terça-feira, 19 de abril de 2011

Mídia e violência

Uma coisa que chama a atenção, e que suscita explicações de todos os tipos é uma espécie de tara que temos pelo mal e pela catástrofe. Por exemplo, muitas e muitas vezes me perguntei o quê faz uma pequena multidão em torno de um corpo caído na rua, se ninguém ali é médico ou enfermeiro ou mesmo os que se dispõem a ajudar são pouquíssimos. E o quê faz uma pessoa diante da televisão assistindo Datena ou Wagner Montes? Muitas vezes, o trânsito em uma grande avenida fica engarrafado porque os motoristas param para olharem um acidente que nem ocorreu ali, ou se ocorreu, foi em outra pista. É disto também que a mídia se aproveita.
Curiosamente, os cemitérios e hospitais nunca foram locais badalados. As pessoas só os frequentam por força das circunstâncias. Certa vez, por ocasião do incêndio do edifício Andorinha, no Rio, eu passava lá por perto. Eu era Office boy e não pude deixar de notar a atração que as catástrofes exercem sobre as pessoas. É coisa que vale um estudo e uma discussão aqui. Digo isto porque não creio que poderíamos avançar no assunto da mídia e violência sem antes termos uma idéia aproximada do que está por trás disto.
Durante um tempo, observando o comportamento das pessoas, cheguei a pensar que o ser humano, no seu geral, gosta de "beber sangue". De uma certa forma, sim. Em uma entrevista, o diretor de um jornal aqui do Rio(cujo nome não vou citar) disse que a fórmula para se vender jornal é "Presunto e lombo". Presunto seriam os cadáveres resultantes da matança que grassava pela cidade, e Lombo seriam as modelos boazudas que apareceriam em cada edição do jornal, em trajes mínimos. Mas ainda assim eu achava que a coisa poderia ir bem mais além.
Então, podemos pegar alguns eventos como modelos e pensar no que eles têm em comum: O terremoto do Chile, o bombardeio ao Iraque, as torres gêmeas, A tragédia na serra do Rio, o Terremoto e Tsunami no Japão, a presepada do retardado de Realengo, etc...Não sei explicar direito, mas parece que necessitamos de algo grandioso que nos impressione. Talvez esteja aí uma necessidade humana até hoje ainda não identificada: a de sermos impressionados(de preferência muito). Então, é na medida em que formos impressionados por um fato, que poderemos impressionar as pessoas às quais o narraremos. Imagine, uma pessoa há uns dias atrás venha perto de você e diga, com a maior tranquilidade e indiferença do mundo: "Houve um terremoto no Japão e uma tsunami...". Precisamos estar devidamente impressionados(chocados mesmo) com um fato, para que sejamos capazes de chocar os outros também. Talvez aí, possamos seguir com Daniel Bougnoux, quando fala do efeito viral em comunicação. E, se formos um pouco mais além, podemos dizer que, na medida em que nos chocamos e manifestamos isto de alguma forma aos outros, NÓS NOS TORNAMOS PARTE DO PRÓPRIO FATO(é tentador levantar aqui a hipótese de que poderia ser este o motivo de o refém se tornar "amigo" do sequestrador...). Talvez o que no fundo e, principalmente, também subjaz a isso tudo é o nosso desejo de sermos grandes, inéditos, fantásticos...O nosso desejo de impressionar...


(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")

Um comentário:

  1. Eu também me pergunto por que o povo gosta tanto de sangue. Será por que eles são ignorantes e desconhecem o sentido da vida e tbm ignora o bem, a verdade e o belo? Programas como Datena e Wagner Montes tbm n fazem minha cabeça... Entendi seu post e penso que é melhor do que muitos editais de revistas, exceto a parte que cita Daniel Bougnoux, eu o desconheço, nunca ouvi falar. Muito bom! Parabéns!

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