o meu povo livre da dominação colonial - dos ladrões globais que roubam de nós tudo o que podem.

Agora, eu estou sob o ataque da maior força da história militar, Obama, quem considero o meu pequeno filho Africano, quer me matar, para tirar a liberdade do nosso país, para tirar do nosso povo a habitação gratuita, os nossos medicamentos gratuitos, o nosso ensino gratuito, a nossa comida de graça, e substituí-la pelo roubo de estilo americano, chamado "capitalismo", mas todos nós do Terceiro Mundo sabemos o que isso significa, isso significa que as grandes corporações gerem os países, gerem o mundo e as pessoas sofrem. Assim, não há alternativa para mim, devo enfrentar tudo com firmeza e, se Deus quiser, irei morrer, seguindo o Seu caminho, o caminho que tornou o nosso país rico em terras agrícolas, com alimentos e saúde, para todos e que até mesmo nos permitiu ajudar nossos irmãos e irmãs árabes e africanos trabalhando aqui connosco, na Jamahiriya Líbia.

Eu não quero morrer, mas se tiver que chegar a esse ponto para salvar esta terra, o meu povo, os milhares que são todos meus filhos, então que assim seja.

Que este testamento seja a minha voz para o mundo, que eu enfrentei e combati os ataques dos Cruzados da NATO, combati a crueldade, combati a traição, enfrentei e combati o Ocidente e as suas ambições colonialistas, e que eu estive sempre do lado dos meus irmãos Africanos, os meus verdadeiros árabes e irmãos muçulmanos, como um farol de luz. Quando os outros estavam construindo castelos, eu morava numa casa modesta, e numa tenda. Eu nunca esqueci a minha juventude, em Sirte, não gastei o nosso tesouro nacional * loucamente, e tal como Salah al-Deen, o nosso grande líder muçulmano, que resgatou Jerusalém para o Islão, tirei pouco para mim ...

No Ocidente, alguns me chamaram de "louco", "excêntrico", opressor, mas sabendo eles a verdade ainda continuam a mentir, eles sabem bem que a nossa terra é independente e livre, e não sob o jugo colonial, e que a minha visão e o meu caminho, é e tem sido claro para o meu povo e que vou lutar até meu último suspiro para nos manter livres, que Deus todo-poderoso nos ajude a permanecer fiéis e livres.

c: Col. Muammar Qaddafi, 2011/05/04

Copyright Col. Muammar Gaddafi, - Mathaba.Net

Publicado no site www.mathaba.net/

* Nota A líbia sempre manteve mais de 89% do tesouro nacional nos bancos do governo sendo a maior parte do tesouro Líbio constituído por ouro. Segundo dizem alguns é por isso que a elite global só pôde congelar as contas externas da Líbia, e que quando a invasão terminar, ai poderão livremente pilhar os cofres da Líbia, o petróleo a agua na qual a Franca esta interessada e etc. etc.

Baseado na tradução Professor Sam Hamod, Ph.D. e no artigo original escrito em Árabe.

Gaddafi nasceu em 1942 na área costeira de Sirte filho de pais nómadas.

Tradução Josef Leo

terça-feira, 19 de abril de 2011

Mídia e violência

Uma coisa que chama a atenção, e que suscita explicações de todos os tipos é uma espécie de tara que temos pelo mal e pela catástrofe. Por exemplo, muitas e muitas vezes me perguntei o quê faz uma pequena multidão em torno de um corpo caído na rua, se ninguém ali é médico ou enfermeiro ou mesmo os que se dispõem a ajudar são pouquíssimos. E o quê faz uma pessoa diante da televisão assistindo Datena ou Wagner Montes? Muitas vezes, o trânsito em uma grande avenida fica engarrafado porque os motoristas param para olharem um acidente que nem ocorreu ali, ou se ocorreu, foi em outra pista. É disto também que a mídia se aproveita.
Curiosamente, os cemitérios e hospitais nunca foram locais badalados. As pessoas só os frequentam por força das circunstâncias. Certa vez, por ocasião do incêndio do edifício Andorinha, no Rio, eu passava lá por perto. Eu era Office boy e não pude deixar de notar a atração que as catástrofes exercem sobre as pessoas. É coisa que vale um estudo e uma discussão aqui. Digo isto porque não creio que poderíamos avançar no assunto da mídia e violência sem antes termos uma idéia aproximada do que está por trás disto.
Durante um tempo, observando o comportamento das pessoas, cheguei a pensar que o ser humano, no seu geral, gosta de "beber sangue". De uma certa forma, sim. Em uma entrevista, o diretor de um jornal aqui do Rio(cujo nome não vou citar) disse que a fórmula para se vender jornal é "Presunto e lombo". Presunto seriam os cadáveres resultantes da matança que grassava pela cidade, e Lombo seriam as modelos boazudas que apareceriam em cada edição do jornal, em trajes mínimos. Mas ainda assim eu achava que a coisa poderia ir bem mais além.
Então, podemos pegar alguns eventos como modelos e pensar no que eles têm em comum: O terremoto do Chile, o bombardeio ao Iraque, as torres gêmeas, A tragédia na serra do Rio, o Terremoto e Tsunami no Japão, a presepada do retardado de Realengo, etc...Não sei explicar direito, mas parece que necessitamos de algo grandioso que nos impressione. Talvez esteja aí uma necessidade humana até hoje ainda não identificada: a de sermos impressionados(de preferência muito). Então, é na medida em que formos impressionados por um fato, que poderemos impressionar as pessoas às quais o narraremos. Imagine, uma pessoa há uns dias atrás venha perto de você e diga, com a maior tranquilidade e indiferença do mundo: "Houve um terremoto no Japão e uma tsunami...". Precisamos estar devidamente impressionados(chocados mesmo) com um fato, para que sejamos capazes de chocar os outros também. Talvez aí, possamos seguir com Daniel Bougnoux, quando fala do efeito viral em comunicação. E, se formos um pouco mais além, podemos dizer que, na medida em que nos chocamos e manifestamos isto de alguma forma aos outros, NÓS NOS TORNAMOS PARTE DO PRÓPRIO FATO(é tentador levantar aqui a hipótese de que poderia ser este o motivo de o refém se tornar "amigo" do sequestrador...). Talvez o que no fundo e, principalmente, também subjaz a isso tudo é o nosso desejo de sermos grandes, inéditos, fantásticos...O nosso desejo de impressionar...


(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sobre o marasmo da existência

Há certos dias, (ou certas fases, sei lá...) em que um marasmo monstruoso se abate sobre nós. Pensei que fosse o efeito do remédio, mas a última vez que o tomei foi na terça-feira. Nada a dizer, ninguém com quem conversar, sem ânimo até mesmo para me indignar. A Tv me alimenta através dos olhos, mas é como uma babá estúpida que dá uma coisa gostosa para comer, para que eu não chore...mas não é isso o que meu corpo precisa. Fico aqui pensando nas linhas do destino e vejo que estou por um fio. Ousei desafiar um monstro poderoso, implacável e inclemente chamado Way of life e parece que ele não perdoou. Mas até mesmo o sabor que ele tanto queria sentir ao moer meus ossos, eu não consigo dar. Minha indiferença tem um gosto amargo em sua boca. Lembro de uns versos meus:
"Vou chutando pedras
coisas corretas
é assim que vivo
tornando curvas
todas as retas..."

Tantos anos já se passaram e eu não perdi a mania de me levantar calado e sair de uma reunião de família onde o assunto ou é dinheiro ou é doença. Não tenho dinheiro e minhas doenças são tão pequenas, que até me envergonho. Todos os dias se tornaram segundas-feiras...

sábado, 9 de abril de 2011

Sobre o assassino de Realengo

É interessante considerarmos aqui a hipótese da esquizofrenia. Muitos aqui já devem ter assistido "Uma mente brilhante", e devem fazer uma idéia aproximada de como a fantasia se mistura à realidade na mente de um esquizofrênico. A apoiar esta hipótese está o fato de sua mãe biológica ser(ou ter sido) esquizofrênica, e se há um componente genético na esquizofrenia, então podemos considerá-la confortavelmente. Daí se pode entender(?) a razão de todo aquele discurso desencontrado presente em sua carta. É sabido que o esquizofrênico tem uma auto-estima abissal e que por isso se refugia(geralmente) numa crença radical, cujas exigências poucos humanos conseguem satisfazer, o que o coloca automaticamente acima de todos os outros mortais. Se esta hipótese estiver correta, e se seguirmos a trilha comunicacional, temos que procurar aí um(ou mais) paradoxos. É na questão de ele preferir executar as meninas e na questão da virgindade,(vide a carta e o depoimento de uma sobrevivente) que me parece que surge pelo menos um desses paradoxos. Seria algo como: "Se eu as sacrifico, eu as salvo; mas se eu salvá-las, eu as estou sacrificando" e assim vai infinitamente. O paradoxo funciona deste jeito: qualquer alternativa incorre no seu oposto, criando um círculo interminável. Ora, se ele as salvou sacrificando-as, então por quê deveria pedir perdão a Deus? Possível resposta: porque sacrificando-as ele as salvou, mas no que as salvou, as sacrificou.
Vejo uma legião de teóricos procurando as causas e os motivos, mas penso que o que se deve procurar é a mecânica da coisa.
Para começar, assumimos que o comportamento sem pé nem cabeça de um esquizofrênico é uma tentativa de não comunicar, o que fere a 1ª Lei da Comunicação:
"È impossível não comunicar".
Logo, mesmo isto é comunicação, mas que não precisa ter necessariamente um significado. Aí está um dos grandes paradoxos da comunicação esquizofrênica: que ao não comunicar, ele está comunicando e, comunicando, ele não está comunicando e, não comunicando, ele está comunicando e assim vai eternamente. A genial Doutora Virginia Satir tem um caso hilário:
-Eu sou Deus - diz o paciente
-Ok, eu deixo você ser Deus - responde a Doutora Satir.

Ao dizer "Eu sou Deus", o esquizofrênico está chamando o terapeuta para se perder em mil voltas numa análise que não chegará a lugar algum(e é o que, mesmo depois de morto, o assassino de Realengo está fazendo com todos). Ela não cai na armadilha e somente devolve um paradoxo do qual ele não tem saída possível, a não ser que, numa hipótese absurda ele dissesse:
-Ok, eu deixo você deixar que eu seja Deus.

Talvez o único, em minha opinião, que "deixou" que o retardado fosse um muçulmano terrorista foi o sargento que o baleou. Resultado: ele se suicidou.