sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Os Nanautas estão entre nós(parte VIII)



Foi Osteoporovski quem, um dia, sabiamente afirmou: “Viver é osso...”. Silver não tardaria a descobrir isto. E foi o mesmo Osteoporovski, notável investigador dos recessos da mente humana quem, antes mesmo de Freud, diria: “Dinheiro, poder e fama são os laxantes para o reprimido”. Com efeito, Ainda em Miami e com as malas cheias do dinheiro que ganhara no Eugenio "C", Silver sentiu aflorar um desejo que acalentara desde a mais tenra infância e que jazia adormecido: ir à Disney e tirar uma foto ao lado da Mônica e do Cebolinha. Não pensou duas vezes. Pegou o primeiro ônibus e foi para a Disney, onde pode ver ao vivo o maravilhoso mundo criado pelo genial não sei o quê americano e onde, para desgosto seu, foi informado de que ali não havia nenhuma Mônica ou Cebolinha. "Nada é perfeito", pensou consigo mesmo. Aceitou então posar ao lado da Branca de neve e do Zangado e, depois de andar na roda gigante e na montanha russa e comer 3 algodões doces e 2 maçãs do amor, resolveu que era hora de partir e embarcou num trem rumo a New Orleans para o tão esperado encontro com o seu tio Ayo Silver, o macumbeiro mais famoso do mundo, inventor do telégrafo espiritual através dos tambores e da acupuntura à distância, mais conhecida como vudu. Foi recebido com festa pelo tio e amigos e rapidamente providenciaram sua instalação num cafofo atrás do Gongá de Ayo Silver, por módicos Us$ 500 a diária. Silver estava encantado com a hospitalidade do povo de New Orleans e, sem palavras, só conseguia responder: "Fúquiu, Fúquiu! Black is bíurifou!". New Orleans, ah New Orleans...Terra do Blues e da macumba. Terra do célebre bluseiro Robert Silver, que fizera um trato com o enxofrento e desaparecera misteriosamente numa encruzilhada, não sem antes pegar algumas iguarias, dois charutos e um litro de tequila que encontrou num despacho bem ali...Silver achou um verdadeiro charme o hábito que têm os guitarristas veteranos de usarem dentes de ouro. Ficou imaginando o que diriam os seus amigos quando voltasse e eles vissem o seu sorriso igual ao de um veterano do Blues. Providenciou então com um dentista de reputação duvidosa a extração de dois dentes e a implantação de dois de ouro. Iria causar inveja em todos...
O experimento que tinha em mente e que afinal era a razão de sua viagem seria de suma importância para a Psicologia, Parapsicologia, Física quântica, Espiritismo, Esoterismo, Astrologia, prospecção petrolífera, pesquisa espacial e áreas afins. Consistia em fazer com que os ogãs, em vez de usarem os tambores, batessem na sua cabeça durante uma semana, juntando assim a técnica da Chacoalhada sistêmica com o Telégrafo espiritual. Os resultados foram se mostrando espetaculares, de forma que, antes mesmo de terminar a semana, já havia entrado em transe 32 vezes, podendo entrevistar os mortos no plano astral, prever acontecimentos futuros, fazer e desfazer casamentos, curar todo tipo de bicheira ou moléstia existente, vasculhar a vida alheia, etc. Não poderia ter sido mais bem sucedido. No entanto, ao final da sua estadia, notou com desespero que suas malas haviam sumido e com elas todo o seu dinheiro e não teria como pagar ao tio o que devia. Foi conversar com ele e o velho, que usava um boné que lhe era estranhamente familiar, compreendeu a sua situação e generosamente perdoou a dívida, emprestando ainda 2 dólares para que ele pudesse fazer uma fezinha no jogo do bicho e conseguir dinheiro para voltar para casa. Assim ele fez, mas a sorte parecia não estar lhe sorrindo. Tirou então os dois dentes de ouro e apostou numa roda de carteado, mas não foi feliz também. Estava mesmo perdido. Perdido e banguela. Teria que se virar batendo algumas carteiras, com o compromisso solene de que devolveria tudo assim que a sorte lhe sorrisse de novo. Mas não tardou para que a polícia pusesse as mãos nele. Algumas sessões de choques elétricos na extremidade do seu órgão reprodutor fariam com que ele confessasse até o que fez nas encarnações passadas. Lembrou-se da célebre frase de Osteoporovski: “Merda é igual a cocô. Quando vem, vem uma após a outra...”.


Continua...

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