quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Ano Novo...em quê?
Não sou o tipo do sujeito pessimista, ou pelo menos acho que não, mas devo dizer, agora que o ano chega ao fim, que não vejo muito boas perspectivas para o ano que está por iniciar, principalmente no já tão esculhambado cenário político e econômico internacional. Já há pelo menos 20 anos que os USA vêm praticando os mesmos assaltos praticados pela Alemanha Nazista, com o apoio irrestrito da Igreja Católica e da falecida ONU e vejo um mundo totalmente apático diante disso. É necessário lembrar que, para invadir e dominar alguns países, os USA e seus capangas da OTAN realizaram campanhas militares que custam uma verdadeira fortuna aos seus cofres. Evidentemente que irão querer este montante de volta, multiplicado por dez. No entanto, eles sabem que nações como o Brasil, que tem por tradição a corrupção desde os mais altos escalões até o cidadão mais simples, não precisam ser invadidas. Basta que se dê a quantia certa ao corrupto certo, o que torna as coisas muito mais baratas. Ora, isto se torna mais evidente se nos perguntarmos o quê têm em comum o desmonte da extinta União Soviética e agora da Zona do Euro. Simples: CIA(que é o verdadeiro governo dos USA), as grandes corporações e o Vaticano, atuando juntas e com a graça de Deus(do Deus deles, claro). É possível que o Brasil venha a se deparar com um problema territorial muito sério...Quem lê, entenda. Tem-se falado tanto em globalização, em salvar o planeta, e mais uma série de baboseiras, mas o essencial eu não vejo: uma consciência planetária; sabermos que o que afeta a um afeta a todos inevitavelmente. A defesa do meio ambiente, bem como a proteção aos animais, que deveriam ser princípios, acabaram por serem transformados pelas mídias em modismos. Ora, para quem já assistiu a muitos modismos surgirem e desaparecerem, torna-se difícil levar isto a sério. É possível também que as coisas em termos de meio-ambiente, venham a ficar tão sérias, que tenhamos todos que agir para além dos modismos. Há poucas semanas, foi noticiado na mídia que o nosso planeta entrou numa fase crítica em que a Natureza já não consegue mais se recuperar ou repor o que está sendo extraído dela. Em outras palavras: estamos indo ladeira abaixo, e sem freio. Impressiona-me o cinismo e a irresponsabilidade com que os tecnocratas, governantes, políticos, etc, abordam este assunto. Ainda se recusam terminantemente a tocar em dois pontos cruciais desta questão: controle de natalidade e uma mudança radical e urgente no nosso modo de produção. Neste exato instante, todos ao redor do mundo já estão desejando um feliz ano novo uns aos outros, mas fica a pergunta para a qual todos fecham os olhos: ano novo em quê, se continuamos cometendo os mesmos erros? Nietzsche dizia que o que há de grande no homem é ser a ponte entre o animal e o Super-homem...Será novo sim, aquele ano em que o ex-macaco ainda aspirante a ser humano começar a fazer jus à posição que(dizem)lhe foi outorgada pelo criador. Por ora, só lhe resta rastejar de um a outro ano, na esperança de que este mesmo criador venha milagrosamente limpar a sua sujeira.
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Filosofando XXI
Ter coragem não é não ter medo, mas fazer o que deve ser feito, mesmo que você esteja se borrando.
Jan Robba
Jan Robba
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Prece mística
Ó presença divina, que és comigo antes mesmo que eu viesse ao mundo.
Tu, cujos poderes são incontáveis, cujos olhos e ouvidos jamais se fecham
e em cujas mãos tenho sido sempre bem sucedido.
Tu, que és a fonte de tudo o que há de bom em mim
e cuja proteção tem prolongado os meus dias.
Em ti é que eu vivo e viverei
mesmo depois que, pela tua vontade,
eu tenha que partir deste mundo.
ASSIM SEJA!
Tu, cujos poderes são incontáveis, cujos olhos e ouvidos jamais se fecham
e em cujas mãos tenho sido sempre bem sucedido.
Tu, que és a fonte de tudo o que há de bom em mim
e cuja proteção tem prolongado os meus dias.
Em ti é que eu vivo e viverei
mesmo depois que, pela tua vontade,
eu tenha que partir deste mundo.
ASSIM SEJA!
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Sobre as relações I
Não sei se alguém está capacitado a dizer em quê uma relação interpessoal pode ou deve se basear. Antes mesmo que uma pessoa, de dentro de uma relação, se pergunte sobre isto, ela já está de alguma forma colocada em relação a alguém, donde podemos concluir que isto se dá inconscientemente e que, portanto, os valores não precedem a relação. Os sentimentos talvez. Os valores talvez sirvam apenas como pretexto ou como uma explicação pretensamente racional para estarmos relacionados daquela forma e não de outra. Basear uma relação em valores(considerando que isto fosse possível) não a tornará melhor, assim como baseá-la em sentimentos não servirá como argumento para perdoarmos a nós mesmos pelas relações absurdas que na maioria das vezes vivemos.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Sobre as drogas I
Costumo sempre me aventurar um pouco mais para além do que as aparências mostram e quem assim faz, corre sempre o risco de umas conclusões inesperadas, ou quase óbvias. Fala-se hoje muito na necessidade do combate às drogas, mas não vejo muita honestidade da parte dos que se pronunciam a respeito, ou mesmo dos que elaboram campanhas para este fim. Cabe aqui então tecer algumas considerações. Antes, porém, vou tentar oferecer uma definição coerente para as drogas:
"Droga é toda e qualquer substância, natural ou sintética que, introduzida no organismo modifica suas funções". A questão de serem lícitas ou não não vem ao caso aqui, embora seja sabido que o uso de drogas lícitas seja generalizado, assim como o das denominadas psiquiátricas seja imensamente maior do que aparenta.
Antes mesmo que um bebê termine o seu desmame, é muito comum a mãe começar a lhe dar a mamadeira e, adivinhem o que tem no leite da mesma? Açúcar, que consta ser uma poderosa droga. Em outras palavras, a rigor já começamos a ser drogados pouco tempo depois de nascidos. E eu não vou extrapolar muito, afirmando que até dentro do útero isso acontece, mas os fatos apontam claramente para isso. Temos então a sequência açúcar>cafeína/nicotina/álcool (para a maior parte dos chamados "caretas").
Com a maconha as coisas se dão de modo diferente, pois trata-se de um droga sui generis: ela nem sempre vai proporcionar aquela viagem espetacular que se diz por aí. Ela pode comumente trazer à tona conteúdos inconscientes indesejáveis, e não é qualquer um que suporta o possível terror, em maior ou menor escala, desta experiência. Por conta disso, muitos fogem para o álcool e a cocaína, e daí para o resto da sequência de drogas cada vez mais pesadas. Considero injusta a afirmação tola divulgada pela mídia e até pelos órgãos de saúde pública de que a maconha leva ao uso de outras drogas. Aqueles que a apreciam ficarão nela a vida toda. Mais: fumar maconha e ter uma experiência tranquila e inspiradora pode ser para muitos uma conquista, e o preço muitas vezes pode ser o sujeito ter que enfrentar seus "demônios" interiores.
Disto tudo que coloquei aqui, fica claro que A NOSSA CIVILIZAÇÃO NÃO VIVE SEM DROGAS; É UMA CIVILIZAÇÃO QUE SÓ FUNCIONA A PODER DE DROGAS. Então, vem a pergunta: Por quê isso é assim? Qualquer antropólogo dirá que o uso de substâncias entorpecentes é algo feito segundo certos critérios na maioria das outras culturas, como os nossos indígenas, ou os indígenas mexicanos ou americanos. Logo, a necessidade do uso de drogas pode ser um indício de que há algo muito maior e mais nocivo por trás do modo de vida que levamos, e que os governos que falam em combate às drogas sem assumirem que a condição sine qua non para isto é uma mudança na raiz do próprio sistema são hipócritas e mentirosos.
"Droga é toda e qualquer substância, natural ou sintética que, introduzida no organismo modifica suas funções". A questão de serem lícitas ou não não vem ao caso aqui, embora seja sabido que o uso de drogas lícitas seja generalizado, assim como o das denominadas psiquiátricas seja imensamente maior do que aparenta.
Antes mesmo que um bebê termine o seu desmame, é muito comum a mãe começar a lhe dar a mamadeira e, adivinhem o que tem no leite da mesma? Açúcar, que consta ser uma poderosa droga. Em outras palavras, a rigor já começamos a ser drogados pouco tempo depois de nascidos. E eu não vou extrapolar muito, afirmando que até dentro do útero isso acontece, mas os fatos apontam claramente para isso. Temos então a sequência açúcar>cafeína/nicotina/álcool (para a maior parte dos chamados "caretas").
Com a maconha as coisas se dão de modo diferente, pois trata-se de um droga sui generis: ela nem sempre vai proporcionar aquela viagem espetacular que se diz por aí. Ela pode comumente trazer à tona conteúdos inconscientes indesejáveis, e não é qualquer um que suporta o possível terror, em maior ou menor escala, desta experiência. Por conta disso, muitos fogem para o álcool e a cocaína, e daí para o resto da sequência de drogas cada vez mais pesadas. Considero injusta a afirmação tola divulgada pela mídia e até pelos órgãos de saúde pública de que a maconha leva ao uso de outras drogas. Aqueles que a apreciam ficarão nela a vida toda. Mais: fumar maconha e ter uma experiência tranquila e inspiradora pode ser para muitos uma conquista, e o preço muitas vezes pode ser o sujeito ter que enfrentar seus "demônios" interiores.
Disto tudo que coloquei aqui, fica claro que A NOSSA CIVILIZAÇÃO NÃO VIVE SEM DROGAS; É UMA CIVILIZAÇÃO QUE SÓ FUNCIONA A PODER DE DROGAS. Então, vem a pergunta: Por quê isso é assim? Qualquer antropólogo dirá que o uso de substâncias entorpecentes é algo feito segundo certos critérios na maioria das outras culturas, como os nossos indígenas, ou os indígenas mexicanos ou americanos. Logo, a necessidade do uso de drogas pode ser um indício de que há algo muito maior e mais nocivo por trás do modo de vida que levamos, e que os governos que falam em combate às drogas sem assumirem que a condição sine qua non para isto é uma mudança na raiz do próprio sistema são hipócritas e mentirosos.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Acima de mim...só Deus
Já estava tudo planejado: ia ser naquela noite. Na mochila iam o casaco, um sanduíche e duas latas de tinta em spray. Poderia precisar de mais de uma lata para, quem sabe, se desse vontade de na volta vir pixando pelo caminho...Aquela seria a sua maior e mais ousada aventura. Pixar o relógio da Central do Brasil ia ser o máximo; um evento histórico, para ser lembrado e comentado por todos os pixadores do Rio durante muito tempo. Pegou o 378 para o Centro e saltou em frente ao Edifício da Central. Só tinha que entrar lá, subir para os andares superiores e ficar escondido até o edifício fechar. E assim ele fez. Quando o Edifício fechou, ele já estava escondido e então foi até o espelho do imenso relógio, que marcava meia-noite, e escreveu na metade de baixo, abaixo do eixo dos ponteiros, que era o espaço que havia para ele escrever: "Acima de mim, só Deus. Assinado: Mosca". De fato, foi algo que provocou um rebuliço entre os pixadores, causando comentários que duraram a semana inteira. Todos queriam saber quem era aquele tal "Mosca". Da noite para o dia, ele virara uma celebridade...No sábado seguinte, com o relógio ainda ostentando aquela frase histórica, um certo veterano dos muros olhava, lá de dentro do 247, a enorme torre da Central do Brasil que, diziam, fora construída para ser vista de todos os lugares do Rio. Ele desceu do ônibus e entrou no edifício. Era só alcançar os andares superiores e ficar ali escondido. Levava na mochila, além do casaco, da lata de tinta e do sanduíche, uma garrafinha térmica com café. Teria que ficar acordado. E assim conseguiu esperar até as 02:45 e então foi lá no espelho do relógio e escreveu, na parte de cima: "Eu sou Deus. Assinado: Aranha".
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Filosofando XX
"Há poetas, filósofos e outros seres geniais que geralmente morrem cedo e que geralmente dizem coisas muito belas e profundas, mas a natureza é de uma ironia sem par e pode castigá-los de duas formas: faz com que partam deste mundo sem terem tempo de usufruírem da fama e do dinheiro ou, se ela os deixa vivos, faz com que todos eles acabem desdizendo o que diziam quando jovens ou quando pobres".
Jan Robba
Jan Robba
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Disfunção erétil...
- Eu sou lésbica...
- Tá bem, mas deixa eu gozar primeiro...depois a gente fala disso...
- Eu sou lésbica...
- Tá, mas eu estou quase gozando...daqui a pouco a gente fala disso
- Eu gosto é de mulher...
- Porra, tá bom -disse ele, saindo de cima dela e pegando um cigarro- Agora que você estragou tudo, fala logo esta porra toda.
- Quê foi? Perdeu o tesão?
- O quê você acha?
- Eu acho que você está com disfunção erétil.
(Jan Robba em: "O livro das esquisitices)
- Tá bem, mas deixa eu gozar primeiro...depois a gente fala disso...
- Eu sou lésbica...
- Tá, mas eu estou quase gozando...daqui a pouco a gente fala disso
- Eu gosto é de mulher...
- Porra, tá bom -disse ele, saindo de cima dela e pegando um cigarro- Agora que você estragou tudo, fala logo esta porra toda.
- Quê foi? Perdeu o tesão?
- O quê você acha?
- Eu acho que você está com disfunção erétil.
(Jan Robba em: "O livro das esquisitices)
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Palavras...
A fala é, segundo sustentam alguns, um dos aspectos do ser humano que o distinguem dos outros animais, contribuindo para dar-lhe o status de criatura mais evoluída da natureza. Mas por quê é então que a palavra de uma pessoa tem tão pouco valor(nenhum, para ser mais exato)? Ninguém vai a um banco, por exemplo, pedir um empréstimo, tendo como garantia apenas a sua palavra. É preciso que esta pessoa assine um documento comprometendo-se a saldar seu compromisso da maneira como estipulada em normas igualmente escritas. Se as palavras faladas valessem tanto assim, bastaria a tal pessoa dar a sua palavra e estaria tudo resolvido. Penso que um grande problema e uma grande contradição nisto tudo é que o que uma pessoa diz morre com o último som da sua fala. E nesta história, nem mesmo a palavra de Deus escapou: foi preciso que a escrevessem.
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Ah, o amor...
De todos os que até hoje se aventuraram a falar do amor, a maioria, se não a totalidade, falaram besteira. E este imenso exército da sandice conta com muitos membros ilustres, que vão desde grandes filósofos e psicólogos até psicanalistas e padres, passando inevitavelmente pelos poetas. De todos, eu perdoaria apenas os que o fizeram com o intuito de comerem alguma mocinha ingênua. Comer alguém é o único motivo nobre para um sujeito falar bobagens.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Filosofando XIX
"Faça o que você gosta, enquanto ainda gosta, porque chegará o dia em que você dará a maior prova de sua impotência: tentar reprimir o gozo dos outros"
Jan Robba
Jan Robba
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Solidão e ética
Certa vez, conversando com um amigo, afirmei que o ascetismo é uma grande estupidez. De fato, é relativamente fácil para qualquer sujeito tornar-se um santo dentro de um mosteiro. Lá dentro, ele está afastado da maioria das tentações e, assim, pode dedicar-se mais tranquilamente à tarefa de realizar a sua pretensão absurda. O difícil mesmo é ser um sujeito íntegro aqui fora, exposto a todo tipo de tentações. Aqui é que uma pessoa vai mostrar quem ela é na verdade. Ética, a meu ver, é como algo lá dentro de nós que diz: "isto eu faço; isto eu não faço", e não importa se esta nos foi dada de fora. Importa mesmo é a medida em que a tornamos efetivamente parte do que somos. Por quê alguém precisaria se dar o trabalho de, como Kant, procurar imperativos para nortear sua conduta, de uma vez que as prateleiras das livrarias, bibliotecas, etc, estão lotadas de livros com as melhores receitas para se viver? O problema infelizmente parece não estar nas receitas, mas no homem junto com os outros homens. Um homem no deserto não tem necessidade alguma de ser ético ou não-ético, justamente porque faltam os outros homens ali. Logo, parece que solidão e ética não têm muito a ver uma com a outra. E se olharmos o mundo no pé em que se encontra hoje, poderemos afirmar com certeza que a solidão e o isolamento não conduzem à ética, como acreditam os religiosos, mas um homem ético, íntegro, tem todas as chances do mundo de vir a se tornar um solitário(no caso de ainda permanecer vivo), já que a ética parece ser o caminho mais curto para se fazer uma legião de inimigos.
Ontem, veiculou-se na mídia a notícia de que o Deputado Marcelo Freixo, o homem que presidiu a CPI das milícias no Rio e fez com que um bando de vagabundos fosse parar no tribunal, vai deixar o país por conta das várias ameaças de morte que tem recebido. Enquanto isso, os deputados católicos e evangélicos, junto com seus amigos milicianos e outros excrementos que infestam o poder público, dão-se tapinhas nas costas e combinam quando vai ser a próxima festinha regada a Whisky, cocaína e garotas menores de idade...
Ontem, veiculou-se na mídia a notícia de que o Deputado Marcelo Freixo, o homem que presidiu a CPI das milícias no Rio e fez com que um bando de vagabundos fosse parar no tribunal, vai deixar o país por conta das várias ameaças de morte que tem recebido. Enquanto isso, os deputados católicos e evangélicos, junto com seus amigos milicianos e outros excrementos que infestam o poder público, dão-se tapinhas nas costas e combinam quando vai ser a próxima festinha regada a Whisky, cocaína e garotas menores de idade...
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Belo Monte(de mentiras)
O dia 12 deste mês é assinalado nos livros como o dia da descoberta da América por Cristóvão Colombo. Seria hora então, aproveitando esta data tão festiva, de colocar algumas verdades. Na realidade, no dia 12 de outubro de 1492(se é que foi este dia mesmo) teve início a invasão da América, o que significa algo bem diferente do que ainda se conta nos livros de histórias para boi dormir. Os invasores não encontraram aqui um território vazio, mas habitado por uma população considerável e de avanço cultural e técnico maior ou menor, de norte a sul das Américas. Logo, não houve descobrimento. Se assim fosse, deveríamos então falar também na descoberta da China, da Índia, etc. Se então considerarmos as coisas deste ponto de vista, temos necessariamente que reconhecer que esta invasão ainda não foi consumada, mas encontra-se ainda em curso e tão feroz e implacável quanto no seu início. Penso que este processo infelizmente só terminará quando o último nativo destas terras tiver sido embranquecido e suas terras tomadas. Enquanto isto não ocorre, o que se pode esperar é a violência sistemática e todo o tipo de safadezas, trapaças e falcatruas por parte do Governo Brasileiro, dos Pecuaristas, Agricultores, colonos e, naturalmente, missionários cristãos. Afirmar-se o "Descobrimento da América" é fazer passar desapercebido este processo e toda a violência que neste mesmo instante está se praticando contra os legítimos donos desta terra.
Consta de uns documentos antigos que uma das coisas que mais impressionaram(e, naturalmente, indignaram)os colonizadores portugueses ao chegarem ao Brasil foi o modo de vida dos nativos. Estes, andavam nus ou quase; às vezes possuíam mais de uma mulher; alimentavam-se esporadicamente de carne humana e não trabalhavam(pelo menos da maneira européia como se entende o trabalho). Pode-se dizer que todo dia era domingo e que havia uns domingos em que os nativos trabalhavam em prol da tribo e outros domingos em que não precisavam fazer coisa alguma a não ser garantirem suas refeições. Ora, é aí que entra o papel decisivo dos padres e missionários, como linha de frente das hordas invasoras: era necessário catequizar os nativos, para transformá-los em pecadores(porque só conhece o pecado quem é cristão)e, assim, "comerás o pão com o suor do teu rosto", como está dito na Bílbia Sagrada. E trouxeram na bagagem uma invenção genial: a semana de sete dias. Eram seis dias para o nativo trabalhar para os brancos em regime de escravidão ou semi, e um dia para este mesmo nativo ir à igreja dos brancos agradecer ao deus dos brancos pela vida miserável(de brancos)que estava levando.
Temos aí hoje uma questão que se diz "estratégica" para o país: a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, dentro de uma área indígena já há muito demarcada. É evidente que uma investigação minuciosa mostrará o que há realmente por trás deste mega-empreendimento. É um empreendimento que interessa a muitos setores, a saber: as grandes empreiteiras, as madeireiras, os pecuaristas, as mineradoras, governantes corruptos, etc. Em minha opinião, apesar e mesmo a despeito de toda uma grande mobilização nacional e internacional contra esta obra, ela vai sair e vai ser a prova mais evidente do que eu afirmei ainda no início deste texto: a invasão ainda não foi consumada...
Consta de uns documentos antigos que uma das coisas que mais impressionaram(e, naturalmente, indignaram)os colonizadores portugueses ao chegarem ao Brasil foi o modo de vida dos nativos. Estes, andavam nus ou quase; às vezes possuíam mais de uma mulher; alimentavam-se esporadicamente de carne humana e não trabalhavam(pelo menos da maneira européia como se entende o trabalho). Pode-se dizer que todo dia era domingo e que havia uns domingos em que os nativos trabalhavam em prol da tribo e outros domingos em que não precisavam fazer coisa alguma a não ser garantirem suas refeições. Ora, é aí que entra o papel decisivo dos padres e missionários, como linha de frente das hordas invasoras: era necessário catequizar os nativos, para transformá-los em pecadores(porque só conhece o pecado quem é cristão)e, assim, "comerás o pão com o suor do teu rosto", como está dito na Bílbia Sagrada. E trouxeram na bagagem uma invenção genial: a semana de sete dias. Eram seis dias para o nativo trabalhar para os brancos em regime de escravidão ou semi, e um dia para este mesmo nativo ir à igreja dos brancos agradecer ao deus dos brancos pela vida miserável(de brancos)que estava levando.
Temos aí hoje uma questão que se diz "estratégica" para o país: a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, dentro de uma área indígena já há muito demarcada. É evidente que uma investigação minuciosa mostrará o que há realmente por trás deste mega-empreendimento. É um empreendimento que interessa a muitos setores, a saber: as grandes empreiteiras, as madeireiras, os pecuaristas, as mineradoras, governantes corruptos, etc. Em minha opinião, apesar e mesmo a despeito de toda uma grande mobilização nacional e internacional contra esta obra, ela vai sair e vai ser a prova mais evidente do que eu afirmei ainda no início deste texto: a invasão ainda não foi consumada...
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
A Imprensa e a verdade.
"O verdadeiro papel da imprensa não é, como muitos acreditam, manter o cidadão informado, mas fazer com que este pense e se comporte de uma maneira específica. E para tanto, poderá até dizer a verdade, se necessário"
A morte do "ditador"
Ontem foi anunciada a morte(execução) do Coronel Muammar Kadhafi a qual, se confirmada, marca mais uma vitória da política intervencionista dos Estados Unidos e seu braço armado, a OTAN, em um assunto para o qual não foram solicitados e sobre o qual não têm o menor direito de intervirem, ou seja: a política interna de outros países. Uma primeira constatação é a de que a administração Barak Obama, na qual o mundo inteiro depositou esperanças, não representa mudança alguma em relação ao desastre que foi a administração anterior(leia-se: Bush/Skull and Bones). Jornais e Tevês de todo o ocidente anunciaram a morte do "ditador", mas é muito fácil referir-se como "ditador" ao homem que revolucionou a Líbia, transformando-a em uma potência no Oriente médio, jamais baixando a cabeça para os EUA e a sua quadrilha de cães famintos europeus, quando este mesmo Oriente médio, com exceção do Irã, abriu as pernas desavergonhadamente aos interesses americanos. É, por outro lado, contraditório e uma flagrante falta de vergonha na cara chamar de ditador ao Coronel Kadhafi, esta mesma imprensa subserviente, que apoiou até o último instante não só a ditadura no Brasil, mas em todas as partes do mundo. E então temos aqui uma segunda constatação: toda a grande imprensa ocidental, tal qual foi revelado há poucas semanas pelo Wikileaks, está completamente comprometida com os interesses do governo Americano, ao qual serve fielmente. E a ONU? Onde estava? A resposta é: em lugar nenhum, pois faz parte de sua política omitir-se quando sua presença se faz mais necessária.
*Cabe aqui um adendo: referí-me à Líbia como sendo parte do bloco conhecido como Oriente médio pois, embora localizada no norte da África, assim como o Egito, este país tem mais a ver com o Oriente médio do que com a África, o que justifica referir-me a ele como tal.
*Cabe aqui um adendo: referí-me à Líbia como sendo parte do bloco conhecido como Oriente médio pois, embora localizada no norte da África, assim como o Egito, este país tem mais a ver com o Oriente médio do que com a África, o que justifica referir-me a ele como tal.
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Filosofando XVIII
"Só a estupidez anseia pela eternidade. Um estúpido é capaz de passar a eternidade inteira desejando um dia vir a ser eterno".
Jan Robba
Jan Robba
terça-feira, 18 de outubro de 2011
Os portões do Paraíso I
"Eu era feliz e não sabia...". Muitos de nós certamente já ouvimos esta frase um dia. Permanece, no entanto, um mistério o fato de jamais termos ouvido alguém dizer: "Eu era infeliz e não sabia...". O sujeito que é infeliz tem perfeita consciência de sua infelicidade. A mim soa um tanto contraditório que aquilo que o ser humano mais busca seja o mais desconhecido para ele, a ponto de, quando ele o tem nas mãos, não ter consciência disso. Estranho também é o fato de alguém raramente dizer que É feliz, mas sempre que ESTÁ feliz, como que reconhecendo que a sua felicidade é um estado passageiro, no mar de infelicidade que é a vida na Terra. Por outro lado, me parece que o ser humano sabe muito bem o que é ser infeliz. É até possível que sejamos especialistas em infelicidade, de uma vez que a reconhecemos quando o menor dos seus sintomas se apresenta.
Você está disposto a dar até a sua última gota de suor e toda a sua saúde em troca da felicidade. Mas, o quê você vai fazer com esta merda? Já parou para se perguntar sobre isto? E você já parou para pensar que, enquanto arruina a sua saúde e o seu espírito seguindo como um louco uma invenção de padres perversos, como uma criança correndo atrás de bolas de sabão, não vê a verdadeira felicidade escapando entre os seus dedos?
É possível que o grande problema do ser humano seja uma ingratidão crônica que o impede de ver como tudo é bom, belo e justo e o faz viver com os olhos voltados para um futuro onde com toda a certeza ele NÃO será feliz. E é lá mesmo neste futuro que ele dirá entre as lágrimas que só um idiota sabe derramar: "Eu era feliz e não sabia...".
Você está disposto a dar até a sua última gota de suor e toda a sua saúde em troca da felicidade. Mas, o quê você vai fazer com esta merda? Já parou para se perguntar sobre isto? E você já parou para pensar que, enquanto arruina a sua saúde e o seu espírito seguindo como um louco uma invenção de padres perversos, como uma criança correndo atrás de bolas de sabão, não vê a verdadeira felicidade escapando entre os seus dedos?
É possível que o grande problema do ser humano seja uma ingratidão crônica que o impede de ver como tudo é bom, belo e justo e o faz viver com os olhos voltados para um futuro onde com toda a certeza ele NÃO será feliz. E é lá mesmo neste futuro que ele dirá entre as lágrimas que só um idiota sabe derramar: "Eu era feliz e não sabia...".
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
A cruz que carrego I
Ontem um cara alugou meus ouvidos para dizer que o Cordel e o repente são um lixo, que ele odeia as tradições nordestinas, etc...Pecou duas vezes: uma, por falar merda no meu ouvido, sem o menor conhecimento desta cultura riquíssima que é a do Nordeste; a outra foi se achar mais importante do que a minha cerveja. Dei razão a ele(que é a maneira mais eficiente de a gente se livrar de gente imbecil) e fui beber e conversar com gente que justifica o ar que respira.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Filosofando XVII
Saramago diz que a heresia devia figurar entre os direitos humanos. De fato. Se por um lado a masturbação é o supremo grito de independência com relação a outro ser humano, por outro lado a heresia vai ainda mais além: é o supremo grito de independência de um sujeito para consigo mesmo, pois afinal Deus é uma criação de cada um de nós.
(Jan Robba)
(Jan Robba)
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Filosofando XVI
O Grande problema de todo pensador é que, se os seus leitores forem idiotas, não vão entender nada do que ele diz. Se, por outro lado, forem pessoas inteligentes, vão ver que o idiota é ele.
(Jan Robba)
(Jan Robba)
sábado, 16 de julho de 2011
Sem querer ser chato...
Algumas categorias profissionais, como por exemplo os policiais, prestam um serviço porcaria, trabalham mal, roubam o estado(todo mundo sabe disso) e justificam dizendo que ganham mal(como se não tivessem olhado o edital do concurso que fizeram e não soubessem do salário merda que iriam ganhar). Muito bem: há uma campanha em curso para diminuir o salário dos nossos "políticos', que ganham uma fortuna para apenas demonstrarem publicamente sua inutilidade, além da tradicional e histórica boçalidade que é sua marca registrada. Ora, será que um aumento de salário para as categorias que citei(e as que não citei, principalmente)lá em cima fará com que trabalhem?
terça-feira, 12 de julho de 2011
Filosofando XV
"Todos têm uma sombra. Só um ser totalmente luminoso não tem uma. Quando você está de frente para a luz, a sua sombra segue os seus passos, e irá aonde você for. Mas se você dá as costas para a luz, onde quer que você deseje ir, a sua sombra chegará primeiro, cobrindo tudo de trevas"
Jan Robba
Jan Robba
quinta-feira, 7 de julho de 2011
21 anos sem Cazuza...
21 anos sem cazuza. Querem minha opinião sincera? Para mim não faz a menor diferença. Neste país onde é costume chamar qualquer pé rapado de poeta, talvez alguns estejam aos prantos lamentando esta "enorme perda" sofrida pela literatura e música nacionais. Eu não. Se não, vejamos:
Cazuza foi nada mais que mais um presepeiro sem talento que foi para debaixo da terra. Sujeitinho hipócrita...Mais conhecido como "O Rei da Suruba" do Baixo Leblon, depois posou de vítima porque a Aids o estava carcomendo. Mas não era disso que ele gostava? de ser comido? E nem passou pela sua cabeça que as coisas poderiam terminar assim?
É tão absurdo pensar em cazuza figurando entre os poetas nacionais quanto o é ver Paulo Coelho na Academia Brasileira de Letras. Chamar Cazuza de poeta é ofender(quase xingar a mãe) Chico Buarque de Hollanda, Carlos Drummond de Andrade, Manoel Bandeira e uma série de outros realmente grandes.
Como cidadão, ele foi apenas um porco, convenhamos. Por pior que seja o nosso país(e eu sei bem das mazelas desta nação aqui), um sujeito nunca pode cuspir na sua bandeira, e ele o fez por pura presepada, além é claro, de mostrar ao país inteiro o tamanho do seu preconceito, quando chamou os nordestinos de "Paraíbas", pelo simples fato destes não gostarem do show porcaria que estavam assistindo e o demonstrarem. Além é claro de ser um ingrato, pois quando ele afirma que "A burguesia fede" está cuspindo no prato onde comeu. Sendo filho de um burguês, e se aproveitando de um baita empurrão dado pelo pai para compensar a própria falta de talento foi que ele chegou onde chegou. E depois diz que a burguesia fede. Ora, nas surubas que promovia nos Condomínios e apartamentos da Zona sul, não havia pobres. Era para os burgueses que ele dava a bunda.
Cazuza foi nada mais que mais um presepeiro sem talento que foi para debaixo da terra. Sujeitinho hipócrita...Mais conhecido como "O Rei da Suruba" do Baixo Leblon, depois posou de vítima porque a Aids o estava carcomendo. Mas não era disso que ele gostava? de ser comido? E nem passou pela sua cabeça que as coisas poderiam terminar assim?
É tão absurdo pensar em cazuza figurando entre os poetas nacionais quanto o é ver Paulo Coelho na Academia Brasileira de Letras. Chamar Cazuza de poeta é ofender(quase xingar a mãe) Chico Buarque de Hollanda, Carlos Drummond de Andrade, Manoel Bandeira e uma série de outros realmente grandes.
Como cidadão, ele foi apenas um porco, convenhamos. Por pior que seja o nosso país(e eu sei bem das mazelas desta nação aqui), um sujeito nunca pode cuspir na sua bandeira, e ele o fez por pura presepada, além é claro, de mostrar ao país inteiro o tamanho do seu preconceito, quando chamou os nordestinos de "Paraíbas", pelo simples fato destes não gostarem do show porcaria que estavam assistindo e o demonstrarem. Além é claro de ser um ingrato, pois quando ele afirma que "A burguesia fede" está cuspindo no prato onde comeu. Sendo filho de um burguês, e se aproveitando de um baita empurrão dado pelo pai para compensar a própria falta de talento foi que ele chegou onde chegou. E depois diz que a burguesia fede. Ora, nas surubas que promovia nos Condomínios e apartamentos da Zona sul, não havia pobres. Era para os burgueses que ele dava a bunda.
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Filosofando XIV
O sujeito que diz:"Eu não me arrependo de nada do que fiz" é mentiroso ou psicopata. Não há um só ser humano em sã consciência que não tenha algum dia olhado um episódio qualquer do seu passado e pensado consigo mesmo:"Fiz merda...".
Jan Robba
Jan Robba
terça-feira, 28 de junho de 2011
Do outro mundo
- Só por curiosidade: por quê você vê tantos discos voadores e eu nunca vi um só em toda a minha vida? Não acha que cinqüenta e dois num só dia é meio exagerado?
- É simples: pra onde você olha, quando anda na rua?
- Ora, pra frente, é claro...
- Então, como é que você quer ver discos voadores, se não olha pra cima?
- Ah, entendi...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
- É simples: pra onde você olha, quando anda na rua?
- Ora, pra frente, é claro...
- Então, como é que você quer ver discos voadores, se não olha pra cima?
- Ah, entendi...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Ser psicólogo é...
- Só um instante, que vou abrir a janela...
- Ok...
- Bem, eu sugiro que você faça um exame médico e então você me traz o resultado e aí nós podemos pensar em algo...A hipnose pode ser uma técnica bastante eficaz no seu caso.
- Ah, hipnose...Então é isso que você usa pra segurar os seus pacientes?
- Olha, se eu conseguir que você segure os seus peidos nas nossas sessões, já é um grande avanço...caso contrário, eu quero que você vá se peidar no consultório de outro...
(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")
- Ok...
- Bem, eu sugiro que você faça um exame médico e então você me traz o resultado e aí nós podemos pensar em algo...A hipnose pode ser uma técnica bastante eficaz no seu caso.
- Ah, hipnose...Então é isso que você usa pra segurar os seus pacientes?
- Olha, se eu conseguir que você segure os seus peidos nas nossas sessões, já é um grande avanço...caso contrário, eu quero que você vá se peidar no consultório de outro...
(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")
sábado, 25 de junho de 2011
Filosofando XIII
Ninguém é chamado de "Lenda" à toa. Não basta dizer de si mesmo: "Eu sou um deus ou uma deusa branca", pois a brancura da pele muitas vezes é apenas falta de sangue. A palidez dos defuntos jamais colocou alguém acima dos vivos. É preciso ser um cometa, e isto não é para qualquer subnutrido de alma...É preciso ter um vulcão dentro de si e amar as tempestades.
(Jan Robba)
(Jan Robba)
quinta-feira, 23 de junho de 2011
O ônibus de Copacabana
- Aqui não tem coruja.
- É...
- Na minha casa tem uma coruja que toda noite canta assim: "uuh...uuh...uuh...".
- Lá onde eu moro não tem corujas.
- Você mora onde?
- Copacabana.
- E por quê não tem coruja lá?
- Não sei...acho que fugiram.
- Aquele ônibus verde, vermelho e amarelo lá embaixo é o de copacabana?
- Não...o de Copacabana é o preto e branco.
- Por quê os outros meninos que saem daqui pra se operar não voltam mais? Será que eles morrem?
- Não sei...
- Amanhã é a sua vez, não é?
- É...
- Você tá com Mêdo?
- Não...
- Se você morrer, você me conta como é?
- Conto.
- É...
- Na minha casa tem uma coruja que toda noite canta assim: "uuh...uuh...uuh...".
- Lá onde eu moro não tem corujas.
- Você mora onde?
- Copacabana.
- E por quê não tem coruja lá?
- Não sei...acho que fugiram.
- Aquele ônibus verde, vermelho e amarelo lá embaixo é o de copacabana?
- Não...o de Copacabana é o preto e branco.
- Por quê os outros meninos que saem daqui pra se operar não voltam mais? Será que eles morrem?
- Não sei...
- Amanhã é a sua vez, não é?
- É...
- Você tá com Mêdo?
- Não...
- Se você morrer, você me conta como é?
- Conto.
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Coisa de doido III
- Tem cigarro aí?
- Tenho...
- Então me dá um.
- Toma...
Todo dia era a mesma coisa. Sempre que o via na rua, o doido o fazia parar e pedia um cigarro.
- Tem cigarro aí?
- Tenho...
- Então me dá um.
- Toma...
Às vezes, ficava irritado e pensava consigo mesmo:
- Porra, esse doido já está me enchendo o saco...só vive me pedindo cigarros...Mas, por quê é que eu nunca sei dizer “não”?
Sempre fora assim. Jamais tivera coragem de dizer não a alguém, mesmo quando dizer não era o mais certo a ser feito. Mas naquele dia ia ser diferente: estava duro e não tinha cigarros. Imaginou como ia ser divertido ver a cara do doido, quando dissesse a ele que não tinha cigarros. Só este pensamento já o fazia esquecer que estava louco de vontade de fumar. Finalmente, saiu à rua e o momento tão esperado aconteceu...
- Tem cigarro aí?
Seus olhos brilharam como nunca, com a imagem do triunfo iminente. Iria recuperar sua auto-estima...
- Puxa vida, amigo, me desculpe mas, infelizmente, hoje eu estou sem dinheiro e não tenho cigarros...
- Então toma...– e o doido então lhe estendeu um maço cheio com os cigarros que ia pedindo aos passantes – pode levar...
(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")
- Tenho...
- Então me dá um.
- Toma...
Todo dia era a mesma coisa. Sempre que o via na rua, o doido o fazia parar e pedia um cigarro.
- Tem cigarro aí?
- Tenho...
- Então me dá um.
- Toma...
Às vezes, ficava irritado e pensava consigo mesmo:
- Porra, esse doido já está me enchendo o saco...só vive me pedindo cigarros...Mas, por quê é que eu nunca sei dizer “não”?
Sempre fora assim. Jamais tivera coragem de dizer não a alguém, mesmo quando dizer não era o mais certo a ser feito. Mas naquele dia ia ser diferente: estava duro e não tinha cigarros. Imaginou como ia ser divertido ver a cara do doido, quando dissesse a ele que não tinha cigarros. Só este pensamento já o fazia esquecer que estava louco de vontade de fumar. Finalmente, saiu à rua e o momento tão esperado aconteceu...
- Tem cigarro aí?
Seus olhos brilharam como nunca, com a imagem do triunfo iminente. Iria recuperar sua auto-estima...
- Puxa vida, amigo, me desculpe mas, infelizmente, hoje eu estou sem dinheiro e não tenho cigarros...
- Então toma...– e o doido então lhe estendeu um maço cheio com os cigarros que ia pedindo aos passantes – pode levar...
(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Esses jovens de hoje em dia...
- Doutor - disse a mãe, apontando para o filho de dez anos – eu trouxe o meu filho aqui para fazer terapia com o senhor...
- Mas o que é que tem o seu filho?
- Ele agora está com a mania de entrar no quarto da irmã e masturbá-la, enquanto ela está dormindo.
- É mesmo, garoto?
- É, mas ela também faz isso...eu vejo sempre...- disse o garoto apontando para a mãe.
- Mas é diferente, doutor. Eu faço isso só pra ver se ela está dormindo mesmo e não de safadeza, só fingindo...O senhor sabe como são esses jovens de hoje em dia...
- Sei...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
- Mas o que é que tem o seu filho?
- Ele agora está com a mania de entrar no quarto da irmã e masturbá-la, enquanto ela está dormindo.
- É mesmo, garoto?
- É, mas ela também faz isso...eu vejo sempre...- disse o garoto apontando para a mãe.
- Mas é diferente, doutor. Eu faço isso só pra ver se ela está dormindo mesmo e não de safadeza, só fingindo...O senhor sabe como são esses jovens de hoje em dia...
- Sei...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Com a cara coçando...
- Eu sou lésbica...
- Tá bem, mas deixa eu gozar primeiro...depois a gente fala disso...
Ela então cutucou as costas dele:
- Eu sou lésbica...
- Tá, eu estou quase gozando...daqui a pouco a gente fala disso...
- Eu gosto é de mulher...
- Porra, tá bom - e ele então saiu de cima dela - Agora que você estragou a porra toda, fala logo o que você tem pra falar.
- Quê foi? Perdeu o tesão?
- O quê você acha?
- Eu acho que você está com disfunção erétil.
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
- Tá bem, mas deixa eu gozar primeiro...depois a gente fala disso...
Ela então cutucou as costas dele:
- Eu sou lésbica...
- Tá, eu estou quase gozando...daqui a pouco a gente fala disso...
- Eu gosto é de mulher...
- Porra, tá bom - e ele então saiu de cima dela - Agora que você estragou a porra toda, fala logo o que você tem pra falar.
- Quê foi? Perdeu o tesão?
- O quê você acha?
- Eu acho que você está com disfunção erétil.
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
sábado, 11 de junho de 2011
Filosofando XI
Por quê você chama Deus de "Senhor"? Não é o mêdo que diz o que você deve e o que não deve fazer? Não foi o mêdo que fez com que se inventassem tantos deuses? E não foi o mêdo que fez com que você se agarrasse ao primeiro deus que encontrou pela frente? Então, não é Deus o seu senhor, mas o mêdo.
(Jan Robba)
(Jan Robba)
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Um inquietante paradoxo
- Pula...pula...pula...
A pequena multidão que se aglomerara lá embaixo mostrava de quanto sadismo uma pequena multidão é capaz. Talvez as pequenas multidões não gostem de promessas vãs. Afinal, estava terminando o horário de almoço e as pessoas não têm a tarde inteira para ficarem ali esperando.
- Pula...pula...pula...
Ele se sentia um desgraçado. Não tinha coragem nem mesmo de pôr fim à própria existência. Pensava agora se, no fundo no fundo, não deveria era pular mesmo. "Afinal - pensou consigo mesmo - um sujeito que não é capaz nem mesmo de se matar, não tem o direito de continuar vivendo...".
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
A pequena multidão que se aglomerara lá embaixo mostrava de quanto sadismo uma pequena multidão é capaz. Talvez as pequenas multidões não gostem de promessas vãs. Afinal, estava terminando o horário de almoço e as pessoas não têm a tarde inteira para ficarem ali esperando.
- Pula...pula...pula...
Ele se sentia um desgraçado. Não tinha coragem nem mesmo de pôr fim à própria existência. Pensava agora se, no fundo no fundo, não deveria era pular mesmo. "Afinal - pensou consigo mesmo - um sujeito que não é capaz nem mesmo de se matar, não tem o direito de continuar vivendo...".
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Coisa de doido II
Alguns meses antes ele havia sido preso por descarregar uma pistola dentro da padaria de propriedade do seu pai, e por um motivo que, para ele, parecia até razoável: o pai não quisera lhe dar dinheiro para ele ir beber, fumar maconha e fazer farra. Desta vez, no entanto, parece que ele extrapolara todos os limites: uma noite, retirou toda a energia da pequena cidade com o super-holofote que inventara, deixando-a às escuras durante mais de uma hora. Conta-se que, em meio àquela escuridão, só se ouvia os gritos dele enquanto um escudo, parecido com o do Batman, se movia de um lado para o outro nas nuvens lá no alto do céu. Nem mesmo os técnicos da Companhia de Força e Luz souberam explicar como ele conseguira subir num poste e fazer um gato na energia, correndo um sério risco de morrer eletrocutado. Mais tarde, interrogado pelo recém-empossado chefe de polícia, deu a seguinte declaração:
- Minha família é a mais pitoresca e a mais tradicional desta cidade: são duas putas, dois tarados, um viado e um doido...
- E naturalmente - disse o delegado - você é o doido.
- Não, seu delegado. Eu sou o viado.
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
- Minha família é a mais pitoresca e a mais tradicional desta cidade: são duas putas, dois tarados, um viado e um doido...
- E naturalmente - disse o delegado - você é o doido.
- Não, seu delegado. Eu sou o viado.
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Coisa de doido
Ele estava decidido a parar o doido e satisfazer a sua curiosidade. Achou que, se ficasse em pé ali em cima do meio-fio, o doido pararia e lhe daria atenção. Tiro e queda...
- Deixa eu passar.
- Então me responde uma pergunta.
- Então pergunta.
- Por quê é que você só anda em cima do meio-fio?
- É pra medir as distâncias...
- E como é que é isso?
- Daqui até a Avenida Brasil, são quatro horas; daqui até o Centro, são seis horas e daqui até a Barra, são catorze horas...
- Ah, sei...E por quê você só anda de olhos fechados?
- É pra não ver os outros zombarem de mim...
- Não é melhor então tapar os ouvidos, em vez de fechar os olhos?
- Não. Fechando os olhos, o que eles falam é só pensamento na minha cabeça...
- Então, pode abrir os olhos, que ninguém vai zombar de você.
Aconteceu de, naquele instante, vir um outro doido pela rua, correndo, urrando e mordendo o indicador com os poucos cacos de dentes que ainda lhe restavam.
- Olha só o doido...- disse o doido(esse que estava em cima do meio-fio), rindo – Olha só o doido...- e riu mais alto ainda – Olha só o doido...- e não parou mais de rir.
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
- Deixa eu passar.
- Então me responde uma pergunta.
- Então pergunta.
- Por quê é que você só anda em cima do meio-fio?
- É pra medir as distâncias...
- E como é que é isso?
- Daqui até a Avenida Brasil, são quatro horas; daqui até o Centro, são seis horas e daqui até a Barra, são catorze horas...
- Ah, sei...E por quê você só anda de olhos fechados?
- É pra não ver os outros zombarem de mim...
- Não é melhor então tapar os ouvidos, em vez de fechar os olhos?
- Não. Fechando os olhos, o que eles falam é só pensamento na minha cabeça...
- Então, pode abrir os olhos, que ninguém vai zombar de você.
Aconteceu de, naquele instante, vir um outro doido pela rua, correndo, urrando e mordendo o indicador com os poucos cacos de dentes que ainda lhe restavam.
- Olha só o doido...- disse o doido(esse que estava em cima do meio-fio), rindo – Olha só o doido...- e riu mais alto ainda – Olha só o doido...- e não parou mais de rir.
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Sobre o amor III
- Cara, sabe aquela morena da Parati verde, que mora ali na outra rua?
- Sei, a Tatiana. O quê tem ela?
- Com ela não tem nada, mas é comigo, cara...
- Então fala logo...
- Eu estou apaixonadão por ela, cara. Não paro de pensar nela um instante.
- Bem, e daí?
- Daí que eu não sei como conquistá-la. Não sei como chegar nela e dizer tudo o que eu estou sentindo.
- Hum...
- Você não conhece nenhuma magia que eu possa fazer pra ela cair na minha mão?
- Conheço, e costuma ser infalível, mas não sei se você vai ter disposição pra isso...
- Pode falar. Eu faço qualquer coisa...macumba, pacto com o capeta, o que for...
- É bem simples: vá para um canto, feche os seus olhos e pense nela. Deseje que ela seja a mulher mais feliz do mundo, mesmo que não seja ao seu lado.
- Ah, assim não vale, cara...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
- Sei, a Tatiana. O quê tem ela?
- Com ela não tem nada, mas é comigo, cara...
- Então fala logo...
- Eu estou apaixonadão por ela, cara. Não paro de pensar nela um instante.
- Bem, e daí?
- Daí que eu não sei como conquistá-la. Não sei como chegar nela e dizer tudo o que eu estou sentindo.
- Hum...
- Você não conhece nenhuma magia que eu possa fazer pra ela cair na minha mão?
- Conheço, e costuma ser infalível, mas não sei se você vai ter disposição pra isso...
- Pode falar. Eu faço qualquer coisa...macumba, pacto com o capeta, o que for...
- É bem simples: vá para um canto, feche os seus olhos e pense nela. Deseje que ela seja a mulher mais feliz do mundo, mesmo que não seja ao seu lado.
- Ah, assim não vale, cara...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Pior do que os comunistas...
- Eu vou enfiar a porrada em você, seu filho da puta...- disse a paciente psicótica, já preparando o tradicional cruzado de direita, bem conhecido dos seus familiares.
- Experimenta, pra ver se eu não quebro o seu braço e ainda dou com a sua cabeça nessa parede até espalhar os seus miolos todos pelo chão...
- Você é Hitler?
- Eu sou pior do que Hitler...
- Então, você é o diabo...
- Eu sou pior do que o diabo...
- Pior do que os comunistas?
- Pode ter certeza...
- Credo...eu sabia...você é completamente doido...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
- Experimenta, pra ver se eu não quebro o seu braço e ainda dou com a sua cabeça nessa parede até espalhar os seus miolos todos pelo chão...
- Você é Hitler?
- Eu sou pior do que Hitler...
- Então, você é o diabo...
- Eu sou pior do que o diabo...
- Pior do que os comunistas?
- Pode ter certeza...
- Credo...eu sabia...você é completamente doido...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Contra a parede...
- Nunca lhe ocorreu que alguém poderia estar tentando transformá-la efetivamente em uma doida para lhe tomar a casa, os bens e a guarda de sua filha? - perguntou, após um longo silêncio.
Nada se encaixava com os laudos que ele havia recebido. Pelo contrário, era uma trama perversa, quase inacreditável, que se tornara bem evidente em sua mente. Por fim ele completou, olhando bem nos olhos vidrados que o observavam:
- Honestamente, eu acho que o que houve foi mais do que um enorme mal entendido ou falta de atenção, mas uma grande safadeza mesmo dos seus médicos, seu marido, seus familiares...
- Está dizendo que eu não estou louca?
- Tenho certeza...e apostaria o meu diploma nisso.
Ela suspirou aliviada. Ficou algum tempo olhando pela janela, lá longe, o sol morrendo entre os edifícios. De repente, virou-se para ele e disse:
- Eu estou horrível, não estou?
- Está.
- Me beija.
- O quê foi que disse?
- Isso mesmo: me beija. O meu marido diz que não beija uma doida varrida...
- Mas eu não sou o seu marido.
- Tem coragem de beijar uma doida varrida?
- Não.
- Então me beija.
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
Nada se encaixava com os laudos que ele havia recebido. Pelo contrário, era uma trama perversa, quase inacreditável, que se tornara bem evidente em sua mente. Por fim ele completou, olhando bem nos olhos vidrados que o observavam:
- Honestamente, eu acho que o que houve foi mais do que um enorme mal entendido ou falta de atenção, mas uma grande safadeza mesmo dos seus médicos, seu marido, seus familiares...
- Está dizendo que eu não estou louca?
- Tenho certeza...e apostaria o meu diploma nisso.
Ela suspirou aliviada. Ficou algum tempo olhando pela janela, lá longe, o sol morrendo entre os edifícios. De repente, virou-se para ele e disse:
- Eu estou horrível, não estou?
- Está.
- Me beija.
- O quê foi que disse?
- Isso mesmo: me beija. O meu marido diz que não beija uma doida varrida...
- Mas eu não sou o seu marido.
- Tem coragem de beijar uma doida varrida?
- Não.
- Então me beija.
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Fanatismo
Quando se fala em fanatismo, vem-nos imediatamente ao pensamento a idéia de religião. E isto é perfeitamente natural, de uma vez que o fanatismo religioso é o que de mais visível e identificável temos dentro deste universo onde o mimetismo reina. Ora, devemos considerar que toda idéia se funda numa exclusão. Por exemplo, qualquer idéia que alguém abrace exclui automaticamente todas as outras. No entanto, há sempre uma abertura para um confronto com outras idéias , com a realidade(sendo esta, a meu ver, a pedra de toque) e com a experiência. O fanatismo não se abre a esta possibilidade: simplesmente exclui. Mas então surge uma outra questão cuja resposta pode ajudar a lançar luz sobre tudo isto: a verdade precisa de alguém que a defenda? Até onde sabemos, se uma idéia é verdadeira, ela é evidente por si só, e não é o esforço heróico de um ou muitos que a tornará mais verdadeira do que é, a não ser que assumamos que a verdade seja uma questão de consenso. No entanto, temos visto muitos que são capazes de matar e de morrer por aquilo que acreditam ser a verdade. Dito isto, resta apenas uma conclusão possível: todo fanático é um mentiroso, além é claro de um estúpido. Talvez por isto Jesus tenha se calado, quando inquirido por Pôncio Pilatos sobre o que é a verdade. Ele mesmo, de quem se diz que era a própria verdade, além de ser o caminho e a vida. Pelo menos alguns milagres ele realizava a fim de demonstrar suas verdades(embora pessoalmente eu ache que realizar milagres nada tem a ver com a verdade ou a falsidade de um enunciado). Ocorre que vivemos numa época de tanta pobreza de espírito, que aqueles que se dizem portadores da verdade apenas fazem multiplicar a violência no mundo, em vez de multiplicarem o pão. Mas se olharmos bem a história...
terça-feira, 17 de maio de 2011
Armas
Eis aqui mais um texto maravilhoso de José Saramago, o qual deveria nos fazer parar um minuto e pensar:
O negócio das armas, sujeito à legalidade mais ou menos flexível de cada país ou de simples e descarado contrabando, não está em crise. Quer dizer, a tão falada e sofrida crise que vem destroçando física e moralmente a população do planeta não toca a todos. Por toda a parte, aqui, além, os sem trabalho contam-se por milhões, todos os dias milhares de empresas declaram-se em falência e fecham as portas, mas não consta que um único operário de uma fábrica de armamento tenha sido despedido. Trabalhar numa fábrica de armas é um seguro de vida. Já sabemos que os exércitos precisam de armar-se, substituir por armas novas e mais mortíferas (disso se trata) os antigos arsenais que fizeram a sua época mas já não satisfazem as necessidades da vida moderna. Parece portanto evidente que os governos dos países exportadores deveriam controlar severamente a produção e a comercialização das armas que fabricam. Simplesmente, uns não o fazem e outros olham para o lado. Falo de governos porque é difícil crer que, a exemplo das instalações industriais mais ou menos ocultas que abastecem o narcotráfico, existam no mundo fábricas clandestinas de armamento. Logo, não há uma pistola que, por assim dizer, não vá tacitamente certificada pelo respectivo, ainda que invisível, selo oficial. Quando num continente como o sul-americano, por exemplo, se calcula que há mais de 80 milhões de armas, é impossível não pensar na cumplicidade mal disfarçada dos governos, tanto dos exportadores como dos importadores. Que a culpa, pelo menos em parte, é do contrabando em grande escala, diz-se, esquecendo que para fazer contrabando de algo é condição sine qua non que esse algo exista. O nada não é contrabandeável.
Toda a vida tenho estado à espera de ver uma greve de braços caídos numa fábrica de armamento, inutilmente esperei, porque tal prodígio nunca aconteceu nem acontecerá. E era essa a minha pobre e única esperança de que a humanidade ainda fosse capaz de mudar de caminho, de rumo, de destino.
(Esta entrada foi publicada em Maio 26, 2009 às 12:01 am e está arquivada em O Caderno de Saramago)
Vale a pena ler: http://caderno.josesaramago.org/
O negócio das armas, sujeito à legalidade mais ou menos flexível de cada país ou de simples e descarado contrabando, não está em crise. Quer dizer, a tão falada e sofrida crise que vem destroçando física e moralmente a população do planeta não toca a todos. Por toda a parte, aqui, além, os sem trabalho contam-se por milhões, todos os dias milhares de empresas declaram-se em falência e fecham as portas, mas não consta que um único operário de uma fábrica de armamento tenha sido despedido. Trabalhar numa fábrica de armas é um seguro de vida. Já sabemos que os exércitos precisam de armar-se, substituir por armas novas e mais mortíferas (disso se trata) os antigos arsenais que fizeram a sua época mas já não satisfazem as necessidades da vida moderna. Parece portanto evidente que os governos dos países exportadores deveriam controlar severamente a produção e a comercialização das armas que fabricam. Simplesmente, uns não o fazem e outros olham para o lado. Falo de governos porque é difícil crer que, a exemplo das instalações industriais mais ou menos ocultas que abastecem o narcotráfico, existam no mundo fábricas clandestinas de armamento. Logo, não há uma pistola que, por assim dizer, não vá tacitamente certificada pelo respectivo, ainda que invisível, selo oficial. Quando num continente como o sul-americano, por exemplo, se calcula que há mais de 80 milhões de armas, é impossível não pensar na cumplicidade mal disfarçada dos governos, tanto dos exportadores como dos importadores. Que a culpa, pelo menos em parte, é do contrabando em grande escala, diz-se, esquecendo que para fazer contrabando de algo é condição sine qua non que esse algo exista. O nada não é contrabandeável.
Toda a vida tenho estado à espera de ver uma greve de braços caídos numa fábrica de armamento, inutilmente esperei, porque tal prodígio nunca aconteceu nem acontecerá. E era essa a minha pobre e única esperança de que a humanidade ainda fosse capaz de mudar de caminho, de rumo, de destino.
(Esta entrada foi publicada em Maio 26, 2009 às 12:01 am e está arquivada em O Caderno de Saramago)
Vale a pena ler: http://caderno.josesaramago.org/
domingo, 15 de maio de 2011
Uma estranha ironia
Talvez fosse uma espécie de tara pela perfeição que fazia aquele rapaz ver em si próprio nada mais do que o rascunho de um homem. Nem se lembrava mais de como tudo começara, ou mesmo se algum dia houvera um começo. Sabia que durante muitos anos só conseguira levantar a mão contra os mais fracos. Até que um dia, rebelou-se e resolveu não mais ser "pacífico" apenas pela metade, mas por inteiro. Se não podia enfrentar alguém mais forte, também não iria mais se aproveitar dos mais fracos. A falta de coragem para a ação sempre fora a sua cruz. Por isso, acabara se aperfeiçoando no discurso, como uma forma de fazer com as palavras o que não conseguia fazer com as mãos. Com efeito, quando ele resolvia dar um sabão em alguém, mais parecia um filósofo e ninguém ousava interrompê-lo. Seu discurso carismático tinha a carícia de uma pluma, mas também o corte preciso do bisturi ou a corrosão do ácido.
- Minha vida é um fracasso - pensava às vezes consigo mesmo - Eu não passo é de um grande frouxo, escondido atrás de um discurso cheio de palavras escolhidas...
O que ele nunca percebera é que, mesmo um frouxo, devidamente provocado, pode às vezes se tornar um leão. Talvez ele nunca tivesse permitido a si mesmo ser provocado ao extremo. No fundo, fora o "mais ou menos" que o arruinara...
Um dia, já cansado de tudo, decidiu por um fim naquela encenação: se não conseguia fazer o que desejava com as mãos, também não faria com a língua. Pegou um alicate e uma navalha. Foi até a frente do espelho, prendeu sua língua com o alicate, e com a navalha cortou-a fora de um golpe só, bem na base. Não imaginou que iria sangrar como uma torneira e, apavorado com aquele sangue todo, correu para a rua. Uns vizinhos o acudiram e o levaram ao hospital, mas os médicos não tiveram como por sua língua no lugar novamente. Tempos depois, já curado, foi matricular-se numa escola para surdos-mudos onde aprenderia, entre outras coisas, a fazer com as mãos o que antes fazia tão bem com as palavras...
(Jan Robba em "O livro das esquisitices")
- Minha vida é um fracasso - pensava às vezes consigo mesmo - Eu não passo é de um grande frouxo, escondido atrás de um discurso cheio de palavras escolhidas...
O que ele nunca percebera é que, mesmo um frouxo, devidamente provocado, pode às vezes se tornar um leão. Talvez ele nunca tivesse permitido a si mesmo ser provocado ao extremo. No fundo, fora o "mais ou menos" que o arruinara...
Um dia, já cansado de tudo, decidiu por um fim naquela encenação: se não conseguia fazer o que desejava com as mãos, também não faria com a língua. Pegou um alicate e uma navalha. Foi até a frente do espelho, prendeu sua língua com o alicate, e com a navalha cortou-a fora de um golpe só, bem na base. Não imaginou que iria sangrar como uma torneira e, apavorado com aquele sangue todo, correu para a rua. Uns vizinhos o acudiram e o levaram ao hospital, mas os médicos não tiveram como por sua língua no lugar novamente. Tempos depois, já curado, foi matricular-se numa escola para surdos-mudos onde aprenderia, entre outras coisas, a fazer com as mãos o que antes fazia tão bem com as palavras...
(Jan Robba em "O livro das esquisitices")
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Uma histeriazinha à toa...
- Bem – disse o psicólogo à ex-mulher do policial, sentada à sua frente – eu nunca fui muito bom em classificações, mas se a senhora insiste tanto em saber, eu diria que esse horror a tudo o que diz respeito ao sexo, toda essa teatralidade, esses maneirismos todos, essa infantilização, esses diminutivos todos, fora essa flagrante somatização, tudo isso parece apontar para um quadro de histeria...
- É...acho que eu preciso me policiar mais...
- ...
- Mas é só uma histeriazinha à toa, não é?
- Bem pequenininha...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
- É...acho que eu preciso me policiar mais...
- ...
- Mas é só uma histeriazinha à toa, não é?
- Bem pequenininha...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Titanic
"Nem Deus pode afundar este navio". Esta frase, que figura entre as mais célebres de todos os tempos, traduz bem o que era o positivismo e a crença no homem e na sua tecnologia em fins do século XIX e início do século XX. O Titanic, a maior e mais sofisticada obra da Engenharia Naval de sua época, lançou-se ao mar em sua viagem inaugural, de Southampton a Nova York, em 10 de Abril de 1912, para afundar três dias depois, resultando na morte de 1523 pessoas...
Consta que, caso dessem a devida atenção aos avisos de outras embarcações sobre a presença de icebergs no mar, e caso moderassem com o excesso de confiança, a tragédia poderia ter sido evitada.
A história tem grandes lições a nos ensinar, mas depende de nós aprendermos com ela ou não. Hoje, quase cem anos depois desta tragédia, nossos tecnocratas e governantes, junto com uma expressiva parcela da população mundial ainda sofrem destes dois flagelos: desleixo e excesso de confiança. Isto significa quase cem anos de obsolescência da mentalidade ocidental...
Lembro muito bem de, no segundo ano do curso Ginasial, em 1973, ter tido o primeiro contato com a recém saída do forno Ecologia e, de lá para cá, cientistas e técnicos têm sistematicamente alertado sobre problemas bastante sérios para toda a humanidade, caso não se pusesse um termo nesta destruição desenfreada do meio-ambiente. E lá se vão 40 anos...Tenho a esperança de que a humanidade acorde e aja a respeito, sob pena de ter que dormir para sempre.
A história da tragédia do Titanic, na qualidade de metáfora, é também deveras interessante e pode servir(por quê não?)como uma advertência: continua o barco da humanidade seguindo o seu rumo a todo o vapor, ciente mas indiferente ao provável destino que o espera. "Nem Deus pode afundar este navio...". É o que veremos...mas, no momento crucial, sabemos que, tal qual no Titanic, os primeiros a entrarem nos botes salva-vidas serão os da primeira classe...
Consta que, caso dessem a devida atenção aos avisos de outras embarcações sobre a presença de icebergs no mar, e caso moderassem com o excesso de confiança, a tragédia poderia ter sido evitada.
A história tem grandes lições a nos ensinar, mas depende de nós aprendermos com ela ou não. Hoje, quase cem anos depois desta tragédia, nossos tecnocratas e governantes, junto com uma expressiva parcela da população mundial ainda sofrem destes dois flagelos: desleixo e excesso de confiança. Isto significa quase cem anos de obsolescência da mentalidade ocidental...
Lembro muito bem de, no segundo ano do curso Ginasial, em 1973, ter tido o primeiro contato com a recém saída do forno Ecologia e, de lá para cá, cientistas e técnicos têm sistematicamente alertado sobre problemas bastante sérios para toda a humanidade, caso não se pusesse um termo nesta destruição desenfreada do meio-ambiente. E lá se vão 40 anos...Tenho a esperança de que a humanidade acorde e aja a respeito, sob pena de ter que dormir para sempre.
A história da tragédia do Titanic, na qualidade de metáfora, é também deveras interessante e pode servir(por quê não?)como uma advertência: continua o barco da humanidade seguindo o seu rumo a todo o vapor, ciente mas indiferente ao provável destino que o espera. "Nem Deus pode afundar este navio...". É o que veremos...mas, no momento crucial, sabemos que, tal qual no Titanic, os primeiros a entrarem nos botes salva-vidas serão os da primeira classe...
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Sobre os fazedores de contas
- Eu não acredito na sua Psicologia
- Olha, cara - e ele então deu uma última tragada no cigarro e jogou a ponta para longe - a Psicologia não foi feita pra você ou quem quer que seja acreditar...muito menos a minha. Se você está atrás de uma crença, então procure uma igreja...
- Eu sou um matemático e não acredito nessas coisas.
- Não, você não é um matemático, de jeito nenhum. É apenas um fazedor de contas. O quê você trouxe de novidade para a Matemática? Saiba que até mesmo um macaco bem treinado pode fazer contas...
Depois de tantos anos vendo descalabros por toda parte, ele ainda se impressionava com pessoas de nível superior tão miseravelmente desprovidas de senso de ridículo.
- E para seu governo - continuou - sabe quem treina o macaco?
- Hum?
- Um Psicólogo. Agora, deixa eu tomar minha cerveja sossegado e olhar a bunda das moças, a não ser que você queira que eu o treine também...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
- Olha, cara - e ele então deu uma última tragada no cigarro e jogou a ponta para longe - a Psicologia não foi feita pra você ou quem quer que seja acreditar...muito menos a minha. Se você está atrás de uma crença, então procure uma igreja...
- Eu sou um matemático e não acredito nessas coisas.
- Não, você não é um matemático, de jeito nenhum. É apenas um fazedor de contas. O quê você trouxe de novidade para a Matemática? Saiba que até mesmo um macaco bem treinado pode fazer contas...
Depois de tantos anos vendo descalabros por toda parte, ele ainda se impressionava com pessoas de nível superior tão miseravelmente desprovidas de senso de ridículo.
- E para seu governo - continuou - sabe quem treina o macaco?
- Hum?
- Um Psicólogo. Agora, deixa eu tomar minha cerveja sossegado e olhar a bunda das moças, a não ser que você queira que eu o treine também...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Morre um terrorista
E daí? Se é verdade que ele morreu mesmo, decerto que ele já sabia que este seria o seu destino, no instante mesmo em que escolheu para si este modo de vida. Morrendo ou não, pudemos assistir ao espetáculo grotesco da palhaçada generalizada: estudantes fazendo festas, populares comemorando, a mídia despejando suas habituais incoerências e, como sempre, festejando os altos índices de audiência às custas de um sensacionalismo por natureza irresponsável...
O terrorismo é, a meu ver, uma forma alternativa de falar o que foi vetado pelos meios convencionais. Daí podermos arriscar que todos os atos terroristas, enquanto uma fala, são sintoma de algo que insistimos em não ver. Não digo que se deva validar esta forma de expressão, mas estou certo de que precisamos ouvir o que os nossos interlocutores têm a dizer. E se assim é, então se abre uma porta para que nos afastemos do "coitadismo" do discurso comum, e comecemos a olhar com mais atenção para o mundo e o que estão tentando fazer dele.
Não é de se admirar(e dos americanos se pode esperar de tudo) e beira as raias do surrealismo que, encabeçando a caça ao terrorista mais procurado do mundo, esteja a maior organização terrorista do mundo: a CIA.
A ONU, construída e mantida pelo dinheiro americano(o que explica a sua fraqueza e ineficácia em questões cruciais, como por exemplo a invasão do Iraque, o massacre dos palestinos e, agora, o ataque à Líbia e tantas outras atrocidades), simplesmente não se manifesta, por medo de desagradar aos seus patrões. Logo, temos que concluir forçosamente que esta instituição se constitui no braço legal do terrorismo americano, validando diante da opinião pública internacional as suas ações. E creio que isto ficou mais do que provado desde a invasão do Iraque.
Os americanos têm como um de seus mais elevados valores a "democracia", e tentam impor esta "democracia" ao restante do mundo. Ora, Democracia imposta não é democracia, ou então é a nossa lógica de 2.500 anos que está ultrapassada.
Se, como eu disse, a CIA é uma organização terrorista, e se os atos terroristas constituem uma fala, então o quê os atos terroristas americanos(muito mais frequentes nos últimos tempos) querem dizer? O quê Bush queria dizer com a sua "Guerra ao terror"? Com certeza ele não estava pretendendo desencadear uma guerra contra si mesmo...
O terrorismo é, a meu ver, uma forma alternativa de falar o que foi vetado pelos meios convencionais. Daí podermos arriscar que todos os atos terroristas, enquanto uma fala, são sintoma de algo que insistimos em não ver. Não digo que se deva validar esta forma de expressão, mas estou certo de que precisamos ouvir o que os nossos interlocutores têm a dizer. E se assim é, então se abre uma porta para que nos afastemos do "coitadismo" do discurso comum, e comecemos a olhar com mais atenção para o mundo e o que estão tentando fazer dele.
Não é de se admirar(e dos americanos se pode esperar de tudo) e beira as raias do surrealismo que, encabeçando a caça ao terrorista mais procurado do mundo, esteja a maior organização terrorista do mundo: a CIA.
A ONU, construída e mantida pelo dinheiro americano(o que explica a sua fraqueza e ineficácia em questões cruciais, como por exemplo a invasão do Iraque, o massacre dos palestinos e, agora, o ataque à Líbia e tantas outras atrocidades), simplesmente não se manifesta, por medo de desagradar aos seus patrões. Logo, temos que concluir forçosamente que esta instituição se constitui no braço legal do terrorismo americano, validando diante da opinião pública internacional as suas ações. E creio que isto ficou mais do que provado desde a invasão do Iraque.
Os americanos têm como um de seus mais elevados valores a "democracia", e tentam impor esta "democracia" ao restante do mundo. Ora, Democracia imposta não é democracia, ou então é a nossa lógica de 2.500 anos que está ultrapassada.
Se, como eu disse, a CIA é uma organização terrorista, e se os atos terroristas constituem uma fala, então o quê os atos terroristas americanos(muito mais frequentes nos últimos tempos) querem dizer? O quê Bush queria dizer com a sua "Guerra ao terror"? Com certeza ele não estava pretendendo desencadear uma guerra contra si mesmo...
quinta-feira, 5 de maio de 2011
A mitologia cristã
Há certamente um movimento bem interessante na formação dos mitos e das figuras mitológicas, principalmente no cristianismo. Uma vez, perguntei a uma paciente: "Jesus cagava?", "Nossa senhora menstruava?", "o Papa peida?". Minha paciente ficou horrorizada com aquilo, e era esta a minha intenção, a fim de "sacudir" seus conceitos. Mais adiante, verificamos que se tratava do mesmo processo que se dá com nossos amores, por exemplo. A minha amada não caga, não menstrua, não peida, não tem meleca, etc. Essa "divinização" da pessoa amada chega a um cúmulo em que o amante não consegue fazer sexo com ela. Quando, ao longo do convívio, ele percebe que as coisas não são bem assim como ele imagina, ela deixa de ser uma figura "mitológica" para ele e se torna apenas mais uma mulher. O mito cristão previne contra esta humanização do sagrado. Basta compararmos os quadros de Yemanjá e de Nossa Senhora. Yemanjá aparece sempre com um vestido realçando as formas do corpo, e ainda com um decote delicioso, ao passo que Nossa Senhora aparece vestida até o pescoço, ou seja, completamente assexualizada(ou dessexualizada?).
As diferenças são flagrantes. Entender estas diferenças passa pelo entendimento de cada uma das mitologias. A mitologia cristã, como afirmei lá em cima, nega o humano e funda um corte entre este e o divino, corte que não está em poder do homem desfazer. Daí que o Deus cristão está alhures, em alturas incalculáveis, longe do mundo humano.
A mitologia Afro já parte de um ponto de vista diferente: tudo na Terra é regido por uma divindade, estando Deus acima de todas as coisas em importância, mas não acima em sentido espacial. Não há portanto o corte entre o divino e o humano. Exatamente por isto, temos aí uma deusa Yemanjá esbanjando sensualidade sem por isso tornar-se menos divina.
A este respeito nós temos um conceito chave: enquadramento. Enquadramento significa colocar um determinado fato dentro de um contexto tal, em que este fato possa fazer sentido. O mito tem esta função, assim como a ciência, os contos de fadas, a psicologia e psicanálise. Um paciente entra em parafuso justamente quando ele não encontra sentido em um determinado acontecimento ou um fenômeno em seu íntimo. Por exemplo, as pessoas que não têm uma religião ou a crença em um Deus geralmente lidam com mais dificuldade com a morte.
Um outro exemplo de enquadramento: o travesti em nossa mitologia é um depravado, afeminado, portador de algum defeito genético, ou que teve uma criação errada dos pais, ou um pecador que irá para o inferno, etc, etc, etc
Na mitologia Afro, ele é simplesmente alguém que tem como "guia de frente" uma pombagira, e isto não o enviará de modo algum a um suposto inferno. É coisa própria dele e que ele terá de trabalhar segundo aquela tradição.
Então, este corte entre o divino e o humano, na tradição cristã, bem pode ser o motivo da eterna culpa de que sofrem os seus adeptos.
As diferenças são flagrantes. Entender estas diferenças passa pelo entendimento de cada uma das mitologias. A mitologia cristã, como afirmei lá em cima, nega o humano e funda um corte entre este e o divino, corte que não está em poder do homem desfazer. Daí que o Deus cristão está alhures, em alturas incalculáveis, longe do mundo humano.
A mitologia Afro já parte de um ponto de vista diferente: tudo na Terra é regido por uma divindade, estando Deus acima de todas as coisas em importância, mas não acima em sentido espacial. Não há portanto o corte entre o divino e o humano. Exatamente por isto, temos aí uma deusa Yemanjá esbanjando sensualidade sem por isso tornar-se menos divina.
A este respeito nós temos um conceito chave: enquadramento. Enquadramento significa colocar um determinado fato dentro de um contexto tal, em que este fato possa fazer sentido. O mito tem esta função, assim como a ciência, os contos de fadas, a psicologia e psicanálise. Um paciente entra em parafuso justamente quando ele não encontra sentido em um determinado acontecimento ou um fenômeno em seu íntimo. Por exemplo, as pessoas que não têm uma religião ou a crença em um Deus geralmente lidam com mais dificuldade com a morte.
Um outro exemplo de enquadramento: o travesti em nossa mitologia é um depravado, afeminado, portador de algum defeito genético, ou que teve uma criação errada dos pais, ou um pecador que irá para o inferno, etc, etc, etc
Na mitologia Afro, ele é simplesmente alguém que tem como "guia de frente" uma pombagira, e isto não o enviará de modo algum a um suposto inferno. É coisa própria dele e que ele terá de trabalhar segundo aquela tradição.
Então, este corte entre o divino e o humano, na tradição cristã, bem pode ser o motivo da eterna culpa de que sofrem os seus adeptos.
terça-feira, 3 de maio de 2011
Sobre o amor II
Ele estava lendo o jornal, quando ela chegou de mansinho e aninhou-se ao seu lado na cama:
-Amor, você me ama?
-Amo...
-Muito?
-Muito...
-Muito mesmo?
-Mesmo...
-Jura?
-Ai...juro...
-Mas jura de verdade?
-Ai, porra, não me enche o saco! Deixa eu ler a porra do jornal!
-Tá vendo? Você não me ama...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
-Amor, você me ama?
-Amo...
-Muito?
-Muito...
-Muito mesmo?
-Mesmo...
-Jura?
-Ai...juro...
-Mas jura de verdade?
-Ai, porra, não me enche o saco! Deixa eu ler a porra do jornal!
-Tá vendo? Você não me ama...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
sexta-feira, 29 de abril de 2011
Vida de corno
- Alô...- Ele conseguia falar ao telefone com um cigarro pendurado no canto da boca, enquanto com a outra mão batucava na mesa.
- Alô, é o França?
- Ele mesmo...
- Oi, França, aqui é a Simone.
- O quê você quer?
- Olha, eu estou com o meu marido aqui do lado, e ele está me enchendo o saco. Cismou que eu estou tendo um caso com você.
- E daí?
- Pode falar com ele pra esclarecer tudo?
- Põe ele na linha...
Ela então passou o fone para o marido.
- Alô...
- Pode falar, corno...O quê você quer?
- ...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
- Alô, é o França?
- Ele mesmo...
- Oi, França, aqui é a Simone.
- O quê você quer?
- Olha, eu estou com o meu marido aqui do lado, e ele está me enchendo o saco. Cismou que eu estou tendo um caso com você.
- E daí?
- Pode falar com ele pra esclarecer tudo?
- Põe ele na linha...
Ela então passou o fone para o marido.
- Alô...
- Pode falar, corno...O quê você quer?
- ...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Pai nosso II
- Cadê o paspalho do seu pai?
- Tá trabalhando - respondeu o menininho
- E cadê a horrorosa da sua mãe?
- Minha mãe não é horrorosa não, tá bom? A sua é que é horrorosa...
(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")
- Tá trabalhando - respondeu o menininho
- E cadê a horrorosa da sua mãe?
- Minha mãe não é horrorosa não, tá bom? A sua é que é horrorosa...
(Jan Robba em: "O livro das esquisitices")
terça-feira, 26 de abril de 2011
A verdade que liberta...
Um peregrino andou milhas e milhas, cruzou desertos, vales e montanhas à procura de um mestre que pudesse lhe mostrar o sentido da vida. Um dia, encontrou o tal homem e, antes mesmo que pudesse dizer qualquer coisa, o mestre lhe perguntou:
-O que é que você deseja saber, que um dia se arrependerá de haver perguntado?
O peregrino coçou a cabeça, pensou, pensou, pensou e disse:
-Onde é que eu pego o ônibus de volta?
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
-O que é que você deseja saber, que um dia se arrependerá de haver perguntado?
O peregrino coçou a cabeça, pensou, pensou, pensou e disse:
-Onde é que eu pego o ônibus de volta?
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Líbia: Obama e a defesa da «rebelião»
17.04.2011
Líbia: Obama e a defesa da «rebelião». Nas últimas duas semanas a Líbia sofreu o mais brutal ataque imperialista, por ar, por mar e por terra, da sua história moderna. Milhares de bombas e de mísseis, lançados de submarinos, vasos de guerra e aviões de guerra, americanos e europeus, estão a destruir as bases militares líbias, os seus aeroportos, estradas, portos, depósitos petrolíferos, posições de artilharia, tanques, porta-aviões blindados, aviões e concentrações de tropas. Dezenas de forças especiais da CIA e do SAS têm andado a treinar, a aconselhar e a apontar alvos para os chamados «rebeldes» líbios empenhados numa guerra civil contra o governo de Kadafi, as suas forças armadas, as milícias populares e os apoiadores civis ( NY Times 30/03/11).
por James Petras*
Apesar deste enorme apoio militar e do total controlo dos céus e da linha costeira da Líbia pelos seus «aliados» imperialistas, os «rebeldes» ainda não foram capazes de mobilizar o apoio de aldeias e cidades e encontram-se em retirada depois de enfrentarem as tropas governamentais da Líbia e as milícias urbanas, fortemente motivadas ( Al Jazeera 30/03/11).
Uma das desculpas mais idiotas para esta inglória retirada dos rebeldes, apresentada pela «coligação» Cameron-Obama-Sarkozy, e repetida pelos meios de comunicação, é que os seus «clientes» líbios estão «menos bem armados» (Financial Times, 29/3/11). Obviamente, Obama e companhia não contabilizam o grande número de jatos, as dezenas de vasos de guerra e de submarinos, as centenas de ataques diários e os milhares de bombas lançadas sobre o governo líbio desde o início da intervenção imperialista ocidental. A intervenção militar direta de 20 potências militares estrangeiras, grandes e pequenas, flagelando o estado soberano da Líbia, assim como o grande número de cúmplices nas Nações Unidas não contribui com nenhuma vantagem militar para os clientes imperialistas - segundo a propaganda diária a favor dos rebeldes.
Mas o Los Angeles Times (31/Março/2011) descreveu como «... muitos rebeldes em caminhões com metralhadoras deram meia-volta e fugiram... apesar de as suas metralhadoras pesadas e espingardas antiaéreas serem parecidas com qualquer veículo governamental semelhante». De fato, nenhuma força «rebelde» na história moderna recebeu um apoio militar tão forte de tantas potências imperialistas na sua confrontação com um regime instituído. Apesar disso, as forças «rebeldes» nas linhas da frente estão em plena retirada, fugindo desordenadamente e profundamente descontentes com os seus generais e ministros «rebeldes» lá atrás em Bengazi. Entretanto, os líderes «rebeldes», de ternos elegantes e de uniformes feitos sob medida, respondem à «chamada para a batalha» assistindo a «reunião de cúpula» em Londres onde a «estratégia de libertação» consiste no apelo, perante os meios de comunicação, de tropas terrestres imperialistas (The Independent, Londres - 31/03/11).
É baixa a moral dos «rebeldes» na linha da frente: segundo relatos críveis da frente da batalha em Ajdabiya, «Os rebeldes... queixaram-se de que os seus comandantes iniciais desapareceram. Acusam camaradas de fugirem para a relativa segurança de Bengazi... (queixam-se de que) as forças em Bengazi monopolizaram 400 rádios de campo oferecidos e mais 400... tele móveis destinados ao campo de batalha... (sobretudo) os rebeldes dizem que os comandantes raramente visitam o campo de batalha e exercem pouca autoridade porque muitos combatentes não confiam neles» ( Los Angeles Times , 31/03/2011). Segundo parece, os «twitters» não funcionam no campo de batalha.
As questões decisivas numa guerra civil não são as armas, o treino ou a chefia, embora evidentemente esses fatores sejam importantes: A principal diferença entre a capacidade militar das forças líbias pró-governo e os «rebeldes» líbios apoiados por imperialistas ocidentais e por «progressistas», reside na sua motivação, nos seus valores e nas suas compensações materiais. A intervenção imperialista ocidental exaltou a consciência nacional do povo líbio, que encara agora a sua confrontação com os «rebeldes» anti-Kadafi como uma luta para defender a sua pátria do poderio estrangeiro aéreo e marítimo e das tropas terrestres fantoches - um poderoso incentivo para qualquer povo ou exército. O oposto também é verdadeiro para os «rebeldes», cujos líderes abdicaram da sua identidade nacional e dependem inteiramente da intervenção militar imperialista para levá-los ao poder. Que soldados rasos «rebeldes» vão arriscar a vida, a lutar contra os seus compatriotas, só para colocar o seu país sob o domínio imperialista ou neo-colonialista?
Finalmente, as notícias dos jornalistas ocidentais começam a falar das milícias pro - governo das aldeias e cidades que repelem esses «rebeldes» e até relatam como «um caminhão cheio de mulheres (líbias) surgiu repentinamente (de uma aldeia) ... e elas começaram a fingir que aplaudiam e apoiavam os rebeldes...» atraindo os rebeldes apoiados pelo ocidente para uma emboscada mortal montada pelos seus maridos e vizinhos pró-governo (Globe and Mail,28/03/11 e McClatchy News Service, 29/03/11).
Os «rebeldes», que entram nas aldeias, são considerados invasores, que arrombam portas, fazem explodir casas e prendem e acusam os líderes locais de serem «comunistas da quinta coluna» a favor de Kadafi. A ameaça da ocupação militar «rebelde», a detenção e a violência sobre as autoridades locais e a destruição das relações de família, de clã e da comunidade local, profundamente valorizadas, levaram as milícias líbias e os combatentes locais a atacar os «rebeldes» apoiados pelo ocidente. Os «rebeldes» são considerados «estranhos» em termos de integração regional e de clã; menosprezando os costumes locais, os «rebeldes» encontram-se, pois em território «hostil». Que combatente «rebelde» estará disposto a morrer em defesa de um território hostil? Esses «rebeldes» só podem pedir à força aérea estrangeira que lhes «liberte» a aldeia pró-governo.
Os meios de comunicação ocidentais, incapazes de entender essas compensações materiais por parte das forças pró-governo, atribuem o apoio popular a Kadafi à «coerção» ou «cooptação», agarrando-se à afirmação dos «rebeldes» que 'toda a gente se opõe secretamente ao regime'. Há uma outra realidade material, que muito convenientemente é ignorada: A verdade é que o regime de Kadafi tem utilizado a riqueza petrolífera do país para construir uma ampla rede de escolas, hospitais e clínicas públicas. Os líbios têm o rendimento per capita mais alto de África com 14 900 dólares por ano (Financial Times,02/04/11).
Dezenas de milhares de estudantes líbios de baixos rendimentos receberam bolsas para estudar no seu país e no estrangeiro. As infra-estruturas urbanas foram modernizadas, a agricultura é subsidiada e os pequenos produtores e fabricantes recebem crédito do governo. Kadafi promoveu esses programas eficazes, para além de enriquecer a sua própria família/clã. Por outro lado, os rebeldes líbios e os seus mentores imperialistas prejudicaram toda a economia civil, bombardearam cidades líbias, destruíram redes comerciais, bloquearam a entrega de alimentos subsidiados e assistência aos pobres, provocaram o encerramento das escolas e forçaram centenas de milhares de profissionais, professores, médicos e trabalhadores especializados estrangeiros a fugir.
Os líbios, mesmo que não gostem da prolongada estadia autocrática de Kadafi no cargo, encontram-se agora perante a escolha entre apoiar um estado de bem-estar, evoluído e que funciona ou uma conquista militar manobrada por estrangeiros. Muito compreensivelmente, muitos deles escolheram ficar do lado do regime.
O fracasso das forças «rebeldes» apoiadas pelos imperialistas, apesar da sua enorme vantagem técnico-militar, deve-se a uma liderança traidora, ao seu papel de 'colonialistas internos' que invadem as comunidades locais e, acima de tudo, à destruição insensata de um sistema de bem-estar social que tem beneficiado milhões de líbios vulgares desde há duas gerações. A incapacidade de os «rebeldes» avançarem, apesar do apoio maciço do poder imperialista aéreo e marítimo, significa que a 'coligação' EUA-França-Inglaterra terá que reforçar a sua intervenção, para além de enviar forças especiais, conselheiros e equipes assassinas da CIA. Perante o objetivo declarado de Obama-Clinton quanto à «mudança de regime», não haverá outra hipótese senão introduzir tropas imperialistas, enviar carregamentos em grande escala de caminhões e tanques blindados e aumentar a utilização de munições de urânio empobrecido, profundamente destrutivas.
Sem dúvida que Obama, o rosto mais visível da «intervenção armada humanitária» em África, vai recitar mentiras cada vez maiores e mais grotescas, enquanto os aldeões e os citadinos líbios caem vítimas da sua força destruidora imperialista. O «primeiro presidente negro» de Washington ganhará a infâmia da história como o presidente americano responsável pelo massacre de centenas de líbios negros e da expulsão em massa de milhões de trabalhadores africanos subsaarianos que trabalham para o atual regime (Globe and Mail, 28/03/11).
Sem dúvida, os progressistas e esquerdistas anglo-americanos vão continuar a discutir (em tom «civilizado») os prós e os contras desta «intervenção», seguindo as pisadas dos seus antecessores, os socialistas franceses e os «new dealers» americanos dos anos 30, que debateram nessa época os prós e os contras do apoio à Espanha republicana... Enquanto Hitler e Mussolini bombardeavam a república por conta das forças fascistas «rebeldes» do general Franco que empunhava o estandarte falangista da «Família, Igreja e Civilização» - um protótipo para a «intervenção humanitária» de Obama por conta dos seus «rebeldes».
04/Abril/2011
*Professor Emérito de Sociologia na Universidade de Binghamton, Nova Iorque. É autor de 64 livros publicados em 29 línguas, e mais de 560 artigos em jornais da especialidade, incluindo o American Sociological Review, British Journal of Sociology, Social Research, Journal of Contemporary Asia, e o Journal of Peasant Studies. Já publicou mais de 2000 artigos. O seu último livro é War Crimes in Gaza and the Zionist Fifth Column in America.
O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=24142 .
Líbia: Obama e a defesa da «rebelião». Nas últimas duas semanas a Líbia sofreu o mais brutal ataque imperialista, por ar, por mar e por terra, da sua história moderna. Milhares de bombas e de mísseis, lançados de submarinos, vasos de guerra e aviões de guerra, americanos e europeus, estão a destruir as bases militares líbias, os seus aeroportos, estradas, portos, depósitos petrolíferos, posições de artilharia, tanques, porta-aviões blindados, aviões e concentrações de tropas. Dezenas de forças especiais da CIA e do SAS têm andado a treinar, a aconselhar e a apontar alvos para os chamados «rebeldes» líbios empenhados numa guerra civil contra o governo de Kadafi, as suas forças armadas, as milícias populares e os apoiadores civis ( NY Times 30/03/11).
por James Petras*
Apesar deste enorme apoio militar e do total controlo dos céus e da linha costeira da Líbia pelos seus «aliados» imperialistas, os «rebeldes» ainda não foram capazes de mobilizar o apoio de aldeias e cidades e encontram-se em retirada depois de enfrentarem as tropas governamentais da Líbia e as milícias urbanas, fortemente motivadas ( Al Jazeera 30/03/11).
Uma das desculpas mais idiotas para esta inglória retirada dos rebeldes, apresentada pela «coligação» Cameron-Obama-Sarkozy, e repetida pelos meios de comunicação, é que os seus «clientes» líbios estão «menos bem armados» (Financial Times, 29/3/11). Obviamente, Obama e companhia não contabilizam o grande número de jatos, as dezenas de vasos de guerra e de submarinos, as centenas de ataques diários e os milhares de bombas lançadas sobre o governo líbio desde o início da intervenção imperialista ocidental. A intervenção militar direta de 20 potências militares estrangeiras, grandes e pequenas, flagelando o estado soberano da Líbia, assim como o grande número de cúmplices nas Nações Unidas não contribui com nenhuma vantagem militar para os clientes imperialistas - segundo a propaganda diária a favor dos rebeldes.
Mas o Los Angeles Times (31/Março/2011) descreveu como «... muitos rebeldes em caminhões com metralhadoras deram meia-volta e fugiram... apesar de as suas metralhadoras pesadas e espingardas antiaéreas serem parecidas com qualquer veículo governamental semelhante». De fato, nenhuma força «rebelde» na história moderna recebeu um apoio militar tão forte de tantas potências imperialistas na sua confrontação com um regime instituído. Apesar disso, as forças «rebeldes» nas linhas da frente estão em plena retirada, fugindo desordenadamente e profundamente descontentes com os seus generais e ministros «rebeldes» lá atrás em Bengazi. Entretanto, os líderes «rebeldes», de ternos elegantes e de uniformes feitos sob medida, respondem à «chamada para a batalha» assistindo a «reunião de cúpula» em Londres onde a «estratégia de libertação» consiste no apelo, perante os meios de comunicação, de tropas terrestres imperialistas (The Independent, Londres - 31/03/11).
É baixa a moral dos «rebeldes» na linha da frente: segundo relatos críveis da frente da batalha em Ajdabiya, «Os rebeldes... queixaram-se de que os seus comandantes iniciais desapareceram. Acusam camaradas de fugirem para a relativa segurança de Bengazi... (queixam-se de que) as forças em Bengazi monopolizaram 400 rádios de campo oferecidos e mais 400... tele móveis destinados ao campo de batalha... (sobretudo) os rebeldes dizem que os comandantes raramente visitam o campo de batalha e exercem pouca autoridade porque muitos combatentes não confiam neles» ( Los Angeles Times , 31/03/2011). Segundo parece, os «twitters» não funcionam no campo de batalha.
As questões decisivas numa guerra civil não são as armas, o treino ou a chefia, embora evidentemente esses fatores sejam importantes: A principal diferença entre a capacidade militar das forças líbias pró-governo e os «rebeldes» líbios apoiados por imperialistas ocidentais e por «progressistas», reside na sua motivação, nos seus valores e nas suas compensações materiais. A intervenção imperialista ocidental exaltou a consciência nacional do povo líbio, que encara agora a sua confrontação com os «rebeldes» anti-Kadafi como uma luta para defender a sua pátria do poderio estrangeiro aéreo e marítimo e das tropas terrestres fantoches - um poderoso incentivo para qualquer povo ou exército. O oposto também é verdadeiro para os «rebeldes», cujos líderes abdicaram da sua identidade nacional e dependem inteiramente da intervenção militar imperialista para levá-los ao poder. Que soldados rasos «rebeldes» vão arriscar a vida, a lutar contra os seus compatriotas, só para colocar o seu país sob o domínio imperialista ou neo-colonialista?
Finalmente, as notícias dos jornalistas ocidentais começam a falar das milícias pro - governo das aldeias e cidades que repelem esses «rebeldes» e até relatam como «um caminhão cheio de mulheres (líbias) surgiu repentinamente (de uma aldeia) ... e elas começaram a fingir que aplaudiam e apoiavam os rebeldes...» atraindo os rebeldes apoiados pelo ocidente para uma emboscada mortal montada pelos seus maridos e vizinhos pró-governo (Globe and Mail,28/03/11 e McClatchy News Service, 29/03/11).
Os «rebeldes», que entram nas aldeias, são considerados invasores, que arrombam portas, fazem explodir casas e prendem e acusam os líderes locais de serem «comunistas da quinta coluna» a favor de Kadafi. A ameaça da ocupação militar «rebelde», a detenção e a violência sobre as autoridades locais e a destruição das relações de família, de clã e da comunidade local, profundamente valorizadas, levaram as milícias líbias e os combatentes locais a atacar os «rebeldes» apoiados pelo ocidente. Os «rebeldes» são considerados «estranhos» em termos de integração regional e de clã; menosprezando os costumes locais, os «rebeldes» encontram-se, pois em território «hostil». Que combatente «rebelde» estará disposto a morrer em defesa de um território hostil? Esses «rebeldes» só podem pedir à força aérea estrangeira que lhes «liberte» a aldeia pró-governo.
Os meios de comunicação ocidentais, incapazes de entender essas compensações materiais por parte das forças pró-governo, atribuem o apoio popular a Kadafi à «coerção» ou «cooptação», agarrando-se à afirmação dos «rebeldes» que 'toda a gente se opõe secretamente ao regime'. Há uma outra realidade material, que muito convenientemente é ignorada: A verdade é que o regime de Kadafi tem utilizado a riqueza petrolífera do país para construir uma ampla rede de escolas, hospitais e clínicas públicas. Os líbios têm o rendimento per capita mais alto de África com 14 900 dólares por ano (Financial Times,02/04/11).
Dezenas de milhares de estudantes líbios de baixos rendimentos receberam bolsas para estudar no seu país e no estrangeiro. As infra-estruturas urbanas foram modernizadas, a agricultura é subsidiada e os pequenos produtores e fabricantes recebem crédito do governo. Kadafi promoveu esses programas eficazes, para além de enriquecer a sua própria família/clã. Por outro lado, os rebeldes líbios e os seus mentores imperialistas prejudicaram toda a economia civil, bombardearam cidades líbias, destruíram redes comerciais, bloquearam a entrega de alimentos subsidiados e assistência aos pobres, provocaram o encerramento das escolas e forçaram centenas de milhares de profissionais, professores, médicos e trabalhadores especializados estrangeiros a fugir.
Os líbios, mesmo que não gostem da prolongada estadia autocrática de Kadafi no cargo, encontram-se agora perante a escolha entre apoiar um estado de bem-estar, evoluído e que funciona ou uma conquista militar manobrada por estrangeiros. Muito compreensivelmente, muitos deles escolheram ficar do lado do regime.
O fracasso das forças «rebeldes» apoiadas pelos imperialistas, apesar da sua enorme vantagem técnico-militar, deve-se a uma liderança traidora, ao seu papel de 'colonialistas internos' que invadem as comunidades locais e, acima de tudo, à destruição insensata de um sistema de bem-estar social que tem beneficiado milhões de líbios vulgares desde há duas gerações. A incapacidade de os «rebeldes» avançarem, apesar do apoio maciço do poder imperialista aéreo e marítimo, significa que a 'coligação' EUA-França-Inglaterra terá que reforçar a sua intervenção, para além de enviar forças especiais, conselheiros e equipes assassinas da CIA. Perante o objetivo declarado de Obama-Clinton quanto à «mudança de regime», não haverá outra hipótese senão introduzir tropas imperialistas, enviar carregamentos em grande escala de caminhões e tanques blindados e aumentar a utilização de munições de urânio empobrecido, profundamente destrutivas.
Sem dúvida que Obama, o rosto mais visível da «intervenção armada humanitária» em África, vai recitar mentiras cada vez maiores e mais grotescas, enquanto os aldeões e os citadinos líbios caem vítimas da sua força destruidora imperialista. O «primeiro presidente negro» de Washington ganhará a infâmia da história como o presidente americano responsável pelo massacre de centenas de líbios negros e da expulsão em massa de milhões de trabalhadores africanos subsaarianos que trabalham para o atual regime (Globe and Mail, 28/03/11).
Sem dúvida, os progressistas e esquerdistas anglo-americanos vão continuar a discutir (em tom «civilizado») os prós e os contras desta «intervenção», seguindo as pisadas dos seus antecessores, os socialistas franceses e os «new dealers» americanos dos anos 30, que debateram nessa época os prós e os contras do apoio à Espanha republicana... Enquanto Hitler e Mussolini bombardeavam a república por conta das forças fascistas «rebeldes» do general Franco que empunhava o estandarte falangista da «Família, Igreja e Civilização» - um protótipo para a «intervenção humanitária» de Obama por conta dos seus «rebeldes».
04/Abril/2011
*Professor Emérito de Sociologia na Universidade de Binghamton, Nova Iorque. É autor de 64 livros publicados em 29 línguas, e mais de 560 artigos em jornais da especialidade, incluindo o American Sociological Review, British Journal of Sociology, Social Research, Journal of Contemporary Asia, e o Journal of Peasant Studies. Já publicou mais de 2000 artigos. O seu último livro é War Crimes in Gaza and the Zionist Fifth Column in America.
O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=24142 .
Mensagem do coronel Muammar Gaddafi
15.04.2011
Gaddafi Aberto e sem Censura
Lembranças da Minha Vida: Coronel Muammar Gaddafi, líder da Revolução.
05 de Abril de 2011.
Em nome de Deus, Clemente, e Misericordioso...
Mensagem do coronel Muammar Gaddafi. 14865.jpegDurante 40 anos, ou mais, já nem me lembro direito, eu fiz tudo que pude para dar ao meu povo casas, hospitais, escolas, e quando eles estavam com fome, dei-lhes comida.
Eu mesmo tornei Benghazi de uma região desértica e sem agua numa região irrigada e fértil transportando agua a longa distancia, enfrentei os ataques daquele cowboy Reagan, quando ele matou a minha filha órfã adoptiva, ele que estava tentando me matar, ao invés disso matou aquela pobre criança inocente.
Ajudei meus irmãos e irmãs da África doando dinheiro para a União Africana.
Fiz tudo que pude para ajudar as pessoas a entender o conceito de uma verdadeira democracia, onde os comités do povo governavam o nosso país. Mas isso nunca parece ter sido suficiente, como alguns me disseram, mesmo as pessoas que tinham casas com dez quartos, roupas e móveis novos, nunca estavam satisfeitos e como os egoístas que eram, queriam sempre mais. Esses mesmos quem disseram aos americanos e outros visitantes, que precisavam de "liberdade", " de democracia" que o meu sistema não prestava sem perceber que o sistema americano é constituído por algozes famintos onde o maior cão come os outros, mas eles ficaram encantados com aquelas palavras, não percebendo que nos Estados Unidos, não existe cuidados médicos ou hospitais de graça, moradia gratuita, educação e comida grátis, excepto se as pessoas forem pedintes ou então passar horas em longas filas para obter uma miserável sopa.
Não, não importa o que eu tenha feito, nunca foi o suficiente para alguns, mas para outros, eles sabem que eu sou o filho de Gamal Abdel Nasser, o único árabe e verdadeiro líder muçulmano que tivemos desde Salah al-Deen, quando ele reivindicou o Canal de Suez para o seu povo, como eu reivindiquei também a Líbia, para o meu povo tentando seguir os seus passos para manter o meu povo livre da dominação colonial - dos ladrões globais que roubam de nós tudo o que podem.
Agora, eu estou sob o ataque da maior força da história militar, Obama, quem considero o meu pequeno filho Africano, quer me matar, para tirar a liberdade do nosso país, para tirar do nosso povo a habitação gratuita, os nossos medicamentos gratuitos, o nosso ensino gratuito, a nossa comida de graça, e substituí-la pelo roubo de estilo americano, chamado "capitalismo", mas todos nós do Terceiro Mundo sabemos o que isso significa, isso significa que as grandes corporações gerem os países, gerem o mundo e as pessoas sofrem. Assim, não há alternativa para mim, devo enfrentar tudo com firmeza e, se Deus quiser, irei morrer, seguindo o Seu caminho, o caminho que tornou o nosso país rico em terras agrícolas, com alimentos e saúde, para todos e que até mesmo nos permitiu ajudar nossos irmãos e irmãs árabes e africanos trabalhando aqui connosco, na Jamahiriya Líbia.
Eu não quero morrer, mas se tiver que chegar a esse ponto para salvar esta terra, o meu povo, os milhares que são todos meus filhos, então que assim seja.
Que este testamento seja a minha voz para o mundo, que eu enfrentei e combati os ataques dos Cruzados da NATO, combati a crueldade, combati a traição, enfrentei e combati o Ocidente e as suas ambições colonialistas, e que eu estive sempre do lado dos meus irmãos Africanos, os meus verdadeiros árabes e irmãos muçulmanos, como um farol de luz. Quando os outros estavam construindo castelos, eu morava numa casa modesta, e numa tenda. Eu nunca esqueci a minha juventude, em Sirte, não gastei o nosso tesouro nacional * loucamente, e tal como Salah al-Deen, o nosso grande líder muçulmano, que resgatou Jerusalém para o Islão, tirei pouco para mim ...
No Ocidente, alguns me chamaram de "louco", "excêntrico", opressor, mas sabendo eles a verdade ainda continuam a mentir, eles sabem bem que a nossa terra é independente e livre, e não sob o jugo colonial, e que a minha visão e o meu caminho, é e tem sido claro para o meu povo e que vou lutar até meu último suspiro para nos manter livres, que Deus todo-poderoso nos ajude a permanecer fiéis e livres.
c: Col. Muammar Qaddafi, 2011/05/04
Copyright Col. Muammar Gaddafi, - Mathaba.Net
Publicado no site www.mathaba.net/
* Nota A líbia sempre manteve mais de 89% do tesouro nacional nos bancos do governo sendo a maior parte do tesouro Líbio constituído por ouro. Segundo dizem alguns é por isso que a elite global só pôde congelar as contas externas da Líbia, e que quando a invasão terminar, ai poderão livremente pilhar os cofres da Líbia, o petróleo a agua na qual a Franca esta interessada e etc. etc.
Baseado na tradução Professor Sam Hamod, Ph.D. e no artigo original escrito em Árabe.
Gaddafi nasceu em 1942 na área costeira de Sirte filho de pais nómadas.
Tradução Josef Leo
Gaddafi Aberto e sem Censura
Lembranças da Minha Vida: Coronel Muammar Gaddafi, líder da Revolução.
05 de Abril de 2011.
Em nome de Deus, Clemente, e Misericordioso...
Mensagem do coronel Muammar Gaddafi. 14865.jpegDurante 40 anos, ou mais, já nem me lembro direito, eu fiz tudo que pude para dar ao meu povo casas, hospitais, escolas, e quando eles estavam com fome, dei-lhes comida.
Eu mesmo tornei Benghazi de uma região desértica e sem agua numa região irrigada e fértil transportando agua a longa distancia, enfrentei os ataques daquele cowboy Reagan, quando ele matou a minha filha órfã adoptiva, ele que estava tentando me matar, ao invés disso matou aquela pobre criança inocente.
Ajudei meus irmãos e irmãs da África doando dinheiro para a União Africana.
Fiz tudo que pude para ajudar as pessoas a entender o conceito de uma verdadeira democracia, onde os comités do povo governavam o nosso país. Mas isso nunca parece ter sido suficiente, como alguns me disseram, mesmo as pessoas que tinham casas com dez quartos, roupas e móveis novos, nunca estavam satisfeitos e como os egoístas que eram, queriam sempre mais. Esses mesmos quem disseram aos americanos e outros visitantes, que precisavam de "liberdade", " de democracia" que o meu sistema não prestava sem perceber que o sistema americano é constituído por algozes famintos onde o maior cão come os outros, mas eles ficaram encantados com aquelas palavras, não percebendo que nos Estados Unidos, não existe cuidados médicos ou hospitais de graça, moradia gratuita, educação e comida grátis, excepto se as pessoas forem pedintes ou então passar horas em longas filas para obter uma miserável sopa.
Não, não importa o que eu tenha feito, nunca foi o suficiente para alguns, mas para outros, eles sabem que eu sou o filho de Gamal Abdel Nasser, o único árabe e verdadeiro líder muçulmano que tivemos desde Salah al-Deen, quando ele reivindicou o Canal de Suez para o seu povo, como eu reivindiquei também a Líbia, para o meu povo tentando seguir os seus passos para manter o meu povo livre da dominação colonial - dos ladrões globais que roubam de nós tudo o que podem.
Agora, eu estou sob o ataque da maior força da história militar, Obama, quem considero o meu pequeno filho Africano, quer me matar, para tirar a liberdade do nosso país, para tirar do nosso povo a habitação gratuita, os nossos medicamentos gratuitos, o nosso ensino gratuito, a nossa comida de graça, e substituí-la pelo roubo de estilo americano, chamado "capitalismo", mas todos nós do Terceiro Mundo sabemos o que isso significa, isso significa que as grandes corporações gerem os países, gerem o mundo e as pessoas sofrem. Assim, não há alternativa para mim, devo enfrentar tudo com firmeza e, se Deus quiser, irei morrer, seguindo o Seu caminho, o caminho que tornou o nosso país rico em terras agrícolas, com alimentos e saúde, para todos e que até mesmo nos permitiu ajudar nossos irmãos e irmãs árabes e africanos trabalhando aqui connosco, na Jamahiriya Líbia.
Eu não quero morrer, mas se tiver que chegar a esse ponto para salvar esta terra, o meu povo, os milhares que são todos meus filhos, então que assim seja.
Que este testamento seja a minha voz para o mundo, que eu enfrentei e combati os ataques dos Cruzados da NATO, combati a crueldade, combati a traição, enfrentei e combati o Ocidente e as suas ambições colonialistas, e que eu estive sempre do lado dos meus irmãos Africanos, os meus verdadeiros árabes e irmãos muçulmanos, como um farol de luz. Quando os outros estavam construindo castelos, eu morava numa casa modesta, e numa tenda. Eu nunca esqueci a minha juventude, em Sirte, não gastei o nosso tesouro nacional * loucamente, e tal como Salah al-Deen, o nosso grande líder muçulmano, que resgatou Jerusalém para o Islão, tirei pouco para mim ...
No Ocidente, alguns me chamaram de "louco", "excêntrico", opressor, mas sabendo eles a verdade ainda continuam a mentir, eles sabem bem que a nossa terra é independente e livre, e não sob o jugo colonial, e que a minha visão e o meu caminho, é e tem sido claro para o meu povo e que vou lutar até meu último suspiro para nos manter livres, que Deus todo-poderoso nos ajude a permanecer fiéis e livres.
c: Col. Muammar Qaddafi, 2011/05/04
Copyright Col. Muammar Gaddafi, - Mathaba.Net
Publicado no site www.mathaba.net/
* Nota A líbia sempre manteve mais de 89% do tesouro nacional nos bancos do governo sendo a maior parte do tesouro Líbio constituído por ouro. Segundo dizem alguns é por isso que a elite global só pôde congelar as contas externas da Líbia, e que quando a invasão terminar, ai poderão livremente pilhar os cofres da Líbia, o petróleo a agua na qual a Franca esta interessada e etc. etc.
Baseado na tradução Professor Sam Hamod, Ph.D. e no artigo original escrito em Árabe.
Gaddafi nasceu em 1942 na área costeira de Sirte filho de pais nómadas.
Tradução Josef Leo
terça-feira, 19 de abril de 2011
Mídia e violência
Uma coisa que chama a atenção, e que suscita explicações de todos os tipos é uma espécie de tara que temos pelo mal e pela catástrofe. Por exemplo, muitas e muitas vezes me perguntei o quê faz uma pequena multidão em torno de um corpo caído na rua, se ninguém ali é médico ou enfermeiro ou mesmo os que se dispõem a ajudar são pouquíssimos. E o quê faz uma pessoa diante da televisão assistindo Datena ou Wagner Montes? Muitas vezes, o trânsito em uma grande avenida fica engarrafado porque os motoristas param para olharem um acidente que nem ocorreu ali, ou se ocorreu, foi em outra pista. É disto também que a mídia se aproveita.
Curiosamente, os cemitérios e hospitais nunca foram locais badalados. As pessoas só os frequentam por força das circunstâncias. Certa vez, por ocasião do incêndio do edifício Andorinha, no Rio, eu passava lá por perto. Eu era Office boy e não pude deixar de notar a atração que as catástrofes exercem sobre as pessoas. É coisa que vale um estudo e uma discussão aqui. Digo isto porque não creio que poderíamos avançar no assunto da mídia e violência sem antes termos uma idéia aproximada do que está por trás disto.
Durante um tempo, observando o comportamento das pessoas, cheguei a pensar que o ser humano, no seu geral, gosta de "beber sangue". De uma certa forma, sim. Em uma entrevista, o diretor de um jornal aqui do Rio(cujo nome não vou citar) disse que a fórmula para se vender jornal é "Presunto e lombo". Presunto seriam os cadáveres resultantes da matança que grassava pela cidade, e Lombo seriam as modelos boazudas que apareceriam em cada edição do jornal, em trajes mínimos. Mas ainda assim eu achava que a coisa poderia ir bem mais além.
Então, podemos pegar alguns eventos como modelos e pensar no que eles têm em comum: O terremoto do Chile, o bombardeio ao Iraque, as torres gêmeas, A tragédia na serra do Rio, o Terremoto e Tsunami no Japão, a presepada do retardado de Realengo, etc...Não sei explicar direito, mas parece que necessitamos de algo grandioso que nos impressione. Talvez esteja aí uma necessidade humana até hoje ainda não identificada: a de sermos impressionados(de preferência muito). Então, é na medida em que formos impressionados por um fato, que poderemos impressionar as pessoas às quais o narraremos. Imagine, uma pessoa há uns dias atrás venha perto de você e diga, com a maior tranquilidade e indiferença do mundo: "Houve um terremoto no Japão e uma tsunami...". Precisamos estar devidamente impressionados(chocados mesmo) com um fato, para que sejamos capazes de chocar os outros também. Talvez aí, possamos seguir com Daniel Bougnoux, quando fala do efeito viral em comunicação. E, se formos um pouco mais além, podemos dizer que, na medida em que nos chocamos e manifestamos isto de alguma forma aos outros, NÓS NOS TORNAMOS PARTE DO PRÓPRIO FATO(é tentador levantar aqui a hipótese de que poderia ser este o motivo de o refém se tornar "amigo" do sequestrador...). Talvez o que no fundo e, principalmente, também subjaz a isso tudo é o nosso desejo de sermos grandes, inéditos, fantásticos...O nosso desejo de impressionar...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
Curiosamente, os cemitérios e hospitais nunca foram locais badalados. As pessoas só os frequentam por força das circunstâncias. Certa vez, por ocasião do incêndio do edifício Andorinha, no Rio, eu passava lá por perto. Eu era Office boy e não pude deixar de notar a atração que as catástrofes exercem sobre as pessoas. É coisa que vale um estudo e uma discussão aqui. Digo isto porque não creio que poderíamos avançar no assunto da mídia e violência sem antes termos uma idéia aproximada do que está por trás disto.
Durante um tempo, observando o comportamento das pessoas, cheguei a pensar que o ser humano, no seu geral, gosta de "beber sangue". De uma certa forma, sim. Em uma entrevista, o diretor de um jornal aqui do Rio(cujo nome não vou citar) disse que a fórmula para se vender jornal é "Presunto e lombo". Presunto seriam os cadáveres resultantes da matança que grassava pela cidade, e Lombo seriam as modelos boazudas que apareceriam em cada edição do jornal, em trajes mínimos. Mas ainda assim eu achava que a coisa poderia ir bem mais além.
Então, podemos pegar alguns eventos como modelos e pensar no que eles têm em comum: O terremoto do Chile, o bombardeio ao Iraque, as torres gêmeas, A tragédia na serra do Rio, o Terremoto e Tsunami no Japão, a presepada do retardado de Realengo, etc...Não sei explicar direito, mas parece que necessitamos de algo grandioso que nos impressione. Talvez esteja aí uma necessidade humana até hoje ainda não identificada: a de sermos impressionados(de preferência muito). Então, é na medida em que formos impressionados por um fato, que poderemos impressionar as pessoas às quais o narraremos. Imagine, uma pessoa há uns dias atrás venha perto de você e diga, com a maior tranquilidade e indiferença do mundo: "Houve um terremoto no Japão e uma tsunami...". Precisamos estar devidamente impressionados(chocados mesmo) com um fato, para que sejamos capazes de chocar os outros também. Talvez aí, possamos seguir com Daniel Bougnoux, quando fala do efeito viral em comunicação. E, se formos um pouco mais além, podemos dizer que, na medida em que nos chocamos e manifestamos isto de alguma forma aos outros, NÓS NOS TORNAMOS PARTE DO PRÓPRIO FATO(é tentador levantar aqui a hipótese de que poderia ser este o motivo de o refém se tornar "amigo" do sequestrador...). Talvez o que no fundo e, principalmente, também subjaz a isso tudo é o nosso desejo de sermos grandes, inéditos, fantásticos...O nosso desejo de impressionar...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Sobre o marasmo da existência
Há certos dias, (ou certas fases, sei lá...) em que um marasmo monstruoso se abate sobre nós. Pensei que fosse o efeito do remédio, mas a última vez que o tomei foi na terça-feira. Nada a dizer, ninguém com quem conversar, sem ânimo até mesmo para me indignar. A Tv me alimenta através dos olhos, mas é como uma babá estúpida que dá uma coisa gostosa para comer, para que eu não chore...mas não é isso o que meu corpo precisa. Fico aqui pensando nas linhas do destino e vejo que estou por um fio. Ousei desafiar um monstro poderoso, implacável e inclemente chamado Way of life e parece que ele não perdoou. Mas até mesmo o sabor que ele tanto queria sentir ao moer meus ossos, eu não consigo dar. Minha indiferença tem um gosto amargo em sua boca. Lembro de uns versos meus:
"Vou chutando pedras
coisas corretas
é assim que vivo
tornando curvas
todas as retas..."
Tantos anos já se passaram e eu não perdi a mania de me levantar calado e sair de uma reunião de família onde o assunto ou é dinheiro ou é doença. Não tenho dinheiro e minhas doenças são tão pequenas, que até me envergonho. Todos os dias se tornaram segundas-feiras...
"Vou chutando pedras
coisas corretas
é assim que vivo
tornando curvas
todas as retas..."
Tantos anos já se passaram e eu não perdi a mania de me levantar calado e sair de uma reunião de família onde o assunto ou é dinheiro ou é doença. Não tenho dinheiro e minhas doenças são tão pequenas, que até me envergonho. Todos os dias se tornaram segundas-feiras...
sábado, 9 de abril de 2011
Sobre o assassino de Realengo
É interessante considerarmos aqui a hipótese da esquizofrenia. Muitos aqui já devem ter assistido "Uma mente brilhante", e devem fazer uma idéia aproximada de como a fantasia se mistura à realidade na mente de um esquizofrênico. A apoiar esta hipótese está o fato de sua mãe biológica ser(ou ter sido) esquizofrênica, e se há um componente genético na esquizofrenia, então podemos considerá-la confortavelmente. Daí se pode entender(?) a razão de todo aquele discurso desencontrado presente em sua carta. É sabido que o esquizofrênico tem uma auto-estima abissal e que por isso se refugia(geralmente) numa crença radical, cujas exigências poucos humanos conseguem satisfazer, o que o coloca automaticamente acima de todos os outros mortais. Se esta hipótese estiver correta, e se seguirmos a trilha comunicacional, temos que procurar aí um(ou mais) paradoxos. É na questão de ele preferir executar as meninas e na questão da virgindade,(vide a carta e o depoimento de uma sobrevivente) que me parece que surge pelo menos um desses paradoxos. Seria algo como: "Se eu as sacrifico, eu as salvo; mas se eu salvá-las, eu as estou sacrificando" e assim vai infinitamente. O paradoxo funciona deste jeito: qualquer alternativa incorre no seu oposto, criando um círculo interminável. Ora, se ele as salvou sacrificando-as, então por quê deveria pedir perdão a Deus? Possível resposta: porque sacrificando-as ele as salvou, mas no que as salvou, as sacrificou.
Vejo uma legião de teóricos procurando as causas e os motivos, mas penso que o que se deve procurar é a mecânica da coisa.
Para começar, assumimos que o comportamento sem pé nem cabeça de um esquizofrênico é uma tentativa de não comunicar, o que fere a 1ª Lei da Comunicação:
"È impossível não comunicar".
Logo, mesmo isto é comunicação, mas que não precisa ter necessariamente um significado. Aí está um dos grandes paradoxos da comunicação esquizofrênica: que ao não comunicar, ele está comunicando e, comunicando, ele não está comunicando e, não comunicando, ele está comunicando e assim vai eternamente. A genial Doutora Virginia Satir tem um caso hilário:
-Eu sou Deus - diz o paciente
-Ok, eu deixo você ser Deus - responde a Doutora Satir.
Ao dizer "Eu sou Deus", o esquizofrênico está chamando o terapeuta para se perder em mil voltas numa análise que não chegará a lugar algum(e é o que, mesmo depois de morto, o assassino de Realengo está fazendo com todos). Ela não cai na armadilha e somente devolve um paradoxo do qual ele não tem saída possível, a não ser que, numa hipótese absurda ele dissesse:
-Ok, eu deixo você deixar que eu seja Deus.
Talvez o único, em minha opinião, que "deixou" que o retardado fosse um muçulmano terrorista foi o sargento que o baleou. Resultado: ele se suicidou.
Vejo uma legião de teóricos procurando as causas e os motivos, mas penso que o que se deve procurar é a mecânica da coisa.
Para começar, assumimos que o comportamento sem pé nem cabeça de um esquizofrênico é uma tentativa de não comunicar, o que fere a 1ª Lei da Comunicação:
"È impossível não comunicar".
Logo, mesmo isto é comunicação, mas que não precisa ter necessariamente um significado. Aí está um dos grandes paradoxos da comunicação esquizofrênica: que ao não comunicar, ele está comunicando e, comunicando, ele não está comunicando e, não comunicando, ele está comunicando e assim vai eternamente. A genial Doutora Virginia Satir tem um caso hilário:
-Eu sou Deus - diz o paciente
-Ok, eu deixo você ser Deus - responde a Doutora Satir.
Ao dizer "Eu sou Deus", o esquizofrênico está chamando o terapeuta para se perder em mil voltas numa análise que não chegará a lugar algum(e é o que, mesmo depois de morto, o assassino de Realengo está fazendo com todos). Ela não cai na armadilha e somente devolve um paradoxo do qual ele não tem saída possível, a não ser que, numa hipótese absurda ele dissesse:
-Ok, eu deixo você deixar que eu seja Deus.
Talvez o único, em minha opinião, que "deixou" que o retardado fosse um muçulmano terrorista foi o sargento que o baleou. Resultado: ele se suicidou.
sábado, 19 de março de 2011
O caso Casey Heynes
"Recentemente, tem sido muito comentado na internet o vídeo, lançado no youtube, de um estudante australiano gordinho que reage com violência após ser agredido diversas vezes por outro adolescente.
O vídeo original foi postado no início desta semana com o nome "Child finally snaps after being bullied" (criança finalmente reage após sofrer bullying). O vídeo foi tirado diversas vezes do ar pelo YouTube por mostrar cenas de violência envolvendo menores, mas transformou-se num viral com versões e paródias que consagraram o garoto como "O Pequeno Zangief", em alusão ao personagem do game "Street Fighter" que aplica um golpe de pilão nos oponentes.
O Jovem Casey Heynes transformou-se em um herói, de uma vez que sua atitude foi aprovada pela maioria dos usuários da internet em todo o mundo.
Confesso que, mesmo sendo totalmente contra a violência, minha parte mais humana (ou desumana, talvez) achou que a atitude do rapaz foi bem merecida.
No fim das contas, Casey Heynes foi expulso da escola, e alguns estão julgando-o um monstro ou adolescente perigo".(Carlos Toindé)
O vídeo acima é passível de várias análises, a partir de vários dos seus aspectos. O primeiro deles, e o mais flagrante, é o que todo mundo já sabe: não se deve mexer com quem está quieto. Parece haver uma tendência em nós, humanos, de oprimir qualquer um que nos pareça de alguma forma inferior, como é o caso do garoto gordo, que é atacado sem motivo. Educação? Espírito de porco? Má índole? Instinto? Não sei, mas o que é certo é que as aparências enganam e muitas vezes podemos nos dar mal por isso. Em minha opinião, se havia alguém ali para ser expulso, é justamente o menino que provocou. E digo que, pela natureza do golpe, ainda ficou muito barato, pois poderia ter quebrado muito mais do que só a perna. Outro aspecto interessante é o aspecto técnico. Um belíssimo golpe, muito bem aplicado e que veio cumprir a finalidade primeira de um combate: NEUTRALIZAR o oponente. É o que faz todo bom lutador. Fica aqui uma pergunta bem séria: se o garoto gordo não reagisse aos socos e tapas que levou e fosse à diretoria reclamar do baixinho folgado, adiantaria muita coisa? Não creio. Ele não seria mais respeitado por isso. Passaria por maricas e ainda ganharia uma promessa de levar mais porradas lá na rua. Ele fez o certo. É aqui justamente que nós vemos a base do respeito mútuo e o princípio fundamental da auto-organização, sobre a qual tenho falado várias vezes. Vamos levar isto para um nível macro: imaginemos que a diretoria do colégio é a polícia, o gordo é qualquer um de nós e o baixinho folgado é um bandido qualquer. Achei perfeita a reação do Gordo.
Observem que o garoto gordo está o tempo inteiro com a guarda baixa, o que indica que não queria de forma alguma a luta. Uma diferença que deve ser pontuada aqui é a seguinte:
O baixinho folgado só queria bater, seja lá por que motivo for, ao passo que o gordo apenas neutralizou seu agressor.
Se os diretores da escola pegassem o vídeo e o levassem a um professor de artes marciais e pedissem sua opinião, naturalmente que não teriam tomado uma decisão injusta, como foi esta de expulsar o gordo. Esta é a cara da justiça em nossa sociedade e, se alguém ainda tem dúvidas de onde é que aprendemos a ser injustos, tem aí uma resposta: na escola(além, é claro, do próprio lar).
O vídeo original foi postado no início desta semana com o nome "Child finally snaps after being bullied" (criança finalmente reage após sofrer bullying). O vídeo foi tirado diversas vezes do ar pelo YouTube por mostrar cenas de violência envolvendo menores, mas transformou-se num viral com versões e paródias que consagraram o garoto como "O Pequeno Zangief", em alusão ao personagem do game "Street Fighter" que aplica um golpe de pilão nos oponentes.
O Jovem Casey Heynes transformou-se em um herói, de uma vez que sua atitude foi aprovada pela maioria dos usuários da internet em todo o mundo.
Confesso que, mesmo sendo totalmente contra a violência, minha parte mais humana (ou desumana, talvez) achou que a atitude do rapaz foi bem merecida.
No fim das contas, Casey Heynes foi expulso da escola, e alguns estão julgando-o um monstro ou adolescente perigo".(Carlos Toindé)
O vídeo acima é passível de várias análises, a partir de vários dos seus aspectos. O primeiro deles, e o mais flagrante, é o que todo mundo já sabe: não se deve mexer com quem está quieto. Parece haver uma tendência em nós, humanos, de oprimir qualquer um que nos pareça de alguma forma inferior, como é o caso do garoto gordo, que é atacado sem motivo. Educação? Espírito de porco? Má índole? Instinto? Não sei, mas o que é certo é que as aparências enganam e muitas vezes podemos nos dar mal por isso. Em minha opinião, se havia alguém ali para ser expulso, é justamente o menino que provocou. E digo que, pela natureza do golpe, ainda ficou muito barato, pois poderia ter quebrado muito mais do que só a perna. Outro aspecto interessante é o aspecto técnico. Um belíssimo golpe, muito bem aplicado e que veio cumprir a finalidade primeira de um combate: NEUTRALIZAR o oponente. É o que faz todo bom lutador. Fica aqui uma pergunta bem séria: se o garoto gordo não reagisse aos socos e tapas que levou e fosse à diretoria reclamar do baixinho folgado, adiantaria muita coisa? Não creio. Ele não seria mais respeitado por isso. Passaria por maricas e ainda ganharia uma promessa de levar mais porradas lá na rua. Ele fez o certo. É aqui justamente que nós vemos a base do respeito mútuo e o princípio fundamental da auto-organização, sobre a qual tenho falado várias vezes. Vamos levar isto para um nível macro: imaginemos que a diretoria do colégio é a polícia, o gordo é qualquer um de nós e o baixinho folgado é um bandido qualquer. Achei perfeita a reação do Gordo.
Observem que o garoto gordo está o tempo inteiro com a guarda baixa, o que indica que não queria de forma alguma a luta. Uma diferença que deve ser pontuada aqui é a seguinte:
O baixinho folgado só queria bater, seja lá por que motivo for, ao passo que o gordo apenas neutralizou seu agressor.
Se os diretores da escola pegassem o vídeo e o levassem a um professor de artes marciais e pedissem sua opinião, naturalmente que não teriam tomado uma decisão injusta, como foi esta de expulsar o gordo. Esta é a cara da justiça em nossa sociedade e, se alguém ainda tem dúvidas de onde é que aprendemos a ser injustos, tem aí uma resposta: na escola(além, é claro, do próprio lar).
quarta-feira, 9 de março de 2011
Democracia e a guerra das mídias
Novamente vem à tona o tema da Democracia, motivado talvez pela questão líbia, da qual sabemos apenas uma pequena parte, e a qual nossos cérebros já devidamente condicionados são levados a considerar mais do que suficiente. Podemos juntar, para efeito de pensar essa tal Democracia, a questão líbia mesma e a questão cubana, entre outras. Eis uma interessante questão: Se a Democracia é, por definição, um sistema regido pela vontade popular, e a população de um certo país quer no governo um homem que a nossa mídia chama de ditador, o regime deste tal país é uma ditadura ou uma democracia? A imprensa Russa dá conta de que a “rebelião” na Líbia não é bem como se propaga aqui pelo Ocidente, pois começa em um território de fronteira e parece contar com uma “ajudinha” dos amigos(leia-se: OTAN). E isto me lembra muito bem o desmonte da extinta URSS a partir da Polônia. Na capital e nos outros grandes centros, entretanto, esta “rebelião” não tem o menor respaldo. Mais do que uma “revolta” pré-fabricada, o que se pode ver é, a exemplo da cachorrada que foi o assalto ao Iraque, uma guerra midiática, da qual sairá vencedor aquele que souber melhor se impor em termos de propaganda. Quanto à imprensa Brasileira e ocidental, de modo geral, pelo teor do noticiário, sabe-se muito bem que a imparcialidade passou ao largo e pode-se inferir de quem ela está(ou sempre esteve) a serviço. É muito interessante a situação paradoxal na qual o governo líbio foi colocado: se reagir aos grupos “rebeldes” com a energia que considerar cabível, é acusado perante o mundo de déspota , sanguinário e anti-democrático, justificando assim uma intervenção por parte dos “defensores do bem e da justiça”, tão déspotas, sanguinários e anti-democráticos quanto; se aceita o avanço da investida “rebelde”, apenas confirma que é déspota, sanguinário e anti-democrático. Mas no fim quem perde não são apenas os Iraquianos, Iranianos, Líbios, Norte-Coreanos, etc: somos nós, que nos vemos cada vez mais em poder(e completamente indiferentes a nós mesmos) daqueles que manipulam a opinião pública a seu bel prazer. Vale aqui então uma releitura do conceito moderno de Democracia: Um sistema regido pela vontade popular, a qual deve ser sistematicamente manipulada pela propaganda(ou pode se tornar perigosa...).
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
terça-feira, 8 de março de 2011
Filosofando VIII
Quando pensar em provocar dor, ódio, medo ou inveja em alguém, lembre-se de que é o seu demônio interior querendo olhar-se no espelho e rir da própria feiúra. Por outro lado, é muito difícil não ser um espelho...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
sexta-feira, 4 de março de 2011
Sexo...
- Professor – disse a aluna burrinha, sentada no canto, perto da janela – se a psicanálise “resolve as pessoas”, por quê é que aquele outro professor se jogou da janela do prédio dele?
- Não sei...O quê você acha?
- Ai, garota – disse a colega ao lado, cutucando-a com o braço – mas como você é burra...Era o desejo inconsciente dele...voar tem a ver com o sexo...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
- Não sei...O quê você acha?
- Ai, garota – disse a colega ao lado, cutucando-a com o braço – mas como você é burra...Era o desejo inconsciente dele...voar tem a ver com o sexo...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Filosofando VII
O gênio e o louco mergulham nas mesmas águas. Só que o gênio sabe nadar. Mas não se preocupe: o destino dos dois é morrerem afogados mesmo...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
sábado, 19 de fevereiro de 2011
A nave
- Acorde...pode abrir os olhos...
- Onde estou?
- Espere um pouco até recobrar inteiramente a sua consciência...
Já havia se passado uma hora e meia, desde que ele entrara por aquela porta, desta vez decidido a acabar de vez com o seu tormento.
- Como está se sentindo?
- Bem...feliz...feliz...muito bem...
- Veja isto. - E abriu a enorme folha de papel pardo diante dele, cujo olhar tentava, sem sucesso, apreender aquela enormidade de linhas e símbolos.
- O quê é?
- Foi você mesmo quem desenhou enquanto estava em transe. Veja aqui no canto: é a sua assinatura, que eu pedi para que você depois tivesse certeza. Reconhece a sua assinatura?
- Reconheço sim, mas o quê é isso?
- É, segundo você mesmo disse, a planta do objeto que você, durante o seu transe, disse que o sequestrou. Está vendo estes símbolos ali no alto à direita? É uma mensagem que supostamente lhe foi passada, mas não me pergunte qual a finalidade disto, porque eu não sei. Está escrita em um alfabeto completamente estranho para mim. É uma espécie de escrita cuneiforme. Você mesmo traduziu esta mensagem e a gravação está nesta fita aqui.
- E o quê diz a mensagem?
- Olha, você estava péssimo quando veio me procurar. Você passou dois anos sem dormir direito, sem se alimentar direito e quase foi parar num hospício por causa disto. Deixe pra lá...não quero que fique pior...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
- Onde estou?
- Espere um pouco até recobrar inteiramente a sua consciência...
Já havia se passado uma hora e meia, desde que ele entrara por aquela porta, desta vez decidido a acabar de vez com o seu tormento.
- Como está se sentindo?
- Bem...feliz...feliz...muito bem...
- Veja isto. - E abriu a enorme folha de papel pardo diante dele, cujo olhar tentava, sem sucesso, apreender aquela enormidade de linhas e símbolos.
- O quê é?
- Foi você mesmo quem desenhou enquanto estava em transe. Veja aqui no canto: é a sua assinatura, que eu pedi para que você depois tivesse certeza. Reconhece a sua assinatura?
- Reconheço sim, mas o quê é isso?
- É, segundo você mesmo disse, a planta do objeto que você, durante o seu transe, disse que o sequestrou. Está vendo estes símbolos ali no alto à direita? É uma mensagem que supostamente lhe foi passada, mas não me pergunte qual a finalidade disto, porque eu não sei. Está escrita em um alfabeto completamente estranho para mim. É uma espécie de escrita cuneiforme. Você mesmo traduziu esta mensagem e a gravação está nesta fita aqui.
- E o quê diz a mensagem?
- Olha, você estava péssimo quando veio me procurar. Você passou dois anos sem dormir direito, sem se alimentar direito e quase foi parar num hospício por causa disto. Deixe pra lá...não quero que fique pior...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Um caso sério
O telefone tocou e ele atendeu...
- Seu nojento, cachorro, safado!
- O quê foi que eu fiz dessa vez, Paulinha?
- Você ainda pergunta? Você saiu com a minha melhor amiga, a Cris, seu cachorro! Estou te odiando...
- Acorda, porra...Larga de ser fresca. Você não me trai com o seu marido todas as noites?
- É, mas ele é meu marido, é ele quem transa comigo, e não eu com ele...
- É a mesma coisa...Não fui eu que transei com a Cris, mas ela quem quis dar pra mim...
- Então diz que você não sente nada por ela.
- É o que eu te falei: eu fui só um passatempo pra ela...
- Ah, então tá...
- Seu nojento, cachorro, safado!
- O quê foi que eu fiz dessa vez, Paulinha?
- Você ainda pergunta? Você saiu com a minha melhor amiga, a Cris, seu cachorro! Estou te odiando...
- Acorda, porra...Larga de ser fresca. Você não me trai com o seu marido todas as noites?
- É, mas ele é meu marido, é ele quem transa comigo, e não eu com ele...
- É a mesma coisa...Não fui eu que transei com a Cris, mas ela quem quis dar pra mim...
- Então diz que você não sente nada por ela.
- É o que eu te falei: eu fui só um passatempo pra ela...
- Ah, então tá...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
sábado, 12 de fevereiro de 2011
A morte do espírito
Eu costumo pensar que a vida é maravilhosa de ser vivida, pelos mistérios que ela esconde. Quando jovens, nós temos essa coisa, essa fascinação pelo mistério. Mas então "crescemos"(o mais correto seria dizer "encolhemos") e caímos em poder da mesmice e da chatice, dessa razão estúpida que andam pregando por aí, mas que se retrai e se contradiz quando tem que encarar o que é simplesmente fato. Imagine um mundo onde não haja espíritos, nem fantasmas, nem paranormalidade, nem alienígenas, nem discos voadores, nem civilizações antigas avançadíssimas e que não houvesse emoção e nada que não fosse fruto do raciocínio. O inferno pareceria brincadeira de criança. E, no entanto, é neste mesmo inferno que muitos se sentam em um sofá, olham a televisão e morrem um pouco a cada dia, mas não só da morte que é o destino de todos nós, mas da morte do espírito.
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
A conspiração
- Bons tempos, aqueles, em que era proibido beber em dia de eleição, hem? A bebida tinha um sabor todo especial...
- Um gosto de liberdade, que só se encontra na clandestinidade...uma das poucas ocasiões em que um indivíduo se afirma como dono do seu destino, a despeito de qualquer proibição.
- E então? Em quem você votou?
- O voto é secreto, seu jumento...- disse ele, zombando do amigo e tomando mais um gole da cerveja.
- Não acho. Se fosse secreto mesmo, eles não divulgavam o resultado das eleições.
- Faz sentido...Eu anulei aquela porra. Essa nossa democracia é tão boa, que nem se abster de votar a gente pode...Ainda na fila da minha seção, eu estava pensando em Verinha...
- Qual Verinha?
- Verinha, que foi minha noiva...Ela ligou pra mim, choramingou no telefone, disse que está carente, que quer voltar. Você sabe...essas coisas que toda mulher fala quando está sozinha e o espelho já não é mais aquele amigo de antes. Me ocorreu que eu estava a ponto de cometer uma auto-traição, voltando pra ela. Mas aí é que percebi que estava a ponto de cometer não apenas uma, mas duas auto-traições...
- Como assim?
- Ora, eu estava naquela fila para cometer a primeira delas: vender minha alma ao diabo nessa palhaçada que chamam de eleições. Onde você já viu isso? Você é multado, se exercer a sua vontade livremente ficando em casa, enquanto outras coisas mais absurdas são até incentivadas pelo governo...
- As coisas melhoraram muito, cara...
- Português, me dá um maço daquele Hollywood aí...e traz mais uma cerveja...
O Português trouxe o maço de cigarros e a cerveja e então ele tirou um cigarro, acendeu e continuou:
- Tenho acompanhado o discurso destes candidatos aí. Nenhum deles é honesto e corajoso o suficiente para tocar numa questão que é crucial para a humanidade, e não só para o país, e que já é uma questão ecológica...
- Qual questão?
- Uma política para conter o avanço demográfico e reduzir a população aos níveis do início dos anos 70, ou seja, a pelo menos 30% do que é hoje.
- Se você está falando de controle de natalidade, pode tirar seu cavalo da chuva, porque a maneira mais rápida e certeira de perder uma eleição é falar em controle de natalidade. Isso soa a comunismo, e nenhum candidato quer perder uma eleição...Você sabe disso...E também tem um detalhe: Sua Santidade não gosta dessas coisas...
- Olha, sem querer parecer pessimista, mas eu acho que já é um pouco tarde para controle de natalidade. Raciocine comigo: se controlarmos os nascimentos drasticamente, da maneira como precisa ser feito, teremos a médio e longo prazo um mundo com uma população de velhos.
- Certo, continue.
- Daí que, a continuarem como estão, as coisas chegarão a um nível alarmante e, então os técnicos, cientistas, governantes ou sei lá o quê, vão ter na certa que dar um jeito de ir matando os velhos em massa, e de maneira muito sutil, pois assim se pode ter a médio e longo prazo uma população muito reduzida e composta em sua maioria de jovens. Uma questão de produtividade.
- Porra, cara - e o amigo virou o copo de cerveja - isso está parecendo ficção científica, teoria da conspiração, terror, sei lá...
- É, mas não se preocupe...se não fizermos algo, a natureza certamente dará um jeito de fazer. Além do mais, você acha que, para um tecnocrata, a vida de um velho, ou de todos os velhos do mundo, é mais importante do que a sua própria sobrevivência, ou a da corja à qual ele serve como um cão fiel?
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Filosofando VI
Sobre a Vaidade:
Vaidade é o vício de olhar a si próprio com os olhos dos outros. Mesmo quando este olhar o coloque como o último dos homens(Jan Robba)
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
domingo, 6 de fevereiro de 2011
O grande general
Desde que fora escolhido para governar o país, o general deixara de usar o Ray ban escuro, que substituíra por um modêlo mais amigável, de lentes claras. Não se pode dizer que as suas narinas já simpatizassem com o cheiro do povo, mas pelo menos o cheiro das crianças, que não o confundiam mais com o diabo, ele já tolerava. Saltou da limousine, ao som da Banda dos Fuzileiros, que executava o hino da Marinha, que ele odiava.
- Cisne Branco é o cacete - pensava consigo - coisa de viado...
Foi rodeado por um grupo de crianças, todas com bandeirinhas do Brasil na mão.
- O senhor já atirou de fuzil? - perguntou um menininho, que o puxava pela barra do paletó.
- Já, já atirei de fuzil.
- O senhor já deu tiro de canhão?
- Já, já dei muitos tiros de canhão.
- O senhor já deu tiro de tanque de guerra?
- Já atirei muito, com o meu tanque.
- O senhor já jogou muita granada?
- Já, garoto, já joguei muita granada, porra.
- E matou muitos comunistas?
- Porra, seu pai devia te dar umas porradas, seu guri de merda.
- Cisne Branco é o cacete - pensava consigo - coisa de viado...
Foi rodeado por um grupo de crianças, todas com bandeirinhas do Brasil na mão.
- O senhor já atirou de fuzil? - perguntou um menininho, que o puxava pela barra do paletó.
- Já, já atirei de fuzil.
- O senhor já deu tiro de canhão?
- Já, já dei muitos tiros de canhão.
- O senhor já deu tiro de tanque de guerra?
- Já atirei muito, com o meu tanque.
- O senhor já jogou muita granada?
- Já, garoto, já joguei muita granada, porra.
- E matou muitos comunistas?
- Porra, seu pai devia te dar umas porradas, seu guri de merda.
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Um intrigante paradoxo...
- Sabe, não sei se isso é bom ou mau, mas acho que o tédio e a falta de sexo fazem a gente pensar umas coisas...
Ele então pegou mais um cigarro e o acendeu na ponta que ainda estava acesa no cinzeiro.
- Sacanagens?- perguntou ela, com um brilho diferente naqueles olhos negrinhos.
- Mais do que sacanagens...talvez a maior das sacanagens...
- Como assim?
- Nossa vida, nossa existência, estão fundadas em um paradoxo estúpido...
- Explique...
- Ora, eu demorei 49 anos para me tornar o que sou e ainda não terminei o meu trabalho, pois o ano que vem, nesta mesma época, mais um ano terá se passado e eu terei levado 50 anos para me tornar o que serei. Levei este pensamento às suas últimas consequências e vi que o trabalho de ser o que se é só termina com a morte, quando nos tornamos o que não somos...
Dito isto, fico me perguntando: qual o sentido deste trabalho todo só para nos tornarmos apenas não-ser ou mero adubo?
Mais ainda: Por quê os apressadinhos não têm a mínima pressa quando se trata de terminar esse trabalho?(pelo contrário, tentam adiá-lo de todo jeito...)
E a conclusão é óbvia: Enquanto somos, não terminamos o trabalho de sermos; mas se o terminamos, já não somos mais.
Ele então pegou mais um cigarro e o acendeu na ponta que ainda estava acesa no cinzeiro.
- Sacanagens?- perguntou ela, com um brilho diferente naqueles olhos negrinhos.
- Mais do que sacanagens...talvez a maior das sacanagens...
- Como assim?
- Nossa vida, nossa existência, estão fundadas em um paradoxo estúpido...
- Explique...
- Ora, eu demorei 49 anos para me tornar o que sou e ainda não terminei o meu trabalho, pois o ano que vem, nesta mesma época, mais um ano terá se passado e eu terei levado 50 anos para me tornar o que serei. Levei este pensamento às suas últimas consequências e vi que o trabalho de ser o que se é só termina com a morte, quando nos tornamos o que não somos...
Dito isto, fico me perguntando: qual o sentido deste trabalho todo só para nos tornarmos apenas não-ser ou mero adubo?
Mais ainda: Por quê os apressadinhos não têm a mínima pressa quando se trata de terminar esse trabalho?(pelo contrário, tentam adiá-lo de todo jeito...)
E a conclusão é óbvia: Enquanto somos, não terminamos o trabalho de sermos; mas se o terminamos, já não somos mais.
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Amigo...
-O quê houve?
- Nada...- respondeu o menino, já imaginando o que iria acontecer quando chegasse em casa sem o café e sem o dinheiro. Sempre dobrava o dinheiro e prendia entre o elástico do short e a pele, mas era a primeira vez que perdia. Precisava encontrar aquela nota de dois cruzeiros de qualquer jeito, ou iria levar uma surra.
- Como, nada? - O pai, dali mesmo do armazém, tomando a sua cerveja, vira o menino subir e descer a escadaria umas três vezes e vira também a aflição do menino...
- É que eu perdi o dinheiro que a mamãe me deu pra comprar o café...
- E quanto era?
- Eram dois cruzeiros.
- Você deve ter perdido no caminho. Faça o caminho de volta e procure bem. Pode ser que você ache.
Daí a uns instantes volta o menino.
- Então?
- Não encontrei não...- e pela sua cabeça só passava aquele estranho mistério, de como ele podia ser tão azarado. Pensava que, no fim, ele não devia valer muita coisa mesmo, ou talvez Deus estivesse zangado com ele.
- Olha, encontrei o seu dinheiro. Estava bem ali, perto daquela moitinha de capim e você não viu... - e entregou as duas notas de um cruzeiro dobradas ao menino, que agora só iria levar uma bronca por ter demorado.
Muitos anos depois, quando o pai já nem mesmo estava ali para que ele agradecesse foi que, lembrando deste pequeno incidente, ele se deu conta de que não foram duas notas de um, mas uma de dois, que ele havia perdido. Só então foi que ele percebeu tudo...Se a sua vida de altos e baixos era no fundo a procura do amigo que havia perdido, desta vez sabia que não havia ninguém para reparar aquela perda...
- Nada...- respondeu o menino, já imaginando o que iria acontecer quando chegasse em casa sem o café e sem o dinheiro. Sempre dobrava o dinheiro e prendia entre o elástico do short e a pele, mas era a primeira vez que perdia. Precisava encontrar aquela nota de dois cruzeiros de qualquer jeito, ou iria levar uma surra.
- Como, nada? - O pai, dali mesmo do armazém, tomando a sua cerveja, vira o menino subir e descer a escadaria umas três vezes e vira também a aflição do menino...
- É que eu perdi o dinheiro que a mamãe me deu pra comprar o café...
- E quanto era?
- Eram dois cruzeiros.
- Você deve ter perdido no caminho. Faça o caminho de volta e procure bem. Pode ser que você ache.
Daí a uns instantes volta o menino.
- Então?
- Não encontrei não...- e pela sua cabeça só passava aquele estranho mistério, de como ele podia ser tão azarado. Pensava que, no fim, ele não devia valer muita coisa mesmo, ou talvez Deus estivesse zangado com ele.
- Olha, encontrei o seu dinheiro. Estava bem ali, perto daquela moitinha de capim e você não viu... - e entregou as duas notas de um cruzeiro dobradas ao menino, que agora só iria levar uma bronca por ter demorado.
Muitos anos depois, quando o pai já nem mesmo estava ali para que ele agradecesse foi que, lembrando deste pequeno incidente, ele se deu conta de que não foram duas notas de um, mas uma de dois, que ele havia perdido. Só então foi que ele percebeu tudo...Se a sua vida de altos e baixos era no fundo a procura do amigo que havia perdido, desta vez sabia que não havia ninguém para reparar aquela perda...
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Esther way to heaven
Esther o abandonara. Se há uma coisa essencial em uma mulher, é o bom humor. "Sem bom humor, a mulher é só uma vagina acompanhada de um corpo". Era assim que definia uma mulher. Ele gostava de cantar para ela a música que ela odiava, e que lembrava os maconheiros com quem ele andava ainda nos tempos de namoro:
"And she's buying
Esther way to heaven"
Ela virava bicho. A comida saía salgada demais, ou cheia de gordura, ou queimada.
Esther o deixou e foi viver com um funcionário público, que talvez tivesse hemorróidas. Sua diversão então era embebedar-se e, quando a tarde caía, sacanear o vizinho do quarto andar, antes de sair para a rua e se enfiar em um boteco. Já sabia exatamente a hora em que o tal vizinho(que diziam ser um militar reformado por maluquice) se debruçava na janela, com a cabeça para fora e ficava olhando o tempo. Tempo infinito, o dos solitários... Dali, do sexto, tinha uma visão perfeita da careca dele, bem embaixo. Então, esperava o vizinho se debruçar na janela, mirava bem a careca dele e dava uma cuspida. De lá de baixo só se ouvia:
-Filho da puta! Vai cuspir na mãe!!!
Era divertido ouvir o careca xingar. Muitas vezes, o sentido da vida de um sujeito está em ver o mal estar dos outros mas, muitas outras vezes, o sentido está em termos um diabo no nosso calcanhar. Talvez fosse isso que Freud quisesse dizer com o seu famoso "O mal estar da civilização".
Já eram 5 da tarde. Hora do careca receber seu cuspe sagrado. Ele virou o restinho de Whisky com guaraná que havia no copo e foi para a janela. Dali ele vislumbrou aquela reluzente careca, esperando pelo seu cuspe, como a terra que espera pela chuva, para poder florir. Mirou com cuidado, soltou a cusparada e se escondeu.
De lá de baixo, ouviu de novo:
- Filho da puta! Vai cuspir na mãe!!!
Pegou a carteira, a jaqueta e saiu para a rua...
"And she's buying
Esther way to heaven"
Ela virava bicho. A comida saía salgada demais, ou cheia de gordura, ou queimada.
Esther o deixou e foi viver com um funcionário público, que talvez tivesse hemorróidas. Sua diversão então era embebedar-se e, quando a tarde caía, sacanear o vizinho do quarto andar, antes de sair para a rua e se enfiar em um boteco. Já sabia exatamente a hora em que o tal vizinho(que diziam ser um militar reformado por maluquice) se debruçava na janela, com a cabeça para fora e ficava olhando o tempo. Tempo infinito, o dos solitários... Dali, do sexto, tinha uma visão perfeita da careca dele, bem embaixo. Então, esperava o vizinho se debruçar na janela, mirava bem a careca dele e dava uma cuspida. De lá de baixo só se ouvia:
-Filho da puta! Vai cuspir na mãe!!!
Era divertido ouvir o careca xingar. Muitas vezes, o sentido da vida de um sujeito está em ver o mal estar dos outros mas, muitas outras vezes, o sentido está em termos um diabo no nosso calcanhar. Talvez fosse isso que Freud quisesse dizer com o seu famoso "O mal estar da civilização".
Já eram 5 da tarde. Hora do careca receber seu cuspe sagrado. Ele virou o restinho de Whisky com guaraná que havia no copo e foi para a janela. Dali ele vislumbrou aquela reluzente careca, esperando pelo seu cuspe, como a terra que espera pela chuva, para poder florir. Mirou com cuidado, soltou a cusparada e se escondeu.
De lá de baixo, ouviu de novo:
- Filho da puta! Vai cuspir na mãe!!!
Pegou a carteira, a jaqueta e saiu para a rua...
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Sobre o otimismo
Aquele sujeito era mesmo otimista...Um dia, atravessando um matagal, ele pisou num prego que lhe atravessou o pé e, mesmo sentindo uma dor dos infernos, pensou lá com seus botões:”Puxa, que sorte! Ainda bem que é um prego...Imagine, se fosse um parafuso, onde eu ia arrumar uma chave de fenda para tirar isso do meu pé?”
(Jan Robba em:"O livro das esquisitices")
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Sem saída...
Ele continuava sentado ali no chão, em lótus, olhos vidrados, balançando o corpo bem à maneira de um autista. Era a própria imagem do desespero, da solidão e do desvalimento. Tinha abusado de uma menina de cinco anos de idade, sua enteada, penetrando o ânus da menina, sem se importar se a menina queria ou conseguia suportar aquilo, e agora os traficantes da área já sabiam e estavam atrás dele para fazerem "o que devia ser feito".
- E agora, Doutor, o quê é que eu faço?(como se o Doutor tivesse uma solução mágica...).
- Bem, você pode se entregar à polícia, e assim vai saber como é bom abusar de crianças, pois vai para um presídio, onde será a noiva de alguém. Você pode se entregar aos traficantes, e também vai saber como é bom abusar de crianças, pois eles vão matá-lo. Você pode também tomar a única atitude de homem que lhe resta, isto é, se ainda há alguma coisa de homem em você. Você me entende, não é? Pode ir, porque eu não quero meu consultório invadido por bandidos armados.
- E agora, Doutor, o quê é que eu faço?(como se o Doutor tivesse uma solução mágica...).
- Bem, você pode se entregar à polícia, e assim vai saber como é bom abusar de crianças, pois vai para um presídio, onde será a noiva de alguém. Você pode se entregar aos traficantes, e também vai saber como é bom abusar de crianças, pois eles vão matá-lo. Você pode também tomar a única atitude de homem que lhe resta, isto é, se ainda há alguma coisa de homem em você. Você me entende, não é? Pode ir, porque eu não quero meu consultório invadido por bandidos armados.
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