terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Manifestações, violência e Governo.

Quem tem acompanhado a história do século passado e deste, sabe que as guerras modernas são sobretudo guerras midiáticas. Em outras palavras: aquele que tiver e que naturalmente souber utilizar a melhor estratégia de propaganda ganha a opinião pública mundial e vence a guerra, muitas vezes com pouquíssimas baixas para ambos os lados. Muito bem. Penso que este show de incompetência e irracionalidade que temos presenciado no Rio de Janeiro e em outras cidades nada mais é do que uma imitação bizarra em escala micro de algumas práticas que os Americanos têm levado a efeito nas últimas décadas ao redor do mundo. Cabe aqui uma frase interessante, cuja autoria eu desconheço, e que exprime com perfeição a sua maneira de pensar e agir: "Se você quer que alguém lhe dê algo e este alguém se recusa a lhe dar, transforme-o em seu inimigo e tome dele à força". Sensacional. O script das suas empreitadas, com algumas eventuais modificações é simplificadamente este: eleger, e por razões bem diferentes das que a maioria imagina, um inimigo; praticar o terrorismo, acusar o inimigo destas mesmas práticas terroristas e, com isto, justificar o seu próprio terrorismo e ganhar justificativa legal e respaldo da opinião pública para mais terrorismo ainda. É nada menos do que o que está se dando neste momento entre os governos estadual e municipal de um lado e a população, incomodada com a orgia descarada promovida com o dinheiro público, do outro. Não há inocência alguma em qualquer dos dois lados e eu explico: não é um rosto ou vários, cobertos ou não com máscaras, que devem vir para a frente das câmeras, mas uma causa e uma intenção muito bem definidas. Nisto, as manifestações ocorridas no país em meados de 2013 deram um belo exemplo, a despeito dos comentários via de regra imbecis de palpiteiros do porte de Arnaldo Jabor, por exemplo. Do lado do governo, o seu pecado é a recusa obstinada em estabelecer um canal de comunicação direta e franca(se é que isto é possível da parte do mesmo) com a população. O modelo teórico Comunicacional do Double Bind, destinado a explicar a mecânica da esquizofrenia, oferece uma boa alternativa para interpretarmos satisfatoriamente este processo: em primeiro lugar, a via de comunicação da população para com o governo é o voto no médium que, pelo menos no seu discurso eleitoreiro, é portador de sua mensagem, ou seja, suas aspirações e necessidades. Ao perceber o absoluto desprezo com que tanto o seu médium quanto o governo tratam a sua mensagem, o povo então resolve meta-comunicar(comunicar sobre a comunicação) através das manifestações de rua. A violência policial é a maneira privilegiada do governo de tornar impossível a meta-comunicação e dar redundância a um discurso no qual nem mesmo eles próprios, os governantes, acreditam, pois têm perfeita consciência de que estão mentindo o tempo inteiro. E o preço disto pode sair bem alto. Não me refiro às urnas, haja vista a amnésia crônica do povo somada a uma legislação eleitoral que faz com que o processo sempre desague em uma vitrine(ou latrina, se preferirem), cheia de candidatos onde não é possível sequer eleger o menos pior. Dito de outro modo, seja qual for a escolha, esta será sempre necessariamente nociva aos interesses da população. Mais trágico ainda é não se poder dar a descarga...Refiro-me, sim, a um problema crônico que assola este país desde tempos imemoriais: a pessoa errada, no lugar errado. Todo governo que não quer ter grandes problemas deve ter um departamento de comunicação formado por especialistas e não por parentes, conhecidos ou colegas de partido. A meu ver, este é o grande pecado e é de onde saem ideias esdrúxulas como a de imitar, sem a competência necessária, técnicas utilizadas por países que levam o que fazem, para o bem ou para o mal, muitíssimo a sério. Quanto aos manifestantes, enquanto agirem como mariposas, fascinadas pela luz das câmeras, ou pelo brilho do ouro de tolo dos políticos, não terão coisa alguma além do que já têm tido: quinze minutos de fama para alguns espertos e, para o geral, o cala-boca de sempre.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Simples assim...

- Na sua opinião, o quê é Deus?
- Ora, sei lá...eu sou um psicólogo e não um teólogo...
- Certo, mas qual a sua opinião?
- E por quê quer saber? Por acaso está pretendendo ter um encontro com ele?
- Não. Só responda.
- Ok, então. Como psicólogo, eu diria talvez que ele é o que você achar que ele seja, mas prepare-se, porque vai haver um monte de gente discordando de você.
- Concordo inteiramente, mas você não respondeu...
- Bem, eu diria então que ele é um brincalhão, e que neste exato instante está me fazendo uma pergunta cuja resposta ele conhece muito bem...

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Ironia V

Você vive dizendo por aí que homem não presta, que é tudo galinha e mentiroso, etc...mas se a namorada do seu filho vier dizer isso dele, você vai chamá-la de piranha, recalcada, vadia e vai dizer que quem não presta é ela.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Para além do mundo dos sonhos II

"Se a realidade, a vida que você leva, os seus projetos, as coisas que você tem, as pessoas que você conhece, enfim, se tudo isso fosse um sonho, como você o interpretaria?"(Bennett)
- ...Pois é, cara, como eu estava te contando, a minha mãe vivia dizendo que eu era um eleito...não sei de onde ela tirou isso. Maluquice de crente.
- E, naturalmente, nessa tal eleição ela foi presidente da mesa...e como presidente, o voto dela tinha peso dois, não é isso?
- (risos)Acho que é mais ou menos por aí...
- E como o voto é secreto, todos os outros eleitores estavam invisíveis...
- (mais risos) Eu nunca acreditei nessa conversa pra boi dormir. Sempre fiz tudo para provar exatamente o contrário. Não quero ser escolhido de porra nenhuma. Um dos caras que eu mais admiro é Casanova, e eu Comecei a admirá-lo quando ele disse: "Eu não troco um minuto sequer da minha vida pela eternidade no paraíso". Achei fantástico. Você já leu a biografia de Casanova?
- Não.
- Mas deixa eu te contar. Um dia desses eu acordei pensando muito nisso. Muito mesmo. Acho que tive um sonho, não me lembro, mas isso não me saiu da cabeça o dia inteiro...
- Isso o quê?
- Porra, essa coisa de ser um escolhido de Deus. Então, pensei cá comigo: "Porra, se eu sou um escolhido de Deus, por quê ele não me escolhe pra ganhar na loteria e sair dessa penúria crônica que me assola a vida toda?
- Boa pergunta...Pelo jeito, Deus tem um modo meio bizarro de tratar os seus escolhidos, ou então é um sacana de carteirinha.
- Porra, esse paraíba foi fabricar a nossa cerveja, cara?
- Tem razão - Ô paraíba!...Ô paraíba! Cadê a porra da nossa cerveja?
- Então, cara, era um sábado de manhã, nada pra fazer, e eu resolvi perambular por Copacabana. Cheguei a passar em frente a uma lotérica e tinha algo me dizendo pra jogar, mas eu não quis. Tem que ser muito cagão pra acertar num jogo em que as suas chances são de uma para nem sei quantos milhões. A praia estava lotada, Um verdadeiro formigueiro humano. A areia, o calçadão, tudo cheio de gente. Então, procurei um banquinho do lado de cá da Atlântica, embaixo de uma árvore, e fiquei ali olhando as bundas que passavam. Acendi um cigarro e fui fumando e pensando nessa porra toda. No final, joguei a ponta do cigarro no chão e imediatamente, não sei de onde, apareceu um fiscal da prefeitura.
- E aí?
- Ele veio, pegou a ponta do chão, colocou num saquinho plástico e me tascou uma multa de cento e cinquenta e sete pratas. Porra, no meio de um milhão de pessoas, aquele filho da puta me escolheu pra multar...e por causa de uma ponta de cigarro.
- Acho que você devia ter jogado na loteria...ou então Deus não gosta que os escolhidos dele fumem...


(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Rumo ao céu

Rumo ao céu


Qual misterioso véu
cravejado de brilhantes,
dos mais finos diamantes.
Nele, envolto, o nosso mundo.
É pois o pano de fundo
neste palco teatral.
Cegos, insanos, insones,
construímos cada qual
sua torre de Babel
alucinado papel
loucos, representamos.
Profundos fossos cavamos
tentando galgar o céu...