"Por trás de um grande homem há sempre um grande padrinho"
(Jan Robba)
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Sobre o amor III
- Cara, sabe aquela morena da Parati verde, que mora ali na outra rua?
- Sei, a Tatiana. O quê tem ela?
- Com ela não tem nada, mas é comigo, cara...
- Então fala logo...
- Eu estou apaixonadão por ela, cara. Não paro de pensar nela um instante.
- Bem, e daí?
- Daí que eu não sei como conquistá-la. Não sei como chegar nela e dizer tudo o que eu estou sentindo.
- Hum...
- Você não conhece nenhuma magia que eu possa fazer pra ela cair na minha mão?
- Conheço, e costuma ser infalível, mas não sei se você vai ter disposição pra isso...
- Pode falar. Eu faço qualquer coisa...macumba, pacto com o capeta, o que for...
- É bem simples: vá para um canto, feche os seus olhos e pense nela. Deseje que ela seja a mulher mais feliz do mundo, mesmo que não seja ao seu lado.
- Ah, assim não vale, cara...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
- Sei, a Tatiana. O quê tem ela?
- Com ela não tem nada, mas é comigo, cara...
- Então fala logo...
- Eu estou apaixonadão por ela, cara. Não paro de pensar nela um instante.
- Bem, e daí?
- Daí que eu não sei como conquistá-la. Não sei como chegar nela e dizer tudo o que eu estou sentindo.
- Hum...
- Você não conhece nenhuma magia que eu possa fazer pra ela cair na minha mão?
- Conheço, e costuma ser infalível, mas não sei se você vai ter disposição pra isso...
- Pode falar. Eu faço qualquer coisa...macumba, pacto com o capeta, o que for...
- É bem simples: vá para um canto, feche os seus olhos e pense nela. Deseje que ela seja a mulher mais feliz do mundo, mesmo que não seja ao seu lado.
- Ah, assim não vale, cara...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Pior do que os comunistas...
- Eu vou enfiar a porrada em você, seu filho da puta...- disse a paciente psicótica, já preparando o tradicional cruzado de direita, bem conhecido dos seus familiares.
- Experimenta, pra ver se eu não quebro o seu braço e ainda dou com a sua cabeça nessa parede até espalhar os seus miolos todos pelo chão...
- Você é Hitler?
- Eu sou pior do que Hitler...
- Então, você é o diabo...
- Eu sou pior do que o diabo...
- Pior do que os comunistas?
- Pode ter certeza...
- Credo...eu sabia...você é completamente doido...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
- Experimenta, pra ver se eu não quebro o seu braço e ainda dou com a sua cabeça nessa parede até espalhar os seus miolos todos pelo chão...
- Você é Hitler?
- Eu sou pior do que Hitler...
- Então, você é o diabo...
- Eu sou pior do que o diabo...
- Pior do que os comunistas?
- Pode ter certeza...
- Credo...eu sabia...você é completamente doido...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Contra a parede...
- Nunca lhe ocorreu que alguém poderia estar tentando transformá-la efetivamente em uma doida para lhe tomar a casa, os bens e a guarda de sua filha? - perguntou, após um longo silêncio.
Nada se encaixava com os laudos que ele havia recebido. Pelo contrário, era uma trama perversa, quase inacreditável, que se tornara bem evidente em sua mente. Por fim ele completou, olhando bem nos olhos vidrados que o observavam:
- Honestamente, eu acho que o que houve foi mais do que um enorme mal entendido ou falta de atenção, mas uma grande safadeza mesmo dos seus médicos, seu marido, seus familiares...
- Está dizendo que eu não estou louca?
- Tenho certeza...e apostaria o meu diploma nisso.
Ela suspirou aliviada. Ficou algum tempo olhando pela janela, lá longe, o sol morrendo entre os edifícios. De repente, virou-se para ele e disse:
- Eu estou horrível, não estou?
- Está.
- Me beija.
- O quê foi que disse?
- Isso mesmo: me beija. O meu marido diz que não beija uma doida varrida...
- Mas eu não sou o seu marido.
- Tem coragem de beijar uma doida varrida?
- Não.
- Então me beija.
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
Nada se encaixava com os laudos que ele havia recebido. Pelo contrário, era uma trama perversa, quase inacreditável, que se tornara bem evidente em sua mente. Por fim ele completou, olhando bem nos olhos vidrados que o observavam:
- Honestamente, eu acho que o que houve foi mais do que um enorme mal entendido ou falta de atenção, mas uma grande safadeza mesmo dos seus médicos, seu marido, seus familiares...
- Está dizendo que eu não estou louca?
- Tenho certeza...e apostaria o meu diploma nisso.
Ela suspirou aliviada. Ficou algum tempo olhando pela janela, lá longe, o sol morrendo entre os edifícios. De repente, virou-se para ele e disse:
- Eu estou horrível, não estou?
- Está.
- Me beija.
- O quê foi que disse?
- Isso mesmo: me beija. O meu marido diz que não beija uma doida varrida...
- Mas eu não sou o seu marido.
- Tem coragem de beijar uma doida varrida?
- Não.
- Então me beija.
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Fanatismo
Quando se fala em fanatismo, vem-nos imediatamente ao pensamento a idéia de religião. E isto é perfeitamente natural, de uma vez que o fanatismo religioso é o que de mais visível e identificável temos dentro deste universo onde o mimetismo reina. Ora, devemos considerar que toda idéia se funda numa exclusão. Por exemplo, qualquer idéia que alguém abrace exclui automaticamente todas as outras. No entanto, há sempre uma abertura para um confronto com outras idéias , com a realidade(sendo esta, a meu ver, a pedra de toque) e com a experiência. O fanatismo não se abre a esta possibilidade: simplesmente exclui. Mas então surge uma outra questão cuja resposta pode ajudar a lançar luz sobre tudo isto: a verdade precisa de alguém que a defenda? Até onde sabemos, se uma idéia é verdadeira, ela é evidente por si só, e não é o esforço heróico de um ou muitos que a tornará mais verdadeira do que é, a não ser que assumamos que a verdade seja uma questão de consenso. No entanto, temos visto muitos que são capazes de matar e de morrer por aquilo que acreditam ser a verdade. Dito isto, resta apenas uma conclusão possível: todo fanático é um mentiroso, além é claro de um estúpido. Talvez por isto Jesus tenha se calado, quando inquirido por Pôncio Pilatos sobre o que é a verdade. Ele mesmo, de quem se diz que era a própria verdade, além de ser o caminho e a vida. Pelo menos alguns milagres ele realizava a fim de demonstrar suas verdades(embora pessoalmente eu ache que realizar milagres nada tem a ver com a verdade ou a falsidade de um enunciado). Ocorre que vivemos numa época de tanta pobreza de espírito, que aqueles que se dizem portadores da verdade apenas fazem multiplicar a violência no mundo, em vez de multiplicarem o pão. Mas se olharmos bem a história...
terça-feira, 17 de maio de 2011
Armas
Eis aqui mais um texto maravilhoso de José Saramago, o qual deveria nos fazer parar um minuto e pensar:
O negócio das armas, sujeito à legalidade mais ou menos flexível de cada país ou de simples e descarado contrabando, não está em crise. Quer dizer, a tão falada e sofrida crise que vem destroçando física e moralmente a população do planeta não toca a todos. Por toda a parte, aqui, além, os sem trabalho contam-se por milhões, todos os dias milhares de empresas declaram-se em falência e fecham as portas, mas não consta que um único operário de uma fábrica de armamento tenha sido despedido. Trabalhar numa fábrica de armas é um seguro de vida. Já sabemos que os exércitos precisam de armar-se, substituir por armas novas e mais mortíferas (disso se trata) os antigos arsenais que fizeram a sua época mas já não satisfazem as necessidades da vida moderna. Parece portanto evidente que os governos dos países exportadores deveriam controlar severamente a produção e a comercialização das armas que fabricam. Simplesmente, uns não o fazem e outros olham para o lado. Falo de governos porque é difícil crer que, a exemplo das instalações industriais mais ou menos ocultas que abastecem o narcotráfico, existam no mundo fábricas clandestinas de armamento. Logo, não há uma pistola que, por assim dizer, não vá tacitamente certificada pelo respectivo, ainda que invisível, selo oficial. Quando num continente como o sul-americano, por exemplo, se calcula que há mais de 80 milhões de armas, é impossível não pensar na cumplicidade mal disfarçada dos governos, tanto dos exportadores como dos importadores. Que a culpa, pelo menos em parte, é do contrabando em grande escala, diz-se, esquecendo que para fazer contrabando de algo é condição sine qua non que esse algo exista. O nada não é contrabandeável.
Toda a vida tenho estado à espera de ver uma greve de braços caídos numa fábrica de armamento, inutilmente esperei, porque tal prodígio nunca aconteceu nem acontecerá. E era essa a minha pobre e única esperança de que a humanidade ainda fosse capaz de mudar de caminho, de rumo, de destino.
(Esta entrada foi publicada em Maio 26, 2009 às 12:01 am e está arquivada em O Caderno de Saramago)
Vale a pena ler: http://caderno.josesaramago.org/
O negócio das armas, sujeito à legalidade mais ou menos flexível de cada país ou de simples e descarado contrabando, não está em crise. Quer dizer, a tão falada e sofrida crise que vem destroçando física e moralmente a população do planeta não toca a todos. Por toda a parte, aqui, além, os sem trabalho contam-se por milhões, todos os dias milhares de empresas declaram-se em falência e fecham as portas, mas não consta que um único operário de uma fábrica de armamento tenha sido despedido. Trabalhar numa fábrica de armas é um seguro de vida. Já sabemos que os exércitos precisam de armar-se, substituir por armas novas e mais mortíferas (disso se trata) os antigos arsenais que fizeram a sua época mas já não satisfazem as necessidades da vida moderna. Parece portanto evidente que os governos dos países exportadores deveriam controlar severamente a produção e a comercialização das armas que fabricam. Simplesmente, uns não o fazem e outros olham para o lado. Falo de governos porque é difícil crer que, a exemplo das instalações industriais mais ou menos ocultas que abastecem o narcotráfico, existam no mundo fábricas clandestinas de armamento. Logo, não há uma pistola que, por assim dizer, não vá tacitamente certificada pelo respectivo, ainda que invisível, selo oficial. Quando num continente como o sul-americano, por exemplo, se calcula que há mais de 80 milhões de armas, é impossível não pensar na cumplicidade mal disfarçada dos governos, tanto dos exportadores como dos importadores. Que a culpa, pelo menos em parte, é do contrabando em grande escala, diz-se, esquecendo que para fazer contrabando de algo é condição sine qua non que esse algo exista. O nada não é contrabandeável.
Toda a vida tenho estado à espera de ver uma greve de braços caídos numa fábrica de armamento, inutilmente esperei, porque tal prodígio nunca aconteceu nem acontecerá. E era essa a minha pobre e única esperança de que a humanidade ainda fosse capaz de mudar de caminho, de rumo, de destino.
(Esta entrada foi publicada em Maio 26, 2009 às 12:01 am e está arquivada em O Caderno de Saramago)
Vale a pena ler: http://caderno.josesaramago.org/
domingo, 15 de maio de 2011
Uma estranha ironia
Talvez fosse uma espécie de tara pela perfeição que fazia aquele rapaz ver em si próprio nada mais do que o rascunho de um homem. Nem se lembrava mais de como tudo começara, ou mesmo se algum dia houvera um começo. Sabia que durante muitos anos só conseguira levantar a mão contra os mais fracos. Até que um dia, rebelou-se e resolveu não mais ser "pacífico" apenas pela metade, mas por inteiro. Se não podia enfrentar alguém mais forte, também não iria mais se aproveitar dos mais fracos. A falta de coragem para a ação sempre fora a sua cruz. Por isso, acabara se aperfeiçoando no discurso, como uma forma de fazer com as palavras o que não conseguia fazer com as mãos. Com efeito, quando ele resolvia dar um sabão em alguém, mais parecia um filósofo e ninguém ousava interrompê-lo. Seu discurso carismático tinha a carícia de uma pluma, mas também o corte preciso do bisturi ou a corrosão do ácido.
- Minha vida é um fracasso - pensava às vezes consigo mesmo - Eu não passo é de um grande frouxo, escondido atrás de um discurso cheio de palavras escolhidas...
O que ele nunca percebera é que, mesmo um frouxo, devidamente provocado, pode às vezes se tornar um leão. Talvez ele nunca tivesse permitido a si mesmo ser provocado ao extremo. No fundo, fora o "mais ou menos" que o arruinara...
Um dia, já cansado de tudo, decidiu por um fim naquela encenação: se não conseguia fazer o que desejava com as mãos, também não faria com a língua. Pegou um alicate e uma navalha. Foi até a frente do espelho, prendeu sua língua com o alicate, e com a navalha cortou-a fora de um golpe só, bem na base. Não imaginou que iria sangrar como uma torneira e, apavorado com aquele sangue todo, correu para a rua. Uns vizinhos o acudiram e o levaram ao hospital, mas os médicos não tiveram como por sua língua no lugar novamente. Tempos depois, já curado, foi matricular-se numa escola para surdos-mudos onde aprenderia, entre outras coisas, a fazer com as mãos o que antes fazia tão bem com as palavras...
(Jan Robba em "O livro das esquisitices")
- Minha vida é um fracasso - pensava às vezes consigo mesmo - Eu não passo é de um grande frouxo, escondido atrás de um discurso cheio de palavras escolhidas...
O que ele nunca percebera é que, mesmo um frouxo, devidamente provocado, pode às vezes se tornar um leão. Talvez ele nunca tivesse permitido a si mesmo ser provocado ao extremo. No fundo, fora o "mais ou menos" que o arruinara...
Um dia, já cansado de tudo, decidiu por um fim naquela encenação: se não conseguia fazer o que desejava com as mãos, também não faria com a língua. Pegou um alicate e uma navalha. Foi até a frente do espelho, prendeu sua língua com o alicate, e com a navalha cortou-a fora de um golpe só, bem na base. Não imaginou que iria sangrar como uma torneira e, apavorado com aquele sangue todo, correu para a rua. Uns vizinhos o acudiram e o levaram ao hospital, mas os médicos não tiveram como por sua língua no lugar novamente. Tempos depois, já curado, foi matricular-se numa escola para surdos-mudos onde aprenderia, entre outras coisas, a fazer com as mãos o que antes fazia tão bem com as palavras...
(Jan Robba em "O livro das esquisitices")
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Uma histeriazinha à toa...
- Bem – disse o psicólogo à ex-mulher do policial, sentada à sua frente – eu nunca fui muito bom em classificações, mas se a senhora insiste tanto em saber, eu diria que esse horror a tudo o que diz respeito ao sexo, toda essa teatralidade, esses maneirismos todos, essa infantilização, esses diminutivos todos, fora essa flagrante somatização, tudo isso parece apontar para um quadro de histeria...
- É...acho que eu preciso me policiar mais...
- ...
- Mas é só uma histeriazinha à toa, não é?
- Bem pequenininha...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
- É...acho que eu preciso me policiar mais...
- ...
- Mas é só uma histeriazinha à toa, não é?
- Bem pequenininha...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Titanic
"Nem Deus pode afundar este navio". Esta frase, que figura entre as mais célebres de todos os tempos, traduz bem o que era o positivismo e a crença no homem e na sua tecnologia em fins do século XIX e início do século XX. O Titanic, a maior e mais sofisticada obra da Engenharia Naval de sua época, lançou-se ao mar em sua viagem inaugural, de Southampton a Nova York, em 10 de Abril de 1912, para afundar três dias depois, resultando na morte de 1523 pessoas...
Consta que, caso dessem a devida atenção aos avisos de outras embarcações sobre a presença de icebergs no mar, e caso moderassem com o excesso de confiança, a tragédia poderia ter sido evitada.
A história tem grandes lições a nos ensinar, mas depende de nós aprendermos com ela ou não. Hoje, quase cem anos depois desta tragédia, nossos tecnocratas e governantes, junto com uma expressiva parcela da população mundial ainda sofrem destes dois flagelos: desleixo e excesso de confiança. Isto significa quase cem anos de obsolescência da mentalidade ocidental...
Lembro muito bem de, no segundo ano do curso Ginasial, em 1973, ter tido o primeiro contato com a recém saída do forno Ecologia e, de lá para cá, cientistas e técnicos têm sistematicamente alertado sobre problemas bastante sérios para toda a humanidade, caso não se pusesse um termo nesta destruição desenfreada do meio-ambiente. E lá se vão 40 anos...Tenho a esperança de que a humanidade acorde e aja a respeito, sob pena de ter que dormir para sempre.
A história da tragédia do Titanic, na qualidade de metáfora, é também deveras interessante e pode servir(por quê não?)como uma advertência: continua o barco da humanidade seguindo o seu rumo a todo o vapor, ciente mas indiferente ao provável destino que o espera. "Nem Deus pode afundar este navio...". É o que veremos...mas, no momento crucial, sabemos que, tal qual no Titanic, os primeiros a entrarem nos botes salva-vidas serão os da primeira classe...
Consta que, caso dessem a devida atenção aos avisos de outras embarcações sobre a presença de icebergs no mar, e caso moderassem com o excesso de confiança, a tragédia poderia ter sido evitada.
A história tem grandes lições a nos ensinar, mas depende de nós aprendermos com ela ou não. Hoje, quase cem anos depois desta tragédia, nossos tecnocratas e governantes, junto com uma expressiva parcela da população mundial ainda sofrem destes dois flagelos: desleixo e excesso de confiança. Isto significa quase cem anos de obsolescência da mentalidade ocidental...
Lembro muito bem de, no segundo ano do curso Ginasial, em 1973, ter tido o primeiro contato com a recém saída do forno Ecologia e, de lá para cá, cientistas e técnicos têm sistematicamente alertado sobre problemas bastante sérios para toda a humanidade, caso não se pusesse um termo nesta destruição desenfreada do meio-ambiente. E lá se vão 40 anos...Tenho a esperança de que a humanidade acorde e aja a respeito, sob pena de ter que dormir para sempre.
A história da tragédia do Titanic, na qualidade de metáfora, é também deveras interessante e pode servir(por quê não?)como uma advertência: continua o barco da humanidade seguindo o seu rumo a todo o vapor, ciente mas indiferente ao provável destino que o espera. "Nem Deus pode afundar este navio...". É o que veremos...mas, no momento crucial, sabemos que, tal qual no Titanic, os primeiros a entrarem nos botes salva-vidas serão os da primeira classe...
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Sobre os fazedores de contas
- Eu não acredito na sua Psicologia
- Olha, cara - e ele então deu uma última tragada no cigarro e jogou a ponta para longe - a Psicologia não foi feita pra você ou quem quer que seja acreditar...muito menos a minha. Se você está atrás de uma crença, então procure uma igreja...
- Eu sou um matemático e não acredito nessas coisas.
- Não, você não é um matemático, de jeito nenhum. É apenas um fazedor de contas. O quê você trouxe de novidade para a Matemática? Saiba que até mesmo um macaco bem treinado pode fazer contas...
Depois de tantos anos vendo descalabros por toda parte, ele ainda se impressionava com pessoas de nível superior tão miseravelmente desprovidas de senso de ridículo.
- E para seu governo - continuou - sabe quem treina o macaco?
- Hum?
- Um Psicólogo. Agora, deixa eu tomar minha cerveja sossegado e olhar a bunda das moças, a não ser que você queira que eu o treine também...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
- Olha, cara - e ele então deu uma última tragada no cigarro e jogou a ponta para longe - a Psicologia não foi feita pra você ou quem quer que seja acreditar...muito menos a minha. Se você está atrás de uma crença, então procure uma igreja...
- Eu sou um matemático e não acredito nessas coisas.
- Não, você não é um matemático, de jeito nenhum. É apenas um fazedor de contas. O quê você trouxe de novidade para a Matemática? Saiba que até mesmo um macaco bem treinado pode fazer contas...
Depois de tantos anos vendo descalabros por toda parte, ele ainda se impressionava com pessoas de nível superior tão miseravelmente desprovidas de senso de ridículo.
- E para seu governo - continuou - sabe quem treina o macaco?
- Hum?
- Um Psicólogo. Agora, deixa eu tomar minha cerveja sossegado e olhar a bunda das moças, a não ser que você queira que eu o treine também...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Morre um terrorista
E daí? Se é verdade que ele morreu mesmo, decerto que ele já sabia que este seria o seu destino, no instante mesmo em que escolheu para si este modo de vida. Morrendo ou não, pudemos assistir ao espetáculo grotesco da palhaçada generalizada: estudantes fazendo festas, populares comemorando, a mídia despejando suas habituais incoerências e, como sempre, festejando os altos índices de audiência às custas de um sensacionalismo por natureza irresponsável...
O terrorismo é, a meu ver, uma forma alternativa de falar o que foi vetado pelos meios convencionais. Daí podermos arriscar que todos os atos terroristas, enquanto uma fala, são sintoma de algo que insistimos em não ver. Não digo que se deva validar esta forma de expressão, mas estou certo de que precisamos ouvir o que os nossos interlocutores têm a dizer. E se assim é, então se abre uma porta para que nos afastemos do "coitadismo" do discurso comum, e comecemos a olhar com mais atenção para o mundo e o que estão tentando fazer dele.
Não é de se admirar(e dos americanos se pode esperar de tudo) e beira as raias do surrealismo que, encabeçando a caça ao terrorista mais procurado do mundo, esteja a maior organização terrorista do mundo: a CIA.
A ONU, construída e mantida pelo dinheiro americano(o que explica a sua fraqueza e ineficácia em questões cruciais, como por exemplo a invasão do Iraque, o massacre dos palestinos e, agora, o ataque à Líbia e tantas outras atrocidades), simplesmente não se manifesta, por medo de desagradar aos seus patrões. Logo, temos que concluir forçosamente que esta instituição se constitui no braço legal do terrorismo americano, validando diante da opinião pública internacional as suas ações. E creio que isto ficou mais do que provado desde a invasão do Iraque.
Os americanos têm como um de seus mais elevados valores a "democracia", e tentam impor esta "democracia" ao restante do mundo. Ora, Democracia imposta não é democracia, ou então é a nossa lógica de 2.500 anos que está ultrapassada.
Se, como eu disse, a CIA é uma organização terrorista, e se os atos terroristas constituem uma fala, então o quê os atos terroristas americanos(muito mais frequentes nos últimos tempos) querem dizer? O quê Bush queria dizer com a sua "Guerra ao terror"? Com certeza ele não estava pretendendo desencadear uma guerra contra si mesmo...
O terrorismo é, a meu ver, uma forma alternativa de falar o que foi vetado pelos meios convencionais. Daí podermos arriscar que todos os atos terroristas, enquanto uma fala, são sintoma de algo que insistimos em não ver. Não digo que se deva validar esta forma de expressão, mas estou certo de que precisamos ouvir o que os nossos interlocutores têm a dizer. E se assim é, então se abre uma porta para que nos afastemos do "coitadismo" do discurso comum, e comecemos a olhar com mais atenção para o mundo e o que estão tentando fazer dele.
Não é de se admirar(e dos americanos se pode esperar de tudo) e beira as raias do surrealismo que, encabeçando a caça ao terrorista mais procurado do mundo, esteja a maior organização terrorista do mundo: a CIA.
A ONU, construída e mantida pelo dinheiro americano(o que explica a sua fraqueza e ineficácia em questões cruciais, como por exemplo a invasão do Iraque, o massacre dos palestinos e, agora, o ataque à Líbia e tantas outras atrocidades), simplesmente não se manifesta, por medo de desagradar aos seus patrões. Logo, temos que concluir forçosamente que esta instituição se constitui no braço legal do terrorismo americano, validando diante da opinião pública internacional as suas ações. E creio que isto ficou mais do que provado desde a invasão do Iraque.
Os americanos têm como um de seus mais elevados valores a "democracia", e tentam impor esta "democracia" ao restante do mundo. Ora, Democracia imposta não é democracia, ou então é a nossa lógica de 2.500 anos que está ultrapassada.
Se, como eu disse, a CIA é uma organização terrorista, e se os atos terroristas constituem uma fala, então o quê os atos terroristas americanos(muito mais frequentes nos últimos tempos) querem dizer? O quê Bush queria dizer com a sua "Guerra ao terror"? Com certeza ele não estava pretendendo desencadear uma guerra contra si mesmo...
quinta-feira, 5 de maio de 2011
A mitologia cristã
Há certamente um movimento bem interessante na formação dos mitos e das figuras mitológicas, principalmente no cristianismo. Uma vez, perguntei a uma paciente: "Jesus cagava?", "Nossa senhora menstruava?", "o Papa peida?". Minha paciente ficou horrorizada com aquilo, e era esta a minha intenção, a fim de "sacudir" seus conceitos. Mais adiante, verificamos que se tratava do mesmo processo que se dá com nossos amores, por exemplo. A minha amada não caga, não menstrua, não peida, não tem meleca, etc. Essa "divinização" da pessoa amada chega a um cúmulo em que o amante não consegue fazer sexo com ela. Quando, ao longo do convívio, ele percebe que as coisas não são bem assim como ele imagina, ela deixa de ser uma figura "mitológica" para ele e se torna apenas mais uma mulher. O mito cristão previne contra esta humanização do sagrado. Basta compararmos os quadros de Yemanjá e de Nossa Senhora. Yemanjá aparece sempre com um vestido realçando as formas do corpo, e ainda com um decote delicioso, ao passo que Nossa Senhora aparece vestida até o pescoço, ou seja, completamente assexualizada(ou dessexualizada?).
As diferenças são flagrantes. Entender estas diferenças passa pelo entendimento de cada uma das mitologias. A mitologia cristã, como afirmei lá em cima, nega o humano e funda um corte entre este e o divino, corte que não está em poder do homem desfazer. Daí que o Deus cristão está alhures, em alturas incalculáveis, longe do mundo humano.
A mitologia Afro já parte de um ponto de vista diferente: tudo na Terra é regido por uma divindade, estando Deus acima de todas as coisas em importância, mas não acima em sentido espacial. Não há portanto o corte entre o divino e o humano. Exatamente por isto, temos aí uma deusa Yemanjá esbanjando sensualidade sem por isso tornar-se menos divina.
A este respeito nós temos um conceito chave: enquadramento. Enquadramento significa colocar um determinado fato dentro de um contexto tal, em que este fato possa fazer sentido. O mito tem esta função, assim como a ciência, os contos de fadas, a psicologia e psicanálise. Um paciente entra em parafuso justamente quando ele não encontra sentido em um determinado acontecimento ou um fenômeno em seu íntimo. Por exemplo, as pessoas que não têm uma religião ou a crença em um Deus geralmente lidam com mais dificuldade com a morte.
Um outro exemplo de enquadramento: o travesti em nossa mitologia é um depravado, afeminado, portador de algum defeito genético, ou que teve uma criação errada dos pais, ou um pecador que irá para o inferno, etc, etc, etc
Na mitologia Afro, ele é simplesmente alguém que tem como "guia de frente" uma pombagira, e isto não o enviará de modo algum a um suposto inferno. É coisa própria dele e que ele terá de trabalhar segundo aquela tradição.
Então, este corte entre o divino e o humano, na tradição cristã, bem pode ser o motivo da eterna culpa de que sofrem os seus adeptos.
As diferenças são flagrantes. Entender estas diferenças passa pelo entendimento de cada uma das mitologias. A mitologia cristã, como afirmei lá em cima, nega o humano e funda um corte entre este e o divino, corte que não está em poder do homem desfazer. Daí que o Deus cristão está alhures, em alturas incalculáveis, longe do mundo humano.
A mitologia Afro já parte de um ponto de vista diferente: tudo na Terra é regido por uma divindade, estando Deus acima de todas as coisas em importância, mas não acima em sentido espacial. Não há portanto o corte entre o divino e o humano. Exatamente por isto, temos aí uma deusa Yemanjá esbanjando sensualidade sem por isso tornar-se menos divina.
A este respeito nós temos um conceito chave: enquadramento. Enquadramento significa colocar um determinado fato dentro de um contexto tal, em que este fato possa fazer sentido. O mito tem esta função, assim como a ciência, os contos de fadas, a psicologia e psicanálise. Um paciente entra em parafuso justamente quando ele não encontra sentido em um determinado acontecimento ou um fenômeno em seu íntimo. Por exemplo, as pessoas que não têm uma religião ou a crença em um Deus geralmente lidam com mais dificuldade com a morte.
Um outro exemplo de enquadramento: o travesti em nossa mitologia é um depravado, afeminado, portador de algum defeito genético, ou que teve uma criação errada dos pais, ou um pecador que irá para o inferno, etc, etc, etc
Na mitologia Afro, ele é simplesmente alguém que tem como "guia de frente" uma pombagira, e isto não o enviará de modo algum a um suposto inferno. É coisa própria dele e que ele terá de trabalhar segundo aquela tradição.
Então, este corte entre o divino e o humano, na tradição cristã, bem pode ser o motivo da eterna culpa de que sofrem os seus adeptos.
terça-feira, 3 de maio de 2011
Sobre o amor II
Ele estava lendo o jornal, quando ela chegou de mansinho e aninhou-se ao seu lado na cama:
-Amor, você me ama?
-Amo...
-Muito?
-Muito...
-Muito mesmo?
-Mesmo...
-Jura?
-Ai...juro...
-Mas jura de verdade?
-Ai, porra, não me enche o saco! Deixa eu ler a porra do jornal!
-Tá vendo? Você não me ama...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
-Amor, você me ama?
-Amo...
-Muito?
-Muito...
-Muito mesmo?
-Mesmo...
-Jura?
-Ai...juro...
-Mas jura de verdade?
-Ai, porra, não me enche o saco! Deixa eu ler a porra do jornal!
-Tá vendo? Você não me ama...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
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