sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Mais um aniversário
É...29 de Outubro...e lá se vão algumas décadas de pauleira pura. Acordei com uma preguiça monumental. Talvez eu já tenha nascido preguiçoso. Penso se a humanidade não estará dividida entre os que obram, os que simplesmente contemplam o mundo e os que o pensam. Com toda a certeza eu não sou um obreiro do mundo e não paro muito para pensar nas coisas. Fui olhar por aí para ver se algo de importante aconteceu em algum 29 de outubro. Nada...Nenhuma invenção, nenhuma guerra, nem mesmo uma revoluçãozinha. Talvez nem mesmo uma briga de bar. O Brasil não ganhou nenhuma copa do mundo nesta data. Consola é que é o Dia do Livro. Disto eu gosto sim. Sempre gostei dos livros. Se eu pudesse, viveria no meio deles mas, como não posso, me contento com os quase 400 que tenho por aqui. Honestamente, não entendo a correria humana. Dizem que os cariocas são vagabundos...mas quem mandou Deus fazer o mundo tão bonito? Que o fizesse feio, e todos nós passaríamos o tempo trabalhando, ora. É evidente que, do jeito que o mundo funciona, minha rota é rota "Titanic", e qualquer hora dessas eu dou com a cara na pedra. De todos os filhos, minha mãe diz que eu sou o que veio com maior vontade de viver. De fato, tenho um enorme tesão pela vida, e não entendo a má vontade que algumas pessoas têm para com ela. A impressão é que estão carregando uma cruz em vez de viverem. Não tenho nada planejado para hoje. Talvez, se alguma amiga viesse aqui fazer a minha felicidade...isto seria um ótimo presente de aniversário. Mas se não for assim, está bom também...vida que segue...
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
O oitavo passageiro
Ele era o último da fila. O elevador abriu a porta e todos foram entrando. Quando chegou a vez dele, um lá de dentro disse:
- Ei, não pode.
- E por quê não pode?
- Está escrito ali na plaquinha:”CAPACIDADE MÁXIMA: 8 PASSAGEIROS”.
- Então, tem que sair mais um – disse ele, tapando o sensor com o pé.
- E por quê?
- Aquela dona ali pesa o dobro de qualquer um de vocês – e apontou para uma senhora gorda, lá no canto - Então, tem que sair mais um.
- Porra – disse o Office boy junto da porta – entra logo, senão ninguém chega a lugar nenhum...
- É mesmo - disse o estudante de história – entra logo.
Ele entrou e puxou conversa com a estagiária a seu lado:
- Sabe, isso é uma tremenda frescura. O máximo que pode acontecer é o elevador travar no meio do caminho.
- Hum...
- O problema é quando ele para entre um andar e outro...
- Por quê?
- Porque a porta não abre. Ela trava, e com esse monte de gente respirando ao mesmo tempo, o ar acaba num instante...
- Eu, hem, Deus me livre...
- ...e como as pessoas estão nervosas, consomem o ar muito mais rápido...deve ser horrível, morrer sufocado. E esses elevadores daqui vivem dando problema...não fazem manutenção...
- Ai, deixa eu saltar aqui...Vou pela escada mesmo...
- Também vou – Disse a outra estagiária, saindo em seguida.
- Hummm...- e ele então virou-se para o Office boy – Viu só aquelas duas? Querem ir juntinhas pela escada...ali tem coisa...Esse mundo está uma sacanagem só...
(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")
sábado, 23 de outubro de 2010
A festa
A- Lembra daquela festa que nós fomos, em setenta e oito, na casa daquele assessor do ministro?- e terminou de encher o copo. Já deviam ter tomado umas dez ou doze cervejas.
B- Como tinha droga...
C- E que tipo de droga tinha lá?
A- De todo tipo...Pra você ter uma idéia: tinha uma loirona que ficava em pé, bem na porta e, aí, todo mundo que chegava tinha que dar um tapa no baseado dela e então entrava...e lá dentro, era droga de todo tipo. Por falar nisso, você se lembra de como aquela festa terminou?
B- Não...eu só me lembro que fiquei muito doidão...
A- Pois é, e é isso que me intriga, porque eu também não me lembro de como aquela festa terminou...às vezes eu acho que não terminou...
C- Como assim?
A- É possível que aquela festa não tenha terminado...Talvez ainda estejamos lá, muito doidos, alucinando tudo isso aqui...essa conversa, a cerveja, o som...esses vinte e tantos anos que se passaram...tudo, tudo...
C- Eu acho que você quer que alguém por aqui se suicide...
B- Você quer dizer que o fim da ditadura, o buraco na camada de ozônio, o onze de setembro, a Tsunami...?
A- Tudo...as suas teorias da física, os meus pacientes, o livro que estou escrevendo...
C- É...devia ter só drogas pesadas mesmo, naquela festa...
A- Você não vê que, nessa realidade aqui, há umas coisas que não se encaixam direito?
C- O quê, por exemplo?
A- Por exemplo: O quê acontece sempre que você assiste a um jogo decisivo do Brasil?
B- O Brasil perde...
A- E quando você está na rua e vem uma mulher gostosona na sua direção?
B- Ela dobra numa esquina antes ou passa para a outra calçada...
C- É...eu ainda não tinha pensado nisso...
(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Eu, hem...
- Não quero falar nada...
- Já está falando - respondeu o psicólogo.
- Mas não é disso que eu estou falando. Eu estou falando de falar...
- Ok, mas dentro da sua cabeça você vai continuar falando...consigo mesma.
- Não é comigo mesma que eu falo dentro da minha cabeça.
- E com quem é, então?
- Com você...o tempo inteiro...
- Então, por quê veio aqui?
- Por que eu precisava lhe dizer isso...
- Ah, entendi...
(Jan Robba em: ("O livro das esquisitices")
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Sobre divãs, Psicanálise e campos eletromagnéticos...
- É você que trabalha com hipnose aí no SPA? – Perguntou o estudante de história.
Adoro abelhas, mas tinha uma andando na beirada da minha xícara e não deixava que eu terminasse o meu café sossegado. Aquele restaurante era muito bom, no meio daquele verde todo e com uma vista privilegiada da baía de Guanabara. Dava vontade de não sair mais de lá...Respondi ao rapaz que sim e então ele insistiu para que eu fizesse algumas sessões com ele, pois estava com depressão. Consenti, mas com a condição de antes avaliar bem se a hipnose era a ferramenta mais apropriada ao seu caso. Marcamos então um dia e um horário e, no dia e horário combinados, estávamos lá em uma das salas de consulta. Ele estranhou que não houvesse um divã, e eu respondi brincando que lugar de dormir é em casa. Então ele se sentou e começou a falar dos seus sintomas, cujo início se dera havia seis anos e que, de fato, coincidiam com sintomas depressivos. Começou então a falar de sua infância, como é natural das pessoas que assistiram muitos filmes com sessões psicanalíticas e que, não por acaso, confundem Psicologia com Psicanálise. Antes porém que ele colocasse os pais no caldeirão de azeite fervente, eu o interrompi e expliquei que a depressão pode ter inúmeras causas, e que o caminho nem sempre é procurá-las no passado familiar de um indivíduo. Expliquei que até mesmo um campo eletromagnético de uma certa intensidade e freqüência pode causar estes e outros sintomas. Campos gerados, por exemplo, por aqueles fios de alta tensão que vemos nas linhas de transmissão nos subúrbios(o fato de ser proibido habitar embaixo de uma dessas linhas não é sem motivo). Ele me interrompeu e disse: “Pode parar por aí...eu moro embaixo de uma dessas linhas. O terreno onde eu moro é uma invasão e foi o único lugar onde meus pais encontraram uma casa para comprar”. “E há quanto tempo você mora lá?”, eu perguntei. Ele respondeu: “Seis anos”. Disse a ele então que o problema dele não era para um psicólogo, mas para um corretor de imóveis resolver. Voltei então para o meu restaurante, meu café e minhas abelhas...
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Sobre livros, árvores e estupidez humana...
Há uns anos atrás, ainda terminando a faculdade, pensei em escrever um livro. De fato, estava com um esboço de teoria muito bom nas mãos, alguns casos clínicos interessantes, e aquela falta do que fazer de quem vai à faculdade só para cumprir um ou outro crédito e terminar o seu estágio. Comecei então a escrever dois livros de uma vez só, cujos rascunhos guardo comigo até hoje. É um material bom, e talvez valesse a pena ser publicado em forma de livro. Alguns poderão achar engraçado, antiproducente, ou até mesmo estúpido, mas a minha tendência inata ao questionamento, aliada a uma má vontade não muito bem disfarçada com relação a esta caricatura de civilização da qual fazemos parte, não permitiriam que eu levasse meu projeto adiante, sem que antes respondesse à seguinte pergunta: será que vale mesmo a pena derrubar sabe-se lá quantas árvores para fazer uma tiragem de um livro?(acho que todo escritor deveria se perguntar sobre isso). Eu explico. Não acredito naquele chavão tão bem conhecido de todos: “Não há livro ruim que não contenha algo de bom” e, acostumado como fui, desde criança, a ler muito(e lembro que eu gostava de ler desde livros, jornais, até bulas de remédios e o rótulo da lata de leite em pó e de fermento, etc...), não raras vezes vi diante de mim verdadeiras porcarias em forma de livro. Ou porque eram mal escritos, ou porque refletiam o nada que seus autores tinham na cabeça. E sua publicação, em minha opinião, só se justificava por um parentesco do autor com algum editor igualmente idiota ou coisa do gênero. Bem, se acabei de afirmar que os rascunhos ainda estão guardados comigo, não será difícil inferir a resposta que dei à minha própria pergunta. Afinal, a humanidade sobrevive perfeitamente à ausência dos meus livros, mas não duraria muito sem a presença das árvores...
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Quem são os lerdos, afinal?
Olhe só o mundo lá fora. Pegue o telefone e a sua pizza chega em 15 minutos, com coca cola e o que mais você quiser. Ou aquela garota de programa, do jeito que você sonhou, sem precisar perder tempo em conquistá-la ou sequer saber quem ela é. E ela pode até fingir um gozo pra você. Tudo ficou tão rápido, que acabamos convencidos de que somos lerdos mesmo. A besta humana inventou a tecnologia pra se tornar uma besta completa mais rapidamente, e com isso apressar o seu fim. Começa o seu dia quase feliz, não por estar vivo, mas por não ter morrido e deixado de fazer aquele monte de coisas que, no fundo, ele detesta fazer e o fazem sentir-se um desgraçado dia após dia. Tem seguro de vida e plano de saúde, pra poder desperdiçar a sua vida e a sua saúde mais tranqüilamente. Resolve tudo tão rápido que, ao se deparar com o enorme tempo que sobra, tem que inventar algumas doenças e alguns pavores para si. Tem que resolver tudo rápido mesmo, para poder chegar na frente do cara que ele chama de AMIGO. É contra a violência, mas não consegue enxergar que ele mesmo se violenta o tempo inteiro, traindo e enganando a si próprio. É contra as drogas, mas tem uma caixa de lexotan em sua gaveta e, se precisar dobrar no serviço, não dispensa umas anfetaminas.Vai para casa frustrado, perplexo, odiando tudo, e tenta consolar a si mesmo dizendo que tem uma família para cuidar. Então a gente olha o mundo lá fora e se pergunta por quê essa besta só resolve abrir os olhos para os grandes problemas do mundo, aqueles que realmente importam, quando os anjos do apocalipse já fazem soar as suas trombetas... Quem são os lerdos, afinal de contas? Enquanto escrevo isso, segue o Pink Floyd: “...and you run, and you run to catch up with the sun, but it’s sinking and racing around to come up behind you again...”, e a caveira do Raul sacode os cabelos e chacoalha os dentes e me fila um cigarro...
(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")
(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")
Filosofando I
"Aquele que parte para uma batalha pensando nas armas que não tem ao invés de pensar na melhor maneira de usar as que tem, condena-se à derrota...e sua derrota mostra o quê? Que nenhuma arma é boa o bastante nas mãos de um estúpido".
(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")
terça-feira, 12 de outubro de 2010
A última tentação
- Eu acho que é na Bíblia que está a maior lição de propaganda: o tentador seduziu Eva e, por meio dela, Adão acabou seduzido também. É uma fórmula muito simples: jamais tente atingir o seu consumidor diretamente. A eficácia não está na mensagem, e menos ainda no produto, até porque o produto não era lá grande coisa, comparado ao que foi oferecido ao Cristo, sem sucesso...
- Como assim?
- O que o tentador ofereceu a Adão e Eva é um produto dos mais vagabundos...
- Ainda não entendi...
- Ninguém pode escolher se vai cair ou não em tentação, mas apenas a qual tentação vai ceder, e às vezes, nem isso. Então, a humanidade poderia ser dividida em dois grupos bem distintos: os que cederam à tentação do conhecimento do certo e do errado e os que cederam à tentação dos reinos da terra...Tire suas próprias conclusões.
- E você, onde se encaixa?
- Eu sou um tentador...mas não se impressione com isso: você também é um...
- Eu sou apenas um psicólogo e faço o meu trabalho, só isso.
- Você sabe que as coisas não são assim. As pessoas lhe procuram em busca de conselhos que jamais irão seguir, ou lhe procuram em busca de uma terapia que estão dispostas a sabotar na primeira oportunidade...e sabe por quê?
- ...
- Porque você não as seduziu. E elas precisam ser seduzidas...
- As pessoas me procuram, eu faço o meu trabalho e pronto.
- As pessoas não estão ali porque desejam, ou estão ali porque querem evitar algo pior. É diferente. Só existem três meios de se alcançar uma pessoa e conseguir dela que faça o que queremos: o bom senso, a força ou a sedução e você sabe que os dois primeiros não funcionam...Neste hospital, por exemplo, nós somos trazidos para cá à força, tomamos os remédios à força e, se não agimos da maneira como eles querem, vale porrada e até choque elétrico. E qual é o resultado?
- Choque elétrico não existe mais...é coisa do passado.
- Que deixou muita saudade...Você se esqueceu de falar das porradas...Quanto ao bom senso, os conselhos são a primeira ilusão dos estagiários, e que eles rapidamente se convencem de que são inúteis ou ficam por aí acusando seus pacientes de serem burros.
- Bem, e quanto à sedução, então?
- Apenas me responda: quais os pacientes que permaneceram mais tempo em terapia com você? Foram os que lhe procuraram a conselho médico ou dos pais, os que lhe procuraram porque estavam na merda ou foram aqueles aos quais um amigo disse que era moda, que era uma experiência nova, de autodescoberta, etc...?
- Os últimos.
- E inclua neste grupo aqueles que você teve que enrolar descaradamente...
- Por exemplo?
- ...desejo inconsciente, resistência, sexualidade infantil, você sabe...E, por uma estranha ironia, foram eles os que lhe puseram diante da escolha fatal: ser ético ou ganhar dinheiro.
- Acho que o nosso tempo acabou...
- Volte um outro dia...Conhece a saída?
(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Algumas palavras iniciais
Existem várias definições para a palavra "Filosofia"(o "f" maiúsculo não é à toa), mas a que mais me agrada é: "Filosofia é a arte de questionar o óbvio". E eu nem sei quem é o autor, mas posso dizer que ele foi muito feliz nesta frase, e pode-se dizer também que a medida desta felicidade é o grau de dificuldade que experimentamos em reconhecer o óbvio como nem tão óbvio assim. Então, alguém(que por acaso sou eu mesmo) abriu um blog e eu honestamente não me satisfaço com a explicação: "Ah, é para dividir minhas idéias com as pessoas...". É muita ingenuidade para o meu gosto. No fundo, o que se quer nesses tempos de furor midiático se resume em uma palavra: "visibilidade", que em minha opinião é um nome moderninho para a vaidade. Não vem afinal a dar no mesmo? Diz Don Juan(Não o grande garanhão, mas o "brujo" de Carlos Castaneda): "A vaidade é a fonte de tudo o que há de bom e de mau no homem". Vaidade é o nome dado ao motor de todo o esforço que fazemos para afirmar o que queremos que os outros acreditem a nosso respeito. Mas, a maior de todas as ironias é que estamos tão impregnados do Outro, que já não sabemos quem somos, ou se na realidade somos algo.
Isto posto, eu diria que a segunda razão para a existência deste blog é reunir e guardar em um só lugar as várias coisas que andei escrevendo ao longo dos anos e cuja utilidade no final das contas eu desconheço. Desta forma, pode acontecer que muitas coisas que o leitor encontrar postadas aqui ele já terá visto em comunidades do Orkut ou sabe-se lá onde. Por fim, a última e não menos importante das razões é que eu gosto de escrever e gosto do que escrevo. Espero que gostem do que vão ler aqui. Abraços!
Isto posto, eu diria que a segunda razão para a existência deste blog é reunir e guardar em um só lugar as várias coisas que andei escrevendo ao longo dos anos e cuja utilidade no final das contas eu desconheço. Desta forma, pode acontecer que muitas coisas que o leitor encontrar postadas aqui ele já terá visto em comunidades do Orkut ou sabe-se lá onde. Por fim, a última e não menos importante das razões é que eu gosto de escrever e gosto do que escrevo. Espero que gostem do que vão ler aqui. Abraços!
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