sábado, 9 de abril de 2011

Sobre o assassino de Realengo

É interessante considerarmos aqui a hipótese da esquizofrenia. Muitos aqui já devem ter assistido "Uma mente brilhante", e devem fazer uma idéia aproximada de como a fantasia se mistura à realidade na mente de um esquizofrênico. A apoiar esta hipótese está o fato de sua mãe biológica ser(ou ter sido) esquizofrênica, e se há um componente genético na esquizofrenia, então podemos considerá-la confortavelmente. Daí se pode entender(?) a razão de todo aquele discurso desencontrado presente em sua carta. É sabido que o esquizofrênico tem uma auto-estima abissal e que por isso se refugia(geralmente) numa crença radical, cujas exigências poucos humanos conseguem satisfazer, o que o coloca automaticamente acima de todos os outros mortais. Se esta hipótese estiver correta, e se seguirmos a trilha comunicacional, temos que procurar aí um(ou mais) paradoxos. É na questão de ele preferir executar as meninas e na questão da virgindade,(vide a carta e o depoimento de uma sobrevivente) que me parece que surge pelo menos um desses paradoxos. Seria algo como: "Se eu as sacrifico, eu as salvo; mas se eu salvá-las, eu as estou sacrificando" e assim vai infinitamente. O paradoxo funciona deste jeito: qualquer alternativa incorre no seu oposto, criando um círculo interminável. Ora, se ele as salvou sacrificando-as, então por quê deveria pedir perdão a Deus? Possível resposta: porque sacrificando-as ele as salvou, mas no que as salvou, as sacrificou.
Vejo uma legião de teóricos procurando as causas e os motivos, mas penso que o que se deve procurar é a mecânica da coisa.
Para começar, assumimos que o comportamento sem pé nem cabeça de um esquizofrênico é uma tentativa de não comunicar, o que fere a 1ª Lei da Comunicação:
"È impossível não comunicar".
Logo, mesmo isto é comunicação, mas que não precisa ter necessariamente um significado. Aí está um dos grandes paradoxos da comunicação esquizofrênica: que ao não comunicar, ele está comunicando e, comunicando, ele não está comunicando e, não comunicando, ele está comunicando e assim vai eternamente. A genial Doutora Virginia Satir tem um caso hilário:
-Eu sou Deus - diz o paciente
-Ok, eu deixo você ser Deus - responde a Doutora Satir.

Ao dizer "Eu sou Deus", o esquizofrênico está chamando o terapeuta para se perder em mil voltas numa análise que não chegará a lugar algum(e é o que, mesmo depois de morto, o assassino de Realengo está fazendo com todos). Ela não cai na armadilha e somente devolve um paradoxo do qual ele não tem saída possível, a não ser que, numa hipótese absurda ele dissesse:
-Ok, eu deixo você deixar que eu seja Deus.

Talvez o único, em minha opinião, que "deixou" que o retardado fosse um muçulmano terrorista foi o sargento que o baleou. Resultado: ele se suicidou.

2 comentários:

  1. Adorei suas citações.
    tire-me uma dúvida: Quais as causas desencadeantes da esquizofrenia?

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  2. Bem, Patrícia, considere que temos cerca de 45 teorias sobre a esquizofrenia, e cada uma delas muito bem fundamentadas(Paul Watzlawick - La etiología de la esquizofrenía). A teoria Comunicacional, da qual lancei mão para arriscar esta análise, é apenas mais uma. Assumimos que pode haver sim um componente genético na etiologia da esquizofrenia, mas damos maior ênfase aos fatores ambientais(entenda-se "ambiente" como o ambiente humano). Logo, havendo uma predisposição, qualquer combinação de fatores circunstanciais pode desencadear a esquizofrenia, principalmente as frustrações. E isto, segundo entendemos, se dá porque o esquizofrênico já é, dsde sempre, profundamente frustrado, pela simples razão de que vive um paradoxo pragmático e, como todos sabemos, os paradoxos não têm solução. Daí a frustração.

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