O professor então concordou em levá-lo para ver Deus. E não era nada fora do comum, já que a humanidade, desde os primórdios da civilização, acalenta o desejo de um contato mais íntimo com aquele que se crê seja o criador de tudo. Puseram-se então a caminho, até que pararam em frente à vitrine da "Formosa", que era de longe a melhor confeitaria da cidade. Era bem a hora em que as moças do Colégio Normal paravam ali para comprar doces. E era um espetáculo à parte olhá-las em seus uniformes do colégio, com aquelas saias quatro dedos(generosos) acima do joelho exibindo parte das pernas muito bem torneadas e as blusas tão justas que parecia que iam soltar os botões, se elas respirassem fundo. O professor apontou para a vitrine e falou:
- Olhe...
Os bolos e os pães doces, apesar da aparência de verdadeiras obras de arte, não lhe chamavam muito a atenção, mas os mil-folhas eram uma verdadeira tentação. Eram, junto com a maçã empanada, que a balconista chamava de "maçã à camisola" os seus doces preferidos. Por uns instantes ficou ali perdido, saboreando mentalmente aquelas guloseimas, até que o professor lhe cutucou o ombro e perguntou:
- Viu?
- Viu, o quê?
- Olhe de novo então...
Não entendeu a intenção do professor, mas mesmo assim tornou a olhar para a vitrine e após mais alguns instantes o professor tornou a perguntar:
- E então?
- Então o quê?
- Você queria ver Deus e eu lhe trouxe aqui. Só que você está olhando errado. Olhe da maneira certa.
Tornou a olhar para a vitrine, sabendo que não sairiam dali até que tivesse visto o que o professor queria que ele visse. Não demorou muito para perceber que estivera olhando para a direção certa, mas no foco errado. Aconteceu de acidentalmente olhar para o vidro da vitrine e foi aí que teve um choque, embora algo dentro de si negasse a realidade. O professor percebeu que ele finalmente vira e foram saindo sem dizer nada. Não demoraria muito a esquecer aquele encontro e continuar firme na opinião de que "Você é Deus" e outras expressões parecidas não passam de pura demagogia.
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