Foi Sua Divina Graça
Sri Kagayanda Maharishi, profundo conhecedor da natureza humana, quem
afirmou um dia: “Todo homem é como um disco de vinil: tem um lado
A, um lado B e um buraco no meio”. Buracos à parte, nas pessoas comuns estes dois
lados quase que se confundem, mas é nos gênios que a diferença
entre eles assume proporções assombrosas. Ayo Silver é um exemplo
disso. Conta-se que o seu pai fora um feiticeiro haitiano que se
refugiara no sul dos EUA, casando-se com uma senhora de reputação
meio duvidosa, com quem tivera apenas um filho, dos muitos que pusera no mundo. Rapidamente tornou-se um bem sucedido empresário do
ramo do prazer e da luxúria, vindo a falir algum tempo depois com o advento da Gripe
espanhola, que dizimou quase todas as moças prestadoras de favores
libidinosos no país e os clientes quase todos também. Com o pai, Ayo
Silver aprendera todos os mistérios da macumba, da feitiçaria e do
mundo empresarial, e o mundo se encarregaria naturalmente de lhe
ensinar o restante, de forma que ele conseguiu acumular um invejável currículo
que incluía roubo, estelionato, assalto a mão armada, tráfico de
bebidas, pornografia infantil, agressão, desacato à autoridade,
formação de quadrilha, tráfico de influência, corrupção de
menores, contrabando de animais silvestres, suborno, corrupção
ativa e passiva, extorsão, falsidade ideológica, atentado violento
ao pudor, falsificação, desvio de verbas públicas, charlatanismo, bebedeira,
arruaça e homicídio seguido de morte(este último item, aliás,
gerou uma batalha jurídico-filosófica que se estendeu por vários anos,
incendiando o meio acadêmico e resultando sem solução até os dias de hoje). O pouco
tempo que passou na cadeia, isolado das más influências, foi
suficiente para que ele desenvolvesse duas das mais revolucionárias
técnicas de que se tem notícia: o Telégrafo espiritual, baseado
num código que ele mesmo criou, análogo ao Código Morse, e que
batizou de “Código Silver”. Era para ser executado com atabaques
de macumba, que funcionavam como transmissores, a fim de tornar mais
precisas as comunicações com o mundo espiritual. A partir de então
foi que, qualquer um que desejasse enviar uma mensagem a um ente
querido já falecido, teria apenas que escrever a tal mensagem em um
papel e, mediante um pequeno pagamento, os ogãs se encarregariam de
enviá-la através de seus tambores. O mundo prostrou-se diante de
tal prodígio e a modernidade finalmente chegou aos centros de macumba pois, dali por diante, cada terreiro passaria a
funcionar como uma Lan House espiritual. Mas uma outra invenção
teve um impacto mais contundente ainda, repercutindo até mesmo na
milenar China: a Acupuntura à distância, a qual ganhou enorme
notoriedade no mundo inteiro, ficando mais conhecida no ocidente como Vudu. Seu princípio
é muito antigo e bem simples: “O igual se comporta igualmente, e não
diferentemente”(Imitágoras). Dito numa liguagem mais popular, "O pau que dá em Chico, dá em Francisco". A partir disto ele deduziu
que, se um simples átomo se comporta como um sistema solar ou uma
galáxia, então, com um simples boneco e algumas agulhas e sabendo
onde enfiá-las, ele poderia curar ou matar alguém à distância.
O próprio Ayo Silver viria a afirmar categoricamente que "qualquer país que tiver uns dez bons vuduzeiros não precisa de exército". Por conta desta afirmação, no ano seguinte a Convenção de Genebra incluiria o Vudu na lista de crimes de guerra espirituais. Foi talvez graças a esta invenção que ele jamais pode ser
condenado em um tribunal, pois todos os juízes designados para
julgá-lo ficaram afônicos e com os braços paralisados e, portanto,
não tiveram condições de bater o martelo e dar a sentença. Assim, após horas
de uma interminável reunião, a corte de New Orleans achou por bem esquecer tudo e ele
foi deixado em liberdade, tendo apenas que realizar pequenos serviços comunitários, tipo assombrar crianças desobedientes que faziam birra na hora de comer.
Este era Ayo Silver,
o Einstein do mundo espiritual, tio de A.C. Silver, com quem muito breve teria um encontro histórico...