Por vários motivos, "Watchmen" é para mim um dos melhores filmes dos últimos tempos. Uma das cenas emblemáticas deste filme é o momento em que, em meio a uma violenta manifestação popular, o "Coruja"(um dos super-herois) pergunta ao "Comediante"(outro super-heroi):
- O que aconteceu com o "Sonho americano"?
Ao que este então responde:
- O que aconteceu com o "Sonho americano"? Virou realidade! Tá olhando pra ele!
E continuou atirando indiscriminadamente contra os manifestantes.
Tenho assistido ao que andam fazendo todos ou quase todos os que ocupam posições de poder neste país, como também o que as investigações têm trazido à tona. E tenho também assistido à maneira como a população em geral tem se comportado com relação a si mesma, que vai desde o episódio do panelaço seguido de uma sujeição quase hipnoidal, até o espetáculo dantesco levado a efeito pela torcida do Flamengo na final da Sul-americana.
Me veio à cabeça a luta de tantos no passado por democracia e liberdade e ao mesmo tempo a cena de "Watchmen" que acabei de descrever brevemente e me faço a seguinte pergunta:
- O que houve com a Democracia?
E é como se o "Comediante" me respondesse:
- Virou realidade! Tá olhando pra ela!
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
Filosofando LXXI
Parece que foi ontem...mas nem anteontem foi. Meu medo é que o sentido
da vida seja algo tão pequeno e banal que nem valha a pena procurar, e
que alucinar um sentido grandioso e oculto para a vida seja apenas um
jeito de não morrer de tédio.
quinta-feira, 3 de agosto de 2017
Filosofando LXX
Toda perda é sempre duas, e a segunda é sempre mais devastadora, por mais devastadora que seja a primeira. Pouca gente sabe disso.
sexta-feira, 12 de maio de 2017
Filosofando LXIX
Uma das vantagens de ficar velho é poder passar um ou dois dias sem
tomar banho e não experimentar o menor sentimento de culpa por isso. Ser roqueiro
também tem essa vantagem. Mas se você não é velho e nem roqueiro, então o
melhor é você tomar banho mesmo, ou vai ter que aguentar aquela voz
chata da sua consciência, não por acaso igualzinha à sua mãe, dizendo o
tempo todo: "Lambão sem vergonha, vá logo tomar um banho, seu porco!"
terça-feira, 9 de maio de 2017
Psicanálise
- Bom dia- e ela então ajeitou a blusa de lã marrom para que ele não ficasse olhando os peitos dela - eu sou estagiária da equipe de Psicanálise.
- Eu sei.
- Pois é, eu estou atendendo uma moça que é mãe de um paciente seu.
- Sim, eu sei quem é.
- É que por uma questão técnica é indicado que os dois sejam atendidos por uma pessoa da mesma linha. Pra não misturar as coisas...
- E então?
- Então que eu preciso que você libere o seu paciente para ele ser atendido por mim.
- Tivemos só uma entrevista inicial. Se for facilitar a vida de vocês, está liberado. Vou falar com ele logo mais.
- Então espere aí que eu vou falar com a minha supervisora.
Meia hora depois ela estava de volta.
- Vem comigo, que a minha supervisora quer falar com você.
- Ok...
A sala era bem limpinha e arrumada. A supervisora tinha aquele inconfundível ar de quem já morreu, próprio dos psicanalistas.
- Oi, pode se sentar. A minha estagiária falou com você do caso do seu paciente.
- Falou sim. Logo mais eu falo com ele. Mas já está liberado.
- Ora, mas não pode ser assim. Você não pode liberar o seu paciente assim tão fácil.
- E por que não? Vocês não estão precisando? Eu quero apenas colaborar.
- É, mas nós temos que olhar esse seu desejo de colaborar. Isso também tem que ser questionado...
- Estou começando a sentir pena do meu paciente...
(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")
- Eu sei.
- Pois é, eu estou atendendo uma moça que é mãe de um paciente seu.
- Sim, eu sei quem é.
- É que por uma questão técnica é indicado que os dois sejam atendidos por uma pessoa da mesma linha. Pra não misturar as coisas...
- E então?
- Então que eu preciso que você libere o seu paciente para ele ser atendido por mim.
- Tivemos só uma entrevista inicial. Se for facilitar a vida de vocês, está liberado. Vou falar com ele logo mais.
- Então espere aí que eu vou falar com a minha supervisora.
Meia hora depois ela estava de volta.
- Vem comigo, que a minha supervisora quer falar com você.
- Ok...
A sala era bem limpinha e arrumada. A supervisora tinha aquele inconfundível ar de quem já morreu, próprio dos psicanalistas.
- Oi, pode se sentar. A minha estagiária falou com você do caso do seu paciente.
- Falou sim. Logo mais eu falo com ele. Mas já está liberado.
- Ora, mas não pode ser assim. Você não pode liberar o seu paciente assim tão fácil.
- E por que não? Vocês não estão precisando? Eu quero apenas colaborar.
- É, mas nós temos que olhar esse seu desejo de colaborar. Isso também tem que ser questionado...
- Estou começando a sentir pena do meu paciente...
(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")
sábado, 8 de abril de 2017
A volta dos que não foram
Saiu por esses dias nos jornais e nos telejornais, e causou um certo rebuliço no meio virtual a notícia dando conta de que um estudante do Acre sumiu após escrever catorze livros criptografados e encher as paredes do seu quarto de inscrições, tudo em código. As opiniões variam desde um caso clássico de esquizofrenia até a de que ele seria a reencarnação de Giordano Bruno, pensador italiano do século XVI, defensor entre outras coisas do conceito de infinito e de uma espécie de panteísmo, o que parece ter-lhe custado a vida.
Sem querer me estender demais, vou me focar em dois pontos, sendo o primeiro uma contradição já esperada, a qual leva ao segundo ponto.
De uma forma simplificada, diremos que quando enviamos uma mensagem ela já carrega em si as regras que definem o seu público alvo. Assim, se alguém criptografa uma mensagem, é óbvio que não deseja que a mesma esteja acessível a todos, mas apenas a um seleto grupo. Mas se esse alguém deixa as chaves da criptografia tão acessíveis como deixou, então é o mesmo que se ele não a tivesse criptografado. Em outras palavras, um trabalho inútil cuja finalidade parece ser a de forçar as pessoas a terem o mesmo trabalho que ele, decodificando a mensagem. Esta contradição leva ao segundo ponto. Nós, Comunicacionais, assumimos que todo comportamento tem valor de mensagem. Então, esse comportamento de escrever livros criptografados e encher as paredes do seu quarto de desenhos e inscrições aparentemente indecifráveis, bem como colocar uma estátua de Giordano Bruno no quarto e alguns desenhos em que ele aparece ao lado de um extraterrestre visam a meu ver ocupar o pensamento das pessoas com ele, o estudante em questão. Eu diria então que a verdadeira mensagem é: "Me dêem atenção, olhem pra mim!".
Imagino que não demorará muito tempo e ele estará de volta ao lar com uma história esdrúxula de que teria sido abduzido ou coisa do gênero. Sumir de casa nestas circunstâncias e voltar sem uma boa história é impensável, até porque todos cobrarão dele uma explicação. Matar-se(que é outra possibilidade), tendo o cuidado de não encontrarem o seu corpo, para dar a impressão de que teria sido levado para sempre para outro planeta, seria o ideal para fechar com chave de ouro o seu show, mas isto o impediria de gozar do impacto que provocou. Quando eu falo em gozar é gozar mesmo, no melhor sentido psicanalítico. Enfim, num mundo onde ser é aparecer, e este aparecer implica necessariamente em aparecer nos jornais, na televisão e nas redes sociais, o nosso valoroso estudante teve mais do que os seus 15 minutos de glória. Em outras palavras, ele precisava nascer no mundo midiático. É quase certo que ele volte, mas eu posso estar errado...
Sem querer me estender demais, vou me focar em dois pontos, sendo o primeiro uma contradição já esperada, a qual leva ao segundo ponto.
De uma forma simplificada, diremos que quando enviamos uma mensagem ela já carrega em si as regras que definem o seu público alvo. Assim, se alguém criptografa uma mensagem, é óbvio que não deseja que a mesma esteja acessível a todos, mas apenas a um seleto grupo. Mas se esse alguém deixa as chaves da criptografia tão acessíveis como deixou, então é o mesmo que se ele não a tivesse criptografado. Em outras palavras, um trabalho inútil cuja finalidade parece ser a de forçar as pessoas a terem o mesmo trabalho que ele, decodificando a mensagem. Esta contradição leva ao segundo ponto. Nós, Comunicacionais, assumimos que todo comportamento tem valor de mensagem. Então, esse comportamento de escrever livros criptografados e encher as paredes do seu quarto de desenhos e inscrições aparentemente indecifráveis, bem como colocar uma estátua de Giordano Bruno no quarto e alguns desenhos em que ele aparece ao lado de um extraterrestre visam a meu ver ocupar o pensamento das pessoas com ele, o estudante em questão. Eu diria então que a verdadeira mensagem é: "Me dêem atenção, olhem pra mim!".
Imagino que não demorará muito tempo e ele estará de volta ao lar com uma história esdrúxula de que teria sido abduzido ou coisa do gênero. Sumir de casa nestas circunstâncias e voltar sem uma boa história é impensável, até porque todos cobrarão dele uma explicação. Matar-se(que é outra possibilidade), tendo o cuidado de não encontrarem o seu corpo, para dar a impressão de que teria sido levado para sempre para outro planeta, seria o ideal para fechar com chave de ouro o seu show, mas isto o impediria de gozar do impacto que provocou. Quando eu falo em gozar é gozar mesmo, no melhor sentido psicanalítico. Enfim, num mundo onde ser é aparecer, e este aparecer implica necessariamente em aparecer nos jornais, na televisão e nas redes sociais, o nosso valoroso estudante teve mais do que os seus 15 minutos de glória. Em outras palavras, ele precisava nascer no mundo midiático. É quase certo que ele volte, mas eu posso estar errado...
segunda-feira, 3 de abril de 2017
segunda-feira, 27 de março de 2017
Pois é...
Me
impressionam a rapidez, a determinação e a eficiência com que a
humanidade cava o buraco onde será sepultada, no grande cemitério das
espécies...Breve, seremos apenas uma história que as baratas
contarão.
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